22 de fev. de 2017

CHEGADA TEMPORAL FAZ 47 ANOS


A coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso Blog LITERATURA LIMITE (WWW.literaturalimite.com.br) aproveita para matar dois coelhos de uma só cajadada. Ou seja: vou aproveitar que o homenageado do mês é o Dr. DOMINGOS VIEIRA FILHO para publicar dele o Prefácio que fez para o meu primeiro livro de poesias, CHEGADA TEMPORAL, editado em 1970, pela Editora Mensageiro da Fé, de Salvador, Bahia.
E na sequência publico também alguns poemas deste livro que marcou a minha entrada, de forma oficial, para o mundo das letras. O primeiro livro é uma espécie de compromisso que autor faz em dois níveis. Primeiro, consigo mesmo. E depois, com os leitores, os amigos, os parentes, enfim pessoas que esperam que você seja alguém no mundo, faça alguma coisa de útil, enfim, seja digno desta coisa tão generosa, maravilhosa e única que é a existência humana.
Dou graças por ainda está aqui, nessa trincheira, escrevendo, publicando, vivendo.

PREFÁCIO

            Nunca é demais dizer-se que no Maranhão os talentos poéticos sobram a cada canto.
            Assim, o dito “cria fama e deita-te na cama” não é procedente entre nós, tratando-se de poetas.
            Nós exportamos talentos e poetas de verdade, às vezes de forma quase perdulária.
            Temos agora um exemplo frisante disso com este livro de estreia de RAIMUNDO FONTENELE, um jovem modesto, desconhecido, tímido mas dono de um admirável talento poético.
Porque RAIMUNDO FONTENELE não é o simples artesão do verso que se consome em noites insones na busca torturante da perfeição formal. Seu talento genuíno, profundo sentimento poético, que se extravasam em versos interiores, repelem o aparato vistoso e intensamente colorido que seria a poesia inconsequente, ôca de sentido e de mensagem, puro sensorial para gosto e uso hedonístico.
Não é também, por outro lado, um hermético intraduzível, fechado numa como por espécie de nódulo poético, sem a força comunicativa que a poesia autêntica encerra, eterna catalisadora de emoções e sentimentos.
E não aspira, assim entendemos, a requintar o verso em roupagem enganosa. Cria antes seu clima ideal, sua atmosfera adensada nas experiências que a vida vai lhe ministrando na esteira do tempo.
E não se preocupa por igual em descobrir soluções poéticas novas, em pesquisas estéticas às vezes infrutíferas.
Poeta e bom e o verbo que o propele é o verbo poetar, isto é, fixar emoções vividas no artifício material do verso, na instantaneidade e milagre da criação artística.
Ler este estreante que surge seguro de si, sem as indecisões dos novos, estranhamente maturado, será por certo um grande prazer intelectual pelo que de revelação poética ela representa.
DOMINGOS VIEIRA FILHO
Da Academia Maranhense de Letras


NASCIDO
Noite (da noite)
trouxe-me
a vibração gritante
da carne
chamando-me
das trevas para a luz

POEMA DO AMOR TEMPORAL
Ainda tarde
chorarei meus olhos de raízes soltas
na branca luz do teu secreto alento
e enquanto o beijo
ascende um brilho novo
reter-me-ei de bruços
no busto de teus braços.
De não vagar com teu fantasma
repartirei em lágrimas
o grito indefenso
da minha sétima e última existência
e outro brilho sangrará da neve errante
que em nós dois cairá
desfeita em vento.

POEMA DO AMOR SOFRIDO
a  Eliene Matos
despertarei
me erguerei
e gritarei teu nome
na procura maior
do amor sofrido.

SENTIDOS
Partir a marcada claridade
em seis sentidos
dos pés ao sol
e do sol à tumba, se possível
jamais erguer-se
o vício na lama
ou atrás de nosso irmão
sentir silêncio.

ENIGMA DA LUZ
Morrerei de só
e nunca serei três nessa comédia
porque o meu sangue
me enterrará de joelhos.
Da noite em morte
gritarei sem Pátria
inda que volte, e beba, e cuspa,
e seja luz...

LIBERTINAGEM
Na boca de Satã
a cólera espuma
porque é noite
Meio dia e meio

SÁBADO MEDROSO
Um louco
esconde um gênio
do sábado (do louco)
que saiu
torto de mim

VIDA TEMPORAL
A minha vida
é uma sombra prolongada
na busca do invisível
que empreenderei
nesta breve passagem

8 JUNHO 8
E vi vida
na vinda amanhecer
(Ah!)
dói-me a dor
desses olhos abertos
na busca (para a luta)
de viver

EPÍLOGO II
De mim ao mar
o horizonte gela e escuta
a madrugada na manhã
a despejar silêncio

MANHÃ: ela/sentimentos
Um lírio branco nos teus olhos
vi, bem naufragado.
E os meus, em violeta triste,
transformados.
Esta manhã de brumas
me dispersa pelo ar
do teu meigo sorriso]e eu, tão só em mim,
só vontade, só desejos.
Assim, luz da manhã
faltando aos teus cabelos;
assim, chuvas esparsas
para o céu dos meus desvelos.

Raimundo Fontenele / Poeta maranhense 

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