O
certo é que o nosso homenageado deste mês, Odorico Mendes, não foi apenas um
homem de letras. A política e o jornalismo também lhe corriam nas veias, assim
como outros antes e depois dele também o fizeram. Penso no João Lisboa, no
professor Nascimento de Moraes e tantos.
Nem chegou a pertencer à primeira
linhagem dos criadores literários maranhenses, não houve grande profundidade no
que dele nos chegou em poemas e rimas, versos e prosas, mas é inegável a sua
cultura e o seu esforço e entusiasmo para com a grande literatura. Tanto assim
que foi estudar e aprender a língua grega com a única intenção e louvável
objetivo de deixar pra todos nós suas traduções inventivas dos maiores mitos da
poesia grego-latina: Homero e Virgílio.
Mas é o animal político que se nos
apresenta nesta homenagem de hoje. Foi de grande importância sua participação
política, exercendo mandatos parlamentares, naquele momento histórico de convulsões
internacionais e desassossegos pátrios. Ele estava lá, para nosso orgulho de
maranhenses, obrigados a conviver com um contemporâneo que atende pelo nome de
Waldir Maranhão: a pústula do momento. Odorico Mendes e Waldir Maranhão, ambos
deputados, mas que diferença! Como este Estado tem se diminuído em moral e
tamanho! Dá-lhe, Odorico, meu rei... (RF)
A carreira política
Incitado por
amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição
ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e
redigidos por portugueses: o Amigo
do Homem e Censor Maranhense, este último
editado por João Antonio Garcia de
Abranches. Trava com este fortes polêmicas que se prolongarão até ao
encerramento do Censor
Maranhense em Maio de 1830 e
à expulsão do seu redator para Portugal.
A influência
do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos
meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia
Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como
cultor das belas letras, político e jornalista.
ntegra a Falange Liberal e dá início a uma
vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução
que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação
como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa.
Com a
abdicação de D. Pedro, a 7 de abril de 1831, Odorico Mendes
exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da
manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade
das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente
exemplo do que aconteceu em Portugal após o período revolucionário de 1820-1822 recomendava cautela. De
fato, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo(*),
caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel.
Nesse período
escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São
Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla
margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do
Maranhão.
Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é
estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a
revolução, quando apoiou a anistia dos apoiadores do regime deposto e a
manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora
a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por
esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão.
Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um
deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o
mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada
ao jornalismo e à literatura.
Depois de um
longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o
arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo
tempo e pela evolução política.
Finda a
legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina,
muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária,
abandonando em definitivo a atividade política.
(*)
– Vintismo
é a designação genérica dada à situação política que dominou Portugal entre Agosto de 1820 e
Abril de 1823, caracterizada pelo radicalismo das soluções liberais e pelo
predomínio político das Cortes Constituintes, fortemente influenciadas pela
Constituição Espanhola de Cádis.
Pesquisa
e texto final:
Raimundo
Fontenele
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