6 de out. de 2016

CRÔNICAS DO PUCUMÃ


A coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (literaturalimite.blogspot.com.br) traz um novo episódio das CRÔNICAS DO PUCUMÃ, uma série de postagens para todos que se interessam pela leitura, pela história e pelo conhecimento, em forma de crônicas, relatos e entrevistas acerca dos acontecimentos que se relacionam com a História do Município de São Domingos do Maranhão, conhecido, principalmente desde o seu descobrimento até a década de 60, como São Domingos do Zé Feio.
 Hoje apresentamos as eleições de 1955 para a Prefeitura de São Domingos do Maranhão. Aliás, as primeiras eleições realizadas no nosso Município. Elidônio Aprígio do Nascimento X Jofran Carneiro Torres. E o resultado foi...
O PRIMEIRO COMÍCIO A GENTE NUNCA ESQUECE
Antes do comício vamos ver o que a minha memória configurou como Praça Getúlio Vargas: pedaços dos anos cinquenta e sessenta, uma montagem certamente com lapsos de memória, mas é o que tenho como registro mental e lembrança emocional.
Então aqui está a constituição da praça, conforme residências, iniciando na esquina do Pedro Odorico, sentido anti-horário: ali o Senhor Pedro Zuza e D. Adozinda Araújo e filhos João Paulo, esposo da professora Simplícia, Áurea, Francisca e Leonardo; na outra esquina, senhor Elidônio Aprígio do Nascimento, chefe político, candidato a prefeito, mas não eleito; Luís Bucelles (chefe dos Correios e Telégrafos, casado com d. Alice, irmã da d. Dudu do João Antônio); depois, Os Três Irmãos que só eram 2, Doroteu, chamado Dudu e Domingos, em companhia de sua mãe dona Izabel; Mundinho Paiva, Francisco Assunção, também prefeito de São Domingos.
A seguir, seu Raimundo Branco e D. Severa, ali onde é a casa do  François e da Benedita, em seguida a residência do Belchior Almeida e Nini; depois Raimundo Almeida (coletor estadual) e sua esposa Lizeth, conhecida por Lili; aí os Maricas: Zé Marica, João Marica, Joana Marica, Francisco Marica, pai do Chiquinho; seu Sebastião Viana de Carvalho (político), e depois, onde hoje está a família Narciso era a casa do  senhor Antônio Alves (foi delegado de polícia).
Onde outrora foi residência e comércio do senhor Pedro Rita, ali primeiro estabelecia-se seu Anastácio Viana de Carvalho (comerciante de tecidos), irmão do Sebastião Viana de Carvalho e, após sua ida para São Luís, foi ocupada por outro comerciante vindo da Passagem Franca, seu João Borges, que tinha 2 filhas lindíssimas, e eu morria de paixão infanto-juvenil por uma delas, com a mesma chance que eu teria com a, digamos assim princesa, Kate. Bah!, mas isso não tem nada a ver com a praça ou tem?.
Depois os Zezinho: Dudu, o Belchior, Raimundo, a Didi (tinham um bar e a agência de ônibus Estrela Dalva); depois um cidadão alto, branco, que não recordo quem era, mas não esqueço dele porque no carnaval de 56 (ou próximo dessa data) ele saiu com uma máscara de pato na cabeça, eu nunca tinha visto tal coisa, fiquei impressionado. aí vinha a casa do outro dos 3 irmãos o sr. Militão, pai do Armando, engenheiro civil, da Ana Cleide, do Ernane e da Eliane. Quando eu estava aí em São Domingos ele veio de visita, almoçamos juntos na casa do meu grande amigo Netônio.
Em seguida, a casa do seu Aluízio Brandão, figura histórica, ex-Prefeito de Colinas, ex-seminarista, farmacêutico, líder político e primeiro prefeito de São Domingos, pai de uma prole numerosa, Fábio, Mário, Nena, Socorro, Graça, Louro, Mari,a, depois a casa do seu João Antônio e d. Dudu (irmã do senhores Jofran e Rangel Torres), onde depois da residência, na esquina ficava um bar e sorveteria, com um salão reservado, com mesas para sentar-se, muito chic para a época.
 Na outra esquina a família do senhor Zuza Alberto, pai do Toinho, político, vereador, foi presidente da Câmara, até assumiu a prefeitura em algum momento daquelas confusões políticas. Assume não assume, o senhor Brígido Dias de Pinho, advogado provisionado, sumiu com o livro de ata, antigas histórias. Além do que o Toinho era um grande boêmio, sempre de paz com a vida, e pai do Antônio Carlos, avô do Carlos Jordan e do Carlos Bronson.
Depois tinha uma casa de jogatina, de um senhor grandalhão, meio sarará, lembro que ele tinha os olhos esverdeados ou azulados, seu Emídio, que ali bancou roleta, jogo de baralho, antes do Joaquim da Roleta. Não se sei se na mesma casa ou perto era o senhor Pedro Queimado, de apelido, na verdade de sobrenome Feitosa, irmão do senhor Joaquim, do Inácio Queimado.
Seu Pedro era pai do José Alves Feitosa, o Zé Queimado, que foi da minha turma, uma turma da pesada (pelo menos nossos pais achavam): eu, Zé Queimado, Paulo do João Padeiro e o Ariston, filho do Antonio Alves, ex delegado (ironia do destino que o Zé Queimado morreu assim, num incêndio do seu carro, longe de São Domingos). Uma de suas irmãs, a Maria Alves Feitosa foi esposa do padre Manoel.
Aí vinha a residência do seu Lourenço Guedes, teve algum morador antes que talvez eu tivesse alcançado, mas, muito criança, não lembro nada, aí vinha esquina que um dia foi a Pernambucana,  na outra esquina seu Pedro Joaquim, ainda hoje residência da família. e aí onde é a Prefeitura era o Mercado Público, com apenas umas bancas para o corte de carne.
Em seguida, vem o Grupo Escolar Deputado Moreira Lima, de saudosa mmemória. Por ali passamos, muitos de nós: Volmar e Antonieta, Iraci Nascimento, as irmãs Raimunda e Heloísa Bezerra, Antônio do Chico Marreteiro, Joil, Fran, Chico e Wilson do Horácio, na hora do recreio íamos até a casa do senhor Tião, cujo lanche era refresco de abacaxi e pão, a gente achava e era, para nós,  o máximo.
 E depois tinha o senhor, será Beltrão?, pai dos amigos Itamar e Messias, que ficavam ali na porta de casa, pastoreando uns carneiros e ovelhas que pastavam a grama existente e não deixavam que a gente pegasse os animais para montar, a não ser que pagássemos uns vinte tostões, e saísse passeando pelas ruas do Alto do Fogo ou da Boa Vista, como se fôssemos um bando de Lampião. Até tiro pra cima a gente dava, com uns revólveres feitos manualmente de madeira, com uma casca de bala vazia no cano, que a gente enchia de pólvora, em cima tinha um furo onde colocávamos um palito de fósforo partido, e acendíamos numa caixa de fósforos e aquilo detonava mesmo. Infância feliz é isso aí!
 Seguindo, praticamente todo o quarteirão era de propriedade do senhor Rangel Torres: uma casa de depósito, sua residência, depois uma grande Loja de Tecidos e Farmácia, onde hoje é o Banco do Brasil, e no beco tinha muita palha, pois por lá ficava sua Usina de Beneficiamento de Arroz.
Depois era a casa do senhor Genésio, depois o senhor Anfrísio, e onde foi residência do senhor Juarez, hoje é do Antônio Carlos, mas bem antes ali viveu com seus filhos o senhor João Henrique Freitas (comerciante forte, pouco lembrado) e dona Joana, e seus filhos, que me lembro: Jonas, Joel, Jace, Joil e uma filha de criação, a Anália. João Henrique Freitas, também um dos responsáveis pela estruturação do comércio são-dominguense (não é san-, sando, nem sãodo, pois sandominguense é gentílico de quem nasce em San Domingo, capital da República Dominicana).
A casa a seguir era a residência do senhor Horácio Pedrosa e dona Santana, pais do Antônio, do Didé, da Luiza, da Joarezita, da Mundinha e de outro grande amigo da infância e adolescência, o Souza Lima, meu parceiro numa eleição memorável para o grêmio da Escola Paroquial Santo Tomás de Aquino, o GEXCUPA ou Grêmio de Expansão Cultural Paulo VI. Depois da residência do senhor Horácio Pedrosa, a do senhor Pedro Zuza, o círculo está fechado, viva a Praça Getúlio Vargas, amém.
(Quem gostar compartilhe, pode ser que acrescentem, corrijam, orientem melhor esta minha narrativa, por certo enganada aqui e ali pela minha memória).

O COMÍCIO
            Difícil lembrar certos detalhes, mas se eu fecho os olhos, vejo completamente a cena. Eu tinha de seis pra sete anos de idade e estava na residência de meus tios e padrinhos, Raimundo Nonato de Almeida e Lizeth Fontenelle Almeida, na Praça Getúlio Vargas, onde é o comércio do François. Afora a Amélia e sua sobrinha Raimunda, que eram as domésticas da casa, cozinheiras de mão cheia, que faziam pratos deliciosos por ocasião de datas festivas, não havia mais ninguém na casa, exceto eu.
            Alguma coisa tinha aprontado, pois estava de castigo, todos tinham ido para o outro lado da Praça, na esquina do Pedro Odorico, na residência do senhor Elidônio Aprígio do Nascimento, candidato a Prefeito Municipal, pelo Partido Social Democrático, o famoso PSD de Juscelino Kubitscheck.
Naquele tempo as estradas eram precárias, verdadeiros atoleiros de São Domingos para São Luís, então, nestas datas eleitorais, de vez em quando se ouvia o barulho de um aviãozinho teco-teco sobrevoando o nosso céu azul, trazendo visitantes ilustres, deputados e lideranças políticas do Estado: os aliados do senhor Elidônio, deputados Sales Moreira, estadual e Dr. Antônio Dino, deputado federal e depois vice-governador. Ou então os correligionários do senhor Jofran Torres, figurões das Oposições Coligadas, entre os quais posso citar o senador Clodomir Millet, que apoiavam Ademar de Barros, gente do PSP e UDN, os maiores partidos de oposição no Estado.
Mal se ouvia o ronco do avião e a meninada saía em desabalada carreira, claro que depois de subir a famosa “ladeira de Colinas” estava quase todo mundo de língua de fora, mas era sagrada aquela jornada, e todos iam até o campo de aviação, mas lá estava apenas o teco-teco, que era admirado, alisado, paparicado como um objeto raro, tinha o mesmo fascínio que hoje tem um disco voador, para esses malucos que vivem vendo, ou dizendo que viram, os tais OVNI (Objetos Voadores Não Identificados).
Mas não eram só crianças que iam até o campo de pouso. Muitos homens também faziam esse percurso e o mais interessante é que, enquanto se estava indo ver quem era, eles já vinham descendo geralmente em jeeps das respectivas coligações, pois automóveis naquele tempo não existiam. Iam andar como, se tudo era poeira e buracos? Só mesmo veículos com tração nas quatro rodas podiam locomover-se com certo desembaraço.
E assim foi naquele dia memorável. Fiquei ansioso e pronto para desobedecer qualquer ordem que me impedisse de participar daquela multidão e algazarra que eu vislumbrei quando abri devagar a janela. Haviam trancado a porta e levado a chave, mas as janelas eram muitas vezes fechadas apenas com ferrolhos ou traves.
Resolvi pular a janela, e pulei, e atravessei a praça e fui para o meio da molecada, que ficava em volta dos políticos e deputados e ganhávamos moedas de tostões e até alguma cédula de mil réis, pois estas eram nossas moedas de então. Após ganhar minhas moedas, voltei ligeiro para casa, pensando, como toda criança pensa, que eu fizera algo escondido e que minha mãe não saberia, quando na verdade todos estão vendo e sabendo.
Houve falatório dos políticos e foguetório, mas criança não prestava atenção em nada disso e o que nos interessava eram aquelas moedinhas que iríamos exibir depois com muita pachola e orgulho, nos sentindo também importantes, pois aquelas figuras ilustres tinham prestado atenção em nós, passaram as mãos em nossas cabeças, fizeram algum afago e nos dirigiram palavras carinhosas, muito embora estivessem de olho no voto dos nossos pais.
Não existia era história de comitê eleitoral, e se existia era só no nome, porque o comitê era a própria residência dos candidatos e de seus candidatos a vereadores e cabos eleitorais. Era uma cidade pacata, pequena e, claro, que os candidatos tinham lá os seus guarda-costas, muito mais trabalhadores para seus patrões do que capangas de candidatos, coisa que só veio acontecer lá pelos idos dos anos sessenta.
Assim o dia da eleição era um dia alegre, festivo, muito por conta do que se ganhava em afeto e pequenos agrados e, sobretudo, pela fartura da comida que era para todos. Tanto na casa do senhor Elidônio, na Praça Getúlio Vargas, quanto na residência do senhor Jofran Torres, na antiga Rua dos Cardoso, atual 31 de Janeiro, havia matança de bois, porcos, capões, e era muito mais uma festa da comilança para os mais pobres, que se jogavam naqueles pratos recheados, que só vendo.
Mas não só estes, os mais pobrezinhos, pois todos comiam. Fazia parte daquele momento histórico, e a comida e a bebida sempre foram uma forma de celebração e êxtase em todos os tempos e culturas: no antigo Egito, desde os tempos imemoriais dos faraós; na Grécia antiga, de reis e sábios, e também na Roma dos imperadores, senadores e tribunos.
Depois da eleição, apurados os votos, veio o resultado. E o eleito foi o senhor Jofran Carneiro Torres, iniciando-se assim o primeiro longo período de um clã ou grupo político dominando e governando a cidade por vários anos e mandatos. Mais precisamente, dez anos, quando em 1965 o poder municipal mudou de mãos e de grupo com a chegada do Padre Manoel da Penha Oliveira à Prefeitura Municipal.
Convém terminar esta crônica, dizendo que após as visitas dos deputados e políticos que vinham da capital do Estado, a nossa bela São Luís do Maranhão, era hora de levantarem voo de volta. Seguiam de jeep e a multidão e a criançada ia a pé, seguindo atrás. Quando a gente chegava no meio caminho já se ouvia o barulho do avião e podia se ver lá no alto aquele pássaro prateado. Mesmo assim a gente ia até o campo de aviação e lá chegando e nada encontrando se olhava para o céu, mesmo que fosse para contemplar apenas sol e nuvens. Vai saber o que se passa nos corações humanos!

NÃO PERCA NO PRÓXIMO CAPÍTULO: O MÉDICO COLINENSE, DR. CARLOS ORLEANS BRANDÃO, O PRÓXIMO PREFEITO, E O ASSASINATO DO SENHOR HERMES CUNHA, SEU VICE QUE ASSUMIU APÓS O DR. ORLEANS RENUNCIAR AO CARGO PARA CANDIDATAR-SE A DEPUTADO ESTADUAL E A ELEIÇÃO DO PADRE MANOEL.

Raimundo Fontenele

2 comentários:

  1. Boa tarde!
    Caro escritor, Raimundo Fontenele, tuas memórias sobre São Domingos do Maranhão se constituem em fonte histórica de valos imensurável. Tenho muito interesse em adquirir um exemplar de CRÔNICAS DO PUCAMÃ - A HISTÓRIA DO MUNICÍPIODE SÃO DOMINGOS. Sou natural de Graça Aranha, antigo Distrito da Palestina que se desmembrou de São Domingos em 1959. Nos teus relatos, registras nomes de personagens importantes que participaram ativamente do processo de emancipação de Graça Aranha, assim sendo, tenho grande interesse no teu livro.

    Profº Jean Carlos Gonçalves.
    email: jc1979ga@gmail.com.

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  2. Boa tarde!
    Caro escritor, Raimundo Fontenele, tuas memórias sobre São Domingos do Maranhão se constituem em fonte histórica de valor imensurável. Tenho muito interesse em adquirir um exemplar do CRÔNICAS DO PUCAMÃ - A HISTÓRIA DO MUNICÍPIODE SÃO DOMINGOS. Sou natural de Graça Aranha, antigo Distrito da Palestina que se desmembrou de São Domingos em 1959. Nos teus relatos, registras nomes de personagens importantes que participaram ativamente do processo de emancipação de Graça Aranha, assim sendo, tenho grande interesse no teu livro.

    Profº Jean Carlos Gonçalves.
    email: jc1979ga@gmail.com.

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