Obra de Aluísio Azevedo, publicada em 1881, O
Mulato foi o romance que marcou o começo do naturalismo na literatura brasileira. O
livro abordou temas delicados para a época como o preconceito contra os negros
na sociedade do Maranhão daquele período e a corrupção clerical. Desta forma, o
escritor irritou seus conterrâneos e sofreu com a pressão das publicações
locais.
"Satanás da cidade". Assim ficou conhecido Aluísio Azevedo em
São Luis pela autoria de O Mulato. O
grau de insatisfação que o romance causou pode ser medido por uma matéria
publicada em um jornal daquele período chamado "A Civilização", na qual
o escritor era aconselhado a "pegar na enxada, em vez de ficar
escrevendo". Devido a isso, o autor precisou voltar para o Rio de Janeiro,
onde foi bem recebido e teve sucesso.
Principais personagens de O Mulato:
- Raimundo:
personagem principal. Filho da escrava Domingas com José Pedro da Silva.
Sua figura idealiza a superioridade física, intelectual e moral.
- Ana
Rosa: filha de Manuel Pescada, noiva e prima de Raimundo. O pai de Ana
Rosa não concordava com sua relação com Raimundo, que era filho de escrava.
Personagem utilizada para citações literárias, pois gostava de ler Eça de
Queirós e Flaubert.
- Manuel
Pescada: Pai de Ana Rosa. De origem portuguesa, era um homem com tino para
o comércio, apreciava livros e a leitura de jornais.
- Dias:
futuro marido de Ana Rosa.
A importância de O Mulato para
o naturalismo brasileiro pode ser observada nos seguintes elementos:
- Sensualidade:
paixão carnal de Ana Rosa em relação a Raimundo;
- Crítica
social: sátira feita com a criação dos tipos que habitavam São Luis. O
escritor criou personagens imorais e grotescos como um comerciante
grosseiro e rico, uma beata odiosa e velha, entre outros;
- Anti-clericalismo:
um padre assassino e descompromissado com a batina, cônego Diogo,
personagem extremamente hipócrita;
- Preconceito
perante os negros: em toda a trama de O
Mulato, o escritor opõe-se aos abusos relacionados aos escravos;
- Triunfo
do mal: o livro termina com a gratificação dos criminosos. O padre Diogo
torna-se cônego e a heroína casa-se com o homem que assassinou Raimundo.
Entre outros aspectos, O Mulato
foi um livro publicado em meio à forte campanha a favor da abolição da
escravatura, outro fator que aumentou o escândalo causado pela obra naquela
época. Um grande mérito do livro é a análise da posição do mestiço na sociedade
do Maranhão e os ataques ao preconceito contra os negros.
De acordo com as leis autorais atuais do Brasil, O Mulato encontra-se em domínio público.
Textos do livro famoso
Lendo os textos de O Mulato, de Aluísio Azevedo, que
vêm a seguir, a gente fica tentado a fazer os famosos exercícios do se.
E se ele tivesse vivo? E se ele escrevesse hoje? Teria esses elogios que lhe
fazem? Seria cultuado por aí, pelos nossos literatos da hora? Que nada! Teria a
mesma rejeição, seria vítima do mesmo opróbrio, por exemplo, do qual sofreu Nauro Machado, em
vida. Os hipócritas só reverenciam os mortos. E os canalhas e hipócritas nem aos
mortos dispensam respeito. Quantas vezes Nauro foi derrotado para Academia
Maranhense de Letras? A vida inteira.
Por isso, acredito, Aluísio Azevedo não teria hoje
melhor sorte do que a que teve no passado. Isso porque, embora não pareça, a
sociedade maranhense continua tão hipócrita quanto antes. Por mais que a cidade
tenha essa vestimenta moderna sua alma é do século XIX.
E por mais que o atual governo se denomine popular,
um governo do povão, comunista, igualitário, não passa de um governo que
substituiu uma elite por outra. Aliás, nem é por outra. É a mesma elite dos
tempos de Sarney, acrescida de alguns gatos pingados dos sindicatos, outros
tantos dos movimentos sociais, esquerdinhas de faz-de-conta, socialistas que
engordam suas contas bancárias, e a mesma leva de artistas, intelectuais, poetas
e escritores que não sabem viver e/ou produzir se não for sob o manto generoso
dos cargos públicos.
Te cuida, Aluísio Azevedo! Tem uns e outros
querendo apagar o passado, a história e o nome de vocês que tanto honraram as
letras maranhenses (RF).
O autor
descreve o ambiente da cidade de São Luís com muita nitidez. Observe:
Era
um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia
entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras
escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes,
as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se
mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os
prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam
sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos
não se encontra vã viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os
pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.
É nessa
atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social,
que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de
letargia preguiçosa:
Os cães, estendidos
pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos
irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos.
O mal cheiro
domina o ambiente:
Às esquinas, nas
quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente.
A grosseria
do ambiente envolve as ações das personagens:
O
quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando
o seu imenso e espalmado pé descalço (...) as peixeiras, quase todas negras,
muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as
tetas opulentas.
Seis anos
depois da morte de Raimundo, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido
Dias saindo de uma recepção oficial:
O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro
anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento
ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito
da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem
torneada, com a pele limpa e a carne esperta. Ia toda se saracoteando muito
preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos
seus três filhinhos,que ficaram em casa a dormir.
–-
Grand`chaine, Double, serré! Berravam nas salas.
O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro,
que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a
gola da casaca.
–- Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à
noite, queridinho!...
Fontes:
AZEVEDO, Aluísio.
O mulato. São Paulo: Martins, 1964.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2024
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2024
Pesquisa
e texto final:
Raimundo
Fontenele
Excelente poeta, o que nos faz imaginar que existe uma tradição de ditos "literatos medíocres" que ainda existem hoje, como existiam no tempo de lançamento dessa obra fundamental. E os farsantes dizem que gente como Aluísio de Azevedo, Maria Firmina dos Reis, Sotero dos Reis e outros pouco acrescentaram para as letras do Brasil! VÊ SE PODE!!
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