A coluna QUARTA É DIA DE RF do
nosso Blog LITERATURA LIMITE (WWW.literaturalimite.com.br)
aproveita para matar dois coelhos de uma só cajadada. Ou seja: vou aproveitar
que o homenageado do mês é o Dr. DOMINGOS VIEIRA FILHO para publicar dele o
Prefácio que fez para o meu primeiro livro de poesias, CHEGADA TEMPORAL, editado
em 1970, pela Editora Mensageiro da Fé, de Salvador, Bahia.
E na sequência publico também
alguns poemas deste livro que marcou a minha entrada, de forma oficial, para o
mundo das letras. O primeiro livro é uma espécie de compromisso que autor faz
em dois níveis. Primeiro, consigo mesmo. E depois, com os leitores, os amigos,
os parentes, enfim pessoas que esperam que você seja alguém no mundo, faça
alguma coisa de útil, enfim, seja digno desta coisa tão generosa, maravilhosa e
única que é a existência humana.
Dou graças por ainda está aqui,
nessa trincheira, escrevendo, publicando, vivendo.
PREFÁCIO
Nunca
é demais dizer-se que no Maranhão os talentos poéticos sobram a cada canto.
Assim,
o dito “cria fama e deita-te na cama” não é procedente entre nós, tratando-se
de poetas.
Nós
exportamos talentos e poetas de verdade, às vezes de forma quase perdulária.
Temos
agora um exemplo frisante disso com este livro de estreia de RAIMUNDO
FONTENELE, um jovem modesto, desconhecido, tímido mas dono de um admirável
talento poético.
Porque RAIMUNDO FONTENELE não é o simples artesão do verso que se
consome em noites insones na busca torturante da perfeição formal. Seu talento
genuíno, profundo sentimento poético, que se extravasam em versos interiores,
repelem o aparato vistoso e intensamente colorido que seria a poesia inconsequente,
ôca de sentido e de mensagem, puro sensorial para gosto e uso hedonístico.
Não é também, por outro lado, um hermético intraduzível, fechado numa
como por espécie de nódulo poético, sem a força comunicativa que a poesia
autêntica encerra, eterna catalisadora de emoções e sentimentos.
E não aspira, assim entendemos, a requintar o verso em roupagem
enganosa. Cria antes seu clima ideal, sua atmosfera adensada nas experiências
que a vida vai lhe ministrando na esteira do tempo.
E não se preocupa por igual em descobrir soluções poéticas novas, em
pesquisas estéticas às vezes infrutíferas.
Poeta e bom e o verbo que o propele é o verbo poetar, isto é, fixar
emoções vividas no artifício material do verso, na instantaneidade e milagre da
criação artística.
Ler este estreante que surge seguro
de si, sem as indecisões dos novos, estranhamente maturado, será por certo um
grande prazer intelectual pelo que de revelação poética ela representa.
DOMINGOS
VIEIRA FILHO
Da
Academia Maranhense de Letras
NASCIDO
Noite (da noite)
trouxe-me
a vibração gritante
da carne
chamando-me
das trevas para a luz
POEMA
DO AMOR TEMPORAL
Ainda tarde
chorarei meus olhos de raízes soltas
na branca luz do teu secreto alento
e enquanto o beijo
ascende um brilho novo
reter-me-ei
de bruços
no
busto de teus braços.
De
não vagar com teu fantasma
repartirei
em lágrimas
o
grito indefenso
da
minha sétima e última existência
e
outro brilho sangrará da neve errante
que
em nós dois cairá
desfeita
em vento.
POEMA DO AMOR SOFRIDO
a
Eliene Matos
despertarei
me
erguerei
e
gritarei teu nome
na procura maior
na procura maior
do
amor sofrido.
SENTIDOS
Partir
a marcada claridade
em seis
sentidos
dos
pés ao sol
e do
sol à tumba, se possível
jamais
erguer-se
o
vício na lama
ou
atrás de nosso irmão
sentir
silêncio.
ENIGMA DA LUZ
Morrerei
de só
e nunca
serei três nessa comédia
porque
o meu sangue
me
enterrará de joelhos.
Da
noite em morte
gritarei
sem Pátria
inda
que volte, e beba, e cuspa,
e
seja luz...
LIBERTINAGEM
Na
boca de Satã
a cólera
espuma
porque
é noite
Meio dia e meio
SÁBADO MEDROSO
Um louco
esconde
um gênio
do sábado
(do louco)
que
saiu
torto
de mim
VIDA TEMPORAL
A
minha vida
é uma
sombra prolongada
na
busca do invisível
que
empreenderei
nesta
breve passagem
8 JUNHO 8
E vi
vida
na vinda
amanhecer
(Ah!)
dói-me
a dor
desses
olhos abertos
na busca
(para a luta)
de viver
EPÍLOGO II
De
mim ao mar
o horizonte
gela e escuta
a
madrugada na manhã
a
despejar silêncio
MANHÃ: ela/sentimentos
Um
lírio branco nos teus olhos
vi,
bem naufragado.
E os
meus, em violeta triste,
transformados.
Esta
manhã de brumas
me dispersa
pelo ar
do
teu meigo sorriso]e eu, tão só em mim,
só
vontade, só desejos.
Assim,
luz da manhã
faltando
aos teus cabelos;
assim,
chuvas esparsas
para o céu dos meus desvelos.
Raimundo
Fontenele / Poeta maranhense
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