12 de out. de 2016

CRÔNICAS DO PUCUMÃ

A coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (literaturalimite.blogspot.com.br) traz um novo episódio das CRÔNICAS DO PUCUMÃ, uma série de postagens para todos que se interessam pela leitura, pela história e pelo conhecimento, em forma de crônicas, relatos e entrevistas acerca dos acontecimentos que se relacionam com a História do Município de São Domingos do Maranhão, conhecido, principalmente desde o seu descobrimento até a década de 60, como São Domingos do Zé Feio.
Hoje apresentamos a eleição do Dr. Carlos Orleans Brandão, sua renúncia, a posse de Hermes Cunha e sua trágica morte, e o terceiro Prefeito numa mesma gestão (1960-1965), o Sr. Antônio Silva Pereira, o popular Toinho do Zuza.
MUDANÇAS À VISTA
Não esqueçamos que o final da década de 50 e início da década de 60 foram os anos do pós-guerra, cheios de mudanças e transformações, e também a época em que duas correntes políticas se enfrentavam em busca da hegemonia mundial: o mundo comunista, representado pela URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e o chamado mundo livre, conduzido pelos Estados Unidos e seus principais aliados na Europa, França e Inglaterra.
Esse enfrentamento ficaria conhecido como o período da guerra fria, e que quase causava uma hecatombe internacional, quando Estados Unidos e Rússia estiveram a dois passos de desencadearem uma guerra nuclear, com o episódio da invasão da Baía dos Porcos, em território cubano, por parte dos russos. Menos mal que os mandatários John Kennedy e  Nikita Kruschev pensaram duas vezes e conseguiram evitar aquilo que seria mais uma tragédia a afligir a humanidade.
No nosso Estado, também duas correntes políticas protagonizavam uma luta feroz pelo poder: de um lado, Vitorino Freire sempre atrelado ao Governo e do outro lado as Oposições Coligadas de Cunha Machado, Clodomir Millet, Neiva Moreira e tantos outros.
Em São Domingos, após duas décadas em que duas correntes políticas se digladiavam pelo controle do poder municipal, e que eram representadas pelo senhor Elidônio Aprígio do Nascimento, Aluízio Silva Brandão, Raimundo Almeida, de um lado, e do outro, a família Torres, cujos cabeças eram os srs. Jofran Carneiro Torres e Rangel Torres, contando também com os irmãos Viana de Carvalho, Sebastião e Anastácio, senhores Pedro e Antônio Olaia e muitos outros.
Não posso citar a todos e nem é este o propósito dessa crônica. Isso foi apenas para dizer que até aquele momento o padre Manoel da Penha Oliveira, pároco chegado no início dos anos sessenta, permanecia apolítico entre nós, , frequentando ambos os grupos políticos e famílias são-dominguenses, sendo por todos benquisto, estimado e até mesmo por muitos admirado.
Um episódio, porém, foi determinante para empurrá-lo definitivamente em direção à política partidária.
UM TEMPO CONFUSO
            Antes, porém, um breve relato de um tempo um tanto confuso na administração do nosso município e que, na verdade, nenhum progresso ou desenvolvimento, nenhum plano ou projeto político que alavancasse a melhoria dos serviços públicos que permitisse alcançar os mais pobres e necessitados.
            O que havia, na verdade, era muito mais uma luta pelo poder, seguindo o regime e a politicagem instalada no Estado pelo Vitorino Freire e seus pares, e São Domingos, assim como a maioria dos municípios maranhenses, não sairia imune dos conchavos, intrigas perseguições políticas, de ambos lados e correntes existentes naquele momento histórico.
            Após o término do mandato do senhor Jofran Carneiro Torres, seu grupo político resolver sacramentar como candidato a sua sucessão o Dr. Carlos Orleans Brandão, médico colinense, de família tradicional, que procurava em São Domingos, através de sua eleição, muito mais cacifar-se com votos que o levassem à Assembléia Legislativa do Estado, do que desenvolver um trabalho em benefício de São Domingos e de seus habitantes.
            O candidato a vice-prefeito do Dr. Orleans era o senhor Luiz Buceles, esposo de dona Alice Torres, que chefiava a Agência dos Correios e era irmã dos senhores Jofran, Rangel e de dona Dudu. Naquela época o candidato a vice-prefeito era eleito à parte, isto é, recebia votos independente dos votos para prefeito. Aliás, o senhor Luiz Buceles teve mais votos do que o Dr. Orleans.
Com a transferência de dona Alice para Imperatriz, seu marido foi junto, e São Domingos ficou sem vice-prefeito. Houve, então, uma eleição especial para preencher o cargo de vice-prefeito e o senhor Hermes Cunha, recém chegado à cidade, foi o eleito.
Eleito e empossado, em 1960, o Dr. Carlos Orleans Brandão pouco fez pelo município, até porque, depois de dois anos de mandato, renunciou para candidatar-se e eleger-se Deputado Estadual, tendo assumido a Prefeitura o então vice-prefeito, senhor Hermes Cunha.
            A gestão do senhor Hermes Cunha foi, de certa forma, uma gestão sem muitas condições de atuar com total independência, visto que devia também atender aos ditames dos seus chefes políticos de então, e assim as coisas se arrastavam pelos lados da administração municipal.
Um fato lamentável viria, então, por um fim, de modo prematuro, ao mandato do senhor Hermes Cunha, um cidadão de bem, trabalhador, sem inimizades ou intrigas. O certo é que o mesmo foi assassinado de forma bárbara e cruel, num final de tarde, por um dos seus empregados, que trabalhava em sua Usina de Beneficiamento de Arroz.
A tragédia ocorreu em plena Praça Getúlio Vargas, no dia 10 de junho de 1965, às 19:30 min, a poucos metros de sua residência, numa das esquinas da Praça com a Rua Paulo Ramos, residência que fora anteriormente ocupada pelo senhor Elidônio Aprígio do Nascimento. O empregado, de nome Raimundo, confessou haver cometido o crime pelo fato do senhor Hermes Cunha haver lhe negado um vale.
É imperioso, no entanto, relatar que muitas pessoas em São Domingos jamais acreditaram em tal confissão e muito menos em tão banal motivo. Mas a realidade é que sempre pairou uma espécie de véu que não foi de todo levantado sobre esse acontecimento inusitado que manchou de sangue aquele entardecer em nossa cidade e interrompeu, mais que um mandato, a vida de um cidadão honesto, bonachão e honrado.
Foi um verdadeiro Deus nos acuda. Os adversários do grupo político que dominava o poder, no caso os irmãos Torres, Jofran e Rangel, moveram céus e terras para apossarem-se do poder. Lembro do advogado provisionado Brígito Dias de Pinho, ligado ao grupo do senhor Elidônio, pra cima e pra baixo, com uma enorme papelada debaixo do braço, num entra e sai de cartórios, em idas e vindas à Capital, tentando impedir que o então presidente da Câmara Municipal, vereador Antônio Silva Pereira, assumisse a Prefeitura.
Não logrando êxito, após dias de fofocas, intrigas, fuxicos e querelas, o senhor Antônio Silva Pereira, mais conhecido popularmente como Toinho do Zuza assmumiu o cargo de Prefeito Municipal para cumprir o restante do mandato que começara com Dr. Orleans, passara pelo senhor Hermes Cunha para terminar com ele, Toinho do Zuza.
1965: O SURGIMENTO DA TERCEIRA VIA
Padre Manoel e o escritor Paulo Eduardo de Sousa Pereira
A obra “O CAMPANÁRIO DA PADROEIRA: SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DE COLINAS”, do historiador, escritor e professor Paulo Eduardo de Sousa Pereira, foi apresentada na 6ª FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS: 400 ANOS ESCREVENDO NOS LIVROS SUA HISTÓRIA, evento organizado pela Fundação Municipal de Cultura (FUNC).
O evento, ocorrido na Casa do Escritor, no Ceprama, contou com a presença de diversas personalidades do meio literário e cultural maranhense, promovendo a democratização do acesso ao livro e à leitura e fomentando processos de pesquisa, criação e produção literária no Maranhão.
O professor José Maria Paixão, coordenador da Feira do Livro, destacou a importância da obra para a literatura maranhense. Um personagem descrito no livro de Paulo Eduardo, o padre Manoel da Penha Oliveira, já falecido, ex-vigário de Colinas, assistiu à palestra do escritor, emocionado por ser reconhecido como parte importante da história da cidade.
Pois foi este padre Manoel da Penha Oliveira, ex-vigário também de Passagem Franca, que, no início dos anos 60, veio para a assumir a Paróquia de São Domingos do Maranhão. Aqui chegando e tomando conhecimento da situação de muitos estudantes pobres, que terminavam o curso primário cujos pais não tinham condições financeiras de transferi-los para outros lugares onde tivesse o Curso Ginasial que tomou uma resolução: haveria de mudar a sorte de muitas dessas crianças.
E como o padre Manoel não era um sonhador, mas um realizador, um homem que pensa e faz criou logo um Curso de Exame de Admissão, com duração de um ano, para que os jovens não ficassem longe dos bancos escolares quando terminassem o primário. Enquanto isso passou a dedicar-se a criação da Escola Paroquial Santo Tomás de Aquino, depois transformada na Escola Pio XII, com o funcionamento dos cursos ginasial e normal, este para formação de professores.
Este seu envolvimento com a educação e sua dedicação a esta causa, além da sua simplicidade, sua empatia pessoal, tornaram o padre Manoel, em pouco tempo, uma figura carismática e querida de todos os são-dominguenses.
Havia uma Cooperativa Agrícola Mista em São Domingos do Maranhão, cujos Presidentes e Diretores eram colocados pelos senhores Jofran e Rangel Torres. O Sr. Rangel Torres havia entregue ao padre Manoel a Presidência da Cooperativa e ali o padre Manoel passou a administrar de forma a beneficiar os pequenos agricultores, reconhecer-lhes os direitos, tirando-os da completa dependência dos grandes e principais comerciantes da época, entre estes os próprios irmãos Torres e demais comerciantes da época.
Quando se deram conta de que aquela cooperativa nas mãos do padre Manoel lhe dava muito poder, inclusive e, principalmente, o poder político, resolveram tirá-lo daquela posição que poderia, em breve espaço tempo, abalar as bases do poder que detinham até então.
Foi, assim, marcada uma eleição para a presidência da Cooperativa, cuja intenção era tirar o padre Manoel da presidência do referido órgão. Os candidatos foram o próprio padre Manoel, pois os estatutos lhe garantiam esse direito, e o Sr. Rangel Torres. A eleição foi realizada em salas do Grupo Escolar Deputado Moreira Lima, e após a contagem de votos, veio o resultado, de certo modo surpreendente: o eleito foi o padre Manoel da Penha Oliveira.
Na verdade, tal fato se constituiu num choque para a família Torres e também uma bárbara, Hermes, são-dominguenseperda econômica e política. Ali estava concretizado um rompimento entre o padre Manoel e o senhor Rangel Torres e que levaria o padre Manoel a disputar nas próximas eleições o cargo de Prefeito Municipal.
Até aquele momento, o candidato natural era o senhor Aluízio Silva Brandão, mas o povo, líderes políticos e outros comerciantes passaram a pressionar para que o padre Manoel fosse o candidato. Então, talvez a maioria dos são-dominguenses não saibam, mas a ida do padre Manoel para a política partidária deu-se, na verdade, muito em função daquela questão em torno da Cooperativa Agrícola Mista São-Dominguense. Pelo menos foi essa questão que veio detonar o processo sucessório que mudaria para sempre aquela eleição de 1965 e a história do desenvolvimento administrativo, social e político de São Domingos do Maranhão.

(NO PRÓXIMO CAPÍTULO: A CAMPANHA CHEIA DE SUSPENSE DE 1965, A ELEIÇÃO DO PADRE MANEOL E A INAUGURAÇÃO DE UM NOVO TEMPO EM SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO)
  
Raimundo Fontenele

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