15 de fev. de 2016

ALUÍSIO AZEVEDO, ELE É O CARA HOMENAGEADO NESTE MÊS DE FEVEREIRO PELO BLOG LITERATURA LIMITE


Aluísio de Azevedo

ALUÍSIO (Tancredo Belo Gonçalves de) AZEVEDO (São Luís, 14.04.1857 – Buenos Aires, 21.01.1913)           
Irmão mais novo do teatrólogo Arthur Azevedo, o romancista maranhense Aluísio Azevedo insere-se na história da literatura brasileira como um dos responsáveis pela escola literária conhecida como naturalismo. Escritor, desenhista, jornalista, era na verdade o que hoje chamamos de um ativista político participando intensamente das correntes mais progressistas do seu tempo, tendo por isso pago um alto preço. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O FígaroO MequetrefeZig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
Incompreensão, descaso, perseguição mesmo por parte da elite maranhense, por denunciar em seus escritos a hipocrisia da sociedade e de seus condutores (dirigentes, governantes) me dá um estalo: será que o Maranhão já saiu do século XIX? A seguir, Aluísio Azevedo em três tempos.

A Cidade pré-Aluísio Azevedo
Segundo Marques Rabelo, São Luís do Maranhão foi a quarta cidade da Colônia a possuir jornais impressos.  O jornal O Conciliador, foi um dos pioneiros, circulando entre 1821 a 1823, e embora de vida efêmera teve importante papel num momento de ruptura política entre brasileiros e portugueses. Tanto é assim que, sendo vinculado ao Governo da Província, em suas últimas edições noticiou a queda do domínio português.
“Uma cidade na qual os grupos socialmente dominantes tentavam demarcar sua presença e influir nas polêmicas políticas, frente a mudança de poder, cristalizada na disputa entre portugueses e brasileiros”.
Os impressos protagonizavam disputas pela hegemonia política, tornando-se um dos canais para as decisões na esfera pública. Afora os panfletos anônimos e os periódicos com demarcada posição política, a cidade São Luís convivia com uma imensa população de analfabetos e escravos, em 1821 somente 29% dos habitantes era formada por homens livres, sendo os demais negros (CALDEIRA, 2003). Para a maioria dos moradores da cidade, o acesso à imprensa ocorria através dos comentários, das contestações, dos questionamentos, das conversas informais de seus leitores que repassavam suas impressões em quitandas, praças e ruas, movimento que dava também concretude à opinião pública. As práticas jornalísticas em meados do século XIX ganham contornos polêmicos, cunhadas por teses e interesses de diferentes grupos. O jornalismo doutrinário, característica dos anos de 1800, especialmente em decorrência das mudanças nas estruturas de poder, anunciava o nascimento da imprensa enquanto uma instituição social que posteriormente teria feições empresariais. (De Odorico Mendes a José Sarney: recortes da imprensa política no Maranhão nos séculos XIX e XXI, Roseane Arcanjo Pinheiro e Pâmela Araújo Pinto).
A mesma cidade
Se até hoje São Luís (apesar da fachada moderna) e o Maranhão parecem petrificados mentalmente, naquela prática coletiva do provincianismo chulo, decadente, de grupelhos mordendo nacos de poder em seus nichos de pseudasglórias, o compadrio deslavado abocanhando fatias de poder e grana que não lhes pertence, mas sim ao povo miserável e ao povo que trabalha, imaginem à época de Aluísio Azevedo.
Do chafurdar nessa lama de intolerância e preconceito, nesse manancial de hipocrisia em que se ancoravam as sociedades escravagistas e patriarcais, como a nossa, Aluísio Azevedo encontrou a matéria bruta com a qual, estética e artisticamente polida, construiu suas obras capitais e mais polêmicas: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. Isso faz dele um escritor sempre atual, alguém que continua a colocar o dedo na ferida da alma maranhense, que de tão obtusa já nem sangra mais. Dá as costas, faz ouvido de mercador e segue impávida sua trajetória de chocho orgulho e de previsível decadência. Aluísio Azevedo: Ele é o cara! (RF)

Dados biográficos
Aluísio Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 1857. Filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo, que, ainda jovem, enviuvara-se em boda anterior, e de Emília Amália Pinto de Magalhães, separada de um rico comerciante português, Antônio Joaquim Branco, assiste Aluísio, em garoto, ao desabono da sociedade maranhense a essa união dos pais contraída sem segundas núpcias, algo que se configurava grande escândalo à época. Foi Aluísio, irmão mais novo do dramaturgo e jornalista Artur Azevedo com o qual, em parceria, viria a esboçar peças teatrais.
Contrariando a vontade paterna, que era vê-lo comerciante, viaja, aos 17 anos, para o Rio de Janeiro e começa a estudar pintura na Academia Imperial de Belas Artes. Logo passa a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas. Com a morte do pai em 1878, é obrigado a retornar a São Luís, onde, em 1880, lança o romance Uma Lágrima de Mulher, exageradamente sentimental, em estilo romântico. Fortemente influenciado pelas leituras de Eça de Queiroz e de Émile Zola, que lhe apontam um novo caminho, publica em 1881 O Mulato, obra que inaugura o Naturalismo na literatura brasileira. Por tratar-se de um libelo contra a vida e os costumes maranhenses no período abolicionista, o romance provoca violenta reação da sociedade provinciana e do clero, coagindo-o a voltar para o Rio de Janeiro, onde passa a viver da literatura, publicando romances, escrevendo folhetins e contos em jornais e redigindo peças teatrais. Em 1895, ao ingressar na carreira diplomática, abandona a literatura. Esteve, a serviço do Brasil, na Espanha, no Japão, no Uruguai, na Inglaterra, na Itália, no Paraguai e na Argentina, onde morreu em 1913.
Na carreira literária de Aluísio Azevedo, podemos distinguir duas posições estéticas simultâneas: de um lado, os romances românticos, que o próprio autor chamava de "comerciais", destinados a alimentar os jornais e a agradar a um público acostumado aos sentimentalismos e às extravagâncias da moda; de outro, os romances "artísticos", em que o autor adere ao espírito naturalista, produzindo verdadeiras obras-primas. À linha folhetinesca pertencem Memórias de um Condenado, Girândola dos Amores, Filomena Borges, entre outros. À linha artística pertencem os romances maiores de Aluísio: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. Escreveu também O Coruja, O Homem e o Livro de Uma Sogra.

Há nas principais obras do autor uma preocupação constante com a denúncia de situações sociais desumanas e injustas, que o tornam, acima de tudo, um romancista social (Texto extraído de O cortiço, L&PM POCKET, v. 103).
Obra completa:
Aos Vinte Anos, conto
Uma Lágrima de Mulher, romance (1880)
O Mulato, romance (1881)
Mistério da Tijuca ou Girândola de Amores, romance (1882)
Memórias de um Condenado ou A Condessa Vésper, romance (1882)
Casa de Pensão, romance (1884)
Filomena Borges, romance (1884)
O Homem, romance (1887)
O Cortiço, romance (1890
O Coruja, romance (1890)
A Mortalha de Alzira, romance (1894)
Demônios, contos (1895)
O Livro de uma Sogra, romance (1895)
O Japão, publicado, a partir de manuscritos encontrados na ABL (1894)
O Touro Negro, crônicas e epistolário
Os Doidos, peça
Casa de Orates, peça
Flor de Lis, peça
Em Flagrante, peça
Caboclo, peça
Um Caso de Adultério, peça
Venenos que Curam, peça
República, peça

Pesquisa e texto final:


Raimundo Fontenele

Nenhum comentário:

Postar um comentário