Aluísio de Azevedo |
ALUÍSIO (Tancredo Belo Gonçalves de)
AZEVEDO (São Luís, 14.04.1857 – Buenos Aires, 21.01.1913)
Irmão mais novo do teatrólogo Arthur Azevedo, o romancista maranhense
Aluísio Azevedo insere-se na história da literatura brasileira como um dos
responsáveis pela escola literária conhecida como naturalismo. Escritor,
desenhista, jornalista, era na verdade o que hoje chamamos de um ativista
político participando intensamente das correntes mais progressistas do seu
tempo, tendo por isso pago um alto preço. Para manter-se fazia caricaturas para
os jornais da época, como O
Fígaro, O
Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada.
A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia
cenas de romances.
Incompreensão, descaso, perseguição mesmo por parte da elite
maranhense, por denunciar em seus escritos a hipocrisia da sociedade e de seus
condutores (dirigentes, governantes) me dá um estalo: será que o Maranhão já
saiu do século XIX? A seguir, Aluísio Azevedo em três tempos.
A Cidade
pré-Aluísio Azevedo
Segundo Marques Rabelo, São
Luís do Maranhão foi a quarta cidade da Colônia a possuir jornais
impressos. O jornal O Conciliador, foi
um dos pioneiros, circulando entre 1821 a 1823, e embora de vida efêmera teve
importante papel num momento de ruptura política entre brasileiros e
portugueses. Tanto é assim que, sendo vinculado ao Governo da Província, em
suas últimas edições noticiou a queda do domínio português.
“Uma
cidade na qual os grupos socialmente dominantes tentavam demarcar sua presença
e influir nas polêmicas políticas, frente a mudança de poder, cristalizada na
disputa entre portugueses e brasileiros”.
Os impressos protagonizavam
disputas pela hegemonia política, tornando-se um dos canais para as decisões na
esfera pública. Afora os panfletos anônimos e os periódicos com demarcada
posição política, a cidade São Luís convivia com uma imensa população de
analfabetos e escravos, em 1821 somente 29% dos habitantes era formada por
homens livres, sendo os demais negros (CALDEIRA, 2003). Para a maioria dos
moradores da cidade, o acesso à imprensa ocorria através dos comentários, das
contestações, dos questionamentos, das conversas informais de seus leitores que
repassavam suas impressões em quitandas, praças e ruas, movimento que dava
também concretude à opinião pública. As práticas jornalísticas em meados do
século XIX ganham contornos polêmicos, cunhadas por teses e interesses de
diferentes grupos. O jornalismo doutrinário, característica dos anos de 1800,
especialmente em decorrência das mudanças nas estruturas de poder, anunciava o
nascimento da imprensa enquanto uma instituição social que posteriormente teria
feições empresariais. (De Odorico Mendes a José Sarney: recortes da imprensa
política no Maranhão nos séculos XIX e XXI, Roseane Arcanjo Pinheiro e Pâmela
Araújo Pinto).
A mesma cidade
Se
até hoje São Luís (apesar da fachada moderna) e o Maranhão parecem petrificados
mentalmente, naquela prática coletiva do provincianismo chulo, decadente, de
grupelhos mordendo nacos de poder em seus nichos de pseudasglórias, o compadrio
deslavado abocanhando fatias de poder e grana que não lhes pertence, mas sim ao
povo miserável e ao povo que trabalha, imaginem à época de Aluísio Azevedo.
Do
chafurdar nessa lama de intolerância e preconceito, nesse manancial de
hipocrisia em que se ancoravam as sociedades escravagistas e patriarcais, como
a nossa, Aluísio Azevedo encontrou a matéria bruta com a qual, estética e
artisticamente polida, construiu suas obras capitais e mais polêmicas: O
Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. Isso faz dele um escritor sempre atual, alguém
que continua a colocar o dedo na ferida da alma maranhense, que de tão obtusa
já nem sangra mais. Dá as costas, faz ouvido de mercador e segue impávida sua
trajetória de chocho orgulho e de previsível decadência. Aluísio Azevedo: Ele é
o cara! (RF)
Dados
biográficos
Aluísio
Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 1857. Filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo,
que, ainda jovem, enviuvara-se em boda anterior, e de Emília Amália Pinto de
Magalhães, separada de um rico
comerciante português, Antônio Joaquim Branco, assiste Aluísio, em garoto, ao
desabono da sociedade maranhense a essa união dos pais contraída sem segundas
núpcias, algo que se configurava grande escândalo à época. Foi Aluísio, irmão
mais novo do dramaturgo e jornalista Artur
Azevedo com o qual, em parceria, viria a esboçar peças teatrais.
Contrariando
a vontade paterna, que era vê-lo comerciante, viaja, aos 17 anos, para o Rio de
Janeiro e começa a estudar pintura na Academia Imperial de Belas Artes. Logo
passa a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas. Com a
morte do pai em 1878, é obrigado a retornar a São Luís, onde, em 1880, lança o
romance Uma Lágrima de Mulher,
exageradamente sentimental, em estilo romântico. Fortemente influenciado pelas
leituras de Eça de Queiroz e de Émile Zola, que lhe apontam um novo caminho,
publica em 1881 O Mulato,
obra que inaugura o Naturalismo na literatura brasileira. Por tratar-se de um
libelo contra a vida e os costumes maranhenses no período abolicionista, o
romance provoca violenta reação da sociedade provinciana e do clero, coagindo-o
a voltar para o Rio de Janeiro, onde passa a viver da literatura, publicando
romances, escrevendo folhetins e contos em jornais e redigindo peças teatrais.
Em 1895, ao ingressar na carreira diplomática, abandona a literatura. Esteve, a
serviço do Brasil, na Espanha, no Japão, no Uruguai, na Inglaterra, na Itália,
no Paraguai e na Argentina, onde morreu em 1913.
Na carreira
literária de Aluísio Azevedo, podemos distinguir duas posições estéticas
simultâneas: de um lado, os romances românticos, que o próprio autor chamava de
"comerciais", destinados a alimentar os jornais e a agradar a um
público acostumado aos sentimentalismos e às extravagâncias da moda; de outro,
os romances "artísticos", em que o autor adere ao espírito
naturalista, produzindo verdadeiras obras-primas. À linha folhetinesca
pertencem Memórias de um
Condenado, Girândola dos
Amores, Filomena Borges,
entre outros. À linha artística pertencem os romances maiores de Aluísio: O Mulato, Casa de Pensão e O
Cortiço. Escreveu também O
Coruja, O Homem e o Livro
de Uma Sogra.
Há nas
principais obras do autor uma preocupação constante com a denúncia de situações
sociais desumanas e injustas, que o tornam, acima de tudo, um romancista social
(Texto extraído de O cortiço, L&PM POCKET, v. 103).
Obra
completa:
Aos Vinte Anos, conto
Uma Lágrima de Mulher, romance (1880)
O Mulato, romance (1881)
Mistério da Tijuca ou Girândola de
Amores, romance (1882)
Memórias de um Condenado ou A
Condessa Vésper, romance (1882)
Casa de Pensão, romance (1884)
Filomena Borges, romance (1884)
O Homem, romance (1887)
O Cortiço, romance (1890
O Coruja, romance (1890)
A Mortalha de Alzira, romance (1894)
Demônios, contos (1895)
O Livro de uma Sogra, romance (1895)
O Japão, publicado, a partir de manuscritos encontrados
na ABL (1894)
O Touro Negro, crônicas e epistolário
Os Doidos, peça
Casa de Orates, peça
Flor de Lis, peça
Em Flagrante, peça
Caboclo, peça
Um Caso de Adultério, peça
Venenos que Curam, peça
República, peça
Pesquisa
e texto final:
Raimundo
Fontenele
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