Nesta já tradicional coluna das
quartas-feiras, trago hoje, como estímulo à leitura, o livro FORMAÇÃO DO BRASIL
COLONIAL, que é também um mergulho no conhecimento de uma “obra inovadora como
síntese de três séculos de história brasileira, e que se destina a um público
leitor não especializado em história, sem deixar de tratar a matéria com
precisão conceitual e atualidade científica”.
Os autores são pesquisadores e professores
universitários, com graduação em História e Direito, e trabalham nas áreas de
Teoria da História/Historiografia, Estado colonial no século XVIII e História
do Direito Luso-brasileiro. São eles: Maria José Mesquita Cavalleiro de Macedo
Wehling, mestre e doutora em Filosofia pela UGF, sendo também professora titular
de Metodologia da História da UFRJ, e Arno Wehling, doutor em História e livre
docente da USP, tendo realizado sua carreira universitária na UGF (onde é
diretor dos departamentos de História e Sociologia Política.
Precisamos mais do que nunca,
neste momento de crise política e de definição história do nosso futuro como
nação civilizada, nos aprofundarmos no conhecimento de nós mesmos, como povo e
como país, buscando uma saída para o impasse em que nos encontramos.
Impeachment ou não impeachment?, é
o que se perguntam todos: uns convictos de que é esse o melhor remédio para
esta nação doente; outros têm dúvida do que virá depois do impeachment. Talvez
o pensamento do filósofo espanhol Jovellanos, citado nesta obra admirável que é
o FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL pelos seus autores, nos ajude na reflexão madura
e consciente do que devemos fazer para limparmos o Brasil dessa moléstia que
contaminou os mais diversos escalões da vida pública e privada: a crise moral e
ética, precursora, sem dúvida, das que se lhe seguiram, a política e a econômica:
“O
preconceito, inseparável companheiro da ignorância, clama sem cessar contra
toda novidade, sem se preocupar em saber se ela é útil (...). Preconceito e
ignorância preferem o mal conhecido ao bem a conhecer”.
A seguir dois pequenos tópicos do
FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL, dos professores Arno Wehling e Maria José C. de
Wehling, na esperança de que estes abram o apetite dos leitores para devorarem
a obra inteira e não apenas estes petiscos que ora lhes apresento:
Como
se pensou a formação colonial brasileira
A formação colonial brasileira entre
os séculos XVI e XIX é uma realidade histórica que chegou até nós por
sucessivas interpretações, de modo que não podemos ter a pretensão de conhecê-la
“como realmente foi”. A imagem que dela fazemos é o resultado dessas
interpretações, as quais, como acontece com qualquer ciência, frequentemente “corrigem”
e refutam explicações e pontos de vista anteriores, que pareciam solidamente
assentados.
Na época colonial, não podemos dizer
que tenha havido um pensamento ou reflexão sobre a formação brasileira. Até o
início do século XVIII predominava a ideia de que a Colônia era mero apêndice,
secundário e pior que a Metrópole: o Brasil era visto como “América Portuguesa”.
Ao longo do século XVIII, com as transfomações substanciais que ocorriam no
mundo euro-americano e na própria Colônia, esboçou-se de forma gradativa uma
identidade nacional. Isso se refletiu na literatura, com o Uruguai de Basílio da Gama e Caramuru
de Frei Santa Rita Durão, e na política, com a rejeição ao estatuto colonial
nas conjurações Mineira (1789), Carioca (1794) e Baiana (1798).
O
eu e outro: os contatos interétnicos no século XVI
Como se viam mutuamente indígenas e
portugueses? Para os primeiros, as fontes quase sempre se reduzem ao que deles
diziam os cronistas, portugueses ou franceses. Sabemos, por estas fontes
indiretas, que os indígenas distinguiam nos europeus “amigos” e “inimigos”,
conforme fossem aliados ou os hostilizassem. Isso não se aplicava apenas a perós (portugueses) mair (franceses), mas também a colonos, jesuítas e autoridades
portuguesas, conforme a natureza dos conflitos que os envolvessem. A atitude
dos portugueses, como a de franceses, variava da admiração ao desprezo pelos
indígenas. A característica sem dúvida mais presente era a incapacidade de
entender o outro sem reduzi-lo a si próprio.
Não seria, evidentemente, criterioso
exigir dos europeus do século XVI, ainda impregnados de todo o imaginário medieval,
uma atitude relativizadora e empática, que os cientistas sociais só
conquistaram no século XX. Na Europa ou na América, os europeus viam as
comunidades indígenas ou como modelo da idade do ouro (que, segundo a tradição
grega desde Hesíodo, deveria ter existido na Antiguidade mais remota) ou, ao
contrário, como seres bestiais que se degradavam na animalidade.
A ambiguidade encontra-se na
própria carta de Caminha, que viu os índios de Porto Seguro “rijos, saudáveis,
inocentes”, mas também “bestiais”. O rei dom Manuel, na correspondência ao
reida Espanha em que comunicou o descobrimento, dizia que “o dito meu Capitão
chegou a uma terra... em que achou as gentes como na primeira inocência, mansas
e pacíficas”.
Pesquisa
e texto final:
Raimundo
Fontenele
Como li esta obra durante a faculdade!
ResponderExcluirSuper recomendado pelo mestre Marcos Sanches!