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Escritor Jomar Moraes |
Às
vezes a nossa vida e os dias se parecem e se passam como nuvens. Tardiamente,
mas não inoportuno, presto minha homenagem ao escritor maranhense Jomar Moraes,
há poucos dias falecido.
Mais que escritor, chamemo-lo o
homem de letras. Das letras. Porque ele não foi puramente um escritor, um
criador de obra inventiva e inovadora que mudasse o destino ou inaugurasse
caminhos para a nossa literatura.
Mas, peraí. Aquilo devia ser 1965,
eu morava em São Domingos e ele em Buriti Bravo, sargento da Polícia Militar,
chefiando o destacamento naquele município. O Governo Militar Federal estava
procurando sossegar os camponeses sem terra, e foi criado o IBRA, Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária. Se fosse aquela reforma que a esquerda
comunista, as Ligas Camponesas do Francisco Julião preconizavam, a dos
militares era uma reforma de agá.
Eu tinha ido receber treinamento em
Colinas, ia trabalhar no IBRA porque um tio e padrinho meu, Raimundo Almeida,
era Coletor e os proprietários de terra eram por nós cadastrados e na Coletoria
pagavam uma taxa para terem direito de propriedade sobre aquelas terras
devolutas que ocupavam há tempos.
Em Colinas tinha uma república de
estudantes e para lá fui enviado e lá estava vivendo o Jomar Moraes, para
concluir seus estudos naquele que era um dos sistemas educacionais mais
avançados não só daquela região, mas do Maranhão inteiro. Sob a batuta do Padre
Macedo o colégio de Colinas era um exemplo de modelo educacional. E assim eu e
Jomar nos conhecemos en passant.
O tempo passa, o tempo voa como na
propaganda da companhia aérea e; em 1969, eu já estava em São Luís, estudando e
trabalhando e me aventurando no mundo da poesia etc. e tal. Após viver uma
temporada na UMES, naquela época eu já estava hospedado no Hotel Brasil, da
portuguesa Palmira, numa esquina ali da Praça da Alfândega, hoje é o Reviver, e
onde é a câmara funcionava a dita cuja Alfândega, e o Jomar Moraes trabalhava
ali, depois de ter sido funcionário dos Correios.
Já o nosso Jomar se enfronhara no
mundo beletrista e intelectual e tinha um espaço cativo no Jornal do Dia, onde
publicava escritos seus e de quem lhe parecesse capaz de produzir alguma coisa
com um mínimo valor literário que fosse, por exemplo, a produção de um
iniciante.
Tinha escrito já vários poemas,
breve pensava em publicar um livro e fui procurar o Jomar lá na Alfândega, com
um poema dedicado ao meu pai e perguntei-lhe se era possível aquilo ser
publicado por ele no seu espaço do Jornal do Dia.
Receptivo, cortês, afável, um
sujeito de fino trato, assim me recebeu e prometeu-me que publicaria o tal
poema e fiquei dias naquela ânsia de quem espera uma namorada até o dia em que
vi o poema e meu nome no jornal. Santa felicidade.
O Jomar era estudioso, autodidata
até, um dedicado, sedento, leitor voraz, permanentemente voltado ao estudo, à
pesquisa, a tudo aquilo que significasse cultura e maranhensidade, literatura e
folclore, pesquisa e conhecimento acerca da criação artística, do
desenvolvimento cultural da nossa São Luís e do Estado.
Com todo respeito que cabe ao
professor Rubem Almeida, ele continuava dirigindo a Biblioteca Pública Estadual
Benedito Leite, naquela década de 70, só por uma destas injunções políticas,
tão pródigas no Maranhão. Mas já estava em idade avançada, a Biblioteca estava
como se diz atirada às moscas, e ele apenas lia livros, marcando-os, escrevendo
em suas margens, e nada mais.
Foi quando nomearam Jomar Moares diretor da referida
Biblioteca que tudo ali mudou. Dentro do possível, modernizou, reestruturando
administrativamente, introduzindo conceitos novos da ciência bibliográfica, do
arquivamento à catalogação e outros itens pertinentes a tal ciência livresca.
Em seguida, após constatarem a sua
capacidade administrativa e organizicional, se foi o Jormar dirigir o SIOGE que
também precisava atualizar-se, modernizar-se, e lá criou até um plano
editorial, capital para a vida literária naquele momento, publicando livros e
autores que dormitavam inéditos nas gavetas vegetativas da obscuridade e
distantes da formação de um público leitor.
Criada a Fundação Cultural do
Maranhão, coube a Jomar Moraes dirigir o Departamento de Assuntos Culturais,
onde pode ampliar seu plano editorial iniciado no SIOGE, e aí publicou mais
intensamente não só autores consagrados, mas deu vez aos jovens, publicando a
antologia do novos Hora de Guarnicê, com os autores oriundos do Movimento
Antroponáutica e outros jovens autores, a maioria inéditos.
Presidiu a Fundação Cultura,
membro e Presidente durante vários anos da Academia Maranhense de Letras, este
homem que partiu de nosso convívio humano e físico, não se separa do nosso
convívio espiritual e intelectual.
Uma de suas grandes contribuições
à literatura maranhense foi quando da visita do professor norte-americano que
aqui viera seduzido pela poesia de Souzândrade. Jomar dirigia a Biblioteca
Benedito Leite naquela oportunidade e assim descobriram os inéditos de
Souzândrade, achado primordial para valorizar ainda mais aquele autor e a
cultura maranhense.
Sua vasta bibliografia pode ser
encontrada facilmente em qualquer pesquisa na internet e na própria Academia
Maranhense Letras, de onde se despediu dos seus amigos e admiradores, sem poder
mais acenar-lhes.
Grande Jormar Moraes! Tão simples
e tão humilde! Assim são os verdadeiros grandes homens.
Inté!
Raimundo Fontenele
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