Centro Histórico São Luís MA |
Por Natan Castro
Anteontem sai a
resolver assuntos pessoais e tive a oportunidade de atravessar a cidade de São
Luís, a Ilha Rebelde ou Ilha do Amor como preferem chamar alguns, essa cidade
onde eu moro desde que nasci no fatídico ano de 1980, ano esse onde se foram
personas imprescindíveis na minha formação. Dentro de um coletivo ao lado do
meu filho adolescente, me senti na obrigação de lhe falar mais sobre aqueles
locais, são ruas, prédios, monumentos, pontes, praças, bairros, em suma um pouco
da cidade que moramos e por algum motivo passa incólume de qualquer reflexão da
grande maioria de sua população. Tentava com aquelas indicações inserir na
consciência do meu filho o quanto aquela cidade estava entranhada no meu
inconsciente, mais precisamente na minha alma.
Desde muito cedo aprendi
a viver aqueles locais, em períodos menos perigosos, na minha pré-adolescência
podíamos andar por diversos locais de nossa cidade, como por exemplo, o centro
antigo da cidade local hoje reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade.
Meu filho ouvia meu discurso e vezes ou outra olhava atenciosamente os locais
indicados com parcimônia. No meio daquela espécie de tour quase desimportante
me veio a cabeça um verso de Ferreira Gullar do seu grandessíssimo livro Poema Sujo onde ele citava aquela cidade
mesmo estando de longe em Buenos Aires assim como o fez Gonçalves Dias nosso
poeta maior décadas atrás.
Na São Luís de
junho de 2016 a cidade vive a angústia de ser uma das cidades que mais sofre no
Brasil com a falta de planejamento haja vista que o primeiro esboço de
organização urbana de nossa capital nos remete ao período de colonização,
naqueles tempos as cidades eram pensadas tendo como objetivo o escoamento de
mercadorias, pessoas e quase tudo rumo ao litoral. Em 2016 vivemos o ápice de
um caos organizacional, com o crescimento desacerbado da cidade rumo a
periferia, trazendo com isso um inchaço e confusão no trânsito da cidade nos
horários de pico. Uma leva considerável de trabalhadores que todas as manhãs saem dessa
periferia em direção aos bairros centrais onde se encontram as oportunidade de
trabalho, uma considerável leva de maranhenses dentro de coletivos superlotados alguns
com mais de quinze anos de fabricação, que se chocam com os carrões da classe média
baixa e alta que nesse exato momento se movimentam em direção a trabalho,
faculdades, hospitais e condomínios realizando um perfeito inferno urbano em
três horários todos os dias religiosamente.
Hoje não sou mais
aquele adolescente morador de um bairro perto do centro, hoje sou um pai de um
garoto muito mais atento que eu aos problemas do planeta quando eu tinha sua
idade. Foi há alguns anos atrás, mas para mim aquele período em minha memoria
surge como uma época romântica, é bem verdade a cidade mudou bastante, naquele
período existia duas cidades dentro de uma, a cidade velha que compreendia o
centro histórico e bairros que tomavam a direção de bairros antigos e de outros
que começavam a fazer parte da periferia. E do outro lado da ponte do São
Francisco a cidade chique, a nossa zona sul de bairros como o próprio São
Francisco que na minha infância ia para brincar de empinar papagaio e sura e
ficar impressionado com os prédios que começavam a tomar os ares do bairro
inteiro. Hoje em dia posso dizer que existe ainda essas duas cidades com mais
três realidades sobrepostas a ela. A chegada das grandes empresas que a meu ver
demoraram a abarcar na Ilha, os cinco shoppings que se abarrotam de gente por
todos os lados nos finais de semana, a explosão imobiliária com condomínios para
todos os lados, tudo isso surgindo de forma totalmente desorganizada e
desajustada, desencadeando uma ridícula falta de segurança em toda a cidade,
roubos e furtos pra todos os lados enfim, São Luís de uma vez por todas chegou a
pós-modernidade. É essa cidade que continuarei vivendo e que meu filho
entregará a seus filhos, com o andar da carruagem o mito da
carruagem de Donana de tempos atrás ficará cada vez mais esparso na névoa dos
tempos passados, tempos esses que ninguém mais ousa lembrar e outros nem tempo tem para isso,
pois estão distraídos entre buzinas, buracos, assaltos e outdoors prometendo o
rejuvenescimento quase tácito.
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