17 de fev. de 2016

AS FIRMES RAÍZES DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA






O Ontem e o Hoje

Conhecer o Brasil de ontem nos ajuda a entendermos e explicarmos o Brasil de hoje. Tem muito cabeça de bagre palpitando por aí, marcando cruzinhas como nos exames escolares de uma pátria que não mais educa, acerca da situação política e econômica em que nos encontramos. Acham estas bestas quadradas que o mundo começa nos anos sessenta, quando tentaram implantar a tal república sindicalista, o que vieram a conseguir nos anos dois mil com a chegada ao trono de um reizinho nu. Este Lula da Silva que, durante algum tempo, posou de estadista e que agora, enterrado até o pescoço em escândalos financeiros, falcatruas domésticas e processos a dar com o pau, não passa de um indivíduo que usou a boa fé de seus conterrâneos pobres e miseráveis para assaltar o erário público.
O professor, historiador, sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, na sua obra capital Raízes do Brasil, esclarece esta estratégia petista, via MST, de querer deixar tudo como está, ou regredir ao passado das carroças (Porto Alegre ainda hoje luta para exterminá-las da paisagem urbana e central) e de uma agricultura feita à base da enxada, da foice e do martelo. Mudar pra deixar tudo no mesmo lugar. Vejamos o que diz o escritor em seu Raízes:
“É significativo o testemunho de um observador norte-americano, R. Cleary, que, durante os últimos vinte e poucos anos de monarquia brasileira, exerceu sua profissão de médico em Lajes, Santa Catarina, tendo imigrado em conseqüência da Guerra da Secessão nos Estados Unidos. Em obra ainda inédita, cujos manuscritos se encontram na Library of Congress, em Washington, oferece Cleary o seguinte depoimento acerca dos colonos alemães em São Leopoldo que, afirma,  nada trouxeram de novo ao país adotivo e se limitaram a plantar o que os brasileiros já plantavam e do mesmo modo primitivo e grosseiro:
Conheci um irlandês em Porto Alegre (...) que tentou introduzir o uso geral do arado entre os alemães. Não obteve o menor resultado, pois os colonos preferiam recorrer a enxadas ou pás e, na grande maioria dos casos, a simples cavadeiras de pau, com o que abriam covas para as sementes. Este último pormenor requer explicação: nossos próprios trabalhadores rurais ficarão sem dúvida estarrecidos se eu lhes disser que a lavoura aqui é feita, em geral, com o auxílio de enxadas, mais raramente de pás – e isso mesmo onde o lavrador é suficientemente esclarecido para resistir ao hábito corrente, que consiste em abrir ao covas com um simples pedaço de pau, a fim de nelas se colocarem as sementes. É verdade, como acima se disse, que alguns, muito poucos, se socorrem de pás; estas, porém, não passam de pobres sucedâneos para o grande símbolo da civilização, a última palavra de Tubalcain (o salvador do mundo) que é o arado.

De então para cá, a aquisição de técnicas superiores, equivalente a uma subversão dos processos herdados dos antigos naturais da terra, não caminhou na progressão que seria para desejar. Pode-se dizer que o desenvolvimento técnico visou, em geral, muito menos a aumentar a produtividade do solo do que a economizar esforços”.
Parece incrível como alguns conceitos negativos de um livro cuja primeira edição é de 1936 cai como uma luva nas mãos preguiçosas e sujas de militantes e sindicalistas do PT: querem acabar com o agronegócio, com o capitalismo, de onde furtaram bilhões (mensalão, petrolão, BNDS, Fundos de Pensão e onde mais meteram as mãos), e continuam a praticar os mesmos maus hábitos políticos da República Velha (bolsa família, pelegada, compra de parlamentares, estudantes, movimentos sociais, aparelhamento de todas as instituições republicanas) contanto que isso os faça permanecerem no poder indefinidamente.

O privado é público e o público é privado?
Vamos adiante com esta leitura de Raízes do Brasil do professor Sérgio Buarque:
“O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição. A indistinção fundamental entre as suas formas é prejuízo romântico que teve os seus adeptos mais entusiastas durante o século XIX.De acordo com esses doutrinadores, o Estado e suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor,  elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade”.
No entanto, nossos governantes, em todos os tempos, e com o voto, o aplauso, o apoio maciço de um povo marginalizado da educação e de outras formas de pensar, manipulado pelas lideranças sociais e sindicais, não fazem outra coisa a não ser isso: confundir, misturar o privado e o público, de tal forma que não se saiba o que é deles e o que é do povo. Não é à toa que o mau exemplo Lula carregou do palácio caminhões de mudança de objetos e coisas suas, é verdade, mas também objetos e coisas pertencentes à Presidência da República.

Nunca antes na história desse país
Outra observação do escritor e sociólogo SBH é atualíssima, as coisas não mudaram depois de séculos de pseuda-evolução do pensamento e da prática político-administrativa em nosso país. Diz respeito à classe de funcionários públicos, hoje enriquecida com os tais CCs, ou melhor, o tal do bacharelismo:
“Ainda hoje são raros, no Brasil, os médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, professores, funcionários que se limitem a ser homens de sua profissão. Revemos constantemente o fato observado por Burmeister nos começos de nossa vida de nação livre: “Ninguém aqui procura seguir o curso natural da carreira iniciada, mas cada qual almeja alcançar aos saltos os altos postos e cargos rendosos: e não raro o conseguem”. “O alferes de linha”, dizia, “sobe aos pulos a major e a coronel da milícia e cogita, depois, em voltar para a tropa de linha com essa graduação. O funcionário público esforça-se por obter colocação de engenheiro e o mais talentoso engenheiro militar abandona sua carreira para ocupar o cargo de arrecadador de direitos de alfândega. O oficial da marinha aspira ao uniforme de chefe de esquadra. Ocupar cinco ou seis cargos ao mesmo tempo e não exercer nenhum é coisa nada rara”.
É isso aí. Eis a nossa res-pública enxovalhada no ano de 2016 pelas estripulias cometidas iguaiszinhas as do século XVIII, ou antes até. Portanto, meu conselho é que esses servidores, militantes, gente do MST que não planta e nunca plantou um pé de alface, estudem. Trabalhem. Talvez assim um dia possam legar às futuras gerações uma pátria realmente decente, digna, com oportunidades para todos, e não essa caricatura de nação que não oferece aos habitantes nem educação e nem saúde de qualidade, nem segurança nem perspectivas de futuro, mergulhada novamente no desemprego, na alta do custo de vida, em dívidas impagáveis e, sobretudo, na mentira e roubalheira de seus governantes.

Nunca antes na história deste país?... Sabe de nada, inocente!, repete em seu comercial o compadre Washington.

Pesquisa e texto final

Raimundo Fontenele

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