O FOLHETIM DA SEMANA,
do nosso blog LITERATURA LIMITE (acesse-o no link www.literaturalimite.blogspot.com.br),
depois de uma prolongada ausência está de volta. Uma parada estratégica. Uma
parada macunaímica. Uma parada pra reciclagem. E até uma parada forçada. Com
força total, voltamos para divulgar o lançamento de meu novo livro de poesias
CAIXA DE SONETOS. Uma abordagem lírica, romântica, telúrica, sensual até,e
contemporânea ser humano e suas intrincadas relações e questionamentos da
natureza do amor e seus desdobramentos
O lançamento
dar-se-á durante o Churrasco de Confraternização do II Encontro do Grupo (de Whatsaap)
Amigos de São Domingos.
Local:
Castelo do Feio, situado na orla da histórica Lagoa do Zé Feio.
Data:18
de janeiro de 2020 (sábado), a partir das 10 horas.
CAIXA
DE SONETOS: INTROITO
O
soneto, palavra italiana que tanto pode significar pequena canção, ou mais
precisamente pequeno som, é um poema de forma fixa, composto por quatro
estrofes, sendo que as duas primeiras têm quatro versos cada, e as duas últimas
de três versos cada, que a gente passou a denominar como sendo o soneto uma
forma poética de dois quartetos e dois tercetos.
Há
três formas de apresentação do soneto:
Soneto
italiano ou petrarquiano, o mais comum e usado apresenta duas estrofes de
quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).
Soneto inglês
ou Shakespeariano, três quartetos (4 versos cada) e um dístico (2 versos).
Soneto
monostrófico, apresenta uma única estrofe de 14 versos.
Uma
vez que o soneto é caracterizado exatamente como um poema de 14 versos –
tradicionalmente 2 quartetos e 2 tercetos –, o acréscimo de um ou mais versos
no final do poema (de acordo com a conveniência do escritor) faz da obra um
soneto irregular – estrambótico, como o usado, por exemplo, por Miguel de
Cervantes, o célebre escritor espanhol e autor da obra prima da literatura
universal Don Quixote de La Mancha.
Finalmente,
chegamos à autoria do soneto.
O
soneto teria sido criado por Jacopo da Lentini, poeta siciliano e imperial de
Frederico II, porém o poeta toscano Guittone d´Arezzo tornou-se o primeiro a
adotar aquilo que seria reconhecido como a melhor de expressão de uma emoção,
pensamento ou idéia: o soneto.
E
finalmente chegamos ao poeta italiano Petrarca, por todos reconhecido como o
autor a aperfeiçoar e dar forma definitiva ao soneto, como chegou até nossos
dias, com seus sonetos dedicados a Laura de Novaes, por quem possuía um amor
platônico.
Convém
não esquecer que Dante foi também um sonetista extraordinário, o que pode ser
comprovado em seu primeiro livro de sucesso Vita Nuova, com seus sonetos de
amor dedicados à jovem Beatriz .
Outro
mestre do soneto de amor é Luís de Camões, o poeta português autor também da
obra prima Os Lusíadas, e o poeta e dramaturgo William Shakespeare, autor de
peças imortais como Hamlet, Édipo Rei, entre outras, foi também um dos grandes
sonetistas em língua inglesa.
Trazemos
nesta edição quatro históricos sonetistas: Petrarca, Camões, Shakespeare e a
inglesa Elizabeth Barret Browning e um aprendiz, no caso, eu, com alguns
sonetos e um poema, a maioria tendo como temática o Amor.
Registro,
ainda, que entre nós, brasileiros, muitos poetas praticaram essa técnica com
absoluto sucesso e louvor: Leandro Konder Reis, Manoel Bandeira, Drummond, e
meu amigo Viriato Gaspar, poeta maranhense radicado em Brasília que com os seus
50 Sonetos, ganhou prêmio da Academia Maranhense de Letras. E muitos
outros.
Resolvi correr o
risco. Nesta idade e altura da vida estou lançando o livro CAIXA DE SONETOS,
com apresentação do meu amigo de juventude, o poeta Viriato Gaspar, de cuja
apreciação escolhi algumas palavras que poeta proferiu a respeito desta minha
insensata aventura:
UMA
PEQUENA CAIXA MÁGICA DE ENCANTOS
Viriato Gaspar
Raimundo Nonato Fontenele é, sem favor nenhum, um dos grandes
nomes da arte poética do Maranhão. Um dos principais poetas da assim
chamada Geração Antroponáutica, integrou a Antologia que viria a se
tornar um marco na literatura daquele estado, por romper com as estruturas
do establishment acadêmico que emperrava a poética de então na
Ilha de São Luís. Por iniciativa da nossa amiga-irmã-mãe-anjo-da-guarda Arlete
Nogueira da Cruz Machado, o Departamento de Cultura da Secretaria de Educação
do Estado patrocinou a pequena antologia, numa edição de capa preto-e-branca,
para baratear os custos, reunindo os então jovens poetas que começavam a agitar
a cena cultural maranhense.
Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Valdelino
Cécio e eu integrávamos uma tropa de choque poética, ávida por primeiro
dinamitar os alicerces do marasmo, e depois, bafejar um sopro de modernidade na
poesia que transitava então, nas rodas literárias, quase toda arcaica, monótona
e sonolenta como uma tarde de domingo depois de uma lauta feijoada completa.
Aproximamo-nos, então, até por identificação e intensa admiração, das grandes
vozes poéticas da literatura maranhense, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi e José
Chagas, de quem recebemos orientação, estímulo, apoio, incentivo e até mesmo
utilíssimas sugestões de leituras e indicações teóricas de estudos e
aperfeiçoamento.
Nauro e Arlete, Tribuzi e dona Maria, e o solitário Chagas foram
como faróis a balizar nossa navegação pelos meandros da arte poética, nomes aos
quais não se pode deixar de acrescentar, por justiça, o de José do Nascimento
Morais Filho, uma das grandes almas que já tive a satisfação de encontrar. Zé
Morais era um desses corações imensos, sempre pronto à solidariedade, ao abrigo
e ao acolhimento. Um gentleman mulato, de olhos verdes sinceros e arregalados e
voz tonitruante, um amigo de quem só se pode falar com imensa saudade, a
recordar a grandeza de sua alma e a imensidão de seu escancarado coração.
Raimundo Fontenele, recém-chegado a São Luís, vindo de uma
fracassada, por absoluta falta de vocação, tentativa de vida monástica num
seminário de Fortaleza, destacava-se, entre nós, pelos versos nervosos,
febricitantes, versos crespos, de corte moderno e afiado, uma linguagem
absolutamente contemporânea, atual, plasmada em leituras de Rimbaud, Verlaine,
Baudelaire, Artaud, Pound, Elliot, E.E. Cummings, além dos exercícios
concretistas dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e de Décio Pignatari,
leituras assíduas de um navegador contumaz das grandes correntes da vanguarda
contemporânea. Como dele disse o grande crítico Oswaldino Marques, uma dicção
poética de versos paroxísticos, convulsos, de cortes nervosos e feição
escancaradamente moderna.”
(CONTINUA... no livro CAIXA DE SONETOS, claro)
OS SONS DOS SONETOS
O
LEITO
o
leito é o começar de outro rio
por
onde a foz de tudo inunda tudo
e
descreve na água círculo a círculo
um
perene correr que nunca funde-se
o
leito é o após-rio, a antinoite
a
varar profundos córregos cansados
o
leito é o só pensar o acomodar-se
a
ser o barco a fluir em outro barco
o
leito é o demarcar do rio ao meio
de lado a lado céu a terra e
areia
de lençol por onde a calma
é
todo um despejar de veros sonhos
até
depois da última lançada
onde
começa o mar e o mar acaba
SONETO
8
Nem
preciso dizer o que o seu amor
fez
comigo esse ano: está na cara.
Revolveu-me
como se faz com a raiz,
e
me deixou mais triste, mas feliz.
Amar
e segredar com sua boca,
usar
seus dentes, ser louco por um triz.
Deixar
que essa paixão, que é tão louca,
Seja
a doçura do doce que provei,
quando
na tarde algum domingo
ela
era um favo de mel quando a beijei.
Amor
avaro, ó Eros da beleza,
rimas
a minha vida com a tua.
E
eu, sozinho, caminho por aqui,
com
os pés no chão e a cabeça na lua.
SONETO DE SONHOS
Enquanto dormes e sonhas também sonho
que estou dentro do sonho que tu sonhas.
E sonhamos nós dois o mesmo sonho,
entre as cobertas, os lençóis e as fronhas.
Sonho que beijo, mas me beijas primeiro
enquanto acordas e me acordas inteiro,
e assim despertos, e sem café na cama,
ensaiamos no amor: comédia ou drama.
Mas não a tragédia. Nem passo em falso
será dado neste cenário de amor intenso,
em que me apresentas e te apresento.
Dormir ou não dormir, eis aqui a questão:
voltamos ao sono que repousa e anima,
e pões, amor, na minha boca a tua língua.
SONETO DO AMOR QUE É BOM
Amar demais não dói, mas fere a alma
quando escutamos só a voz do vento.
E não se ouve a mulher que, em sua calma,
também tem queixas, mágoas e lamentos.
Quem ama abre espaço para o outro,
deixa-o seguir sua própria natureza.
Não enche o saco e nem se faz de louco
apagando cada traço da beleza.
É manso e silencia, o quanto pode,
sobre o que sofre e sobre o que padece
para que o outro não sofra; e até esquece
alguma pedra incômoda no sapato.
E isso é do primeiro ao último ato,
e a qualquer “help!” só ele nos socorre.
SOB
AS COBERTAS
Sem um arranhão. Só com palavras nobres
eu te cubro e tu me cobres, em silêncio
quase sagrado, no nosso círculo de fogo
e abandono. Prendes-me sem algemas.
Ouço o sussurrar da fonte. Nos teus lábios
entreabertos, rubros, conto teus dentes.
Eles me mordem onde não dói. Segredam
nos meus ouvidos que o tempo urge.
Dou-lhe a razão e aperto-a contra o peito
para que seu coração fale comigo.
E ele fala: “amore, podemos continuar
de onde paramos?” Respondo-lhe “claro”.
Entrelaçamos as pernas. Um beijo cresce.
E é este beijo que nos leva até às estrelas.
INRI
Deus, que tem o
coração de ouro,
é o único ser que não
respira e vive,
isso digo e assino,
dou testemunho e fé
pois tudo em minha
vida é milagre.
Do fogo, e não do
barro, me criaste
para arder na luz e
dissipar-me na treva,
mesmo no abandono da
cruz irei seguir
os passos de Jesus.
Será? Irei?, me diz.
O remorso e o
desespero não, meu Deus,
tem piedade da ovelha
sempre errante,
envolvida nas manhas e
erros das manhãs.
Deus, que tem o
coração de ouro,
que não respira e
vive, ó sumo bem,
essas labaredas me queimam, por quê?
(do
livro no prelo CAIXA DE SONETOS)
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