26 de fev. de 2016

ALUÍSIO AZEVEDO, O HOMENAGEADO DO MÊS, E O SEU O MULATO



Obra de Aluísio Azevedo, publicada em 1881, O Mulato foi o romance que marcou o começo do naturalismo na literatura brasileira. O livro abordou temas delicados para a época como o preconceito contra os negros na sociedade do Maranhão daquele período e a corrupção clerical. Desta forma, o escritor irritou seus conterrâneos e sofreu com a pressão das publicações locais.
"Satanás da cidade". Assim ficou conhecido Aluísio Azevedo em São Luis pela autoria de O Mulato. O grau de insatisfação que o romance causou pode ser medido por uma matéria publicada em um jornal daquele período chamado "A Civilização", na qual o escritor era aconselhado a "pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo". Devido a isso, o autor precisou voltar para o Rio de Janeiro, onde  foi bem recebido e teve sucesso.
Principais personagens de O Mulato:
  • Raimundo: personagem principal. Filho da escrava Domingas com José Pedro da Silva. Sua figura idealiza a superioridade física, intelectual e moral.
  • Ana Rosa: filha de Manuel Pescada, noiva e prima de Raimundo. O pai de Ana Rosa não concordava com sua relação com Raimundo, que era filho de escrava. Personagem utilizada para citações literárias, pois gostava de ler Eça de Queirós e Flaubert.
  • Manuel Pescada: Pai de Ana Rosa. De origem portuguesa, era um homem com tino para o comércio, apreciava livros e a leitura de jornais.
  • Dias: futuro marido de Ana Rosa.
A importância de O Mulato para o naturalismo brasileiro pode ser observada nos seguintes elementos:
  • Sensualidade: paixão carnal de Ana Rosa em relação a Raimundo;
  • Crítica social: sátira feita com a criação dos tipos que habitavam São Luis. O escritor criou personagens imorais e grotescos como um comerciante grosseiro e rico, uma beata odiosa e velha, entre outros;
  • Anti-clericalismo: um padre assassino e descompromissado com a batina, cônego Diogo, personagem extremamente hipócrita;
  • Preconceito perante os negros: em toda a trama de O Mulato, o escritor opõe-se aos abusos relacionados aos escravos;
  • Triunfo do mal: o livro termina com a gratificação dos criminosos. O padre Diogo torna-se cônego e a heroína casa-se com o homem que assassinou Raimundo.
Entre outros aspectos, O Mulato foi um livro publicado em meio à forte campanha a favor da abolição da escravatura, outro fator que aumentou o escândalo causado pela obra naquela época. Um grande mérito do livro é a análise da posição do mestiço na sociedade do Maranhão e os ataques ao preconceito contra os negros.
De acordo com as leis autorais atuais do Brasil, O Mulato encontra-se em domínio público.

 Textos do livro famoso
Lendo os textos de O Mulato, de Aluísio Azevedo, que vêm a seguir, a gente fica tentado a fazer os famosos exercícios do se. E se ele tivesse vivo? E se ele escrevesse hoje? Teria esses elogios que lhe fazem? Seria cultuado por aí, pelos nossos literatos da hora? Que nada! Teria a mesma rejeição, seria vítima do mesmo opróbrio,  por exemplo, do qual sofreu Nauro Machado, em vida. Os hipócritas só reverenciam os mortos. E os canalhas e hipócritas nem aos mortos dispensam respeito. Quantas vezes Nauro foi derrotado para Academia Maranhense de Letras? A vida inteira.
Por isso, acredito, Aluísio Azevedo não teria hoje melhor sorte do que a que teve no passado. Isso porque, embora não pareça, a sociedade maranhense continua tão hipócrita quanto antes. Por mais que a cidade tenha essa vestimenta moderna sua alma é do século XIX.
E por mais que o atual governo se denomine popular, um governo do povão, comunista, igualitário, não passa de um governo que substituiu uma elite por outra. Aliás, nem é por outra. É a mesma elite dos tempos de Sarney, acrescida de alguns gatos pingados dos sindicatos, outros tantos dos movimentos sociais, esquerdinhas de faz-de-conta, socialistas que engordam suas contas bancárias, e a mesma leva de artistas, intelectuais, poetas e escritores que não sabem viver e/ou produzir se não for sob o manto generoso dos cargos públicos.
Te cuida, Aluísio Azevedo! Tem uns e outros querendo apagar o passado, a história e o nome de vocês que tanto honraram as letras maranhenses (RF).  

O autor descreve o ambiente da cidade de São Luís com muita nitidez. Observe:
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontra vã viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.
É nessa atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social, que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de letargia preguiçosa:
 Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos.
O mal cheiro domina o ambiente:
 Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. 
A grosseria do ambiente envolve as ações das personagens:
O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço (...) as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.
Seis anos depois da morte de Raimundo, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido Dias saindo de uma recepção oficial:
O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem torneada, com a pele limpa e a carne esperta. Ia toda se saracoteando muito preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos seus três filhinhos,que ficaram em casa a dormir.
–- Grand`chaine, Double, serré! Berravam nas salas.
O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro, que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
–- Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!...

Fontes:

Pesquisa e texto final:

Raimundo Fontenele


Um comentário:

  1. Excelente poeta, o que nos faz imaginar que existe uma tradição de ditos "literatos medíocres" que ainda existem hoje, como existiam no tempo de lançamento dessa obra fundamental. E os farsantes dizem que gente como Aluísio de Azevedo, Maria Firmina dos Reis, Sotero dos Reis e outros pouco acrescentaram para as letras do Brasil! VÊ SE PODE!!

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