18 de jun. de 2019

FOLHETIM DA SEMANA



HORA DE GUARNICÊ, Ê MEU BOI! (Parte 2)



         O FOLHETIM DA SEMANA do nosso blog LITERATURA LIMITE (acesse-o no link www.literaturalimite.blogspot.com.br) pega carona nestes festejos juninos, para trazer aos leitores a esquecida coletânea HORA DE GUARNICÊ – Poesia Nova do Maranhão, título sugerido pelo poeta Valdelino Cécio e pelos demais referendado, num total de 14 poetas, a saber: Antônio Moysés, Chagas Val, Cyro Falcão, Cunha Santos Filho, Edmilson Costa, Francisco Tribuzi, Henrique Corrêa, João Alexandre Jr., Johão Wbaldo, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Rossini Corrêa, Valdelino Cécio e Viriato Gaspar.
         São três sequencias, ambas contendo partes da preciosa e educativa apresentação do escritor maranhense Josué Montello, e poemas de alguns dos antologiados. (RF)



PRÓLOGO
Josué Montello

(continuação...)
                  Outro aspecto curioso dessa velha antologia poética de meus conterrâneos: o lucro da venda do Parnaso Maranhense teria uma finalidade de ordem prática. Dou novamente a palavra aos poetas: “A Comissão entendeu que o volume devia ser intitulado – Parnaso Maranhense – visto como nenhuma designação melhor convinha à natureza e fim da obra; e assim também julgou muito acertado aplicar os lucros, que por ventura possam provir  da publicação empreendida, em favor da Escola Agrícola do Cutim, atendendo a que esse estabelecimento é de sumo interesse para a nossa terra e carece de todo o auxílio.”
         Virgílio, mestre das Geórgicas, daria certamente a sua aprovação aos poetas maranhenses, nesse cuidado pela Escola Agrícola...
         Cento e quatorze anos depois da publicação do Parnaso Maranhense, outro grupo de poetas de minha terra se apresenta numa coletânea de inspiração antológica, agora sob os bons auspícios da Fundação Cultural do Maranhão. É esta HORA DE GUARNICÊ, reuni8ndo 14 poetas jovens. O título da coletânea vem de um folguedo regional, o buma-meu-boi. Traz assim a inspiração da terra, recolhida ns fontes mais profundas de sua cultura popular. Os jovens poetas quiseram significar com isto que, ao contrário da geração do Parnaso Maranhense, há no estro de cada um deles um compromisso com os valores de sua terra e de sua gente.
         Num ponto, esta HORA DE GUARNICÊ faz simetria com o Parnaso Maranhense: no cuidado em que os seus autores fossem dispostos por ordem alfabética. Estas palavras eu as copio ainda do Prólogo do Parnaso Maranhense: “Na ordem da publicação das poesias pareceu melhor à Comissão seguir a alfabética, a fim de que nenhuma suscetibilidade ficasse ofendida com a precedência na colocação.”
         Seguindo a mesma ordem, são os seguintes os poetas de HORA DE GUARNICÊ: Antônio Moysés, Cyro Falcão, Edmilson Silva Costa, Francisco das Chagas Val, Francisco Tribuzi, João Alexand5re Júnior, João Ubaldo Ribeiro, Jonaval Cunha Santos Filho, José Henrique Campos Corrêa,  José Rossini Campos Corrêa, José Valdelino Cécio, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele e Viriato Gaspar.
         Desses, apenas um não nasceu no Maranhão: Francisco das Chagas Val. Mas entre maranhenses e piauienses, há uma fraternidade de tal ordem que, por vezes, no plano literário, tanto faz nascer aquém ou além do Parnaíba. Daí a razão porque Odylo Costa, filho, que nasceu em São Luís, é sempre recebido em Teresina como se houvesse nascido no Piauí. Francisco das Chagas Val beneficia-se dessa dupla naturalidade – tal como ocorre também cm o poeta maranhense José Chagas, que ninguém acredita haja nascido na Paraíba, a despeito de constar esse dado objetivo nos termos de sua certidão de idade.
         Eu suponho que os 14 poetas aqui reunidos continuarão fiéis à poesia pelo resto da vida. Não se dará com eles o que ocorreu com a maioria dos poetas do Parnaso Maranhense.

CHAGAS VAL
         Francisco das Chagas Val é piauiense de Buriti dos Lopes, mas vive no Maranhão há mais de 15 dos 30 anos de sua idade. Professor de Português, é licenciado em Letras pela Universidade do Maranhão.

BOICÍDIO

Na canga o boi só se move
curvado ao peso do mando
de quem lhe traça o destino
de ser assim sem defesa.
Ilhado o boi só navega
em volta ao curso do tempo
que lhe ditaram no escuro
os açougueiros do mundo.
Mugindo o sonho lá fora
no campo de sua aldeia
o boi rumina sem pressa
outro existir sem cadeia.
No passo com que desenha
o seu caminho na terra
é vê-lo ser já na faca
o ruminante sem berro
que o erro estar em tratá-lo
neste curral sempre a ferro
em brasa que ao queimá-lo
o couro se lhe estica
como se fosse no relho
o corpo entregue de velho
ao assassínio completo
real de ser no machado
inteiro já abatido
ou mesmo, de certo modo,
de tiro covarde morto
é este o seu destino
que em todo açougue se traça
ser boi em postas de carne
expostas para o repasto
do abutre homem, essa fera.


CUNHA SANTOS FILHO
         Jonaval Cunha Santos é maranhense de Codó, onde nasceu a primeiro de novembro de 1952. Muito cedo veio residir em São Luís. Concluído o Curso Médio, foi levado por seu pai, jornalista Cunha Santos, para trabalhar na redação do Jornal Pequeno.

INSPIRAÇÃO DE PSICOPATA OU POEMA SÓ PRA DOIDO
                                      (dedicado a Ademário Almeida, João
                                             Alexandre Jr., José dos Santos Costa,
                                  Ray Francisco Baía e Ruy Lima)

Poeta! Me dá uma caneta sem tinta
e um caderno sem folhas. Hoje
eu quero escrever uns versos secos.

Nesta fábrica de poluição
uma golfada de lixo
consome o pulmão da cidade:
efeitos odoríficos.

Um vacinado ambulante
me injeta noite nas veias
porque o dia virou doença

O menino sovina
chupa picolé de sangue
e nega para o irmãozinho

Num teleposto de lágrimas
imagens fabricam telespectadores
que findam no cachê do imposto

No varandão de mármore
a prostituta de seda e batom
 é rainha da pureza

A lua, mulher do gringo,
tá cometendo adultério
com um foguete russo

Na loja de vender sossego
não existe crediário
e o mínimo se arrebenta

Na rua o coração é cofre
o estômago caixa-fraca
e a mente cheque sem fundo

E... eu sou feito
... com a sobra do futuro
a carne do passado
e os ossos do presente

Mas em mim habita a paz
de quem nunca vai à guerra
porque não sabe matar

A sátira de quem vê
Uma “Virgem Maria” de minissaia
requebrando-se no canal 2000
ao som de um rock que vem do céu

Achas que sou louco, poeta?
quem te mandou meter o dedo
aqui dentro do meu sozinho!

Edição final:
Raimundo Fontenele


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