Para Priscila e a todos os anjos de
olhos vermelhos.
Faz dias que não saio de casa. São estranhos esses dias, esse meio brilho, esse sorriso escondido por detrás dos olhares, tudo isso me causa frio e náusea, por quanto tempo? E aí vejo todos vocês surgindo e desaparecendo nessa rota quase sempre sem rastro e o fato de nós estarmos aqui, ali, além, não chama a atenção de vocês? Afinal quem somos todos nós ali comungando o mesmo gole seco desse tácito veneno. Que fazia eu ali na discrepância daquele dia vestida de ouro? Naquela esquina escondendo minha dor ou deixando que ela escapasse por entre meus dentes, entre a minha língua e a fumaça de um cigarro amassado por esse espaço que compreende o último abraço que trocamos.
Faz dias que não falo uma palavra
sequer, faz dias que sequer me exaspero num devaneio qualquer, são dias
estranhos, diferente dos estranhos dias de outros anos, compreendam, na
piscadela dos nossos olhos eles pariram crises, produziram vírus, roubaram
nossas crianças, forjaram um golpe de estado, trancaram nossos sonhos, e onde
estávamos quando eles nos seus joguinhos estratégicos traçavam o destino de
nossas almas, onde eu estava? Onde estavam vocês? Numa esquina qualquer
vendendo barato nosso tempo com coisas supérfluas, com palavras ao vento, ou
acendendo o brilho de nossos olhos de forma forçada, quando eles deviam brilhar
involuntariamente brotando a lágrima que não se compra em lugar nenhum.
Faz dias que ando em círculos, feito
uma cadela no cio em busca desse abrigo, dessa ventura, por quanto tempo
esperar que essa chuva passe e os girassóis devolvam a graça roubada pelos
estranhos dias, mas olhem, nada é para sempre, por que o tempo, o tempo não
para! E eu não espero que alguém me faça algo ou invente uma trapaça, e também
não vou ficar aqui esperando por nossa desgraça, minha juventude é ouro, ser
jovem é massa! Se quiser me seguir me siga, se quer desistir desista, antes que
seja tarde, por que não ando com covarde, essa amizade eu jogo fora porque meu
tempo brother, meu tempo é agora!
Por Natan Castro
Massa, compadre Natan, teu texto é cortante, "fé cega, faca amolada". Diz dos intrusos, dos metidos a besta, dos conformados, diz as palavras ásperas que precisam ser ditas, assim, com poesia e charme.
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