25 de jul. de 2016

CARTA AO CIDADÃO BRASILEIRO

         Amigos, está de volta ao nosso Blog LITERATURA LIMITE, cujo lema “uma ponte entre a babaquice e a sabedoria” é menos uma crítica à burrice e mais um convite à leitura e à reflexão, dizia, está de volta o poeta Carlos Soares. Desta vez com um artigo CARTA AO CIDADÃO BRASILEIRO que expõe, de forma didática e, portanto, de fácil entendimento, as vísceras do Estado Brasileiro e seus diversos agentes institucionais. E aponta um caminho já usado com sucesso por outros povos e em diferentes momentos, a DESOBEDIÊNCIA CIVIL, como a forma mais eficaz do POVO manifestar sua soberania sobre o Estado e fazê-lo servidor e não servir-se de seu trabalho e seu suor (RF).

Poeta Carlos Soares

Cidadão Brasileiro!

Estamos assistindo impotentes ao desfile paquidérmico da mediocridade, nas ruas, nas instituições públicas e em todos os lugares onde as nossas autoridades pousam (e repousam) o seu bumbum de ouro. O resultado disso é a onda de violência e abusos dos bandidos e de políticos bandidos - contra a sociedade brasileira já de si tão espoliada pelos governos que se sucedem, debochadamente, aumentando cada vez mais a carga tributária (pois nos consideram bois de canga) e diminuindo a comida na mesa e o dinheiro no bolso.
O resultado é uma impunidade maior que o Himalaia, e o caos, o medo, a mesquinhez, o abuso, o arbítrio (quem pode mais chora menos), a safadeza, a picaretagem, a espertalhice (lei de Gérson), o "não sei, não vi nada". Nem nos tempos do Império e da Primeira República se viu tanta desfaçatez, hipocrisia e cinismo neste país! "Nunca, na história desse país..." E ninguém das autoridades responsáveis pela administração pública e bem estar da nação faz alguma coisa efetiva (e definitiva) para tentar mudar este estado (quase já de sítio!).
Poucos, hoje, combatem a corrupção epidêmica, que apodrece as instituições legislativa, executiva e judiciária, se espalhando por todo o corpo nacional, do menor ao maior e vice-versa: que futuro terá o Brasil? Ou melhor: o Brasil, nas atuais condições (ou falta delas) terá um futuro? Poucos, muito poucos, levantam sinceramente a bandeira da honestidade, da ética e da moral. "Será que já não se faz mais povo como antigamente?", pergunta-me um amigo, e antes que eu lhe responda, ele prossegue: "A população brasileira parece uma horda de baratas tontas, entorpecida pelo DDT das mentiras cabotinas e propagandas hipnotizantes da mídia a serviço da política nacional."
Não é à toa que o Brasil é considerado o país mais corrupto do mundo, perdendo apenas para uma ou duas republiquetas das bananas, no mapa Mundi. Querem ver? Abram o jornal e ali está mais um escândalo de "mão grande e colarinho branco" na bolsa pública, e a instauração de mais uma CPI de fancaria, fadada ao fim antes de começar. As Comissões Parlamentares de Inquérito são organizadas e dirigidas muitas vezes por políticos que, por sua vez, logo são denunciados, passando a fazer parte delas como acusado, e por isso jamais vão dar em nada neste vale de lágrimas que é o Brasil de hoje, pois uma cobra sempre protege o rabo da outra... CPIs no Brasil e entregar o galinheiro à raposa são uma e a mesma coisa.
Os Poderes Constituintes estão contaminados até os pregos. Lembro-me que no início da CPI do mensalão, uma senadora que também era juíza proclamou alto e bom som, numa entrevista televisiva da BAND, que sua equipe detinha duas toneladas de documentos e que, numa primeira análise, constatara provas que podiam condenar de logo quase uma centena de envolvidos. Passado um mês dessa entrevista, a juíza calou; a senadora sumiu da vitrine e a maldita CPI insinuava que, mesmo que os envolvidos tivessem recebido milhões em suas falcatruas, não havia indício ou prova de mensalão!
O fato de alguns, mais tarde, terem sido "condenados", não alterou em nada a situação do crime: não foi devolvido aos cofres públicos o dinheiro afanado. Além do mais, vários deles não cumpriram nem 1/5 da pena e hoje cumprem prisão domiciliar, com telão, regada à whisky escocês, ar condicionado e uma loira rabuda, no belo tapete turco da sala! Aplica-se a asquerosa Lei do Esperto: cassa-se alguns do bando (como aconteceu e acontece - todos sabem), para salvar o grupelho-mor, ou o chefão, que continua ad perpetuam manipulando os cordões da política (?) brasileira de suas luxuosas mansões ou gigantescas coberturas. E mesmo com a condenação e prisão "pra inglês ver" de alguns gatos pingados do Mensalão, Petrolão, Lava Jato, para ficarmos apenas com os últimos, porque a lista é interminável - uns já estão soltos, outros, como eu disse, em la dolce vita da prisão domiciliar, sem falar nos que retornaram aos antigos cargos e funções, remunerações de marajás (incluindo o "caçador de"), com a cara mais deslavada, rindo muito, e ironizando nas entrevistas: "Eu não falei que era inocente?" Expressão que nega um delito tanto quanto o confessa!
Este é apenas um fato nauseante entre muitos, sucedendo-se interminavelmente, sem qualquer perspectiva de solução a curto, médio e longo prazo. Entretanto, Cidadão Brasileiro, a mudança é possível, mesmo sob (e até por isso) os roncos turbulentos de nossos estômagos vazios: DESOBEDIÊNCIA CIVIL é um bom exercício de cidadania. Ghandi venceu o Império Britânico com ela, negando-se a obedecer à sua tirania, à sua exploração do trabalho, à sua prepotência e imperialismo. Pesquisem, procurem, leiam o sempre atualíssimo livro A DESOBEDIÊNCIA CIVIL, de Henry David Thoreau, autor estadunidense (Concord, Massachusetts, EUA, 12 de julho de 1817 — Concord, 6 de maio de 1862). Ele não prega violência, revoltas sangrentas, mortes, cortes de cabeças, destruições ensandecidas, como ocorreu na Revolução Francesa. Não, ele prega um método muito mais poderoso de exercício de cidadania do povo: uma forma de protesto político para mostrar aos poderosos que eles só têm poder porque o povo lhes emprestou o seu, momentaneamente, para fins de administrar para o bem comum, a riqueza da nação, e que pode lhes ser tirado a qualquer momento, pelo mesmo povo.
Demonstra que é o povo que deve monitorar, fiscalizar e impor-se sobre o Estado, ente abstrato, transformado em Dragão devorador de impostos, sangue, suor e lágrimas de cada ser humano, e não o Estado, arvorado em dono das almas, dos destinos das pessoas, identificando-as, retratando-as, dirigindo-as, obrigando-as, oprimindo-as, aprisionando-as, perseguindo-as, matando-as, desprezando-as, enfim, robotizando-as para todos os fins malignos de conforto e poder de uma minoria. Este livro liberta a consciência e traduz-se em verdadeira liberdade individual e coletiva de uma nação verdadeiramente soberana.
Livro de cabeceira, A DESOBEDIÊNCIA CIVIL, a meu ver, deveria ser adotado por quantos desejam um mundo melhor a partir de si mesmo, na sua própria pátria. Sonho? Fantasia? Alucinação? Ponham-na em prática para ver o poder espantoso de mudança da desobediência civil! Comecemos por dar uma resposta aos canalhas da política não votando em nenhuma eleição, não aceitando administradores corruptos, nem impostos impiedosos e injustos, nem leis hipócritas, fajutas, que só são usadas para botar numa cela infecta o ladrão de galinha - que furtou para alimentar seus filhinhos esqueléticos no barraco à beira do mangue - mas, cheia de sofismas e teses obscuras construídas por juristas sórdidos - vendilhões do Sagrado Templo da Justiça e do Direito - quando têm que ser aplicadas aos lobos de gravata e paletó, nos "crimes de colarinho brando", porque branda é com eles!
Desobediência civil é o caminho mais humano, pacífico, eficaz, para se corrigir qualquer sistema nefasto de exploração ou opressão das massas: democracia, socialismo, comunismo, capitalismo e aquele que considero o pior de todos: o safadismo (enquanto estrutura psicológica de administradores patifes voltada para o assalto da verba pública). Este, adotado no Brasil, de longa data, sobrepuja a todos os outros de longe, isto quando não lhes compõe, também, a própria essência! Precisamos, Cidadão Brasileiro, fazer do brasil minúsculo um BRASIL maiúsculo, com oportunidades, justiça, distribuição de renda e avanços sociais, para todos. Precisamos dar a César o que é de César: nada! E ao povo o que é dele: TUDO! Esta é a Carta. Boa leitura.

                                               Atenciosamente,

     Carlos Soares 

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