Amigos, está de volta ao nosso Blog LITERATURA LIMITE, cujo
lema “uma ponte entre a babaquice e a sabedoria” é menos uma crítica à burrice
e mais um convite à leitura e à reflexão, dizia, está de volta o poeta Carlos
Soares. Desta vez com um artigo CARTA AO CIDADÃO BRASILEIRO que expõe, de forma
didática e, portanto, de fácil entendimento, as vísceras do Estado Brasileiro e
seus diversos agentes institucionais. E aponta um caminho já usado com sucesso
por outros povos e em diferentes momentos, a DESOBEDIÊNCIA CIVIL, como a forma
mais eficaz do POVO manifestar sua soberania sobre o Estado e fazê-lo servidor
e não servir-se de seu trabalho e seu suor (RF).
Poeta Carlos Soares |
Cidadão
Brasileiro!
Estamos
assistindo impotentes ao desfile paquidérmico da mediocridade, nas ruas, nas
instituições públicas e em todos os lugares onde as nossas autoridades pousam
(e repousam) o seu bumbum de ouro. O resultado disso é a onda de violência e
abusos dos bandidos e de políticos bandidos - contra a sociedade brasileira já
de si tão espoliada pelos governos que se sucedem, debochadamente, aumentando
cada vez mais a carga tributária (pois nos consideram bois de canga) e
diminuindo a comida na mesa e o dinheiro no bolso.
O
resultado é uma impunidade maior que o Himalaia, e o caos, o medo, a
mesquinhez, o abuso, o arbítrio (quem pode mais chora menos), a safadeza, a
picaretagem, a espertalhice (lei de Gérson), o "não sei, não vi
nada". Nem nos tempos do Império e da Primeira República se viu tanta
desfaçatez, hipocrisia e cinismo neste país! "Nunca, na história desse
país..." E ninguém das autoridades responsáveis pela administração pública
e bem estar da nação faz alguma coisa efetiva (e definitiva) para tentar mudar este
estado (quase já de sítio!).
Poucos,
hoje, combatem a corrupção epidêmica, que apodrece as instituições legislativa,
executiva e judiciária, se espalhando por todo o corpo nacional, do menor ao
maior e vice-versa: que futuro terá o Brasil? Ou melhor: o Brasil, nas atuais
condições (ou falta delas) terá um futuro? Poucos, muito poucos, levantam
sinceramente a bandeira da honestidade, da ética e da moral. "Será que já
não se faz mais povo como antigamente?", pergunta-me um amigo, e antes que
eu lhe responda, ele prossegue: "A população brasileira parece uma horda
de baratas tontas, entorpecida pelo DDT das mentiras cabotinas e propagandas
hipnotizantes da mídia a serviço da política nacional."
Não
é à toa que o Brasil é considerado o país mais corrupto do mundo, perdendo
apenas para uma ou duas republiquetas das bananas, no mapa Mundi. Querem ver?
Abram o jornal e ali está mais um escândalo de "mão grande e colarinho
branco" na bolsa pública, e a instauração de mais uma CPI de fancaria,
fadada ao fim antes de começar. As Comissões Parlamentares de Inquérito são
organizadas e dirigidas muitas vezes por políticos que, por sua vez, logo são
denunciados, passando a fazer parte delas como acusado, e por isso jamais vão
dar em nada neste vale de lágrimas que é o Brasil de hoje, pois uma cobra
sempre protege o rabo da outra... CPIs no Brasil e entregar o galinheiro à
raposa são uma e a mesma coisa.
Os
Poderes Constituintes estão contaminados até os pregos. Lembro-me que no início
da CPI do mensalão, uma senadora que também era juíza proclamou alto e bom som,
numa entrevista televisiva da BAND, que sua equipe detinha duas toneladas de
documentos e que, numa primeira análise, constatara provas que podiam condenar
de logo quase uma centena de envolvidos. Passado um mês dessa entrevista, a
juíza calou; a senadora sumiu da vitrine e a maldita CPI insinuava que, mesmo
que os envolvidos tivessem recebido milhões em suas falcatruas, não havia
indício ou prova de mensalão!
O
fato de alguns, mais tarde, terem sido "condenados", não alterou em
nada a situação do crime: não foi devolvido aos cofres públicos o dinheiro
afanado. Além do mais, vários deles não cumpriram nem 1/5 da pena e hoje
cumprem prisão domiciliar, com telão, regada à whisky escocês, ar condicionado
e uma loira rabuda, no belo tapete turco da sala! Aplica-se a asquerosa Lei do
Esperto: cassa-se alguns do bando (como aconteceu e acontece - todos sabem),
para salvar o grupelho-mor, ou o chefão, que continua ad perpetuam manipulando
os cordões da política (?) brasileira de suas luxuosas mansões ou gigantescas
coberturas. E mesmo com a condenação e prisão "pra inglês ver" de
alguns gatos pingados do Mensalão, Petrolão, Lava Jato, para ficarmos apenas
com os últimos, porque a lista é interminável - uns já estão soltos, outros,
como eu disse, em la dolce vita da prisão domiciliar, sem falar nos que
retornaram aos antigos cargos e funções, remunerações de marajás (incluindo o
"caçador de"), com a cara mais deslavada, rindo muito, e ironizando
nas entrevistas: "Eu não falei que era inocente?" Expressão que nega
um delito tanto quanto o confessa!
Este
é apenas um fato nauseante entre muitos, sucedendo-se interminavelmente, sem
qualquer perspectiva de solução a curto, médio e longo prazo. Entretanto,
Cidadão Brasileiro, a mudança é possível, mesmo sob (e até por isso) os roncos
turbulentos de nossos estômagos vazios: DESOBEDIÊNCIA CIVIL é um bom exercício
de cidadania. Ghandi venceu o Império Britânico com ela, negando-se a obedecer
à sua tirania, à sua exploração do trabalho, à sua prepotência e imperialismo.
Pesquisem, procurem, leiam o sempre atualíssimo livro A DESOBEDIÊNCIA CIVIL, de
Henry David Thoreau, autor estadunidense (Concord, Massachusetts, EUA, 12 de
julho de 1817 — Concord, 6 de maio de 1862). Ele não prega violência, revoltas
sangrentas, mortes, cortes de cabeças, destruições ensandecidas, como ocorreu
na Revolução Francesa. Não, ele prega um método muito mais poderoso de
exercício de cidadania do povo: uma forma de protesto político para mostrar aos
poderosos que eles só têm poder porque o povo lhes emprestou o seu,
momentaneamente, para fins de administrar para o bem comum, a riqueza da nação,
e que pode lhes ser tirado a qualquer momento, pelo mesmo povo.
Demonstra
que é o povo que deve monitorar, fiscalizar e impor-se sobre o Estado, ente
abstrato, transformado em Dragão devorador de impostos, sangue, suor e lágrimas
de cada ser humano, e não o Estado, arvorado em dono das almas, dos destinos
das pessoas, identificando-as, retratando-as, dirigindo-as, obrigando-as,
oprimindo-as, aprisionando-as, perseguindo-as, matando-as, desprezando-as,
enfim, robotizando-as para todos os fins malignos de conforto e poder de uma
minoria. Este livro liberta a consciência e traduz-se em verdadeira liberdade
individual e coletiva de uma nação verdadeiramente soberana.
Livro
de cabeceira, A DESOBEDIÊNCIA CIVIL, a meu ver, deveria ser adotado por quantos
desejam um mundo melhor a partir de si mesmo, na sua própria pátria. Sonho?
Fantasia? Alucinação? Ponham-na em prática para ver o poder espantoso de
mudança da desobediência civil! Comecemos por dar uma resposta aos canalhas da
política não votando em nenhuma eleição, não aceitando administradores
corruptos, nem impostos impiedosos e injustos, nem leis hipócritas, fajutas,
que só são usadas para botar numa cela infecta o ladrão de galinha - que furtou
para alimentar seus filhinhos esqueléticos no barraco à beira do mangue - mas,
cheia de sofismas e teses obscuras construídas por juristas sórdidos -
vendilhões do Sagrado Templo da Justiça e do Direito - quando têm que ser
aplicadas aos lobos de gravata e paletó, nos "crimes de colarinho brando",
porque branda é com eles!
Desobediência
civil é o caminho mais humano, pacífico, eficaz, para se corrigir qualquer
sistema nefasto de exploração ou opressão das massas: democracia, socialismo,
comunismo, capitalismo e aquele que considero o pior de todos: o safadismo
(enquanto estrutura psicológica de administradores patifes voltada para o
assalto da verba pública). Este, adotado no Brasil, de longa data, sobrepuja a
todos os outros de longe, isto quando não lhes compõe, também, a própria
essência! Precisamos, Cidadão Brasileiro, fazer do brasil minúsculo um BRASIL
maiúsculo, com oportunidades, justiça, distribuição de renda e avanços sociais,
para todos. Precisamos dar a César o que é de César: nada! E ao povo o que é
dele: TUDO! Esta é a Carta. Boa leitura.
Atenciosamente,
Carlos
Soares
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