2 de nov. de 2016

CRÔNICAS DO PUCUMÃ

A coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (www.literaturalimite.com.br) traz o antepenúltimo episódio das CRÔNICAS DO PUCUMÃ, uma série de postagens para todos que se interessam pela leitura, pela história e pelo conhecimento, em forma de crônicas, relatos e entrevistas acerca dos acontecimentos que se relacionam com a História do Município de São Domingos do Maranhão, conhecido, principalmente desde o seu descobrimento até a década de 60, como São Domingos do Zé Feio.
Hoje o assunto é música. São lembranças, e muitas, de como foi meus primeiros contatos com a música em São Domingos. Muita gente, viva ainda, viveu aqueles tempos e vai se emocionar e também encher-se de recordações como aconteceu comigo ao escrever esta crônica. E mais um pouco da biografia do Padre Manoel.
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 ALTO-FALANTE A VOZ DO ARAÇAGI
1953, 1957. Não, nós não tínhamos rádio em nossa casa não. O que eu conhecia de música, afora canções de ninar que minha mãe cantava, era de ouvir o que tocava o Serviço de Alto Falante A Voz do Araçagi. Seu dono, senhor Levi, viera de São Luís, trazido pelo prefeito Aluízio Silva Brandão para ser seu Secretário na Prefeitura Municipal.
Durante o dia ele cumpria sua rotina de burocrata e, à noite, por volta das dezoito horas, entregava-se àquela atividade prazerosa de comunicar-se com a cidade, através da música e da alegria que proporcionava aos seus habitantes.
Felicitações de aniversário e mensagens variadas, mas, sobretudo, de jovens corações apaixonados, mesmo quando um deles não podia se revelar por completo, aí o saudoso locutor anunciava: “Alguém oferece a próxima música para Aninha, com muito amor e carinho” e o velho disco de cera de carnaúba, 78 rotações, enchia os ares de nossa jovem São Domingos:                             
A LETRA “I” *
                                               (Luiz Gonzaga)
                                   Vai cartinha fechada
                                   Não deixa ninguém te abrir
                                   Àquela casa caiada
                                   Donde mora a letra i
                                   E diz que como uma cacimba
                                   Do rio que verão secou
                                   Meus óio chorou tanta mágoa
                                   Que hoje sem água
                                   Nem responda a dor
                                   Vai diz que o amor
                                   Fumega no meu coração
                                   Tá e quá a fogueira
                                   Das noites de São João
                                   Que eu sofro
                                   Por viver sem ela
                                   Tando longe dela
                                   Só sei reclamar
                                   Pois vivo como um passarinho
                                   Que longe do ninho
                                   Só pensa em voltar.
                                               *  de Luiz Gonzaga  e Zé Dantas.
                E assim ia, até quando as luzes da cidade apagavam todas, dando o primeiro sinal, e no terceiro apagava geral e só voltava no dia seguinte. Era um motorzinho furreca, um gerador limitado, mas era a energia que tínhamos, e durante o dia geladeiras, radiolas funcionvam na base de baterias.
            Tocava também o grande sucesso da Dalva de Oliveira, “Lencinho Branco”, marchinhas de carnaval, baiões, boleros, dobrados, uma espécie de hino militarizado, e lembro de uma que tinha alguma coisa a ver com o ufanismo da Era Getúlio Vargas, cujos versos, alguns, jamais me saíram da memória:
                        
                              ALGODÃO
                                   Luiz Gonzaga
Bate a enxada no chão
Limpa o pé de algodão
Pois pra vencer a batalha,
É preciso ser forte, robusto, valente ou nascer no sertão
Tem que suar muito pra ganhar o pão
E a coisa lá "né" brinquedo não
Mas quando chega o tempo rico da colheita
Trabalhador vendo a fortuna se deleita
Chama a família e sai, pelo roçado vai
Cantando alegre ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, (2X)
Sertanejo do norte
Vamos plantar algodão
Ouro branco que faz nosso povo feliz
Que tanto enriquece o país
Um produto do nosso sertão.
E a Voz do Araçagi era o elemento de comunicação e elo de ligação entre os moradores que, após o jantar, depois de um dia de trabalho, banho tomado, roupinha limpa, cheirando a lavanda, sentavam-se na porta da casa, sua ou de amigos, para melhor ouvirem a voz do seu Levi, as mensagens e a música sem a qual a tristeza tomaria conta de tudo.
            O outro contato musical era feito na nossa tradicional Feira livre aos sábados na Praça Getúlio Vargas.  Todos esperavam os grandes momentos da semana: a referida Feira e a missa dominical e os cultos evangélicos, na Trizidela, na igreja perto da residência do senhor Antônio Bina e na Assembléia de Deus, no mesmo local onde funciona até hoje, na Rua José Tiburcio Feio.
            Na Feira apareciam os cantadores com sua literatura de cordel, emboladas e desafios, usando como instrumentos musicais às vezes uma viola, outras vezes um pandeiro. Formavam-se rodas de admiradores em volta daqueles artistas populares e recordo um cordel que era sobre os 12 Pares de França, mesmo que nem soubéssems do que se tratava, aquilo tinha nossa admiração.
           
       Depois de tantos anos lembro ainda alguns versos: “Eram doze cavaleiros / homens muito valorosos / destemidos, animosos / entre todos os guerreiros / e como fosse Oiveiros / um dos pares de fiança / que a sua perseverança / venceu todos os infiéis / foram uns leões cruéis / os dores pares de França. / Eles eram conhecidos / como leões da Igreja / pois nunca foram à peleja / que nela fossem vencidos / eram por turcos temidos / pela Igreja estimados / porque quando estavam armados / suas espadas luziam / e os inimigos diziam / esses são endiabrados”. 
            Um pouco de história não faz mal a ninguém. Pois só depois, nos bancos escolares, descobri quem eram aqueles doze pares de frança. Assim como agora, com esses fanáticos do Estado Islâmico querendo invadir o mundo cristão e barbarizar à vontade.
Carlos Magno foi um grande monarca europeu que unificou a Ocidente e Oriente num grande reinado. Para isso, contou com os 12 Pares de França, valorosos e grandes guerreiros que além de o ajudarem a expandir seu império foram também responsáveis pela vitória sobre os mouros (árabes) que haviam invadido a Europa, assim como querem fazer os malucos do  Estado Islâmico. Organizou as Cruzadas que era uma luta de cristãos conytra os infiéis, que foram por Carlos Magno e seu 12 pares de França expulsos de volta ao Oriente.
Voltemos à música da minha infância em São Domingos. Quando chegamos aqui, vindo de Marianópolis, Município de Pedreiras, fomos morar na Rua Paulo Ramos, conhecida como Rua do Facão de Fora, moramos onde depois tornou-se a residência do senhor Lero. Era dali que curtia a Voz do Araçagi. Ficamos talvez um ano e voltamos dessa vez para o lugar chamado Centrão, em Barra do Corda, e talvez um ano depois novamente viemos para São Domingos de forma definitiva.
Dessa vez fomos morar na Rua Nova e foi daquela rua que comecei a ouvir a música que vinha dum lugar de má fama, que as famílias detestavam, mas do qual os homens não se afastavam. O famoso Pavão, zona do meretrício, povoada de casas dedicadas ao comércio do sexo, com seus bares e prostitutas, suas festas, algazarras, mas também brigas, tiroteios, mortes.
Chamadas também de cabarés, uma dessas casas era de propriedade do senhor Juarez, sobrinho de uma figura lendária, o senhor Cravo Reis, colinense, e durante muitos anos Delegado de Polícia de São Domingos. O local é aquele após a ladeira da Rua Nova, onde o Nogueira teve sua Usina e seus negócios.
Pois o senhor Juarez também possuía um serviço de Alto Falante e da nossa casa na Rua Nova eu ficava ouvindo Núbia Lafayete, Dalva de Oliveira, Miltinho, Nelson Gonçalves e seu grande sucesso “Normalista, Francisco Alves, o Rei da Voz e seu grande sucesso “Adeus, cinco letras que choram”, as irmãs Batista, Linda e Dircinha e Emilinha Borba; Ângela Maria, Cauby Peixoto, Isaura Garcia, Marlene, Carmen Miranda e muitos outros.

Além do cabaré do senhor Juarez, outros famosos foram o do senhor Marciano e da dona Zélia. Mas nos fins de semana apareciam por lá alguns sanfoneiros e o forró ia até de manhã.
Em 1957, quando eu tinha nove anos um acontecimento inusitado me pôs em contato com a música e o rádio diariamente. Naquele ano o inverno foi rigoroso, as águas inundavam tudo e, além disso, morando na Rua Nova, as águas continuavam mesmo quando não chovia, havia um minador por perto, e as paredes das casas ficavam umedecidas, ou embrejadas como se dizia, cerca de mais de um metro de altura.
Pois numa noite de abril chegou para se hospedar na nossa casa um parente de meu pai de nome Adroaldo Bá Bá Bá, porque era tropeiro e trocador, uma profissão indefinida, o cara vivia de trocar animais, armas, uma espécie de rolo, enrolação, e conversava demais e ganhou tal apelido.
Ele e seus amigos tropeiros, três ou quatro, armaram suas redes na sala, e antes das cinco horas da manhã, seguiram viagem. Eu que estava dormindo na cama com meus pais, tão logo eles se foram voltei pra dormir na sala como sempre fazia, e mal caí no sono a parede desabou. Por causa da umidade e do peso dos tropeiros, ou talvez fosse apenas meu destino.
Tive um braço quebrado e ferimentos no rosto e no nariz. O senhor Biu, esposo da dona Anália foi quem me levou nos braços até a Farmácia Brandão, de propriedade do senhor Aluízio Brandão que me fez os curativos e enfaixou meu braço com talas de papelão. Era a medicina da época. Deitado em casa soube que uma amiga minha também havia quebrado o braço, a Graça Cardoso, acho que havia caído de uma goiabeira.
Até que a parede fosse levantada e a casa voltasse a estar em condições de ser habitada, fomos todos pra casa do meu padrinho, cunhado do meu pai, o senhor Raimundo Almeida, e ali a música passou a fazer parte importante da minha vida.
É a casa onde hoje é o comércio do François. No meio tinha um corredor, do lado que dá ára a Rua 12 de Outubro funcionava a Coletoria, e do lado do comércio do Galego do Benício ficava um comércio de miudezas, com um aparelho de som, rádio e radiola, e quando não estava na escola, ficava com o ouvido colado ao rádio, ouvindo os locutores, os programas, a música.
Na Rádio Difusora de São Luís, pela manhã, tinha um radialista com voz de locutor de FM que nem existia nessa época, o Mário Leonardo com o seu programa “Em Cada Canção uma História”. Ele lia a carta de um ouvinte, contando um caso de amor, a pessoa tinha sido abandonada, ou então estava vivendo um grande amor e tinha toda a sua história amorosa lida no ar e em seguida vinha a música com um tema semelhante. E eu passava as manhãs ouvindo essa rádio e a outra que era sua rival, a Rádio Timbira, que fazia muito sucesso com seu programa nos finais de tarde "Alegria na Taba".
Mas o grande barato, o momento máximo da radiofonia em São Domingos era a partir das duas da tarde. Você podia sair da praça e percorrer todas as ruas que ia encontrar todos os rádios sintonizados na mesma estação, como se fosse a Globo na hora da novela das nove: tratava-se da Rádio Clube de Pernambuco e um programa patrocinado pelas Casas José Araújo, de Recife, onde grande parte dos comerciantes de São Domingos e outras cidades faziam compra para seus estabelecimentos comerciais.
“Quem manda é o freguês, o freguês das Casas José Araújo”, este era o bordão que se ouvia a tarde inteira. E seguiam-se os grandes sucessos do rádio brasileiro, lançamento de novos cantores e cantoras e os já consagrados desfilavam seus sucessos: Roberto Muller (“Tu branca nuvem que passas, leva a minha mensagem a alguém que ficou...”), Adilson Ramos (“Sonhar contigo, por toda vida, sonhar contigo, meu amor, minha querida...”), Nelson Gonçalves (“Boemia, aqui me tens de regresso...”).
E mais: Altemar Dutra (“Que queres tu de mim, que fazes junto a mim, se tudo está perdido, amor...”), Orlando Dias (“Tu és a criatura mais linda que meus olhos já viram, tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou...”), Waldick Soriano “Minha querida, saudações, escrevo esta carta...”), Anísio Silva (“Alguém me disse que tu andas novamente, de novo amor, nova paixão, toda contente...”)

E o locutor da Rádio Clube de Pernambuco arrematava: “Casas José Araújo, porque quem manda é o freguês, o freguês das Casas José Araújo...”
E não esqueço que nos finais de tarde, meu padrinho Raimundo Almeida, após seu dia de trabalho, gostava de tomar seu aperitivo, geralmente um conhaque, em sua cadeira de balanço, ligava a radiola e eu ficava acompanhando as músicas apaixonadas das grandes cantoras já citadas. Mas ele tinha uma predileção mesmo era por Ângela Maria.
Vai ver aquilo era pensando na outra, pois era um costume da época, a maioria dos homens não fugia à regra. Tinha a matriz, a esposa, a santa, do lar, mas tinha também a filial, a louca, a amante, a despudorada.
Miltinho
Isso era a moral daqueles tempos, embora meu negócio fosse apenas a música. Eu me deliciava manuseando e curtindo a sua discoteca: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Trio Los Panchos, Vicente Celestino, Waldyr Azevedo,  Dorival Caymmi, Núbia Lafayete, Elizeth Cardoso, Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, uma lista interminável.
Era a sagrada música que enche nossos corações de júbilo e contentamento. Que apaga a tristeza, nos faz sonhar, esquecer, sorrir, chorar, bendita música!, deleite para os ouvidos e muitas vezes um bálsamo para o coração.

ECCE HOMO MANOEL
Nasceu o padre Manoel da Penha Oliveira em 24 de julho de 1925, na cidade de Caxias, Estado do Maranhão, filho de João Euzébio Oliveira e de Raimunda Rodrigues Oliveira.
Iniciou seus estudos na Escola Gonçalves Dias, em sua cidade natal. Seus pais tinham poucos recursos materiais o que talvez explique sua ida para o Seminário. Pois muitas famílias pobres, que não podiam pagar boas escolas, até porque praticamente inexistiam escolas de segundo grau públicas, naquelas décadas passadas, optavam por destinar ao filho uma carreira sacerdotal.
Esta a razão porque, em 1940, o padre Manoel começou a estudar, como interno, no Seminário de Santo Antônio, em São Luís do Maranhão. Aluno exemplar, cursou o ginásio e em seguida vieram os Cursos de Filosofia, com a duração de 2 anos, e depois o de Teologia, com duração de 4 anos. Ordenou-se como sacerdote no ano de 1951, em sua terra natal, Caxias, onde tomou posse de sua primeira paróquia na Igreja de São Benedito.
Inteligente e muito dedicado, reconhecendo seus méritos, além da função de pároco da Igreja de São Benedito foi nomeado como secretário do bispo Dom Luís Gonzaga da Cunha Marelin, chefe da Diocese caxiense.
Em 1954 deixou Caxias para assumir a igreja de Passagem Franca, neste nosso Estado, onde passou quatro anos como vigário da paróquia.
Logo após, foi para Pastos Bons, onde permaneceu por um ano.
Em 1960 foi designado para assumir a Paróquia de São Domingos do Maranhão, dando início a um excelente trabalho de anúncio da Palavra de Deus. Construiu algumas capelas nos povoados do município e a reconstrução ou reforma da igreja Matriz na sede do município.
Depois de muitos pedidos e persistência conseguiu a permissão do Papa para candidatar-se a Prefeito, em 1965, tendo sido eleito para a Prefeitura Municipal de São Domingos do Maranhão. Encerrava, assim, uma brilhante carreira religiosa, começando outra, desta vez política, tendo sido eleito na sequência como Deputado Estadual, onde exerceu a liderança do Governo e também o cargo de primeiro secretário da Assemnléia Legislativa.
Porém, jamais distanciou-se daquilo que ele chamava sua “tarefa de povo”, que Deus lhe confiou e que ele exerceu com amor e sabedoria, seja como padre, político ou professor, até o fim dos seus dias.
Esta crônica pretende lembrar aos que o conheceram a grandeza moral e espiritual do padre Manoel da Penha Oliveira. Não o estou isentando de erros e equívocos, nem de pecados vistos do ponto de vista da Religião. Mas o que permanece e sobrevive é a Fé. E isto ele tinha de sobra.
Padre Manoel foi um homem de fé. Fé em Deus, fé em si mesmo, fé nos outros. Digo isso por mim mesmo. Pois sempre fui muito levado, dotado de uma alma irresponsável de artista. O padre Manoel nunca deixou de acreditar em mim. A cada erro, a cada vacilação minha, uma nova chance, uma nova responsabilidade, um novo compromisso me eram dados. E isto era comigo e com todos aqueles (e foram muitos, e foram tantos) que estiveram, mesmo que por pouco tempo, ao abrigo de sua sombra, protegidos pelos seus braços, acomodados em sua natureza benfeitora e humana.
Por isso, quando publiquei meu primeiro livro de poesia, chamado Chegada Temporal, fiz questão de que ele escrevesse a orelha desse livro, e estivesse presente no seu lançamento, que aconteceu na Academia Maranhense de Letras, tendo sido dele o discurso de minha apresentação aos escritores, autoridades, amigos e demais presentes naquela ocasião.
Eis um trecho do que padre Manoel escreveu naquela ocasião:
“O Fontenele... não é fruto da minha carne nem fragmento dos meus ossos – é apenas um reflexo do passado colosso da minha vida em São Domingos. Ele ouviu a minha voz. E eu falei variadas vezes: como mestre – no seu curso primário e ginasial; como pastor – nos sermões da Igreja; como amigo – nos conselhos, dentro de casa, no meio da rua, nas fadigas, nas tarefas diversas, nas atividades pastorais e políticas, em que ele sempre me acompanhou.
Dentro dele desde criança, havia um sonho adormecido, esperando o toque silencioso de um dedo amigo, para despertar e olhar o sol alevantado sobre os limites do dia e a lua flutuando sobre as ondas imaginárias da noite. Tentei fazer-lhe este toque e fui eficiente na tentativa.
Hoje temos aí Fontenele – poeta – descrevendo o sol alevantado, a luz flutuante.. Traduzindo, em termos de sua personalidade própria, o resultado do esforço ingente que pude empregar, de minha personalidade, no preenchimento de uma “tarefa de povo” que me foi confiada.
Por isso, amigos leitores de Chegada Temporal, espero que todos recebam o Fontenele como eu o recebi, do início ao fim: com olhar de compreensão, apreciando-o como poeta que faz dos elementos da vida comum e rotineira os versos dos seus poemas. São Luís, agosto de 1969. Padre Manoel da Penha Oliveira”.
Finalizando: numa conversa que tive com ele, muitos anos depois, quando já encerrara sua carreira política, confessou-me a sua decepção com o mundo da política. E preferiu voltar-se para a Filosofia, e ministrar aulas na Universidade, como professor e mestre que sempre foi, e nas horas vagas, quando a solidão dói mais ou a saudade aperta, deliciar-se a si e aos que privavam da sua companhia e intimidade, com os acordes maviosos da música erudita no seu inseparável piano.
 Assim como o Maranhão é grande para tantas almas pequenas, políticos de nenhum caráter, às vezes o Maranhão é pequeno para grandes almas e de caráter tão nobre como o deste amigo tão comum e simples chamado Manoel da Penha Oliveira.


Raimundo Fontenele

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