5 de jul. de 2017

APRENDENDO A NADAR (8 SONETOS)

        APRENDENDO A NADAR (8 SONETOS)
        Nesta quarta feira, o nosso blog LITERATURA LIMITE (que você acessa www..literaturalimite.com.br) traz oito sonetos. Melhor dizendo, oito estudos, sim, porque não me considero um sonetista, digamos, competente. Sou muito mais um admirador dessa longeva forma de poetar, e que desde Petrarca, passando por Camões, pelo nosso Manuel Bandeira, sempre nos encheu o coração de emoções e alegria.
        Denomina-se soneto um poema de forma fixa, composto por 14 versos, apresentados em 4 estrofes, sendo 2 quartetos e 2 tercetos. O nome deste gênero lírico é originário do italiano sonetto, que significa “pequena canção”, ou, de forma literal, “pequeno som”. A criação do soneto é controversa: geralmente é atribuída ao humanista Francesco Petrarca, do século XIV; porém, atualmente sabe-se que esta forma lírica já era praticada um século antes por Giacomo de Lentino, tendo sido elaborado a partir da poesia popular da Sicília. Este gênero lírico foi introduzido em Portugal por Sá de Miranda, no ano de 1527, e Luís de Camões foi o responsável por torná-lo popular e pelo seu sucesso..
        Ao falarmos da estrutura dos sonetos, primeiramente devemos nos ater à métrica, que é o primeiro importante ponto estrutural deste gênero lírico. Um soneto é composto por 14 versos e cada um deles deve possuir a mesma métrica, isto é, cada um dos catorze versos deve apresentar o mesmo número de sílabas poéticas.
        Os sonetos podem ser apresentados em três formas de distribuição de versos, a saber:
- Soneto petrarquiano ou italiano: possui duas estrofes de quatro versos    (denominados quartetos) e duas de três versos (denominados tercetos);
- Soneto inglês ou Shakespeariano: esta forma de soneto apresenta três      quartetos e um dístico;
- Soneto monostrófico: estrutura composta por uma única estrofe de 14      versos.
        Além da métrica, outro ponto observável na composição do soneto é a ordem em que os versos apresentam as rimas. Em se tratando de quartetos, podemos encontrar três principais formas de posicionamento das rimas. Confira a seguir:
   Rimas entrelaçadas ou opostas – abba – Neste posicionamento, o primeiro    verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro;
   Rimas alternadas – abab – Neste caso, o primeiro verso rima com o         terceiro e o segundo rima com o quarto;
   Rimas emparelhadas – aabb – Ocorrem quando o primeiro verso rima com       o segundo e o terceiro rima com o quarto.
        Os sonetos de Luís de Camões são considerados os melhores da Língua Portuguesa. Além do poeta português, outros sonetistas em Língua Portuguesa que se destacam são os seguintes: Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes, Gregório de Matos Guerra, Florbela Espanca, Cláudio Manuel da Costa e vários outros. Vejamos a beleza e riqueza deste soneto de Camões e em seguida os meus pobres e humildes 8 sonetos:
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.
Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.
(Luís de Camões)     
SONETO 1
Estar contigo é o que mais queria.
Olho no olho, entro, quase um beijo,
uma mistura de sede e de desejo,
num sofrimento cheio de alegrias.
Pudesse tuas mãos ter entre as minhas,
tua boca em meu ouvido sussurrando
palavras e promessas, delirando,
sentindo a paz que sentem as avezinhas.
Eu te daria tudo, céu e terra.
Ia buscar do mundo as maravilhas
para depositá-las todas em tua mão,
e outras belezas que a vida encerra.
Depois te levaria para uma ilha:
tu, toda amor; eu, todo Maiakovski.
SONETO 2
Foi numa tarde de junho no Farol,
debruçada na mesa sobre livros,
que se olhar lançou em mim um sol
de alegria, fez saber-me vivo.
Foi num impulso que falei com ela,
cheguei mais perto para melhor vê-la.
Caí de quatro, vendo-a tão bela,
estava ali meu céu e sua estrela.
Sussurrou, falou baixo, respondendo.
A sua voz era uma música divina,
e em sua boca sorriu uma menina.
Nada compreendi, e não compreendendo,
pensei colher aquela flor perfeita,
andando às cegas, a torto e à direita.
SONETO 3
Navego neste site amoroso
pela intervia do meu coração.
Minha cabeça vive que é só chip,
a nova pílula contra a solidão.
Uma ou outra vez sua mão macia
tocou a minha, por isso estremeci.
Pulsou em mim uma nova alegria,
cuidei que ia morrer e revivi.
A cura é esse olhar, que é milagroso.
A cura é essa luz que me salvou.
Agora recomeço o recomeço
nesta tarde de chuva e de mormaço.
Não há como fugi deste cansaço,
nem sei se o que peço é o que mereço.
SONETO 4
Dezenove de junho, terça-feira,
às nove, em ponto, bateu meu coração
em aflição, numa angústia de feira,
eu ia indo pela contramão.
Teu sorriso não estava lá no pátio,
tua mão nem mais ousei tocar.
Afundei nesta dor, como num átrio,
todas as lágrimas que pude derramar.
Uivei, sorri, gritei desesperado,
procurei tua sombra pelo chão.
Virei o céu em busca de uma estrela
Chamada Cleide, buscava seu perdão.
Mais uma vez fugi atordoado.
Mais uma vez estou na contramão.
SONETO 5
Uma paixão instala no meu peito
a britadeira: a custo me contenho.
Tento escondeu o que tenho, o que não tenho,
e esse secreto amor que não tem jeito.
Uma mulher de longe me conquista
com seus cílios de luz, e sua boca
traz-me um riso que jamais foi visto:
só sei que o amor é bom, e a vida, louca.
Faço de tudo um pouco para tê-la:
viro criança, palhaço, e outras coisas.
O que não se faz por amor? Ouso dizer:
tudo se faz: pois a gente mata e morre.
Leva chifre, se embriaga, enlouquece.
O amor nos salva, mas não nos socorre.
SONETO 6
Sabes o que é paixão, o que é desejo?
Essa fome e essa sede que se sente?
Esse querer teu corpo e teus beijos?
Só pode ser amor que o amor não mente. 
Ando tão dividido pela vida,
distraído e ausente, noutra lua.
Só tenho a dor, só sinto essa ferida,
por isso verto lágrimas na rua.
Não faz assim comigo, por favor.
Te dou carinho e tudo o que pedires:
dinheiro, casa, comida, e muito amor.
Pra mim só vale o que o amor falou:
mesmo se me disseres “vai!”, eu fico;
e se me disseres: “não vem!”, eu vou.
SONETO 7
Passou setembro, e chegou outubro
com suas labaredas crepitando.
Estamos separados por engano
ou por leve ironia do destino.
Vês como há pássaros que não vemos,
que chamam nossos nomes no seu canto:
(o bem-te-vi, a pomba-rola, o sabiá)
e vêm nos atar com seus quebrantos?
Amar é escolher o que não temos,
é viver procurando e ir achando
isso que faz pulsar com alegria
essa vida que é nossa, e que nos guia
para os degraus de algum lugar no mundo
cheio de amor, e sol, e poesia.
SONETO 8
Nem preciso dizer o que o se amor
fez comigo esse ano: está na cara.
Revolveu-me como se faz com a raiz
e me deixou mais triste, mas feliz.
Amar e segredar com sua boca,
usar seus dentes, ser louco por um triz.
Deixar que essa paixão, que é tão louca,
seja a doçura do doce que provei,
quando na tarde de algum domingo
ela era um favo de mel quando a beijei.
Amor avaro, ó Eros da beleza,
Rimas a minha vida com a tua.
E eu, sozinho, caminho por aqui
com os pés no chão e a cabeça na lua.








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