A coluna QUARTA É
DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (literaturalimite.blogspot.com.br) traz
um novo episódio das CRÔNICAS DO PUCUMÃ, uma série de postagens para todos que
se interessam pela leitura, pela história e pelo conhecimento, em forma de
crônicas, relatos e entrevistas acerca dos acontecimentos que se relacionam com
a História do Município de São Domingos do Maranhão, conhecido, principalmente
desde o seu descobrimento até a década de 60, como São Domingos do Zé Feio.
Hoje apresentamos a eleição do Dr.
Carlos Orleans Brandão, sua renúncia, a posse de Hermes Cunha e sua trágica
morte, e o terceiro Prefeito numa mesma gestão (1960-1965), o Sr. Antônio Silva
Pereira, o popular Toinho do Zuza.
MUDANÇAS À VISTA
Não esqueçamos que o final da década de 50 e início
da década de 60 foram os anos do pós-guerra, cheios de mudanças e
transformações, e também a época em que duas correntes políticas se enfrentavam
em busca da hegemonia mundial: o mundo comunista, representado pela URSS –
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e o chamado mundo livre, conduzido
pelos Estados Unidos e seus principais aliados na Europa, França e Inglaterra.
Esse enfrentamento ficaria conhecido como o período
da guerra fria, e que quase causava uma hecatombe internacional, quando Estados
Unidos e Rússia estiveram a dois passos de desencadearem uma guerra nuclear,
com o episódio da invasão da Baía dos Porcos, em território cubano, por parte
dos russos. Menos mal que os mandatários John Kennedy e Nikita Kruschev pensaram duas vezes e conseguiram evitar aquilo
que seria mais uma tragédia a afligir a humanidade.
No nosso Estado, também duas correntes políticas
protagonizavam uma luta feroz pelo poder: de um lado, Vitorino Freire sempre
atrelado ao Governo e do outro lado as Oposições Coligadas de Cunha Machado,
Clodomir Millet, Neiva Moreira e tantos outros.
Em São Domingos, após duas décadas em que duas
correntes políticas se digladiavam pelo controle do poder municipal, e que eram
representadas pelo senhor Elidônio Aprígio do Nascimento, Aluízio Silva
Brandão, Raimundo Almeida, de um lado, e do outro, a família Torres, cujos
cabeças eram os srs. Jofran Carneiro Torres e Rangel Torres, contando também com
os irmãos Viana de Carvalho, Sebastião e Anastácio, senhores Pedro e Antônio
Olaia e muitos outros.
Não posso citar a todos e nem é este o propósito
dessa crônica. Isso foi apenas para dizer que até aquele momento o padre Manoel
da Penha Oliveira, pároco chegado no início dos anos sessenta, permanecia
apolítico entre nós, , frequentando ambos os grupos políticos e famílias
são-dominguenses, sendo por todos benquisto, estimado e até mesmo por muitos
admirado.
Um episódio, porém, foi determinante para empurrá-lo definitivamente em
direção à política partidária.
UM TEMPO CONFUSO
Antes, porém, um breve
relato de um tempo um tanto confuso na administração do nosso município e que,
na verdade, nenhum progresso ou desenvolvimento, nenhum plano ou projeto
político que alavancasse a melhoria dos serviços públicos que permitisse
alcançar os mais pobres e necessitados.
O que havia, na
verdade, era muito mais uma luta pelo poder, seguindo o regime e a politicagem
instalada no Estado pelo Vitorino Freire e seus pares, e São Domingos, assim
como a maioria dos municípios maranhenses, não sairia imune dos conchavos,
intrigas perseguições políticas, de ambos lados e correntes existentes naquele
momento histórico.
Após o término do
mandato do senhor Jofran Carneiro Torres, seu grupo político resolver
sacramentar como candidato a sua sucessão o Dr. Carlos Orleans Brandão, médico
colinense, de família tradicional, que procurava em São Domingos, através de
sua eleição, muito mais cacifar-se com votos que o levassem à Assembléia
Legislativa do Estado, do que desenvolver um trabalho em benefício de São
Domingos e de seus habitantes.
Com a transferência de dona Alice para
Imperatriz, seu marido foi junto, e São Domingos ficou sem vice-prefeito. Houve,
então, uma eleição especial para preencher o cargo de vice-prefeito e o senhor Hermes
Cunha, recém chegado à cidade, foi o eleito.
Eleito e empossado, em 1960, o Dr. Carlos Orleans
Brandão pouco fez pelo município, até porque, depois de dois anos de mandato,
renunciou para candidatar-se e eleger-se Deputado Estadual, tendo assumido a
Prefeitura o então vice-prefeito, senhor Hermes Cunha.
A gestão do senhor
Hermes Cunha foi, de certa forma, uma gestão sem muitas condições de atuar com
total independência, visto que devia também atender aos ditames dos seus chefes
políticos de então, e assim as coisas se arrastavam pelos lados da
administração municipal.
Um fato lamentável viria, então, por um fim, de
modo prematuro, ao mandato do senhor Hermes Cunha, um cidadão de bem,
trabalhador, sem inimizades ou intrigas. O certo é que o mesmo foi assassinado
de forma bárbara e cruel, num final de tarde, por um dos seus empregados, que
trabalhava em sua Usina de Beneficiamento de Arroz.
A tragédia ocorreu em plena Praça Getúlio Vargas, no dia 10 de junho de 1965, às 19:30 min, a
poucos metros de sua residência, numa das esquinas da Praça com a Rua Paulo
Ramos, residência que fora anteriormente ocupada pelo senhor Elidônio Aprígio
do Nascimento. O empregado, de nome Raimundo, confessou haver cometido o crime
pelo fato do senhor Hermes Cunha haver lhe negado um vale.
É imperioso, no entanto, relatar que muitas pessoas
em São Domingos jamais acreditaram em tal confissão e muito menos em tão banal
motivo. Mas a realidade é que sempre pairou uma espécie de véu que não foi de
todo levantado sobre esse acontecimento inusitado que manchou de sangue aquele
entardecer em nossa cidade e interrompeu, mais que um mandato, a vida de um
cidadão honesto, bonachão e honrado.
Foi um verdadeiro Deus nos acuda. Os adversários do
grupo político que dominava o poder, no caso os irmãos Torres, Jofran e Rangel,
moveram céus e terras para apossarem-se do poder. Lembro do advogado
provisionado Brígito Dias de Pinho, ligado ao grupo do senhor Elidônio, pra
cima e pra baixo, com uma enorme papelada debaixo do braço, num entra e sai de
cartórios, em idas e vindas à Capital, tentando impedir que o então presidente
da Câmara Municipal, vereador Antônio Silva Pereira, assumisse a Prefeitura.
Não logrando êxito, após dias de fofocas, intrigas, fuxicos e querelas,
o senhor Antônio Silva Pereira, mais conhecido popularmente como Toinho do Zuza
assmumiu o cargo de Prefeito Municipal para cumprir o restante do mandato que
começara com Dr. Orleans, passara pelo senhor Hermes Cunha para terminar com
ele, Toinho do Zuza.
1965: O SURGIMENTO DA TERCEIRA VIA
Padre Manoel e o escritor Paulo Eduardo de Sousa Pereira |
A
obra “O CAMPANÁRIO DA PADROEIRA: SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DE COLINAS”, do
historiador, escritor e professor Paulo Eduardo de Sousa Pereira, foi
apresentada na 6ª FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS: 400 ANOS ESCREVENDO NOS LIVROS
SUA HISTÓRIA, evento organizado pela Fundação Municipal de Cultura (FUNC).
O
evento, ocorrido na Casa do Escritor, no Ceprama, contou com a presença de
diversas personalidades do meio literário e
cultural maranhense, promovendo a democratização do acesso ao livro e à leitura
e fomentando processos de pesquisa, criação e produção literária no Maranhão.
O professor José Maria Paixão, coordenador da Feira do Livro,
destacou a importância da obra para a literatura maranhense. Um personagem
descrito no livro de Paulo Eduardo, o padre Manoel da Penha Oliveira, já
falecido, ex-vigário de Colinas, assistiu à palestra do escritor, emocionado
por ser reconhecido como parte importante da história da cidade.
Pois foi este padre Manoel da Penha Oliveira, ex-vigário também
de Passagem Franca, que, no início dos anos 60, veio para a assumir a Paróquia
de São Domingos do Maranhão. Aqui chegando e tomando conhecimento da situação
de muitos estudantes pobres, que terminavam o curso primário cujos pais não
tinham condições financeiras de transferi-los para outros lugares onde tivesse
o Curso Ginasial que tomou uma resolução: haveria de mudar a sorte de muitas
dessas crianças.
E como o padre Manoel não era um sonhador, mas um realizador, um
homem que pensa e faz criou logo um Curso de Exame de Admissão, com duração de
um ano, para que os jovens não ficassem longe dos bancos escolares quando
terminassem o primário. Enquanto isso passou a dedicar-se a criação da Escola
Paroquial Santo Tomás de Aquino, depois transformada na Escola Pio XII, com o
funcionamento dos cursos ginasial e normal, este para formação de professores.
Este seu envolvimento com a educação e sua dedicação a esta
causa, além da sua simplicidade, sua empatia pessoal, tornaram o padre Manoel,
em pouco tempo, uma figura carismática e querida de todos os são-dominguenses.
Havia uma Cooperativa Agrícola Mista em São
Domingos do Maranhão, cujos Presidentes e Diretores eram colocados pelos senhores
Jofran e Rangel Torres. O Sr. Rangel Torres havia entregue ao padre Manoel a
Presidência da Cooperativa e ali o padre Manoel passou a administrar de forma a
beneficiar os pequenos agricultores, reconhecer-lhes os direitos, tirando-os da
completa dependência dos grandes e principais comerciantes da época, entre
estes os próprios irmãos Torres e demais comerciantes da época.
Quando se deram conta de que aquela cooperativa nas
mãos do padre Manoel lhe dava muito poder, inclusive e, principalmente, o poder
político, resolveram tirá-lo daquela posição que poderia, em breve espaço
tempo, abalar as bases do poder que detinham até então.
Foi, assim, marcada uma eleição para a presidência
da Cooperativa, cuja intenção era tirar o padre Manoel da presidência do
referido órgão. Os candidatos foram o próprio padre Manoel, pois os estatutos
lhe garantiam esse direito, e o Sr. Rangel Torres. A eleição foi realizada em
salas do Grupo Escolar Deputado Moreira Lima, e após a contagem de votos, veio
o resultado, de certo modo surpreendente: o eleito foi o padre Manoel da Penha
Oliveira.
Na verdade, tal fato se constituiu num choque para
a família Torres e também uma bárbara, Hermes, são-dominguenseperda econômica e política. Ali estava
concretizado um rompimento entre o padre Manoel e o senhor Rangel Torres e que
levaria o padre Manoel a disputar nas próximas eleições o cargo de Prefeito Municipal.
Até aquele momento, o candidato natural era o
senhor Aluízio Silva Brandão, mas o povo, líderes políticos e outros
comerciantes passaram a pressionar para que o padre Manoel fosse o candidato.
Então, talvez a maioria dos são-dominguenses não saibam, mas a ida do padre
Manoel para a política partidária deu-se, na verdade, muito em função daquela
questão em torno da Cooperativa Agrícola Mista São-Dominguense. Pelo menos foi
essa questão que veio detonar o processo sucessório que mudaria para sempre
aquela eleição de 1965 e a história do desenvolvimento administrativo, social e
político de São Domingos do Maranhão.
(NO PRÓXIMO CAPÍTULO: A CAMPANHA CHEIA DE SUSPENSE DE 1965, A ELEIÇÃO DO
PADRE MANEOL E A INAUGURAÇÃO DE UM NOVO TEMPO EM SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO)
Raimundo Fontenele
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