22 de mar. de 2016

Maria Firmina dos Reis – Primeira Romancista Brasileira e Musa das Feministas


Por Natan Castro

Maria Firmina dos Reis foi uma mulata, bastarda que nasceu em São Luís em 1825. Era prima do grande escritor maranhense Sotero dos Reis o autor da primeira gramática brasileira. Segundo alguns historiadores é visível a influência de Sotero dos Reis na formação intelectual de Maria Firmina dos Reis. Considerada a primeira romancista do Brasil, tal titulo se deu por conta do lançamento do seu romance chamado Úrsula. Além de ser o primeiro romance lançado no Brasil por uma mulher, foi lançado por uma mulata, num período onde o papel da mulher na sociedade brasileira era tremendamente limitado, não bastasse isso o romance possui em suas entrelinhas criticas as práticas escravagistas tão em voga no século XIX.    

Maria Firmina além de ser detentora de todo esse pioneirismo literário feminista, essa personagem das letras maranhenses possui uma história de vida bastante interessante, diferente de alguns autores, Maria Firmina literalmente vivia na prática muito das ideias que sustentava no seu romance. Ela foi reconhecidamente a primeira educadora feminina do Estado do Maranhão, antes de ser professora do Estado ela já de forma pessoal ajudou a educar varias crianças na capital maranhense. A escritora viveu os últimos anos de sua vida na cidade de Guimarães (MA), além de lecionar na cidade, Maria Firmina educou e criou praticamente sozinha cerca de onze crianças. Diante de tais informações verificamos o quão é sui generis a figura dessa escritora de origem negra e nordestina, num período de nossa história onde a mulher era impedida inclusive de votar, essa mesma mulher teve a audácia de escrever um romance de teor humanista, num meio literário totalmente ocupado por membros do sexo masculino.

Atualmente setores da sociedade como o das feministas e outros voltados para igualdade racial e de gêneros tem na figura de Maria Firmina dos Reis uma espécie de musa, uma heroína que ousou interferir na história do país que era protagonizado totalmente por cabeças masculinas.

Meditação
                                                   (Maria Firmina dos Reis)

Vejamos pois esta deserta praia,
Que a meiga lua a pratear começa,
Com seu silêncio se harmoniza esta alma,
Que verga ao peso de uma sorte avessa.
Oh! meditemos na soidão da terra,
Nas vastas ribas deste imenso mar;
Ao som do vento, que sussurra triste,
Por entre os leques do gentil palmar.
O sol nas trevas se envolveu, - mistérios
Encerra a noite, - ela compr'ende a dor;
Talvez o manto, que estendeu no bosque,
Encubra um peito que gemeu de amor.
E o mar na praia como liso ondeia,
gemendo triste, sem furor - com mágoas...
Também meditas, oh! salgado pego -
Também partilhas desta vida as frágoas?...
E a branca lua a divagar no céu,
Como uma virgem nas soidões da terra;
Que doce encanto tem seu meigo aspecto,
E tanto enlevo sua tristeza encerra!
Sim, meditemos... quem gemeu no bosque,
Onde a florzinha a perfumar cativa?
Seria o vento? Ele passando ergueu
Do tronco a copa sobranceira, altiva.
Passou. E agora sufocando a custo
Meu peito o doce palpitar do amor,
Delícias bebe desterrando o susto,
Que a noite incute a semear pavor.
E um deleite inda melhor que a vida,
langor, quebranto, ou sofrimento ou dor;
Um quê de afetos meditando eu sinto,
Na erma noite, a me exaltar de amor.
Então a mente a divagar começa,
Criando afouta seu sonhado amor;
Zombando altiva de uma sorte avessa,
Que oprime a vida com fatal rigor.
E nessa hora a gotejar meu pranto,
Nas ermas ribas de saudoso mar,
Vagando a mente nesse doce encanto,
Dá vida ao ente, que criei p'ra amar.
E a doce imagem vaporosa, e bela,
Que a mente erguera, engrinaldou de amor,
Ergue-se vaga, melindrosa, e grata
Como fragrância de mimosa flor.
E o peito a envolve de extremoso afeto,
E dá-lhe a vida, que lhe dera Deus;
Ergue-lhe altares - lhe engrinalda a fronte,
Rende-lhe cultos, que só dera aos céus.
Colhe p'ra ela das roseiras belas,
Que aí cultiva - a mais singela flor:
E num suspiro vai depor-lhe as plantas,
Como oferenda - seu mimoso amor.
Mas, ah! somente a duração dum ai
Tem esse breve devanear da mente.
Volve-se a vida, que é só pranto, e dor,
E cessa o encanto do amoroso ente.


[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 173-175 ]

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