A última etapa era já fora da cidade,
na beira do Rio Camboriú que fazia a divisa entre os dois municípios, a velha cidade
de Camboriú e o cada vez mais sofisticado e progressista Balneário Camboriú. A tarde ia morrendo no horizonte, o sol, baixo,
jogava seus últimos raios que cintilavam sobre as águas brilhantes do rio,
porra, tá parecendo até verso de Olavo Bilac.
Margeei o rio até chegar nos últimos
habitantes a serem visitados. Umas vinte casinhas, parecia casa de boneca, na
verdade era uma comunidade de japoneses que ali viviam e trabalhavam. Com muita
dificuldade consegui me fazer entender. Só estavam ali mulheres e crianças, os
homens saíram todos, pois, segundo elas, estavam distantes alguns quilômetros
dali, onde possuíam uma plantação de tomates e outras verduras.
Fiquei de voltar lá no dia seguinte
para fazer o recenseamento, mas eu sabia que não voltaria, aquele era meu
último dia de trabalho, resolve deixar aqueles japonas de fora, de onde se
conclui que nada é exato nesta vida. Quanto, como eu, deixaram alguém ou alguns
fora do censo? Portanto os números do IBGE nunca são totalmente fiéis à
realidade. E a gente ainda enche a boca de diz “a culpa é do governo” rssrss.
Terminado o Censo, cadê a grana?
Ninguém contava com tanta demora. O negócio foi o seguinte: os supervisores
conferiam toda a papelada, depois aquilo era enviado para a sede do IBGE em
Brasília, e só depois, então, a verba seria liberada e transferida para as
Prefeituras que fariam nosso pagamento. Haja burocracia e espera. Aflita
espera.
Sim, porque a minha vida doméstica,
privada, também sofrera alguns reveses. Nascera nossa terceira filha justo
quando a mulher perdeu o emprego, por conta de contenção de despesa da empresa
empregadora, no caso o Hospital Santa Inês. Vivíamos a incerteza política e o
arrocho econômico, embora houvesse o começo da abertura lenta, segura e gradual
a vida não estava fácil. Minha mãe tinha vindo do Maranhão passar uma temporada
conosco. Três filhos e mais uma moça que nos ajudava e que tinha um filho, 8
pessoas, e renda zero.
Outubro chegou e minha esposa viajou de Balneário
Camboriú com destino a Santa Maria, tinha uma promessa de emprego lá. Mas
quanto chegou em Porto Alegre, na casa em que ela ficou a senhora lhe informou que
no Hospital Lazarotto estavam precisando de enfermeira. Ela resolveu ficar por
lá, já trabalhando, e eu continuava em Camboriú esperando o bendito dinheiro do
IBGE e nada. Só lá pelo fim de novembro pintou a grana. Despachei minha mãe no
aeroporto dos Navegantes em Itajaí de volta para o Maranhão.
Filhos e a moça que morava conosco
levei-os pra Porto Alegre, isso já era de dezembro pra janeiro, minha esposa
conseguira alugar um apartamento na Rua Andaraí e depois de deixá-los numa boa,
voltei pra Camboriú e me demorei até o Carnaval de 1981, me esbaldando em
festas e bebedeiras. Tinha deixado uma parte do que ganhei para aquela
finalidade. Sozinho no apartamento, cada noite levava um grupo de jovens,
homens e mulheres que encontrava na praia, nos bares, nas festas e terminava a
noite em grandes bacanais.
Por isso falei que terminaria estas
lembranças com um grande final. E tem coisa melhor do que amizades, mulheres,
bebidas e festas? Só a família, né?, para a qual voltei tão logo me senti
saciado e enfastiado daquela vida loka.
F I M
Raimundo Fontenele
Auardem: Aventuras e Desventuras de um Paraíba no Sul (relatos vividos em Curitiba, PR, entre fevereiro de 1977 e julho de 1979 )
F I M
Raimundo Fontenele
Auardem: Aventuras e Desventuras de um Paraíba no Sul (relatos vividos em Curitiba, PR, entre fevereiro de 1977 e julho de 1979 )
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