Li certa vez em algum lugar
que Nauro Machado como grandioso poeta que era, tinha as ruas do centro
histórico como principal via de inspiração para seus poemas. Passado algum
tempo pude ver com meus próprios olhos o poeta em um desses seus momentos de
pura epifania poética. Em uma das esquinas da Rua do Sol, sobre um sol a pino
de um horário próximo ao meio dia, o poeta estava lá estacionado com sua
camiseta branca, seu inseparável chapéu e sua pasta de mão preta olhando
fixamente para uma fachada de um prédio antigo. Era uma imagem impressionante,
aquele senhor que em nada se parecia com um turista ou um transeunte passante,
ali absorto naquele instante meio paralisado na mesma posição, a mim parecia
aquela atitude um misto de reverência e respeito com recebimento de alguma
dádiva, alguma instrução de grande valia.
Não há duvidas que com a
perda de Nauro recentemente, perdemos não só um de nossos maiores poetas, poeta
inclusive de importância universal, reconhecimento que virá certamente nos
próximos anos. A perda também foi de um típico Maranhense. Se lembrarmos os
grandes vultos de nossa arte e cultura, quando tão logo despontaram, tiveram
como destino terras além de nossas águas. Nauro Machado até esteve por lá, mas
retornou e por aqui se debruçou sobre os mistérios de nosso chão para assim
realizar uma das obras mais profícuas e sublimes da poesia nacional.
Nos últimos anos de vida
foram várias as homenagens, em eventos, filme e documentário, artigos e
diversos estudos sobre sua obra. Nauro Machado certa vez comentou que jamais
buscou algum tipo de fama e reconhecimento, acredito que ainda que o poeta
tivesse ensaiado uma postura nessa direção, era indubitável que sua obra se
sobressairia, que seus poemas seriam reconhecidos, que seu intento de vida
seriam assunto de diversos debates em meios literários. A pulgência de seus
versos junto a figura do Maranhense típico, por si só foram sim responsáveis
pelo respeito que muitos de nós temos por esse grande poeta.
O genial poeta sempre teve a
certeza da importância dos seus versos, desde seu primeiro rebento literário. E
acredito que nos seus momentos mais íntimos, devia achar graça de diversos
artigos escritos na tentativa de traduzir sua aventura poética que durou uma
vida inteira. Fico imaginando como deveria se divertir com tantas linhas
desencontradas, repletas de tanto esforço buscando revelar o segredo de tamanha
genialidade literária. No entanto tal empreitada se tornou algo quase
impossível, pois até os dias atuais ninguém conseguiu enquadrar sua poesia dentro
de sistema algum. Nauro Machado desde cedo percebeu que para forjar um canto
tão elevado como foi o seu, deveria ficar e se espalhar e se envolver com a
tradição poética encantada de nossa terra. E foi o que aconteceu o poeta cantou
nossas belezas, nossas tragédias, nossos antagonismos e nosso povo como nenhum
outro poeta daqui. Como um antropólogo fez dessa pesquisa uma missão de vida, e
transformou em exuberantes poesias o encanto peculiar de nossos ares, de nossa
gente e de nosso chão.
Natanael Castro, Editor
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