31 de mar. de 2016

FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL: UM PASSEIO HISTÓRICO COM ARNO WEHLING E MARIA JOSÉ C. DE WEHLING

        
       
Nesta já tradicional coluna das quartas-feiras, trago hoje, como estímulo à leitura, o livro FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL, que é também um mergulho no conhecimento de uma “obra inovadora como síntese de três séculos de história brasileira, e que se destina a um público leitor não especializado em história, sem deixar de tratar a matéria com precisão conceitual e atualidade científica”.
Os autores são pesquisadores e professores universitários, com graduação em História e Direito, e trabalham nas áreas de Teoria da História/Historiografia, Estado colonial no século XVIII e História do Direito Luso-brasileiro. São eles: Maria José Mesquita Cavalleiro de Macedo Wehling, mestre e doutora em Filosofia pela UGF, sendo também professora titular de Metodologia da História da UFRJ, e Arno Wehling, doutor em História e livre docente da USP, tendo realizado sua carreira universitária na UGF (onde é diretor dos departamentos de História e Sociologia Política.
Precisamos mais do que nunca, neste momento de crise política e de definição história do nosso futuro como nação civilizada, nos aprofundarmos no conhecimento de nós mesmos, como povo e como país, buscando uma saída para o impasse em que nos encontramos.
Impeachment ou não impeachment?, é o que se perguntam todos: uns convictos de que é esse o melhor remédio para esta nação doente; outros têm dúvida do que virá depois do impeachment. Talvez o pensamento do filósofo espanhol Jovellanos, citado nesta obra admirável que é o FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL pelos seus autores, nos ajude na reflexão madura e consciente do que devemos fazer para limparmos o Brasil dessa moléstia que contaminou os mais diversos escalões da vida pública e privada: a crise moral e ética, precursora, sem dúvida, das que se lhe seguiram, a política e a econômica:

“O preconceito, inseparável companheiro da ignorância, clama sem cessar contra toda novidade, sem se preocupar em saber se ela é útil (...). Preconceito e ignorância preferem o mal conhecido ao bem a conhecer”.

     A seguir dois pequenos tópicos do FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL, dos professores Arno Wehling e Maria José C. de Wehling, na esperança de que estes abram o apetite dos leitores para devorarem a obra inteira e não apenas estes petiscos que ora lhes apresento:



Como se pensou a formação colonial brasileira

                     A formação colonial brasileira entre os séculos XVI e XIX é uma realidade histórica que chegou até nós por sucessivas interpretações, de modo que não podemos ter a pretensão de conhecê-la “como realmente foi”. A imagem que dela fazemos é o resultado dessas interpretações, as quais, como acontece com qualquer ciência, frequentemente “corrigem” e refutam explicações e pontos de vista anteriores, que pareciam solidamente assentados.
            Na época colonial, não podemos dizer que tenha havido um pensamento ou reflexão sobre a formação brasileira. Até o início do século XVIII predominava a ideia de que a Colônia era mero apêndice, secundário e pior que a Metrópole: o Brasil era visto como “América Portuguesa”. Ao longo do século XVIII, com as transfomações substanciais que ocorriam no mundo euro-americano e na própria Colônia, esboçou-se de forma gradativa uma identidade nacional. Isso se refletiu na literatura, com o Uruguai de Basílio da Gama e Caramuru de Frei Santa Rita Durão, e na política, com a rejeição ao estatuto colonial nas conjurações Mineira (1789), Carioca (1794) e Baiana (1798).


O eu e outro: os contatos interétnicos no século XVI
            Como se viam mutuamente indígenas e portugueses? Para os primeiros, as fontes quase sempre se reduzem ao que deles diziam os cronistas, portugueses ou franceses. Sabemos, por estas fontes indiretas, que os indígenas distinguiam nos europeus “amigos” e “inimigos”, conforme fossem aliados ou os hostilizassem. Isso não se aplicava apenas a perós (portugueses) mair (franceses), mas também a colonos, jesuítas e autoridades portuguesas, conforme a natureza dos conflitos que os envolvessem. A atitude dos portugueses, como a de franceses, variava da admiração ao desprezo pelos indígenas. A característica sem dúvida mais presente era a incapacidade de entender o outro sem reduzi-lo a si próprio.


            Não seria, evidentemente, criterioso exigir dos europeus do século XVI, ainda impregnados de todo o imaginário medieval, uma atitude relativizadora e empática, que os cientistas sociais só conquistaram no século XX. Na Europa ou na América, os europeus viam as comunidades indígenas ou como modelo da idade do ouro (que, segundo a tradição grega desde Hesíodo, deveria ter existido na Antiguidade mais remota) ou, ao contrário, como seres bestiais que se degradavam na animalidade.
A ambiguidade encontra-se na própria carta de Caminha, que viu os índios de Porto Seguro “rijos, saudáveis, inocentes”, mas também “bestiais”. O rei dom Manuel, na correspondência ao reida Espanha em que comunicou o descobrimento, dizia que “o dito meu Capitão chegou a uma terra... em que achou as gentes como na primeira inocência, mansas e pacíficas”.



Pesquisa e texto final:

Raimundo Fontenele

Um comentário:

  1. Como li esta obra durante a faculdade!
    Super recomendado pelo mestre Marcos Sanches!

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