27 de dez. de 2019

CAIXA DE SONETOS


O FOLHETIM DA SEMANA, do nosso blog LITERATURA LIMITE (acesse-o no link www.literaturalimite.blogspot.com.br), depois de uma prolongada ausência está de volta. Uma parada estratégica. Uma parada macunaímica. Uma parada pra reciclagem. E até uma parada forçada. Com força total, voltamos para divulgar o lançamento de meu novo livro de poesias CAIXA DE SONETOS. Uma abordagem lírica, romântica, telúrica, sensual até,e contemporânea ser humano e suas intrincadas relações e questionamentos da natureza do amor e seus desdobramentos
         O lançamento dar-se-á durante o Churrasco de Confraternização do II Encontro do Grupo (de Whatsaap) Amigos de São Domingos.
Local: Castelo do Feio, situado na orla da histórica Lagoa do Zé Feio.
Data:18 de janeiro de 2020 (sábado), a partir das 10 horas.
CAIXA DE SONETOS: INTROITO
        O soneto, palavra italiana que tanto pode significar pequena canção, ou mais precisamente pequeno som, é um poema de forma fixa, composto por quatro estrofes, sendo que as duas primeiras têm quatro versos cada, e as duas últimas de três versos cada, que a gente passou a denominar como sendo o soneto uma forma poética de dois quartetos e dois tercetos.
         Há três formas de apresentação do soneto:
         Soneto italiano ou petrarquiano, o mais comum e usado apresenta duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).
         Soneto inglês ou Shakespeariano, três quartetos (4 versos cada) e um dístico (2 versos).
          Soneto monostrófico, apresenta uma única estrofe de 14 versos.
         Uma vez que o soneto é caracterizado exatamente como um poema de 14 versos – tradicionalmente 2 quartetos e 2 tercetos –, o acréscimo de um ou mais versos no final do poema (de acordo com a conveniência do escritor) faz da obra um soneto irregular – estrambótico, como o usado, por exemplo, por Miguel de Cervantes, o célebre escritor espanhol e autor da obra prima da literatura universal Don Quixote de La Mancha.
         Finalmente, chegamos à autoria do soneto.
         O soneto teria sido criado por Jacopo da Lentini, poeta siciliano e imperial de Frederico II, porém o poeta toscano Guittone d´Arezzo tornou-se o primeiro a adotar aquilo que seria reconhecido como a melhor de expressão de uma emoção, pensamento ou idéia: o soneto.
         E finalmente chegamos ao poeta italiano Petrarca, por todos reconhecido como o autor a aperfeiçoar e dar forma definitiva ao soneto, como chegou até nossos dias, com seus sonetos dedicados a Laura de Novaes, por quem possuía um amor platônico.
         Convém não esquecer que Dante foi também um sonetista extraordinário, o que pode ser comprovado em seu primeiro livro de sucesso Vita Nuova, com seus sonetos de amor dedicados à jovem Beatriz .
         Outro mestre do soneto de amor é Luís de Camões, o poeta português autor também da obra prima Os Lusíadas, e o poeta e dramaturgo William Shakespeare, autor de peças imortais como Hamlet, Édipo Rei, entre outras, foi também um dos grandes sonetistas em língua inglesa.
         Trazemos nesta edição quatro históricos sonetistas: Petrarca, Camões, Shakespeare e a inglesa Elizabeth Barret Browning e um aprendiz, no caso, eu, com alguns sonetos e um poema, a maioria tendo como temática o Amor.
         Registro, ainda, que entre nós, brasileiros, muitos poetas praticaram essa técnica com absoluto sucesso e louvor: Leandro Konder Reis, Manoel Bandeira, Drummond, e meu amigo Viriato Gaspar, poeta maranhense radicado em Brasília que com os seus 50 Sonetos, ganhou prêmio da Academia Maranhense de Letras.  E muitos outros.
         Resolvi correr o risco. Nesta idade e altura da vida estou lançando o livro CAIXA DE SONETOS, com apresentação do meu amigo de juventude, o poeta Viriato Gaspar, de cuja apreciação escolhi algumas palavras que poeta proferiu a respeito desta minha insensata aventura:
UMA PEQUENA CAIXA MÁGICA DE ENCANTOS
Viriato Gaspar
Raimundo Nonato Fontenele é, sem favor nenhum, um dos grandes nomes da arte poética do Maranhão. Um dos principais poetas da assim chamada Geração Antroponáutica, integrou a Antologia que viria a se tornar um marco na literatura daquele estado, por romper com as estruturas do establishment acadêmico que emperrava a poética de então na Ilha de São Luís. Por iniciativa da nossa amiga-irmã-mãe-anjo-da-guarda Arlete Nogueira da Cruz Machado, o Departamento de Cultura da Secretaria de Educação do Estado patrocinou a pequena antologia, numa edição de capa preto-e-branca, para baratear os custos, reunindo os então jovens poetas que começavam a agitar a cena cultural maranhense.
Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Valdelino Cécio e eu integrávamos uma tropa de choque poética, ávida por primeiro dinamitar os alicerces do marasmo, e depois, bafejar um sopro de modernidade na poesia que transitava então, nas rodas literárias, quase toda arcaica, monótona e sonolenta como uma tarde de domingo depois de uma lauta feijoada completa. Aproximamo-nos, então, até por identificação e intensa admiração, das grandes vozes poéticas da literatura maranhense, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi e José Chagas, de quem recebemos orientação, estímulo, apoio, incentivo e até mesmo utilíssimas sugestões de leituras e indicações teóricas de estudos e aperfeiçoamento.
Nauro e Arlete, Tribuzi e dona Maria, e o solitário Chagas foram como faróis a balizar nossa navegação pelos meandros da arte poética, nomes aos quais não se pode deixar de acrescentar, por justiça, o de José do Nascimento Morais Filho, uma das grandes almas que já tive a satisfação de encontrar. Zé Morais era um desses corações imensos, sempre pronto à solidariedade, ao abrigo e ao acolhimento. Um gentleman mulato, de olhos verdes sinceros e arregalados e voz tonitruante,  um amigo de quem só se pode falar com imensa saudade, a recordar a grandeza de sua alma e a imensidão de seu escancarado coração.
Raimundo Fontenele, recém-chegado a São Luís, vindo de uma fracassada, por absoluta falta de vocação, tentativa de vida monástica num seminário de Fortaleza, destacava-se, entre nós, pelos versos nervosos, febricitantes, versos crespos, de corte moderno e afiado, uma linguagem absolutamente contemporânea, atual, plasmada em leituras de Rimbaud, Verlaine, Baudelaire, Artaud, Pound, Elliot, E.E. Cummings, além dos exercícios concretistas dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e de Décio Pignatari, leituras assíduas de um navegador contumaz das grandes correntes da vanguarda contemporânea. Como dele disse o grande crítico Oswaldino Marques, uma dicção poética de versos paroxísticos, convulsos, de cortes nervosos e feição escancaradamente moderna.”
(CONTINUA... no livro CAIXA DE SONETOS, claro)

OS SONS DOS SONETOS

O LEITO

o leito é o começar de outro rio
por onde a foz de tudo inunda tudo
e descreve na água círculo a círculo
um perene correr que nunca funde-se

o leito é o após-rio, a antinoite
a varar profundos córregos cansados
o leito é o só pensar o acomodar-se
a ser o barco a fluir em outro barco

o leito é o demarcar do rio ao meio
de  lado a lado céu a terra e
areia de lençol por onde a calma

é todo um despejar de veros sonhos
até depois da última lançada
onde começa o mar e o mar acaba


SONETO 8

Nem preciso dizer o que o seu amor
fez comigo esse ano: está na cara.
Revolveu-me como se faz com a raiz,
e me deixou mais triste, mas feliz.

Amar e segredar com sua boca,
usar seus dentes, ser louco por um triz.
Deixar que essa paixão, que é tão louca,
Seja a doçura do doce que provei,

quando na tarde algum domingo
ela era um favo de mel quando a beijei.
Amor avaro, ó Eros da beleza,

rimas a minha vida com a tua.
E eu, sozinho, caminho por aqui,
com os pés no chão e a cabeça na lua.

SONETO DE SONHOS

Enquanto dormes e sonhas também sonho
que estou dentro do sonho que tu sonhas.
E sonhamos nós dois o mesmo sonho,
entre as cobertas, os lençóis e as fronhas.

Sonho que beijo, mas me beijas primeiro
enquanto acordas e me acordas inteiro,
e assim despertos, e sem café na cama,
ensaiamos no amor: comédia ou drama.

Mas não a tragédia. Nem passo em falso
será dado neste cenário de amor intenso,
em que me apresentas e te apresento.

Dormir ou não dormir, eis aqui a questão:
voltamos ao sono que repousa e anima,
e pões, amor, na minha boca a tua língua.

SONETO DO AMOR QUE É BOM

Amar demais não dói, mas fere a alma
quando escutamos  só a voz do vento.
E não se ouve a mulher que, em sua calma,
também tem queixas, mágoas e lamentos.

Quem ama abre espaço para o outro,
deixa-o seguir sua própria natureza.
Não enche o saco e nem se faz de louco
apagando cada traço da beleza.

É manso e silencia, o quanto pode,
sobre o que sofre e sobre o que padece
para que o outro não sofra; e até esquece

alguma pedra incômoda no sapato.
E isso é do primeiro ao último ato,
e a qualquer “help!” só ele nos socorre.

SOB AS COBERTAS

Sem um arranhão. Só com palavras nobres
eu te cubro e tu me cobres, em silêncio
quase sagrado, no nosso círculo de fogo
e abandono. Prendes-me sem algemas.

Ouço o sussurrar da fonte. Nos teus lábios
entreabertos, rubros, conto teus dentes.
Eles me mordem onde não dói. Segredam
nos meus ouvidos que o tempo urge.

Dou-lhe a razão e aperto-a contra o peito
para que seu coração fale comigo.
E ele fala: “amore, podemos continuar

de onde paramos?” Respondo-lhe “claro”.
Entrelaçamos as pernas. Um beijo cresce.
E é este beijo que nos leva até às estrelas.

INRI

Deus, que tem o coração de ouro,
é o único ser que não respira e vive,
isso digo e assino, dou testemunho e fé
pois tudo em minha vida é  milagre.

Do fogo, e não do barro, me criaste
para arder na luz e dissipar-me na treva,
mesmo no abandono da cruz irei seguir
os passos de Jesus. Será? Irei?, me diz.

O remorso e o desespero não, meu Deus,
tem piedade da ovelha sempre errante,
envolvida nas manhas e erros das manhãs.

Deus, que tem o coração de ouro,
que não respira e vive, ó sumo bem,
essas labaredas me queimam, por quê?
(do livro no prelo CAIXA DE SONETOS)

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