A
coluna QUARTA-FEIRA É DIA DE RF inicia hoje uma série de postagens trazendo para
todos que se interessam pela leitura, pela história e pelo conhecimento a
narrativa em forma de crônicas, relatos, entrevistas dos acontecimentos que se
relacionam com a História do Município de São Domingos do Maranhão, conhecido,
principalmente desde o seu descobrimento até a década de 60. como São Domingos
do Zé Feio. Vamos falar do descobrimento, povoamento, crescimento, progresso,
as festas populares e religiosas, e aqueles momentos de tensão e violência que
marcaram a vida deste singular e único município do sertão maranhense.
CONTATOS
IMEDIATOS DE PRIMEIRO GRAU
1
Esses jovens de hoje, que curtem a orla da Lagoa, em seus
carros e motos, flanando, flertando, ficando, namorando, poxa!, sou uma pessoa
sem o sentimento da inveja, minto: a única coisa que invejo é a juventude
perdida. Mas, divago. Voltemos à vaca fria, ou melhor à Lagoa do Zé Feio, as cheias
e seus sangradouros. Eu ia dizer que muitos desses jovens nem sabem como era a
Lagoa antigamente.
No ano de 1956, portanto, há 60 anos, quando grande parte da
população atual de São Domingos nem era nascida, para
um garoto de 8 anos de idade os limites da cidade eram estreitos demais.
Praticamente Rua dos Cardoso, Rua dos Cazé, Rua do Facão de Fora (atual Paulo
Ramos), Rua de Colinas. Tinha a Trizidela, ah!, mas aquilo era longe que só
vendo. E lá pra cima era o Alto da Cruz com o cemitério e o campo do Palmeiras
Futebol Clube. Ficávamos todos, às vezes até dez garotos, montando em carneiros
que pastavam na praça, sim, nessa mesma linda Praça Getúlio Vargas dos dias de
hoje.
Algumas
vezes a gente se aventurava pelo início de outras ruas longínquas e proibidas
como Boa Vista, Rua do Gavião, Alto do Fogo, Alto da Cruz, que nada tinham a ver
com a paisagem atual, pois, a BR não existia nem em sonhos.
E a Lagoa? Nem falei sobre ela. É que São
Domingos tem muitas histórias. Muitos mitos e lendas que me proponho contar. Algumas
com veracidade, outras com fantasias. Algumas resultando de entrevistas com
antigos moradores como o senhor João Bina, o senhor Pedro Olaia, os irmãos
Leocádio, e de conversas que tive com a Socorro Brandão, quando a entrevistei
na Rádio Comunitária FM e de tantas outras conversas que tivemos.
Outras, (as histórias), saídas da memória, de
lembranças antigas que o tempo não apagou dentro de mim, e que, ainda hoje,
muitas vezes fazem meu coração bater acelerado, de emoção e da alegria de
conter em mim tanta vida e segredos que com vocês divido neste livro.
2
Mais um pequeno
esclarecimento: não se trata do ou de um livro de história de São Domingos do
Maranhão. É tarefa para um historiador de fato, afeito a pesquisas, com
disciplina própria, que se sujeite a certos cânones e regras e que obedeça a um
rigorismo que não são a minha praia. Um livro assim, estará sempre sujeito a
controvérsias, desmentidos, acréscimos, pequeninas invejas de quem não teve
seus familiares nomeados. E necessitaria de uma constante atualização no que
diz respeito a estatísticas e números.
Por isso, esta obra
literária que lhes entrego, são frutos das videiras do coração e das lembranças
do que eu mesmo vivi, vi, ouvi. Talvez, no futuro, algum historiador possa
valer-se de algumas histórias aqui contadas, absolutamente verdadeiras, para
completar ou enriquecer o seu trabalho, fato que fará sentir-me ainda mais recompensado
com tal cooperação se isto vier a acontecer.
O
MITO DO DESCOBRIMENTO
É o que todos sabemos e
que temos transmitido de geração para geração. Conta-se que o senhor José
Tibúrcio Feio, descobridor e morador da região, num domingo de agosto, do ano
da graça de 1894, em uma de suas caçadas, se aprofundou mais nas matas virgens,
e verificou que o cachorro que o acompanhava tinha as patas molhadas, sinal de
que ali por perto existia água. Há quem afirme tratar-se de uma cadela de nome
Baleia.
E após José Feio vasculhar pelos arredores veio
finalmente a deparar-se com uma lagoa, que hoje é considerada como a principal
riqueza natural do município e que tomou o seu nome: Lagoa do Zé Feio. Hoje é
um ponto de encontro, de lazer, de turismo.
Instalou-se ali com sua mulher e deu notícias a
parentes e amigos daquele manancial de água, produtividade da terra, riquezas e
belezas naturais que havia encontrado e, lógico, que a sua volta começou o
povoamento, e cujos suprimentos de subsistência, como sal, café, açúcar, etc.,
eram adquiridos no povoado Cachimbos, distante cerca de 48 quilômetros dali, pertencente
à antiga localidade de Picos, atual município de Colinas.
A abundância de água e a fertilidade da terra,
elementos favoráveis à agricultura e à pecuária, foi atraindo ao longo tempo
mais e mais moradores, e tornando-se uma povoação em constante crescimento e
agitação.
O ano de 1932 registrou no Nordeste Brasileiro uma
de suas maiores e mais históricas de todas as secas, fazendo com que imensas
populações dos diversos estados saíssem em peregrinação, numa verdadeira
diáspora, em busca de regiões onde existisse água, sem a qual torna-se
impossível a vida.
E assim, aquele povoado
que viria tornar-se no futuro uma comunidade progressista e pungente, foi um
dos que recebeu grande levas de nordestinos, vindos dos Estados do Ceará,
Pernambuco e Paraíba. E este ano de 1932 torna-se, então, um marco no
povoamento da terra são-dominguense aos seus nativos, mas também cearenses,
pernambucanos, paraibanos e demais cidadãos nordestinos devemos o grande
impulso que tomou aquela povoação realmente modesta em termos habitacionais.
Inúmeras habitações
começam a ser erguidas. A maioria de taipa e cobertas de palha, usando-se para
isso das folhas da palmeira babaçu, outra grande riqueza da região, que
fornecia a matéria prima para a cobertura das casas.
Mas, muito mais do que isso, fornecia o côco
babaçu, de grande importância na alimentação pois nos dava o leite e o óleo,
elementos nutritivos indispensáveis na nossa cozinha e que se converteu,
também, num dos produtos de inestimável valor comercial. São emblemáticas e
fazem parte da nossa história e do nosso folclore as famosas “quebradeiras de
côco”, a contribuição feminina daquele primeiro ciclo de nosso desenvolvimento.
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Lagoa do Zé Feio |
O lugarejo cresceu e tomou o nome do riacho que
deságua na Lagoa do Zé Feio e que nela e dela se abastece: passou a chamar-se
Pucumã, um derivativo de picumã, nome indígena que nada mais é que a fuligem
que recobre os tetos e até paredes das casas, de cor preta-acinzentada, uma
mistura de pó, e fumaça, teia de aranha e outros elementos espalhados no ar e
invisíveis a olho nu.
Viva o Pucumã!
Já pensaram se um dia viesse a tornar-se o Estado
do Pucumã, capital São Domingos do Maranhão? Mas isso é divagação de poeta,
portanto voltemos à narrativa e aos fatos reais.
O Pucumã
passou a sede de distrito do município de Colinas através do Decreto-Lei
Municipal n. 15, de 20 de janeiro de 1940. E no ano de 1947 é elevado à
categoria de vila, preservando o nome de Vila do Pucumã, vindo a tornar-se
emancipado e constituindo município autônomo e independente com o nome de São
Domingos do Maranhão a 24 de Setembro de 1952, através da Lei Estadual n. 756.
A data oficial de instalação do município com a
posse do primeiro Prefeito e instalação das demais repartições públicas ocorreu
no dia 1 de janeiro de 1953 e a escolha do seu nome se deve ao fato da
descoberta da Lagoa do Zé Feio ter ocorrido, segundo se sabe, num domingo de
agosto, como nos referimos no início deste capítulo, pelo Sr. José Tibúrcio
Feio.
Zé Feio, como ficou conhecido, era um imigrante
cearense que se aprofundou naquelas terras à procura de um lugar para residir,
segundo uns, e que também lhe servisse de esconderijo, segundo outros, pelo
fato de contar-se que ele havia cometido um crime de homicídio e que fugira
para não ter que ir parar nas barras da lei.
Não há uma prova concreta de que tal fato seja
verdade. Mas também não há prova de que seja mentira. Assim, quando nas décadas
de cinquenta e sessenta, São Domingos tornou-se uma das cidades mais violentas
do sertão maranhense era comum aludir ao fato de que como havia sido descoberta
por um criminoso, um valente, nada mais correto que justificasse tal fama.
Do que dou prova cabal, pelo fato de ter acontecido
comigo, é que era comum quando em viagem, num bate-papo em alguma agência de
ônibus, enquanto se esperava o transporte e se iniciava um diálogo, esse
transcorrer assim:
– De onde você é?
– De São Domingos.
– São
Domingos do Zé Feio?
– Sim, de lá mesmo.
– Ôxente, num é lá que matam um de noite e já
deixam outro amarrado pra matar na manhã seguinte?
Quer dizer, é correto o provérbio popular que diz:
cria fama e deita-te na cama...
Emancipado e instalado o
Município de São Domingos do Maranhão com comemorações festivas, em 1 de
janeiro de 1953, foi nomeado interinamente, como o primeiro Prefeito Municipal,
o senhor Aluízio Silva Brandão, farmacêutico-proprietário da Farmácia Brandão, com
a tarefa de organizar e estruturar o funcionamento legal do município recém
criado e preparar as eleições para a constitucionalização do municípios do
país.
No mês de outubro de
1954 foram realizadas essas eleições, em nível nacional, e em São Domingos o
eleito foi o senhor Jofran Carneiro Torres, comerciante e proprietário de
terras, bem como dono de indústria de beneficiamento de arroz, de família
oriunda do município de Colinas, assim como a família Brandão também vinda
daquele município, localizado às margens do Rio Itapecuru.
Entre as principais
repartições públicas destacamos:
·
Em janeiro de 1952 instalou-se a
Agência Postal e, um ano depois, a Telegráfica, apêndices da Agência dos
Correios e Telégrafos, sob a responsabilidade do senhor Luís Bucelles, casado
com a senhora Maria Alice Torres Bucelles, irmã dos senhores Jofran e Rangel
Torres e também de dona Dudu Torres, esta esposa do senhor João Antônio, casal
proprietário de um sortido estabelecimento comercial na esquina da Praça
Getúlio Vargas com a Rua de Colinas, atual Rua Major Delfino Calvo;
·
Cartório do Registro Civil, instalado
em 9 de agosto de 1954, tendo sido
tabelião o senhor Lobão, em seguida este Cartório passou a propriedade da Srta.
Aleide Fontenelle;
·
em 1 de
abril de 1955 deu-se a instalação da Agência do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), cujo titular era o senhor Ary Coutinho, um dos
fundadores do glorioso Palmeiras Futebol Clube e seu primeiro presidente;
·
em 29 de abril de 1955 temos também a
instalação da Coletoria Estadual, cujo titular foi designado o senhor Raimundo
Nonato de Almeida, também comerciante, e cujo salão principal de sua residência,
localizada na Praça Getúlio Vargas, foi
durante anos um dos mais concorridos locais onde se realizavam bailes e festas
carnavalescas, com a presença da juventude e sociedade são-dominguense.
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