2 de jul. de 2016

A HORA E A VEZ DO ROCK MARANHENSE



Por Natan Castro

Nonato e Seu Conjunto
É bem recente o inicio dos registros fonográficos de música no Maranhão, algo em torno de um pouco mais de quarenta anos. Talvez o primeiro grupo musical a realizar a gravação de um disco ainda nos anos 70 foi o Seu Nonato e Seu Conjunto, um grupo de baile que obteve um sucesso bastante interessante em São Luís, com apresentações inclusive em outros estados do nordeste. O grupo realizava uma mistura bem interessante de samba, soul, funk e pitadas de música latina, foi uma das primeiras bandas do país a gravar um reggae.

Com a chegada dos anos 80 começaram a surgir ainda que de forma bastante tímida as primeiras bandas de rock do estado, bandas em sua maioria influenciadas pela explosão do Rock Brazuka e também da Turma da Colina de Brasília. Fora isso algumas poucas bandas começaram a surgir influenciadas pelo New Wave Heavy Metal British, movimento que lançou grandes nomes do metal como Iron Maiden, Def Leppard e Judas Priest. Dessa época podemos citar a banda de Trash Metal maranhense chamada Ácido, diz a lenda que a banda tocou no lendário festival Setembro Negro em Teresina ao lado do pessoal do Sepultura do inicio de carreira. Na segunda metade da década começaram a surgir nomes que seriam responsáveis por um inicio de uma cena que somente hoje começa a se estabelecer, bandas como Ânsia de Vômito, Amnesia, Daphne, Face Oculta, Paul Time, Alcmena e outras. Com a chegada da década de 90, algumas informações foram de extrema importância para o inicio de formação de um público alternativo, o advento de um programa de radio (Time Rock), lojas de discos e acessórios como a Submundo do Rock, Casa do Rock, Traffic Sound, figuras fundamentais nesse período podemos citar o radialista Gilberto Mineiro e Joacy James desenhista, cartunista, chargista, agitador cultural, membro do movimento punk maranhense, além de integrante de bandas de punk como a Última Marcha, Pedro da Cooperativa Rola Rock’n’Roll e da banda Comportamento Estranho, uma das bandas mais antigas em atividade no meio rock da capital. Vários bares surgiram e desapareceram durante todo esse período, desses um com certeza ficou na história do underground de São Luís, o famoso Bar do Bento no bairro São Francisco, era um dos poucos locais voltados para headbangers, punks e hardcores do Maranhão. 

Banda Ânsia de Vômito

Tive a oportunidade de assistir o último show de uma das melhores bandas da década de 90 nesse local, a banda era o Sarcoma que tinha na bateria e vocal Eduardo Patricio, outra figura imprescindível para a cena rock daqueles anos. Posso citar dois shows que foram de suma importância para a galera rock’n’roll da capital exatamente na primeira metade da década, o primeiro foi da lendária banda punk/hardcore paulistana Ratos de Porão. O outro show foi da primeira grande banda de rock nacional surgida nos anos 90 os brasilienses Raimundos, realizaram um show memorável, sem dúvidas o maior público de um show de rock do período. O ano de 1996 marca o lançamento do primeiro disco de rock de uma banda maranhense, a banda Daphne lançou o disco Semblantes no Ilha Rock Festival, festival realizado por Gilberto Mineiro radialista, apresentador do programa Time Rock da rádio Mirante Fm. Eu tive a oportunidade de estar no dia do lançamento, o festival aconteceu no Ginásio Costa Rodrigues no centro de São Luís. Anos depois a banda Ânsia de Vômito uma das mais conhecidas no meio metaleiro do estado, também lançaria o primeiro álbum de uma banda de metal maranhense.

Banda Daphne
EP "As aspas serão explicadas adiante"
No inicio dos anos 2000, uma banda em formato de trio, surgiu na cena e não há dúvidas que deixou saudade num público que já havia se acostumado a consumir rock’n’roll na ilha do amor. O pessoal da Catarina Mina um trio formado por violão, baixo e bateria, um cara das antigas assumiu as baquetas Eduardo Patrício ex-Sarcoma e ex-Samsara, no baixo Bruno Azevedo e no violão e vocal Djalma Lúcio que despontava como um dos melhores letristas da nova safra de compositores maranhenses. A banda lançou um EP que ainda hoje é muito lembrado por uma turma saudosista que seguia o trio em diversos shows ao redor da ilha. O EP chamado “As aspas serão explicadas adiante” tinha um cover dos Smiths e duas músicas que tocaram bastante em rádios de São Luís voltadas ao público alternativo. A banda estava no meio das gravações do primeiro disco denominado Sabão, quando repentinamente encerrou as atividades. A banda Catarina Mina representou um dos primeiros esboços de um trabalho profissional realizado por uma banda de rock do estado.

Nos últimos quinze anos a cena vem passando por certo amadurecimento, ainda que tímido e lento em alguns momentos, mas é bem verdade que amadureceu. Chegamos à segunda metade dos anos 2010 com frutos desse amadurecimento, podemos citar duas bandas que melhor representam esse novo momento, são elas a banda de Heavy/Trash Metal conhecida como Jack Devil e os músicos da banda Soulvenir, banda de rock/indie/eletrônico.
Banda Jack Devil
Pela primeira vez bandas de rock surgidas na cena alternativa maranhense, conseguiram com esforço e talento ultrapassar os limites do estado. Os caras do Jack Devil com muita garra e raça, já tocaram em diversos festivais do Brasil e América Latina também, além de já terem lançados dois discos com ótima aceitação do público e boas criticas de revistas especializadas. Algo quase impensável em outras épocas. A Soulvenir apesar de ser uma banda recente já nos primeiros anos de existência alcançou um feito bastante relevante para a cena rock do estado, recentemente a banda venceu o festival EDP Live Bands Brasil, alcançando o primeiro lugar, deixando para trás cerca de 1.400 bandas do país inteiro, com o prêmio a banda ganhou a oportunidade de gravar um disco pela gravadora Sony Music e participar de um grande festival em Portugal ao lado de grandes nomes do rock mundial. É visível o ótimo momento que a cena atual do rock maranhense vive, com alguns bares voltados totalmente para o público do rock, junte a isso os avanços na divulgação trazidos pelas redes sociais, esses adventos em muito ajudam no surgimento de bandas novas, ao que nos parece estamos vivendo os primeiros instantes de uma possível efervescência de uma cena que agora já podemos acreditar ter alcançado o amadurecimento necessário para chamar a atenção de outros centros musicais do país. E caso essa cena alcance os holofotes do reconhecimento, tem tudo para levar junto de si, toda uma leva de artistas que se identificam com o meio alternativo, ou seja, artistas voltados para a música regional maranhense, o reggae e os demais ritmos provenientes da incrível diversidade rítmica maranhense.
Banda Soulvenir

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