A
coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (www.literaturalimite.com.br) traz o penúltimo episódio das CRÔNICAS DO PUCUMÃ,
uma série de postagens para todos que se interessam pela leitura, pela história
e pelo conhecimento, em forma de crônicas, relatos e entrevistas acerca dos
acontecimentos que se relacionam com a História do Município de São Domingos do
Maranhão, conhecido, principalmente desde o seu descobrimento até a década de
60, como São Domingos do Zé Feio.
Hoje
o assunto é o tempo passando, a juventude, os usos, os costumes, rapazes,
moças, aqueles com quem convivi em plena mocidade. E, de quebra, alguns
apelidos que provocam risos, e atestam como o são-dominguense é um povo bem
humorado e criativo.
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O TEMPO PASSANDO...
ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS
As coisas estavam
mudando muito depressa. A eleição do padre Manoel, sua administração e as
seguintes, contribuíram para que a transformação não andasse mais a passos de
tartaruga e para que as promessas fossem cumpridas.
Primeiro a Feira foi
transferida da Praça Getúlio Vargas porque esta ia receber calçamento. Duas
mudanças, então, calçamento das ruas, a construção de um Mercado Público. A iluminação Pública não era mais aquela
coisa das seis da tarde às dez da noite.
A construção da Barragem da Boa Esperança pelos
militares trouxe para São Domingos e outros municípios maranhenses uma energia
vinte e quatro horas por dia, embora de vez em quando faltasse. Tinha seus
problemas, mas era infinitamente melhor que antes.
Adeus poços no quintal de casa. A estação da CAEMA
agora possibilitava que nós tivéssemos água encanada, era só abrirmos as
torneiras e a água jorrava. Água tratada e sem as bactérias que muitas vezes a
água de poço continha. Até bem pouco tempo, aí pelo final dos anos noventa,
ainda persistia o problema de interrupção da energia e falta de água, mas logo
estavam de volta e o certo é que a cidade era outra e a nossa vida também.
Depois do padre Manoel, foi eleito o senhor
Francisco Assunção (1970/1972) que governou apenas dois anos e em seguida
assumiu o seu vice, senhor Paulo Batista Lopes (1972/1973), fato este
resultante de acordos políticos feitos pelo padre Manoel, para apaziguar,
satisfazer anseios e contornar insatisfações de correntes políticas.
Ainda sob a influência do padre Manoel foi eleito a seguir o Chico do
Horácio (1973/1977) e a seguir foi a vez do meu antigo colega e amigo da Escola
Pio XII, Edmilson Pereira (1977/1983) administrar o nosso município.
Não foi uma gestão pacífica, a do Edmilson Pereira.
Alguma coisa, talvez a própria forma de administrar, possibilitou que a antiga
veia e fama de cidade chegada à violência se manifestasse de forma um tanto
cruel, pois num curto período muitas foram as mortes, inclusive do próprio
prefeito Edmilson Pereira, o segundo a ser assassinado no exercício do cargo
máximo da administração municipal.
Assumiu, então, a prefeitura o vice, Sebastião
Coelho de Sousa, o conhecido Sessé, do povoado Pé do Morro, hoje município de
Governador Luís Rocha. Seu mandato foi
curtíssimo: de 23 a 31 de janeiro de 1983. Novamente é eleito o Chico do
Horário para o período de 1983 a 1988, quando, ao final do seu mandato, um novo
grupo político iria assumir e administrar São Domingos pelo período de mais ou
menos vinte anos.
Tratava-se do PMDB, comandado pelo grupo Folha que
assim distribuiu seus mandatos: José Mendes Ferreira (1989/1992), Antônio
Nogueira (1993/1996), Dim da Folha (1997/2004), Antônio Nogueira (2005/2008). A
partir de 2009 o outro grupo político, o do Chico do Horário, volta ao poder
com o seu irmão Kleber Andrade (2009/2016), quando José Mendes Ferreira, o
popular Zé da Folha é eleito mais uma vez para comandar os destinos de São
Domingos do Maranhão.
Enfim, cada um dos administradores contribuiu para
que São Domingos apresentasse hoje essa face moderna e cativante. Muito deixou
de ser feito, poderia ter avançado em alguns aspetos da Educação e da Saúde,
mas isso não é novidade, pois há um descompasso geral (federal, estadual e
municipal) entre as demandas dos cidadãos e o atendimento por parte dos
administradores e gestores dos serviços públicos.
Hoje a Lagoa do Zé Feio é o grande cartão postal da
nossa cidade. Não há quem fique indiferente a sua beleza natural e todos sabem
agora da importância que ela teve no passado, como fonte de sobrevivência, e
tem ainda no presente como um ponto turístico a ser melhor desenvolvido e
explorado em benefício do município e dos são-dominguenses.
COSTUMES, USOS E ABUSOS
Choque de gerações.
Abusos eu usei pra chamar mais atenção. Mas não havia abusos. O que houve foi o
que tem acontecido através dos séculos. O novo e o velho. O que está saindo e o
que está chegando. É assim que começo essas reminiscências de um tempo que a
nossa juventude, a minha e a de muitos, viveu e que gostaríamos jamais fosse
apagada das nossas lembranças.
Depois da infância,
quase sempre obediente, da escola pra casa, sob a guarda, a orientação, o domínio
absoluto das normas da casa paterna vem um tempo diferente, difícil às vezes,
mas do qual não abrimos mão por nada. A gente já não é mais criança e já não
obedece os pais tão cegamente. Começa a ter outros pontos de vista diferente e
se costuma lutar por eles.
Aí a gente passa a ver
a vida com outros olhos. Aqueles bancos de madeira em volta das figueiras que
existiam na Praça Getúlio Vargas não serviam apenas para que os feirantes,
vindo do interior, amarrem seus animais nos dias de sábado. Serviam como bancos
de praça onde nós, jovens são-dominguenses, começávamos os nossos namoros.
Paquera, ficar, isso
veio depois. No nosso tempo era namorar mesmo. Lembro de tanta gente e ao mesmo
tempo esses nomes me fogem numa brincadeira de esconde-esconde da memória.
Graça Souza, Beatriz, Ivanda, Beleza, Graça Batista, Amparo, Jesus, as filhas
do seu Mundico Lopes, Maria, Ana, Geni, Graça Cardoso, a Antonieta e a Rosimar,
a Iraci, a Dilce, as minhas primas Arlete e Benedita Maria, e os marmanjos:
Joel e Joil, Itamar, o Louro e o Fran, eu e o Nelson, esposo da professora
Zilma, o Souza Lima, o Volmar, o Zé
Queimado, o Ariston, o Paulo do João Padeiro. E mais: João Paulo, Jonas, Áurea,
Simplícia, Maria Sílvia, Maria Lopes, Toinha Felix, Raimunda Lucena, Neguinho
do Zeza, José Elias, José Alcides, Antônio Lucena, Edésio e Gilberto do
Sebastião Mota, meus primos Almeidinha e Múcio, a Mundinha, a Joarezita.
Simplícia e Raimunda Lucena - anos 60 |
Idades e mundos distintos mas estávamos todos
atravessando os anos, vivendo aventuras, os inesquecíveis pic-nics que a gente
fazia na Sombra, no Cajueiro, na Boa Vista, na Trizidela, no Alto do
Fogo,sempre se dava um jeito de sair da vista dos pais, do controle deles, onde
a gente pudesse ficar mais à vontade, dançando aqueles bolerões que, quando se
estava apaixonado e sofrendo de amor, serviam para as garotas derramarem todas
as lágrimas e nós, rapazes, consumirmos toda a bebida. Cerveja, conhaque,
cachaça, a gente não escolhia, queria mais era esquecer e suportar aquelas
paixões juvenis, tão sem sentido, mas tão avassaladoras.
Alguns comerciantes tinham ido embora e levado suas
filhas jovens: Arlete, Iolete e Janete do senhor Antoinzinho, seu Álvaro
Bezerra tinha a Leolice e a Cleonice (será este o nome?), seu Sebastião Viana
também se forma e levara suas filhas, a Iani e a Aidê, as jovens da Rua dos
Cazé, é muita gente, mas em algum momento essas pessoas vivenciaram um pouco
desta história de nossa inesquecível São Domingos, naquele tempo feita muito
mais de sonhos do que de realidade.
Tinha o uso das saias plissadas por parte das
meninas e a camisa volta ao mundo e sapato vulcabrás por parte dos garotos.
Brilhantina Glostora no cabelo, pente Flamengo no bolso da camisa; as meninas
começavam a enfrentar a contrariedade tanto paterna quanto materna com suas
proibições: calça comprida, nem pensar, muito menos andar de bicicleta, isso é
coisa pra homem.
A noite fervilhava na praça. Nem sei se era a
Escola Paroquial Santo Tomás, sei que eu fazia o Ginásio, e a escola funcionava
no Grupo Moreira Lima, lá também veio a instalar-se a scola Pio XII, mas sei que
eram aulas noturnas. E as professoras Edelves, as irmãs Delza e Elza, Dona
Olga, a Eunice Raposo e o professor de matemática José Alberto. E tinha também
a Socorro Leite, que pelo seu tamanho era chamada carinhosamente de Socorrona,
também ligada à Escola Pio XII. Também foram professores seu Zé Carlos e sua
esposa, dona Terezinha, ele gerente das Casas Pernambucanas, E não se pode
esquecer também a professora Luiza, esposa do amigo Odilonzinho.
O Zé Lotenga e sua esposa Regina, além de
agenciarem linha de ônibus, instalaram ali naquele lado da praça uma lanchonete
e bar ao mesmo tempo. Nós, jovens estudantes, no recreio, quando saíamos mais
cedo, antes das aulas começarem, ou mesmo matando aulas, lotávamos a lanchonete
porque serviam lanches diferentes e mais sofisticados do que os “pão com
refresco” a que estávamos acostumados.
E tinha uma tal de meladinha que nada mais era do
que cachaça com mel, mas bem preparada, com as doses certas de cada um dos dois
ingredientes, de forma que descia redonda, mas se a gente exagerasse e se
deixasse levar pelo sabor, saía trocando as pernas, meio lá e meio cá, pra não
chamar de gambá. (CONTINUA NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA)
MEU NOME É... MAS PODE ME CHAMAR DE...
Esse negócio de apelido é um costume que às vezes chega
ao abuso. Mas, para muitos, a graça e o charme do apelido reside justamente na
raiva que provoca no apelidado. Com o tempo as coisas se ajeitam e, em muitos
casos, o apelido se incorpora de tal maneira que, se chamamos a pessoa pelo seu
nome verdadeiro, ela nem se dá conta num primeiro momento que é com ela.
E assim relembro aqui alguns apelidos que ficaram
famosos e se tornaram inesquecíveis para nós são-dominguenses. E não o faço com
nenhum sentido mesquinho, pejorativo, para provocar, injuriar, nada disso. A
intenção é tão somente tornar esse texto das cônicas, tão maçante e cansativo
algumas vezes, em algo mais leve, com humor e para rirmos um pouco.
E sem esquecermos que o apelido pode até fazer com
que se realize algo que não é tão simples e fácil, como fazer a pessoa permanecer
viva, para sempre, fazendo parte também da História. Se não da História
oficial, pelo menos dessa história que teimo em contar pra vocês, com tanto
zelo e tanto gosto, porque assim como aprendi a amar São Domingos, aprendi
também a amar os queridos são-dominguenses, um povo digno, capaz e trabalhador.
Eis alguns desses apelidos:
Antônio do Fumo
Bagaço
Bimbim
Birita
Bigode
Bodinho
Boquinha
Borá
Brutim
Bunda Grossa
Burra Suada
Calça Frouxa
Caminhão
Cambota
Cara Feia
Cagaiteira
Caititu
Carne Roxa
Chapéu de Bosta
Chega pro Tronco
Cheiro da Burra
Cotia
Cruzeiro 10
Chico Preto
Deca Choro
Farinha Seca
Gasolina
Grila
João Panela
Lá-Vem-Ela
Leitoa
Maconha
Mambira
Manga Rosa
Mãozinha
Maria Cancão
Maria Fala Grossa
Muxiba
Paninha
Pé Branco
Pé de Pato
Pescoço
Piau
Quatro Farol
Rã
Raimundo Garopa
Raimundinho Buriti
Roda Frouxa
Sarabojado
Tapioca
Trovão
Véio Tronco
Vinga Murcha
Xereta
Zé Bonzim
Zé Buchim
Zé Buraco
Zé Confusão
Zé das Cadeiras
Zé da Roupa
Zé do Caixão
Zé Finim
Zé Priquitim
Raimundo Fontenele
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