By Francisco Aragão |
Por Natan Castro
É manhã em São
Luís e uma explosão de brancuras, raras claridades que saem e só procuram se
entranhar, independe de querer. Tez de gente amanhecida, vestes brilhantes de
quarta-feira, quartas-feiras sem sentido. Nem há sentido no barulho de tantas
ondas que quebram na Beira-Mar, resquícios de embarcações que trouxeram a
poeira, que permaneceu no olhar de nossa gente multicolor. Ao nascer o
pequenino já nasceu aqui cheio desse olhar de precisão. Que se encare essa ilha
e se permita as intrigas que dela submergem a nos atingir.
Ainda existem
aqueles que se assenhoram, daqueles que se aburilam nos coletivos matinais, buscando
matar a fome de tantos necessitados. É dia em São Luís e tudo é desigual, pois que
aqui tudo nasce e morre em slow-motion, a idade da capital se esconde nos
fatos, espremidos nas poeiras dos livros, porém com um ar mais melindroso que
os nossos, chegaram aqui estes cheios de ouro-de-tolos em suas mãos, buscando
em nós o deslumbre. Antes importava pouco o vil metal, éramos tribo virgem a
descoberto, tínhamos um orgulho nato que nos satisfez desde o avistar das velas.
Vês que é verdade que sempre tivemos sol, mar, futebol com travinha, bumba-boi,
cacuriá, peixe fresco do portinho, Sampaio, Moto e Mac, tiquira, Guaraná Jesus e
uma rede preguiçosa a nos embalar.
Faz pouco tempo
fomos descobertos, dai sopraram essências, perfume em nossas vistas, chegaram
do sudoeste, sul, centro-oeste de tanto lugar. Nossa pele gritou as memórias de
sol e mar, primeva nossa vergonha alheia. Eles chegaram e nos ensinaram a desejar,
andar mais rápido, salivar dinheiro, esquecer a fome, ruminar, por fim ficamos
confundidos uns aos outros. Hoje há tantas cidades e tantas tribos em nossa
capital, tantas marias e joãos, tanto barulho de máquina de registrar, carros e
carrões, cabelos loiros, portas de vidros, cartazes iluminados dependurados no
ar, tantas cidades, confusas realidades. A cidade que hoje acorda no Tirirical,
não é a mesma que amanhece pra lá do São Francisco. Tanta gente, hoje a Ilha e
seus transeuntes diferenciados sacolas a carregar, gente enganada pelo brilhar
do ouro-de-tolo, ouro-de-tolo com seu falso brilhar.
Quando
chove a marca saltita nas peles, nosso povo, velho feudo. São Luís e o brilho de
lágrimas e sangue em jornais pulp-fiction, tantas cidades e duas verdades, a
ressaca de uma quarta-feira com nossas cinzas fumegando nas fogueiras que outrora
anunciavam o boi-bumbá.
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