30 de set. de 2016

SOTERO DOS REIS: O HOMENAGEADO DO MÊS

Nosso blog LITERATURALIMITE.BLOGSPOT.COM.BR encerra hoje com chave de ouro a homenagem ao grande escritor, professor e educador maranhense SOTERO DOS REIS.
Autor da primeira gramática portuguesa, sua contribuição aos fundamentos da Educação no nosso Estado foi vital para que elementos científicos, etimológicos, filológicos fossem incorporados pelo poder público no planejamento e desenvolvimento educacional maranhense.
Valendo-me do trabalho acadêmico da estudiosa e professora Sônia Maria Nogueira (PUC-SP, UEMA), ESTUDOS HISTORIOGRÁFICOS E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, apresento-lhes alguns tópicos que revelam a importância do mestre SOTERO DOS REIS que dedicou-se a vida inteira a construir, edificar e criar condições para que os jovens, estudantes e demais interessados não percam o liame que nos une ao passado.
Lembro que o passado também tem suas glórias e conquistas imorredouras, das quais não podemos prescindir em nome de uma modernidade muitas vezes oca de mensagem e vazia de sentido, esta a lição que nos deixou o grande maranhense SOTERO DOS REIS.
 Francisco Sotero do Reis, também maranhense, nasceu em 1800 e faleceu em 1871. Autodidata, não frequentou colégio, a não ser o de primeiras letras. Ele pretendia frequentar uma das faculdades de medicina, na França, assim que completasse os estudos preparatórios, todavia foi impedido em virtude do falecimento de seu pai.
Nessa época, o gramático ministrava aulas particulares de latim e francês em sua própria residência. Henriques Leal ressalta que Sotero do Reis “foi mestre de si mesmo, estudou e acrescentou-se em saber, guiado unicamente por sua clara e robusta inteligência: nunca frequentou cursos superiores, [...]”.
Com 21 anos, Sotero dos Reis já lecionava gramática latina, no Collegio D’instrucção, e dois anos depois foi aprovado em concurso público, assumindo a cadeira de Latim, tornando-se o primeiro professor público do Maranhão após a Independência. Desde o início do seu magistério, Sotero dos Reis exerceu as tarefas de jornalista em periódicos políticos.
Ele produziu outras obras, além da gramática, tais como, Postillas de Grammatica Geral, applicada á Lingua Portugueza pela analyse dos clássicos, 1862; Comentário de Caio Júlio César, traduzidos em português, de 1863-69, com 6 fascículos; Curso de literatura portuguesa e brasileira, de 1866-73, com 5 volumes, entre outros. Nas aulas de latim, Sotero dos Reis juntava à explicação das regras da gramática latina aquilo em que as da gramática portuguesa divergiam.
O mestre percebeu que faltava uma gramática, principalmente na parte da sintaxe, no que dizia respeito à análise e construção. A elaboração dessa obra adveio do exercício do magistério, com o propósito de uma concepção de ensino de língua simples, apenas com regras necessárias e definições de fácil entendimento. As obras de Sotero dos Reis são destinadas especificamente ao público discente e escritas como se fosse um diálogo com os seus alunos.
O autor é considerado um dos célebres gramáticos maranhenses que, na redação de periódicos e gramáticas, solidificou o conceito de filólogo profundo, gramático abalizado, exímio conhecedor da língua e familiar dos clássicos. Os filhos de Francisco Sotero Reis revelam que a gramática foi considerada “por todos como perfeição do estilo, na perspicuidade e precisão das definições e regras doutrinais, por isso, acha-se ela com justiça adotada nas aulas públicas das principais províncias do Império”.
Sotero dos Reis destina doze páginas à Ortografia com as seguintes subdivisões: 1º os caracteres alphabeticos, ou lettras, com que se escrevem as palavras. 2º, os signaes ortographicos, ou de pontuação, que marcam as pausas do discurso, e as inflexões da voz em cada uma.
O autor critica os sistemas ortográficos, que não dão conta da variação da pronúncia. Sotero dos Reis afirma: Os systemas exclusivos de orthographia somente segundo a pronúncia, ou de orthographia puramente etymologica, são irrealisaveis; o primeiro, porque a pronúncia varía, para bem dizer, em cada provincia, e em cada século[...] E acrescenta: “o segundo, porque seria mister escrever as palavras como se achão na lingua d’onde são derivadas, ao que se oppõe a forma e a pronúncia dos termos variados” .
Logo a seguir, o autor trata dos sinais ortográficos, ou de pontuação, uma vez que os considera indispensáveis para que a o estudo da ortografia alcance o seu objetivo que é a escrita correta. Assim, Sotero dos Reis encerra o capítulo da Ortografia.
Sotero dos Reis expressa sua preocupação com o ensino da Língua Portuguesa, especificamente, não só na parte destinada à Prosódia, quando se refere à pronúncia do português – uma vez que esta se apresenta mais rápida em relação ao grego e ao latim –, mas também na seleção dos exemplos e providenciais inserções com esclarecimentos relevantes.
Outro ponto que foi identificado, que valoriza a Grammatica Portugueza, é o posicionamento explícito de Sotero dos Reis diante do ensino tradicional, ora compactuando com ele, ora divergindo dele. Convém ressaltarmos que no texto de Sotero dos Reis predomina a natureza prática, tendo em vista a preocupação do autor em a acompanhar a teoria com a sua imediata aplicação por meio de exemplos comprobatórios, para que o aluno não duvidasse da teoria.
A gramática de Sotero dos Reis apontou caminhos que ainda são válidos hoje, uma vez que a renovação do ensino da língua materna, o português, está intimamente ligado a um leque de fatores políticos, econômicos, sociais, psicológicos, linguísticos, metodológicos e pedagógicos, todos de relevância e interação, pois o fator linguístico deve ter de se aliar às variáveis sociais e pedagógicas.
Em vista do que foi exposto, uma abordagem historiográfica da Língua Portuguesa tem relevância primordial nesse estudo, uma vez que a pesquisa trata de dois expoentes representantes da gramaticografia no Maranhão, abrangendo o contexto histórico e documental do século XIX. Nesse sentido, o presente trabalho poderá contribuir para o desvelamento de questões concernentes à política linguística, além de suscitar outras reflexões acerca do ensino de Língua Portuguesa no Maranhão.

Pesquisa e texto final:

Raimundo Fontenele

Um comentário:


  1. Email: escreveu:
    Prezado Raimundo,

    boa tarde. Peço que divulgue a nova edição do Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira, do maranhense Francisco Sotero dos Reis. Ela foi organizada e anotada por mim. Trata-se da parte sobre literatura portuguesa que ainda não tinha sido reedita. Saiu pela Paco Editorial, sob apoio financeiro das agências CNPq, Fapemig e Capes.

    Para adquiri-la, é possível pelo e-mail (carlosaug.melo@gmail.com).

    Abaixo, transcrevo o texto do prof. Luiz Roberto V. Cairo (Unesp-Assis), publicado na orelha dessa edição.

    Abraços,

    Prof. Carlos Augusto de Melo
    (ILEEL/UFU)

    Texto da orelha:

    "Curso de literatura portuguesa e brasileira: autores portugueses, de Carlos Augusto de Melo, é desses livros, cujo lançamento aplaudimos de pé e saudamos com bastante prazer pela prioridade e relevância, que devemos dar no País, aos trabalhos resultantes de pesquisa de fontes da memória literária brasileira. Vale observar que, em 2014, o pesquisador fluminense Roberto Acízelo de Souza havia publicado uma edição do Curso de literatura portuguesa e brasileira, de Sotero dos Reis, enfocando a fundamentação teórica e os estudos apenas de autores e obras brasileiros, deixando de fora o estudo dos autores e obras portugueses, tarefa esta que veio ser desenvolvida, posteriormente, por Carlos Augusto de Melo, em colaboração com sua equipe de orientandos.
    O autor que ora lança este livro, é escritor, crítico e professor de literatura brasileira do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários, da Universidade Federal de Uberlândia-UFU, em Minas Gerais. Leitor disciplinado, com espírito crítico sensível e aguçado, o que me leva a dizer tratar-se também de um pesquisador naturalmente vocacionado.

    A presente edição dessa obra, organizada e anotada pelo prof. Carlos Augusto de Melo, vem, portanto, oferecer aos leitores brasileiros e lusófonos, o conhecimento daquela que foi uma das primeiras tentativas de história da literatura escrita por um brasileiro para leitores brasileiros. Ao assim proceder, completa não só a edição de 2014, do Curso do crítico e historiador maranhense, como proporciona a circulação da importante obra em sua integralidade entre os leitores Século XXI. "



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