8 de abr. de 2016

BALNEÁRIO CAMBORIÚ, CENSO DO IBGE 1980 (Final)

            Setembro caminhava para o seu final e o Censo-80 também. Bem mais rápido do que eu pensava, consegui fechar o recenseamento na região central. E ainda por cima vendi mais de três dezenas do meu livro de poesias. E aí parti pra fazer as últimas visitas de trabalho.
            A última etapa era já fora da cidade, na beira do Rio Camboriú que fazia a divisa entre os dois municípios, a velha cidade de Camboriú e o cada vez mais sofisticado e progressista Balneário Camboriú.  A tarde ia morrendo no horizonte, o sol, baixo, jogava seus últimos raios que cintilavam sobre as águas brilhantes do rio, porra, tá parecendo até verso de Olavo Bilac.
            Margeei o rio até chegar nos últimos habitantes a serem visitados. Umas vinte casinhas, parecia casa de boneca, na verdade era uma comunidade de japoneses que ali viviam e trabalhavam. Com muita dificuldade consegui me fazer entender. Só estavam ali mulheres e crianças, os homens saíram todos, pois, segundo elas, estavam distantes alguns quilômetros dali, onde possuíam uma plantação de tomates e outras verduras.
            Fiquei de voltar lá no dia seguinte para fazer o recenseamento, mas eu sabia que não voltaria, aquele era meu último dia de trabalho, resolve deixar aqueles japonas de fora, de onde se conclui que nada é exato nesta vida. Quanto, como eu, deixaram alguém ou alguns fora do censo? Portanto os números do IBGE nunca são totalmente fiéis à realidade. E a gente ainda enche a boca de diz “a culpa é do governo” rssrss.
            Terminado o Censo, cadê a grana? Ninguém contava com tanta demora. O negócio foi o seguinte: os supervisores conferiam toda a papelada, depois aquilo era enviado para a sede do IBGE em Brasília, e só depois, então, a verba seria liberada e transferida para as Prefeituras que fariam nosso pagamento. Haja burocracia e espera. Aflita espera.
            Sim, porque a minha vida doméstica, privada, também sofrera alguns reveses. Nascera nossa terceira filha justo quando a mulher perdeu o emprego, por conta de contenção de despesa da empresa empregadora, no caso o Hospital Santa Inês. Vivíamos a incerteza política e o arrocho econômico, embora houvesse o começo da abertura lenta, segura e gradual a vida não estava fácil. Minha mãe tinha vindo do Maranhão passar uma temporada conosco. Três filhos e mais uma moça que nos ajudava e que tinha um filho, 8 pessoas, e renda zero.
             Outubro chegou e minha esposa viajou de Balneário Camboriú com destino a Santa Maria, tinha uma promessa de emprego lá. Mas quanto chegou em Porto Alegre, na casa em que ela ficou a senhora lhe informou que no Hospital Lazarotto estavam precisando de enfermeira. Ela resolveu ficar por lá, já trabalhando, e eu continuava em Camboriú esperando o bendito dinheiro do IBGE e nada. Só lá pelo fim de novembro pintou a grana. Despachei minha mãe no aeroporto dos Navegantes em Itajaí de volta para o Maranhão.

            Filhos e a moça que morava conosco levei-os pra Porto Alegre, isso já era de dezembro pra janeiro, minha esposa conseguira alugar um apartamento na Rua Andaraí e depois de deixá-los numa boa, voltei pra Camboriú e me demorei até o Carnaval de 1981, me esbaldando em festas e bebedeiras. Tinha deixado uma parte do que ganhei para aquela finalidade. Sozinho no apartamento, cada noite levava um grupo de jovens, homens e mulheres que encontrava na praia, nos bares, nas festas e terminava a noite em grandes bacanais.
            Por isso falei que terminaria estas lembranças com um grande final. E tem coisa melhor do que amizades, mulheres, bebidas e festas? Só a família, né?, para a qual voltei tão logo me senti saciado e enfastiado daquela vida loka.

                                                           F I M

Raimundo Fontenele


Auardem: Aventuras e Desventuras de um Paraíba no Sul (relatos vividos em Curitiba, PR, entre fevereiro de 1977 e julho de 1979 )









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