14 de jun. de 2016

ODORICO MENDES, QUEM DIRIA, ACABOU INDO PRA FRANÇA

O certo é que o nosso homenageado deste mês, Odorico Mendes, não foi apenas um homem de letras. A política e o jornalismo também lhe corriam nas veias, assim como outros antes e depois dele também o fizeram. Penso no João Lisboa, no professor Nascimento de Moraes e tantos.
            Nem chegou a pertencer à primeira linhagem dos criadores literários maranhenses, não houve grande profundidade no que dele nos chegou em poemas e rimas, versos e prosas, mas é inegável a sua cultura e o seu esforço e entusiasmo para com a grande literatura. Tanto assim que foi estudar e aprender a língua grega com a única intenção e louvável objetivo de deixar pra todos nós suas traduções inventivas dos maiores mitos da poesia grego-latina: Homero e Virgílio.
            Mas é o animal político que se nos apresenta nesta homenagem de hoje. Foi de grande importância sua participação política, exercendo mandatos parlamentares, naquele momento histórico de convulsões internacionais e desassossegos pátrios. Ele estava lá, para nosso orgulho de maranhenses, obrigados a conviver com um contemporâneo que atende pelo nome de Waldir Maranhão: a pústula do momento. Odorico Mendes e Waldir Maranhão, ambos deputados, mas que diferença! Como este Estado tem se diminuído em moral e tamanho! Dá-lhe, Odorico, meu rei... (RF)

A carreira política

Incitado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: o Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João Antonio Garcia de Abranches. Trava com este fortes polêmicas que se prolongarão até ao encerramento do Censor Maranhense em Maio de 1830 e à expulsão do seu redator para Portugal.
A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista.
ntegra a Falange Liberal e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa.
Com a abdicação de D. Pedro, a 7 de abril de 1831, Odorico Mendes exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após o período revolucionário de 1820-1822 recomendava cautela. De fato, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo(*), caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel.
Nesse período escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão.
Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando apoiou a anistia dos apoiadores do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada ao jornalismo e à literatura.
Depois de um longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política.
Finda a legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a atividade política.
(*) – Vintismo é a designação genérica dada à situação política que dominou Portugal entre Agosto de 1820 e Abril de 1823, caracterizada pelo radicalismo das soluções liberais e pelo predomínio político das Cortes Constituintes, fortemente influenciadas pela Constituição Espanhola de Cádis.
Pesquisa e texto final:

Raimundo Fontenele


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