1 de jan. de 2016

Gonçalves Dias (Poeta, Romântico e Brasileiro)


Antonio Gonçalves Dias nasceu num sitio a algumas léguas da vila de Caxias, em 14 de agosto de 1823. Sete dias antes a vila tinha conseguido sua independência frente ao domínio português. Seu pai era o comerciante José Manuel Gonçalves Dias de origem portuguesa, lutou ao lado dos compatriotas contra a independência de Caxias. Sua mãe Vicência Ferreira era uma mestiça fruto da união de sangue branco, negro e indígena. Ainda bem jovem o poeta viu seu pai se separar de sua mãe e casando-se com Adelaide Ramos de Almeida. Com a idade de 15 anos o poeta viaja a Portugal a mando de seu pai para estudar, lá inicia os estudos de Direito em Coimbra, nesse período conhece Alexandre Herculano poeta fundamental do recém criado Romantismo de Portugal. Aos vinte anos ainda em Portugal o poeta escreve Canção do Exílio, considerado por muitos como um dos poemas mais importantes de toda a poesia nacional. Após estudos no século XX observou-se a genialidade desse poema de Gonçalves Dias, ao se perceber que em momento algum de seus versos o poeta usa adjetivos, uma obra-prima. Trechos do poema foi usado na letra do hino nacional  “Nossos bosques têm mais vida” / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.  


Após a morte do pai os negócios da família que eram tocados pelo seu progenitor foram fortemente abalados, desta forma sua madrasta pedi ao poeta que ele retorne ao Maranhão, pois já não vê condições financeiras de continuar pagando os estudos do poeta em Portugal. Mas ele recusa-se a retornar indo morar com o Sr. João Duarte Lisboa Serra que sabendo da sua situação lhe oferece moradia e continua os estudos com a ajuda dos amigos Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, Joaquim Pereira Lapa e José Hermenegildo Xavier de Morais. Em 1845 retorna ao Brasil com uma breve passagem pelo Maranhão, em meados de 1846 transfere-se ao Rio de Janeiro, nesse mesmo ano escreve a peça de teatro Leonor de Mendonça, mas é impedido de montá-la por conta de a mesma possuir linguagem incorreta segundo o Conservatório do Rio de Janeiro. De 1847 a 1851 produz segundo os críticos as melhores páginas de sua obra, desse período temos os Primeiros cantos, As sextilhas de Frei Antão que representou uma resposta ao Conservatório do Rio de Janeiro por conta do impedimento de Leonor de Mendonça, nas sextilhas o poeta toma todos de surpresa por compor um texto utilizando todos os períodos do português de até então, tamanho era o conhecimento que o poeta possuía da língua portuguesa, um verdadeiro “ensaio filológico”. Em 1849 foi convidado a lecionar história e latim no colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara com Joaquim Manuel Macedo e Porto Alegre finalizando a essa fase escreve os Últimos Cantos.

Gonçalves Dias e Ana Amélia


Em 1851 Gonçalves Dias viaja ao Maranhão com o intuito de descasar sua amada Ana Amélia, o grande amor da sua vida, porém a família de sua musa de 14 anos não fora de acordo com o casamento. O motivo seria a origem mestiça de Gonçalves Dias, na sociedade maranhense da época tal informação era vista de forma preconceituosa por muitas famílias. O desejo de Ana Amélia era fugir com o poeta para o Rio de Janeiro, porém o poeta não foi a  favor do desfecho, o motivo teria sido pelo fato da amada ser prima de seu grande amigo Alexandre Teófilo, Gonçalves Dias tinha pela família do amigo profundo respeito, pois a mesma teria através de seu amigo custeado a parte final de seus estudos em Portugal. Desta forma como represália Ana Amélia foge com um comerciante de origem familiar muito parecida com a do poeta, ao saber é deserdada por sua mãe, tempos depois a musa do poeta se separa e casa-se novamente. Gonçalves Dias estraçalhado de dor retorna ao Rio de Janeiro e casa-se chegando a ter uma filha que morre precocemente nos primeiros anos da infância. Anos depois em passagem por Portugal o poeta reencontra seu grande amor Ana Amélia, porém ela ainda muito magoada com o desfecho do romance, não aceita uma conversa com o poeta, o que o leva a escrever um de seus mais belos poemas, um verdadeiro clássico da primeira fase do Romantismo Brasileiro Ainda Uma Vez, Adeus.


De 1854 a 1863 o poeta inicia sua fase em cargos públicos dentre eles a Secretária de Assuntos dos Negócios Estrangeiros passando por vários países da Europa em missão oficial de estudos e pesquisa. Desse período são os primeiros cantos de Os Timbiras e o Dicionário da Língua Tupi, no retorno ao Brasil viajou pela Amazônia e diversas regiões do norte e nordeste a serviço da Comissão Cientifica de Exploração. Tempos depois retorna a Europa buscando tratamento médico, onde conclui a tradução de A noiva de Messina de Schiller. Em 10 de setembro de 1864 embarca para o Brasil a bordo do navio Ville de Boulogne, o navio naufragou no Baixo dos Atins nas costas do Maranhão, o restante da tripulação consegue se salvar, porém o poeta já bastante doente fica preso no camarote da embarcação e morre aos 41 anos de idade.

Em 1904, Homenagem aos 40 anos de morte do poeta feita pelo escritor
 Antonio Lobo no palco do Arthur Azevedo.


Dizem os registros que por volta de 1904 em homenagem aos 40 anos de falecimento do poeta, o ilustríssimo fundador da Academia Maranhense de Letras Antonio Lobo, sobe no palco do Teatro Arthur Azevedo no centro da capital Maranhense, teatro esse que se encontrava lotado naquela ocasião e inicia a declamação magistral do poema Ainda Uma Vez, Adeus, logo o teatro inteiro é tomado de uma forte comoção silenciosa perante a interpretação do intelectual, de repente se ouve um choro soluçante vindo de algum lugar dos camarotes, dizem que a mulher tomada por tanta emoção seria agora a senhora Ana Amélia, que mesmo depois de tantos anos ainda sofria bastante por conta daquele romance mal resolvido com o maior nome da poesia do Maranhão e um dos maiores do Brasil.


Por Natan Castro (Editor)

Um comentário:

  1. Matou a pau, compadre. Bela edição da página, valorizada, e muito, pela declamação dos poemas, realmente os mais famosos da sua criação mais romântica.

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