11 de jul. de 2016

ARTE DE FURTAR, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA


O tratado Arte de Furtar apareceu pela primeira vez como escrito pelo Padre Antônio Vieira, com as indicações de “impressa na Oficina Elzeviriana”, em Amsterdã, com data de 1652. Na página de rosto, depois do título, há um extenso subtítulo: Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostradores de Horas Minguadas, Gazua Geral dos Reinos de Portugal oferecida a El-Rei Nosso Senhor D. João IV para que a emende. Além de Vieira, a autoria da obra foi sucessivamente atribuída a Antônio da Silva Macedo, João Pinto Ribeiro, Tomé Pinheiro da Veiga, Diogo de Almeida, jesuíta Manuel da Costa e outros.
Na realidade não se sabe quem foi o verdadeiro autor da obra, que é considerada um monumento da prosa barroca e o mais importante texto da literatura de costumes da língua portuguesa. O estilo gracioso, a feroz ironia e o humor requintado fazem de Arte de Furtar um verdadeiro clássico.
Gente, é como se o Padre Antônio Vieira (ou outro autor que seja) fosse um desses cronistas do Mensalão, Petrolão, Eletrolão, Fundos de Pensão, etc. e vivesse entre nós, escrevendo suas crônicas no Estadão, por exemplo.
Vejam a pérola escrita no século XVII e que cai como uma luva ou um chapéu na cabeça ou nas mãos do Lula, ou do Zé Dirceu, ou de qualquer um outro desses grandes ladrões da nossa República.
DO LIVRO ARTE DE FURTAR:

"E digo que este mundo é um covil de ladrões, porque, se bem o considerarmos, não há nele coisa viva que não viva de rapinas: os animais, aves e peixes, comendo-se uns aos outros se sustentam; e se alguns há que não se mantenham doutros viventes, tomam seu pasto dos frutos alheios que não cultivaram.
E para que não engasgue algum escrupuloso nesta proposição, com a máxima de que não há ladrão que seja nobre, pois o tal ofício traz consigo extinção de todos os foros de nobreza, declaro logo que entendo o meu dito segundo o vejo exercitado em homens tidos e havidos pelos melhores do mundo, que no cabo são ladrões, sem que o exercício da arte os deslustre, nem abata um ponto do timbre de sua grandeza".

Pesquisa e texto final

Raimundo Fontenele

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