3 de fev. de 2016

A CRÍTICA DA CRÍTICA: ROMÂNTICA, É?


Carlos Soares
Nesta quarta-feira apresento-lhes o texto a seguir, de autoria do poeta gaúcho Carlos Soares, cuja biografia sua ele me resumiu nos seguintes dados: Carlos Soares, poeta gaúcho, alguns livros publicados, viciado em sorvete de chocolate. Quando leio a definição de romantismo nos dicionários e outros informadores, fico pensando no quão distante o homem-máquina (hoje em transição para a máquina-homem) ficou de si mesmo, de seu humanismo, do próprio coração!
Esta, por exemplo: "O Romantismo foi uma escola estética que surgiu, paralelamente ao romantismo literário, como reação ao classicismo e ao neoclassicismo e se caracterizou pelo subjetivismo, pela liberdade de assuntos, de composição, de cores etc., a arte utilizada como meio de expressão e de sentimentos."
Tudo muito seco, estéril, desromantizado!
Mais compreensível e mais preciso, a meu ver, seria: "Romantismo é amor, ternura, carinho, olhares lânguidos, carícias bobas, risos fáceis, beijos muitos, brigas bobas, sofrimento, entrega, enfim, vida!" Na maioria dos escritores românticos esses temas todos podem ser encontrados.
Em Gonçalves Dias:
 "Olhos verdes
Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!"
Em Álvares de Azevedo:
 "Amor
 Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!"
Em Castro Alves:
"P´ra Maria
 Adeus! P'ra sempre adeus!
Quando alta noite,
Encostado à amurada do navio...
As vagas tristes... que nos viram juntos
Perguntarem por ti num beijo frio,
Eu lhes hei de contar a minha história.
Talvez me entenda este sofrer do inferno
O oceano! O oceano imenso e triste,
O gigante da dor! o Jó eterno!"
Bastam esses exemplos, creio. Típicos de uma alma que ama, sofre, chora, luta, enfrenta a batalha da existência, a ferro e fogo, para fazer valer todo o seu amor pela eleita de seus sonhos, ou seus ideais de homem e artista. E essa caracterítica a que damos o nome de "romântica" é universal e, por assim ser, é eterna, está no ser, é-lhe elemento primordial, essência mesma de sua vitalidade, e vai seguir o homem para sempre, vai nos acompanhar até o dia em que ruir o último prego do Universo...
Todas as escolas - mesmo as não românticas - foram românticas! Por detrás (ou po dentro) de sua frias filosofias, sempre brilhou o marfim puríssimo do poderoso esqueleto do romantismo. Todas as escolas são variadas máscaras que o romantismo fabrica para se apresentar ao público, uma estratégia bem elaborada, um truque de Houdini para que possa cantar e encantar de "cara limpa" sem causar impaciência nem ódio aos entediados de plantão.
Assim também realiza - na minha visão humilde e precária dos recursos da erudição - uma ampla e seleta poesia, romântica até a raiz dos cabelos, o Poeta Raimundo Fontenele, como acontece nos textos publicados neste blog. O vergalhão que constrói a estrutura dos poemas acima - salvo melhor juízo - é o da ternura, o do olhar piedoso sobre todas as coisas, o da justiça entre todas as coisas, e o do amor - além de todas as coisas!
Romantismo puro. Neguem quem quiser negar; oponham-se quem quiser opor-se, mas a essência desses versos:
"Tudo. Os teus cabelos-1971
Uma brancura de luz em que tua carne ia
E a minha ardia
Um sentimento na pele
Que a tua alma abria
Cofo, drive, hot, vida quente
Calma no meu desespero"
afirma e prova que ele é um "doente de romantismo", um "romântico genético", "um caso perdido de romantismo". Quem me provar o contrário, vai ganhar um jantar à luz de velas, vinho e rosas... com a Beyoncé!
By Carlos Soares

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