20 de dez. de 2015

Nauro Machado, Hermética do simples



Li certa vez em algum lugar que Nauro Machado como grandioso poeta que era, tinha as ruas do centro histórico como principal via de inspiração para seus poemas. Passado algum tempo pude ver com meus próprios olhos o poeta em um desses seus momentos de pura epifania poética. Em uma das esquinas da Rua do Sol, sobre um sol a pino de um horário próximo ao meio dia, o poeta estava lá estacionado com sua camiseta branca, seu inseparável chapéu e sua pasta de mão preta olhando fixamente para uma fachada de um prédio antigo. Era uma imagem impressionante, aquele senhor que em nada se parecia com um turista ou um transeunte passante, ali absorto naquele instante meio paralisado na mesma posição, a mim parecia aquela atitude um misto de reverência e respeito com recebimento de alguma dádiva, alguma instrução de grande valia.

Não há duvidas que com a perda de Nauro recentemente, perdemos não só um de nossos maiores poetas, poeta inclusive de importância universal, reconhecimento que virá certamente nos próximos anos. A perda também foi de um típico Maranhense. Se lembrarmos os grandes vultos de nossa arte e cultura, quando tão logo despontaram, tiveram como destino terras além de nossas águas. Nauro Machado até esteve por lá, mas retornou e por aqui se debruçou sobre os mistérios de nosso chão para assim realizar uma das obras mais profícuas e sublimes da poesia nacional.

Nos últimos anos de vida foram várias as homenagens, em eventos, filme e documentário, artigos e diversos estudos sobre sua obra. Nauro Machado certa vez comentou que jamais buscou algum tipo de fama e reconhecimento, acredito que ainda que o poeta tivesse ensaiado uma postura nessa direção, era indubitável que sua obra se sobressairia, que seus poemas seriam reconhecidos, que seu intento de vida seriam assunto de diversos debates em meios literários. A pulgência de seus versos junto a figura do Maranhense típico, por si só foram sim responsáveis pelo respeito que muitos de nós temos por esse grande poeta.


O genial poeta sempre teve a certeza da importância dos seus versos, desde seu primeiro rebento literário. E acredito que nos seus momentos mais íntimos, devia achar graça de diversos artigos escritos na tentativa de traduzir sua aventura poética que durou uma vida inteira. Fico imaginando como deveria se divertir com tantas linhas desencontradas, repletas de tanto esforço buscando revelar o segredo de tamanha genialidade literária. No entanto tal empreitada se tornou algo quase impossível, pois até os dias atuais ninguém conseguiu enquadrar sua poesia dentro de sistema algum. Nauro Machado desde cedo percebeu que para forjar um canto tão elevado como foi o seu, deveria ficar e se espalhar e se envolver com a tradição poética encantada de nossa terra. E foi o que aconteceu o poeta cantou nossas belezas, nossas tragédias, nossos antagonismos e nosso povo como nenhum outro poeta daqui. Como um antropólogo fez dessa pesquisa uma missão de vida, e transformou em exuberantes poesias o encanto peculiar de nossos ares, de nossa gente e de nosso chão.


Natanael Castro, Editor

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