Andei
pensando umas coisas malucas. De achar que no Maranhão, principalmente em São
Luís, a nossa história literária é toda cheia de falhas, de vaidades, de inveja
e de mentiras. E ela andou, anda ainda, aos pulos, como um sapo. Vários grupos,
panelas, corporações de homens de letras se juntam, dão ideias, criam,
escrevem, divulgam, e aí, cataplimba!, tudo volta ao silêncio.
Só muito tarde falaram de
Sousândrade. Só agora se publica trabalhos sobre Maranhão Sobrinho. Os da Atenas Brasileira, os dos Novos
Atenienses, os da Academia Maranhense de Letras, os da Academia dos Novos, cada
um no seu tempo e lugar marcaram suas presenças, mas é como se fossem
estanques e não se retroalimentassem uns aos e dos outros. São muitos
grupelhos, e ao longo, do tempo, não se sistematizou todos esses grupos,
retirando de cada um deles as figuras mais representativas, e se fosse reunindo-os
e publicando-os numa espécie de Suma Maranhensis da Literatura.
E na história recente isto é mais
evidente. Cada grupo só vê o próprio umbigo. Não existe um órgão de estado que
fomente a cultura, que reedite constantemente as diversas obras e seus autores,
que estimule a pesquisa num campo amplo e vasto. Se alguém aí se levantar e
disser, com a boca cheia e o peito inflado, “nós temos um órgão importante, a
Secretaria de Cultura”, ora, eu sou capaz de mandá-lo enfiar o tal órgão naquele
lugar.
Porque
aí quem disser isso vai estar de sacanagem comigo. Todos sabem, mas colocam uma
venda nos olhos pra fazer de conta que não estão vendo nada, que a Secretaria
de Cultura há muito se tornou um cabide de emprego, um porto seguro para os
artistas ancorarem suas produções cheias de salamaleques e peidos, mas que a
nada questionam, nada enfrentam, nada quebram, nada inovam. São artífices
usados e abusados pelos governantes de plantão a quem aplaudem e puxam o saco
até arrancar. Como deve ter governante roncolho no Maranhão de hoje!
A Secretaria de Cultura nada mais é
que uma produtora de eventos festivos. Fomentadora de cultura, o caralho! É da
mesma gênese desta tal porra de Pátria Educadora. Faltam produções literárias
específicas, antologias de poesia e prosa, de caráter didático, para
distribuição em bibliotecas escolares, sintetizando quatrocentos anos de
história literária, em vários tomos, mas o dinheiro é pra encher o bolso dos
cupinchas governamentais e pra comprar capim pros bois. “Farta” tudo (Raimundo
Fontenele).
Sobre o homenageado:
José Américo Augusto Olímpio Cavalcante dos Albuquerques
MARANHÃO SOBRINHO, nascido em Barra do Corda-MA, a 30 de dezembro de 1879 e
falecido em Manaus no dia 25 de dezembro de 1915, se constitui num dos maiores
poetas brasileiros, legítimo representante do Simbolismo. Vida desregrada e
boêmia, faleceu muito cedo, com a idade de apenas 36 anos, o que não era
incomum tratando-se de artistas e poetas, todos vítimas do mal do século: muita
farra, mulheres, doenças venéreas e falta de antibióticos. Sua obra poética se
resume a Papéis Velhos... Roídos
pela Traça do Símbolo (1908), Estatuetas (1909) e Vitórias Régias (1911).
Nesta
primeira homenagem mensal, seguem-se: um primoroso ensaio crítico, que iremos
trazendo aos poucos, durante este mês, aguçando o apetite dos amantes da boa
literatura. O trabalho é da professora Vanda Maria Sousa Rocha, com graduação em Letras pela Universidade
Federal do Maranhão (1993) e mestrado em Ciências da Literatura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). E, claro, alguns poemas do nosso
homenageado (RF).
A MEMÓRIA
NA POESIA DE MARANHÃO SOBRINHO
Vanda Maria Sousa Rocha
1. INTRODUÇÃO
Este
estudo se constitui numa investigação sobre o memorialismo poético, subjacente
em Papéis Velhos, Rosa Morta e Evocação, sonetos circunscritos na obra
Papéis Velhos, de José Américo dos Albuquerques Maranhão Sobrinho, poeta
maranhense, situado nos entres séculos XIX e XX. Considerando que toda poesia
já contém em sua essência, uma teoria, a presente reflexão será guiada por um
olhar transdisciplinar, instaurando diálogos possíveis, a partir de algumas
orientações de Bérgson e Proust sobre Tempo e Memória, particularizando
questões referentes à memória individual e coletiva, evitando, dessa forma,
assumir, em algum grau, a inexorável postura dogmática da Ciência, por parecer
insuficiente, nessa jornada marcadamente subjetiva, que aponta para a natureza
ilimitada da própria memória, diluída nos vestígios imprecisos das poesias,
aqui, proposta.
A
razão dessa temática prende-se, também, ao desejo de conhecer a instigante vida
de Maranhão Sobrinho (impossível fazê-lo, totalmente.), marcada pelas inquietações
existenciais, exílio voluntário e solidão. Este é o contexto no qual se inscrevia
esse homem, porque perdido no seu próprio presente, buscava indícios de mudanças
via poesia, como desejo de sublimação. Não havendo estudos publicados em torno
desse poeta, vislumbra-se, aqui, “lançar luzes” num passado, (de pouco
registro) um tanto distante, construído por emoções imersas em turvas
lembranças onde, provavelmente, serão encontrados fragmentos de sua
personalidade, da obra e de seu “estar-no-mundo” - dívida merecedora de correção,
por parte da Crítica Literária brasileira - para tanto, são oferecidas algumas
informações, da ordem do individual e social
de Maranhão Sobrinho, vislumbradas em sua produção, ainda que incipientes, mas altamente
significativas e reveladoras da natureza poética e histórica, pois, a vida coletiva,
as memórias das relações sociais e dos sistemas de conhecimentos ganharam novos
contornos no processo de produção de sua obra.
No
capítulo IV efetiva-se a leitura de alguns sonetos, já citados, de Maranhão Sobrinho,
conduzida pela orientação teórica de Bérgson e outras tendências de pensamentos,
filiadas ao estudo da memória.
A
consideração sobre a importância deste trabalho para o constructo teórico da
pesquisadora será dito de maneira provisória, pois, conclusão no campo das subjetividades,
daria um peso, no mínimo, banal a algo tão singular e tão próprio do humano: a
memória de um homem.
2.
REPAGINANDO TRAÇOS DA MEMÓRIA INTELECTUAL MARANHENSE
Ao
final do século XIX, dois mitos tiveram uma marca significativa na constituição
da cidade de São Luís e deram expressividade à cultura dos maranhenses. O primeiro,
da Atenas brasileira, dando início, através da atuação de jovens intelectuais,
em atividades que reforçavam a ideia de que, a fase de opulência cultural do
Maranhão, deveria ser perpetuada e resguardada a todas as gerações. O segundo
reporta-se à fundação de São Luís pelos franceses, instalando o discurso de uma
identidade moldada nos costumes da Europa. Este último contribuiu para que o
progresso intelectual posterior dos ludovicenses fosse associado e fundamentado
à “ancestralidade ilustre dos franceses gentis e fidalgos” que deram origem à
cidade de São Luís do Maranhão.
[...]
afirmamos à França sempiterno gloriosa, que somos um povo ennobrecido pelo
trabalho e engrandecido pelas letras, pelas sciencias e pelas artes e que
vaidosos embora da descendência dos portuguezes, guardamos como glória a
fundação da Capital pelos francezes [...] Assim, minhas Senhoras e meus
Senhores, todos de pé e alma em toda mostra de alegria: - Viva o Maranhão! Viva
a França! Viva o Brasil! Viva a República na França e nosso Brasil (ÁLBUM
Commemorativo do 3º Centenário da Fundação da cidade de São Luís, capital do
Estado do Maranhão. São Luís: Typografia Teixeira, 1913. p. 13 e 14).
O
mito da Atenas Brasileira esteve vinculado à fase esplendorosa da economia,
quando o Maranhão foi incorporado ao sistema mercantilista, por meio da atuação
da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, criada pelo Marquês de Pombal,
na segunda metade do século XVIII, com o objetivo de dar reforço às atividades agroexportadoras
do Norte e Nordeste, e, diante de auxílio, a Província experimentou um grande
avanço econômico, possibilitando viver um período áureo, na produção de algodão
e arroz.
A
referida “Idade de ouro” caracterizada pela opulência econômica, originou-se devido
à expansão da lavoura algodoeira e da rizicultura. Esses dois produtos promoveram
ao Maranhão um estado de riqueza e de grande exportadora da Colônia, o que
conseqüentemente apaziguou a imagem de pobreza e miséria que os maranhenses apresentavam.
Assim, com o desempenho da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, o
Maranhão começava a ganhar espaço na economia colonial e destaque nacional.
Qual outra foeniz renascida das
cinzas, o Maranhão levantava sua altiva cabeça para emparelhar com as
Províncias mais opulentes do Brasil. Apenas saído da gentilidade, elle não
conhecia nem comercio, nem agricultura: os portos se achavão sem comunicação,
os poucos effeitos da sua produção empatados; a cidade sem edifícios; os
moradores dispersos, e finalmente reputado como inútil este fértil torrão
[grifos nossos] (GAIOSO apud ALMEIDA, Op.cit.p. 50).
A
Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão - tornou-se, então,
responsável pelas condições
favoráveis ao progresso da economia maranhense, considerando ser o
financiamento, alternativa primeira para compra de mão-de-obra escrava e
ferramentas agrícolas. Assim sendo, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão
enriqueceram sobremaneira, a Província e, essa expansão econômica, supostamente
promoveu mudanças na vida cultural do Maranhão. Considerando que, nessa época,
foram construídos em São Luis, casarões que, hoje, caracterizam o Centro Histórico
da cidade. Os sobradões que compõem o Centro Histórico foram erguidos pelos agroexportadores
locais daquela época, que recebiam influências européias, em diversos aspectos
cultuarias: vestimentas, mobílias, educação, artigos de uso pessoal e móveis.
Notável
por sua elegância e suas maneiras e por sua fineza. A riqueza do país, o desejo
de imitar os costumes europeus popularizados por uma infinidade de casas
francesas e inglesas [...] (MÉRIAN. (1998) Op. cit. p. 13).
O
desenvolvimento produtivo maranhense contribuiu para a fomentação de sua
cultura e, com o lucro da produção algodoeira, foi possível proporcionar aos
filhos dos agroexportadores locais uma educação mais elitizada – eram enviados
à Europa para estudarem nas universidades de Portugal, Paris e Londres. O
regresso desses jovens estudiosos, juntamente com aqueles que haviam se
alimentado da cultura européia, impregnada na sociedade maranhense, favoreceu
mudanças na vida cultural do Maranhão.
[....]
A perfeita educação, os modos delicados e suaves das mulheres do Maranhão
contribuíam para fazer desta cidade um dos ligares mais agradáveis de se viver
no Brasil. Em suas maiorias criadas em Portugal, as jovens senhoritas da região
traziam consigo o gosto pelo trabalho e pela ordem, recato e comportamento
geralmente alheio às nativas. Quanto aos rapazes, quase todos vão estudar nos melhores
colégios da França ou Inglaterra (MÉRIAN. (1998) Op. cit. p. 13).
Os
grandes proprietários rurais, além de fazerem altos investimentos na
educação de seus filhos,
faziam também a aquisição de bens materiais que denotavam a sua riqueza e
influência nos costumes europeus. No ano de 1816, com a construção do Teatro
União – hoje, Teatro Arthur Azevedo – a cultura popular foi marcada por espetáculos
teatrais que incentivavam os maranhenses ao modo de vida da Europa, pois, a
considerada classe alta do Maranhão transfigurava a imagem dos ludovicenses,
através da erudição propagada naquela época. Assim, dentro desse contexto, as
atividades intelectuais ganhavam expressividade, dando origem à idéia de Atenas
Brasileira. Então, nomes como os de Odorico Mendes, João Lisboa, Gonçalves
Dias, Sousândrade, Humberto de Campos, Cândido Mendes e outros, construíram no
Maranhão, hábitos que expandissem a vida intelectual desse Grupo Maranhense.
O espaço
cultural no qual o Grupo Maranhense fazia suas atividades ficou fortemente
caracterizado pela:
[...]
recorrência de palestras e conferencias de várias sociedades recreativas e
literárias; pela publicação intensiva de obras nativas e de outras Províncias;
pelas festas tradicionais; pelas disputas jornalísticas elegantemente talhadas;
pelo crescente número de obras comercializadas; pela inauguração do Liceu
Maranhense; pela intensificação da atividade tipográfica e pelo significativo
número de periódicos criados (MARTINS. (2006). Op. cit. p. 96).
O destaque
desse grupo de poetas, jornalistas, historiadores e tantos outros intelectuais,
favoreceram para o reconhecimento de um Maranhão potencializado não somente na
economia, mas, em especial, na sua atuação intelectual. A sociedade maranhense,
de fato, viveu um período de esplendor na cultura, mas isso não foi o bastante
para que ela se considerasse superior às demais. Contudo, o Maranhão moldado à
educação e ao costume de vida européia, considerou-se cultíssima e contribuiu
para a idealização de um presente glorioso e que deveria ser conhecido por
todas as gerações. Assim, criou-se então o mito da Atenas brasileira, sendo
compreendida nessa perspectiva devido ao fato de:
O
mito não está, no entanto, obrigatoriamente contra a história. Ele tanto pode
ser usado para remeter a um passado que se quer manter vivo, tornando a
presente continuidade de um passado que se constrói como foi o caso dos mitos
tecidos pelos tradicionalistas, como pode ser usado para valorizar uma
descontinuidade entre o presente e o passado. Quando o mito se humaniza, se
encarna na história, faz a história possível; torna a utopia material (ALBUQUERQUE
JÚNIOR, Durval Muniz. A invenção do nordeste e outras artes. São Paulo:
Editora Cortez, 2001. p. 193).
Porém, na
segunda metade do século XIX, a fase áurea das atividades intelectuais da
plêiade da Atenas brasileira, entraria em baixa com a morte de alguns de seus
representantes e com a emigração de alguns ícones para outras Províncias, na tentativa
de obterem reconhecimento intelectual. Outro fator concorrente para o
caos desse grupo maranhense está relacionado à crise algodoeira, enfrentada
pela Província, nessa mesma época. A partir da escassez das atividades intelectuais
e do declínio da economia – postulou-se um discurso de decadência na região
maranhense. Esse sentimento de decadência parece comum no Ocidente, pois,
Aquella
floração intellectual brilhante, artificial, extinguia-se. A poesia e a criação
estylizavam-se na grammática e na copia de clássicos verbais, longínquos e
estranhos. Os que deviam trazer a seiva nova ainda não eram entendidos. A
intelligencia desertou do seu antigo solo e seu êxodo e o das forças da
mocidade, precipitaram a decrepitude. A preguiça espiritual marcava o ritmo
moroso [...] (HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997. p. 21).
Entretanto,
nas décadas de 1870 e de 1890 – posterior à fase assombrosa, vivida pelos
literatos da época – surge outro grupo de intelectuais (os Novos Atenienses) que
almejava resgatar, reconstruir o período áureo da cultura maranhense. Ícones
como José Ribeiro do Amaral, Antônio Lobo, Fran Paxeco, Justo Jansen, Antonio
Lopes da Cunha, Domingos de Castro Perdigão, José Nascimento Moraes, Antônio
Baptista Barbosa de Godóis e tantos outros que formavam os Novos Atenienses. A
literatura maranhense, desse período, outorgava a esses intelectuais, a
responsabilidade de “firmar” / “confirmar” e divulgar as promessas de um passado
áureo, vivido pela provinciana São Luís, que, por extensão, lhe instauraram a
crença mitológica da “Atenas clássica”, naquele período, pois, lá, se
constituía um nicho de expressiva representatividade intelectual, por isso,
postulavam a responsabilidade de “guardiões” a esses mecenas que, buscando reconhecimento
nacional de sua cultura, num momento histórico, marcado por grandes tensões de
natureza geral, sobretudo na ordem das idéias, sem, contudo, obterem sucesso.
Os
Novos Atenienses proporcionaram ao Maranhão, a construção e a reforma de alguns
espaços já existentes, para resguardarem e perpetuarem a memória do grandioso
passado, que teria elevado a vida cultural da Província. Então, foram destinados
ao Liceu Maranhense, a Escola Normal, a Escola Modelo, a Escola de Música, a Renascença
Literária, a Biblioteca Pública e a Academia Maranhense de Letras, a importância
de preservar e propagar o ideal de que o Maranhão seria culto por essência.
Quanto
à instituição Academia Maranhense de Letras (AML), criada pelos Novos
Atenienses é, indubitavelmente, uma das instituições que merece destaque, pois,
por meio dela, esse grupo de jovens intelectuais honrava as tradições
literárias do Estado. A AML foi fundada em 1908, tendo como precursora a
Oficina dos Novos – instituição criada em 1900 com uma estrutura organizacional
nos moldes das Academias.
A
lista de fundadores da Academia Maranhense de Letras apresenta um
número
significativo de intelectuais, dos mais reconhecidos àqueles que tiveram menor destaque,
mas nem por isso, dignos de esquecimento. A exemplo, registra-se o nome de Maranhão
Sobrinho, como ocupante da cadeira de nº 19, patronímica de Teófilo Dias e como
patrono da cadeira de nº 21. O referido poeta, quando indicado para receber as honras
de fundador da AML, já não se encontrava em São Luís, pois havia migrado para Belém
(PA), em busca de melhores condições de vida.
Acredita-se
que um dos motivos que possa ter contribuído para que o nome de Maranhão
Sobrinho constasse como um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras
esteja relacionado ao fato dele haver estudado na Escola Normal e conhecido Antônio
Lobo – principal idealizador dos propósitos da AML e freqüentador assíduo dessa
instituição. Os ingressos de Maranhão Sobrinho à Escola Normal possibilitaram
algumas mudanças positiva ao aproximar-se de nomes altamente representativos
daquele período, resultando na sua efetiva entrada naquele “clube fechado” em
razão de seus propósitos, pois conheceria outros poetas dispostos a divulgar as
novas idéias estéticas e
a
perpetuar o mito da Atenas.
No âmbito
do desenvolvimento das atividades intelectuais executadas pelos Novos
Atenienses, exaltavam-se as atitudes desse grupo de estudiosos. Compreendia-se que
mais um período de opulência intelectual vinha progredindo a cada dia no
intuito de resguardar e reconstruir a história de uma época nostálgica.
Aos
anos de apatia e marasmo que se seguiram à brilhante e fecunda agitação
literária, de que foi teatro a capital deste Estado, nos meados do século
findo, e que ficará marcado para honra e gloria nossa, uma das épocas mais
fulgentes da vida intelectual brasileira, substituiu-se, afinal, uma fase
franca de revivescência intelectual, que desde o início, vem progressivamente
caminhando, cada vez mais acentuada e vigorosa, destinando-se a reatar as
riquíssimas tradições de nossas letras, que a muitos já se afigurava totalmente
perdida (LOBO, Antônio. (1970) Op. cit. p. 4 e 5).
A
Academia Maranhense de Letras, enquanto “lugar de memória” apresentou papel
fundamental ao dar credibilidade ao mito da Atenas Brasileira. Contudo, essa mesma
instituição, com o passar dos anos, não serviu mais como meio para satisfazer
os anseios de seus literatos. A partir daí, muitos intelectuais migraram para
outras regiões objetivando o triunfo de suas produções. Estes homens almejavam
reconhecimento e condições mais favoráveis para expandir as suas idéias e
vivências intelectuais. Maranhão Sobrinho deu a si mesmo, a possibilidade de
viver a experiência do exílio, em favor do crescimento intelectual, saindo do
Maranhão em 1903, muito antes da fundação da AML.
Aqueles
que insistiram em viver insulado em São Luís, em detrimento do metropolitismo
reinante, havia apenas uma escolha: dar continuidade às atividades intelectuais
e de conservar a opulência literária conquistada em outros tempos, uma vez que
a AML havia se constituído para esse fim – a glorificação intelectual unida ao
papel de reacender o período áureo da cultura maranhense. Assim, os Novos
Atenienses deixavam evidente em seus discursos, o desejo de manter vivo, o
ideal da Academia Maranhense de Letras.
Ao
Maranhão, cabe a responsabilidade, imensurável, de zelar pela memória desses
antepassados; o dever moral e intelectual de transmitir às gerações vindouras e
à presente, o amor à sapiência, valor incontentável para a vida, o amor às
belas letras e o grande culto respeitoso ao valioso patrimônio que lhe foi
confiado (REVISTA da Academia Maranhense de Letras, Ano 80, v. 20. dez. 1998.
p. 15).
Percebemos,
então, que o percurso da cultura maranhense obteve oscilações significativas no
âmbito das suas melhores conquistas e no declínio das mesmas. Contudo, notamos
que todos esses intelectuais tiveram um mesmo objetivo em comum – fazer
renascer a fase esplêndida da Letras no Maranhão e perpetuar á todas as
gerações, suas tradições culturais elaboradas a partir do mito Atenas.
Preocupavam-se em elaborar atitudes que honrasse e que, ao mesmo tempo,
socorresse a cultura do Estado: “a marcha prosseguirá porque um só ideal,
que é puro e sacrossanto, nos anima e nos irmana, sob a bandeira de nossos
patronos – o de fazer eterna a glória do Maranhão Atenas” ( Discurso
pronunciado por Mário Meireles na sessão comemorativa do cinqüentenário da
Academia, a 10 de agosto de 1958. Revista da Academia, Ano 80, v. 20, dez,
1998. p. 175).
Meio aos
costumes europeus e pelo fato da Europa ser considerada, naquele momento, berço
da cultura intelectual, a forma de agir, de pensar, de educar e de fazer política
dos ludovicenses mudou de modo significativo, após o Maranhão receber fortes influências
européias, na época de sua fundação. No âmbito das letras, os intelectuais maranhenses
tiveram inspirações nas obras dos escritores de destaque do continente europeu,
entre estes se destacam Paul Verlaine, Rimbaud, Stefane Mallarmé e Charles Baudelaire.
DOIS POEMAS DE MARANHÃO SOBRINHO
Poeta Maranhão Sobrinho |
SATÃ
Nas margens de cristal do Danúbio do sonho,
cromadas de rubis, de
pérolas purpúreas,
vê-se o imenso solar
sonolento e medonho
do dragão infernal das
Princesas espúrias...
Guarda o nobre portal de
alabastro tristonho
desse antigo solar, de
malditas luxúrias,
em que fulge o brasão
heráldico do sonho
não sei quantas legiões
de duendes e fúrias!
Sobre o mármore azul das
colunas austeras,
que, em noivados de luz,
o luar engrinalda
brilha o vivo cristal de
alígeras quimeras...
Velam desse dragão o
oriental tesoiro,
sobre um trono de rei, de
maciça esmeralda,
dois soberbos leões, de
grandes patas de oiro...
SOROR TERESA
... E um dia as monjas foram dar com ela
morta, da cor de um sonho
de noivado,
no silêncio cristão da
estreita cela,
lábios nos lábios de um
Crucificado...
somente a luz de uma
piedosa vela
ungia, como um óleo
derramado,
o aposento tristíssimo de
aquela
que morrera num sonho,
sem pecado...
Todo o mosteiro encheu-se
de tristeza,
e ninguém soube de que
dor escrava
morrera a divinal soror
Teresa...
Não creio que, de amor, a
morte venha,
mas, sei que a vida da
soror boiava
dentro dos olhos do
Senhor da Penha...
Pesquisa e texto final:
Raimundo Fontenele
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