Bem
conhecidas são do grande público a produção audiovisual e cinematográfica
ludovicense; festivais tradicionais e consagrados, como o Festival Guarnicê de
Cinema, um dos mais antigos do Brasil, ajudam a difundir e massificar cada vez
mais esta cultura entre os mais diversos meios sócio-culturais da cidade.
O
que pouca gente sabe é que a experiência do maranhense com a "7ª
Arte", em especial o habitante de São Luís, ocorreu muito precocemente.
Aliás, já através dos primeiros contatos com os aparelhos cinematográficos, no
final do séc. XIX e início do séc. XX.
A
historiografia do cinema maranhense e sua trajetória, apesar de ser tema muitas
vezes raro em abordagens acadêmicas, por conta de sua riqueza e peculiaridades,
é assunto para diversos artigos neste sítio, o que, provavelmente, será feito
em breve, descrevendo os acontecimentos à partir do surgimento das casas
especializadas em projeção na capital. Iremos nos ater, a princípio, nas suas
origens por estas terras e nos acontecimentos que nortearam este contato.
O
cinema em São Luís começou com o que os especialistas chamam de Ciclo do Cinema
Ambulante, fase do cinema pertencente ao final do séc. XIX e início do séc. XX,
na qual os aparatos para a projeção eram inúmeros, de origens européias
diversas e de diferentes tipos de processamento da imagem a ser exibida. À
medida que alguns métodos ou aparatos iam ficando obsoletos, outros já mais
modernos e com mais recursos iam substituindo-os. Os andarilhos proprietários
dos equipamentos (brasileiros e estrangeiros eram ativos participantes dessa
empreitada) além de projetar os filmes importados da França e Inglaterra já
padronizados pelos estúdios de origem, geralmente eram também autores e
diretores primitivos de filmes que exibiam o próprio cotidiano nacional, com
suas devidas limitações, é claro.
Sem
contar que Moura Quineau se aventurou em projetar filmes estrangeiros em São
Luís ainda no fim do séc. XIX, pode-se dizer, com propriedade, que o primeiro
registro de filmagem feita verdadeiramente em São Luís foi de autoria do
italiano "José Fellipe", proprietário do Bioscópio Inglês, segundo
projetor cinematográfico a passar por aqui.
O
Bioscópio Inglês fez grande sucesso no Teatro São Luís (atual Teatro Arthur
Azevedo), onde esteve de 13 de julho a 09 de agosto de 1902, em todas as
noites, projetando “Enchentes à cunha” e “Casas regorgitadas”, como afirmam os
Jornais da época.
Após
o retumbante sucesso, foi convidado para, com seu aparato, participar da noite
comemorativa da adesão do Maranhão à Independência do Brasil; depois de vários
discursos e recitais literários e de piano, o Bioscópio entrou em ação.
Um
"retrato projetado" dos rapazes da Oficina dos Novos (grupo literário
liderado por Antônio Lobo), como bem registrou "O Federalista", teria
sido, assim, a mais antiga imagem cinematográfica feita em São Luís.
O
segundo registro só foi acontecer em 1906, com o sr. Rufino Coelho Junior,
maranhense radicado em Paris, e seu Cinematógrafo Parisiense.
Na
primeira temporada de exibições, à partir de 28 de agosto, ocupou o Teatro São
Luís para depois mudar-se para o Largo dos Remédios, afim de participar dos
festejos da Santa.
No
Largo, seus filmes foram exibidos nos dias 08, 09 e 10 de setembro, sempre por
volta das 23:00 hs, em sessões muito concorridas.
No
último dia de exibições, o sr. Rufino projetou o que seria o segundo filme
genuinamente filmado em solo maranhense; mostrava o Pavilhão da Quermesse, a
imagem de Nossa Senhora dos Remédios e a figura do Comendador Augusto Marques,
o promotor do tríduo.
Ali
nascia a nossa cinematografia...
Filmagens
do tipo só iriam ocorrer novamente em 1910, já na fase dos cinemas instalados
como casas de espetáculo na capital como o Ideal Cinema, o cinema São Luiz e o
Pathè, que disputavam a preferência do requintado público.
Em
agosto daquele ano o Ideal Jornal trazia a notícia de um filme mostrando
aspectos paisagísticos da cidade, de autoria de Luiz Braga, projecionista do
cinema de mesmo nome e provável primeiro diretor cinematográfico ludovicense.
O
Ideal Cinema também foi pioneiro nos filmes nativos com enredo; a comédia
"E durma-se com um barulho deste!" revelou os patrícios de iniciais
J.S. e A.R. como sendo bons atores iniciantes. A fita também foi obra de Luiz
Braga, que realizaria mais alguns filmes para a grade de programação do Ideal.
Em
1911, a excelência passa ao Cinema São Luiz, com as filmagens do primeiro
mandato do governador Luís Domingues, em março daquele ano. Em 18 de maio,
"A Pacotilha" registra a exibição da fita "As Festas de S.
Benedito", com a saída da missa, a procissão e a saída da igreja na Rua do
Sol.
No
dia seguinte, o filme anunciado era o “Transporte dos restos mortais de João
Lisboa, em 26 de abril” com cenas no cemitério, o préstito na Rua do Passeio e
na Praça João Lisboa.
E
assim se deram, de forma bem resumida, as primeiras experiências de São Luís
com os meandros da "7ª Arte".
Infelizmente
houve um vácuo na produção cinematográfica local notada até os tempos da
utilização da Super-8, já nos idos da década de 60.
Nessa
época, figuras com Murilo Santos, Euclides Moreira Neto e outros membros de
núcleos acadêmicos de cinema, através de produções engajadas, de forte cunho
político e social, foram os responsáveis pela retomada do cinema local e pela
criação do que seria, mais tarde, um dos festivais de cinema mais respeitados
nacionalmente, o Guarnicê.
Fonte:
MARCOS FÁBIO BELO MATOS: Os primeiros filmes maranhenses.
Novas
Produções da Sétima Arte Maranhense
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