29 de ago. de 2016

MEU AMIGO JOMAR SE FOI

Escritor Jomar Moraes 
Às vezes a nossa vida e os dias se parecem e se passam como nuvens. Tardiamente, mas não inoportuno, presto minha homenagem ao escritor maranhense Jomar Moraes, há poucos dias falecido.
            Mais que escritor, chamemo-lo o homem de letras. Das letras. Porque ele não foi puramente um escritor, um criador de obra inventiva e inovadora que mudasse o destino ou inaugurasse caminhos para a nossa literatura.
            Mas, peraí. Aquilo devia ser 1965, eu morava em São Domingos e ele em Buriti Bravo, sargento da Polícia Militar, chefiando o destacamento naquele município. O Governo Militar Federal estava procurando sossegar os camponeses sem terra, e foi criado o IBRA, Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. Se fosse aquela reforma que a esquerda comunista, as Ligas Camponesas do Francisco Julião preconizavam, a dos militares era uma reforma de agá.
            Eu tinha ido receber treinamento em Colinas, ia trabalhar no IBRA porque um tio e padrinho meu, Raimundo Almeida, era Coletor e os proprietários de terra eram por nós cadastrados e na Coletoria pagavam uma taxa para terem direito de propriedade sobre aquelas terras devolutas que ocupavam há tempos.
            Em Colinas tinha uma república de estudantes e para lá fui enviado e lá estava vivendo o Jomar Moraes, para concluir seus estudos naquele que era um dos sistemas educacionais mais avançados não só daquela região, mas do Maranhão inteiro. Sob a batuta do Padre Macedo o colégio de Colinas era um exemplo de modelo educacional. E assim eu e Jomar nos conhecemos en passant.
O tempo passa, o tempo voa como na propaganda da companhia aérea e; em 1969, eu já estava em São Luís, estudando e trabalhando e me aventurando no mundo da poesia etc. e tal. Após viver uma temporada na UMES, naquela época eu já estava hospedado no Hotel Brasil, da portuguesa Palmira, numa esquina ali da Praça da Alfândega, hoje é o Reviver, e onde é a câmara funcionava a dita cuja Alfândega, e o Jomar Moraes trabalhava ali, depois de ter sido funcionário dos Correios.
Já o nosso Jomar se enfronhara no mundo beletrista e intelectual e tinha um espaço cativo no Jornal do Dia, onde publicava escritos seus e de quem lhe parecesse capaz de produzir alguma coisa com um mínimo valor literário que fosse, por exemplo, a produção de um iniciante.
Tinha escrito já vários poemas, breve pensava em publicar um livro e fui procurar o Jomar lá na Alfândega, com um poema dedicado ao meu pai e perguntei-lhe se era possível aquilo ser publicado por ele no seu espaço do Jornal do Dia.
Receptivo, cortês, afável, um sujeito de fino trato, assim me recebeu e prometeu-me que publicaria o tal poema e fiquei dias naquela ânsia de quem espera uma namorada até o dia em que vi o poema e meu nome no jornal. Santa felicidade.
O Jomar era estudioso, autodidata até, um dedicado, sedento, leitor voraz, permanentemente voltado ao estudo, à pesquisa, a tudo aquilo que significasse cultura e maranhensidade, literatura e folclore, pesquisa e conhecimento acerca da criação artística, do desenvolvimento cultural da nossa São Luís e do Estado.

Com todo respeito que cabe ao professor Rubem Almeida, ele continuava dirigindo a Biblioteca Pública Estadual Benedito Leite, naquela década de 70, só por uma destas injunções políticas, tão pródigas no Maranhão. Mas já estava em idade avançada, a Biblioteca estava como se diz atirada às moscas, e ele apenas lia livros, marcando-os, escrevendo em suas margens, e nada mais.
 Foi quando nomearam Jomar Moares diretor da referida Biblioteca que tudo ali mudou. Dentro do possível, modernizou, reestruturando administrativamente, introduzindo conceitos novos da ciência bibliográfica, do arquivamento à catalogação e outros itens pertinentes a tal ciência livresca.
Em seguida, após constatarem a sua capacidade administrativa e organizicional, se foi o Jormar dirigir o SIOGE que também precisava atualizar-se, modernizar-se, e lá criou até um plano editorial, capital para a vida literária naquele momento, publicando livros e autores que dormitavam inéditos nas gavetas vegetativas da obscuridade e distantes da formação de um público leitor.
Criada a Fundação Cultural do Maranhão, coube a Jomar Moraes dirigir o Departamento de Assuntos Culturais, onde pode ampliar seu plano editorial iniciado no SIOGE, e aí publicou mais intensamente não só autores consagrados, mas deu vez aos jovens, publicando a antologia do novos Hora de Guarnicê, com os autores oriundos do Movimento Antroponáutica e outros jovens autores, a maioria inéditos.
Presidiu a Fundação Cultura, membro e Presidente durante vários anos da Academia Maranhense de Letras, este homem que partiu de nosso convívio humano e físico, não se separa do nosso convívio espiritual e intelectual.
Uma de suas grandes contribuições à literatura maranhense foi quando da visita do professor norte-americano que aqui viera seduzido pela poesia de Souzândrade. Jomar dirigia a Biblioteca Benedito Leite naquela oportunidade e assim descobriram os inéditos de Souzândrade, achado primordial para valorizar ainda mais aquele autor e a cultura maranhense.
Sua vasta bibliografia pode ser encontrada facilmente em qualquer pesquisa na internet e na própria Academia Maranhense Letras, de onde se despediu dos seus amigos e admiradores, sem poder mais acenar-lhes.
Grande Jormar Moraes! Tão simples e tão humilde! Assim são os verdadeiros grandes homens.
 Inté!



Raimundo Fontenele

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