A
coluna QUARTA FEIRA É DIA DE RF do nosso blog LITERATURA LIMITE (WWW.literaturalimite.com.br) de
hoje intitulada UMA NO CRAVO E OUTRA NA FERRADURA traz dois assuntos bem
distintos. Um artigo literário e algumas anedotas políticas, e a unir estes
dois temas um fato em comum: ambos são frutos da inteligência e da pena (no
sentido figurado, pois hoje nem escrever se escreve mais, digita-se, non é
vero?) de dois escritores maranhenses, que gozam de grande prestígio no cenário
literário brasileiro (Josué Montello) e maranhense (Benedito Buzar).
O primeiro é o artigo do escritor e
membro da Academia Brasileira de Letras, celebrado romancista, autor de Os
Tambores de São Luís e da trilogia memorialística Diário da Manhã, Diário da
Tarde e Diário da Noite, ale de inúmeros outros livros de igual importância e
valor. No seu artigo, publicado em 1971 no Jornal do Brasil, Josué aborda a
questão dos grupos e movimentos maranhenses de literatura, apropriadamente intitulado,
o artigo, Um novo grupo maranhense.
O segundo momento da nossa coluna
é sobre o livro POLITIQUEIROS POLITICALHA POLITIQUICE POLITICAGEM POLÍTICA DO
MARANHÃO, do escritor e acadêmico da AML Benedito Buzar, autor da importante
obra histórica O VITORINISMO – Lutas
Políticas no Maranhão de 1945 a 1965. O POLITIQUEIROS segue a linha dos livros de
folclore político, fatos reais que de tão inusitados e engraçados terminam por
se tornar quase anedóticos.
Selecionamos apenas algumas
passagens para o deleite dos leitores e julgamos que está mais do que na hora
de um relançamento deste livro de tão apreciável leitura do escritor Benedito
Buzar. (RF)
UMA NO CRAVO
Um novo grupo maranhense
Josué Montello: Jornal do Brasil, 1971
“Dos
19 capítulos em que dividiu a sua História
da Literatura Brasileira, um, o 11º, consagrou-o José Veríssimo ao estudo
dos poetas e prosadores do Maranhão, no meado do século passado (lê-se século
XIX).
Tão
importante foi esse grupo literário que, a um só tempo, deu ele ao Brasil o seu
mais importante prosador, João Francisco Lisboa, e o seu mais alto poeta lírico
Antônio Gonçalves Dias.
O
grupo teve mesmo um biógrafo, que retraçou a vida ilustre dos companheiros,
Antônio Henriques Leal os quatro volumes do Panteon
Maranhense, lá mesmo esplendidamente editados por Berlamino de Matos,
fizeram de seu autor o Plutarco da geração admirável. Para maior glória dessa obra
exemplar, não lhe faltou sequer a crítica violenta, com intenções
declaradamente demolidoras, que lhe desfechou na província um crítico azedo e
inteligente, Frederico José Correia, nas 200 e poucas páginas de Um Livro de Crítica. Para que se tenha
uma idéia deste volume, basta ler o seu programa de bordoada: “O meu fim com
este livro é desmascarar a impudente cotérir
e não consentir que ela zombe por mais tempo da credulidade e paciência
pública, nesta dita Atenas brasileira, onde ela principalmente se aninhou tem
produzido numerosa prole.”
Por
esse tempo, a capital maranhense era uma pequena cidade de 40 mil habitantes,
sem escolas superiores, e apenas com um ginásio oficial, o velho Liceu. Suas
comunicações com o resto do mundo se faziam espaçadamente e por via marítima.
No entanto, era de ordem a sua atualização intelectual que, no mesmo ano da Questão Coimbrã, a polêmica era
comentada em São Luis no prefácio de um livro, A Casca da Caneleira.
Depois
da geração do Panteon Maranhense,
outras se tem constituído, ao longo do tempo, com o mesmo pendor das letras, na
minha cidade natal. Se estes não chegaram a ombrear-se com aquela, na mesma
teoria de valores literários, pelo menos serviram a resguardar uma bela
tradição cultural, de que eu próprio me beneficiei, há 30 e tantos anos, quando
por lá me emplumei pra estes meus modestos vôos de beira de telhado.
Recentemente, numa de minhas habituais idas a São Luis, pude mais uma vez
sentir e reconhecer que meus conterrâneos se mantém fiéis ao gosto das letras,
e de lá trouxe comigo dois dos mais importantes livros de poesia que se
publicaram ultimamente em língua portuguesa: Do Eterno Indeferido, de Nauro Machado, e Pele e Osso, de Bandeira Tribuzi.
Esses
dois grandes poetas, que vivem na província e de lá irradiam seu nome e sua
obra para todo o país, dão bem a medida da altitude literária do Maranhão
contemporâneo – tanto na técnica de expressão poética, quanto na profundeza e
originalidade de suas inspirações. Cada um deles segue o seu próprio caminho. Se
Bandeira Tribuzi é mais transparente na forma depurada de seus versos [alguns
deles concebidos sob a lição das elegias camoneanas], Nauro Machado serve,
sobretudo ao mistério da poesia – uma poesia fechada e esquiva que nos obriga a
debruçar sobre ela pra lhe penetrar aos poucos a beleza profunda.
Não
exagerei em afirmar que ambos se situam entre as mais altas vozes da moderna
poesia brasileira. E é desvanecedor reconhecer ainda que outros poetas jovens,
como Lauro Leite Filho, Fernando Braga, Viriato Gaspar, Calos Cunha, Raimundo
Fontenele, Chagas Val, Benedito Buzar, Reginaldo Telles e Ubiratan Teixeira –
para citar apenas alguns – seguem o exemplo de Tribuzi e Nauro no gosto de
iguais dedicações literárias.
Comporão
esses poetas um novo grupo maranhense? Presumo que sim – sobretudo considerando
que a ele igualmente pertencem um João Mohana, um Erasmo Dias, um José Chagas,
uma Arlete Nogueira da Cruz, um Fernando Moreira, um Murilo Ferreira, um Jomar
Moraes, um Américo Azevedo Neto, como romancistas, contistas e ensaístas.
São
Luís tem hoje, no plano da cultura, condições de florescimento e atualização
que não tinha à hora em que se constituiu e afirmou a geração de João Lisboa.
São maiores, assim, as responsabilidades de seus poetas e prosadores.”
E
OUTRA NA FERRADURA
Do livro Politiqueiros, Politicalha,
Politiquice, Politicagem Política do Maranhão, do escritor Benedito Buzar:
ALCOÓLATRA
O jornalista José Chagas, na sua
coluna no Jornal do Dia, endereçou críticas ao deputado Nagib Haickel pelo fato
dele ter se afastado do senador José Sarney e ficado ao lado do governador
Nunes Freire.
Como não era político de levar
desaforo para casa, Nagib pediu a palavra na Assembleia Legislativa para se
defender dos ataques do jornalista e o denunciar por ser boêmio, chegando até a
acusá-lo de ser alcolátra.
O deputado José Brandão, sentado
na primeira fila, pediu um aparte a Nagib para explicar que o nome era
alcoólatra e não alcolátra como ele esta se referindo ao jornalista.
Num rasgo de ferina inteligência,
Nagib não se deu por perdido:
– Para caboclo de Pindaré, como eu, existe uma
diferença entre alcoólatra e alcolátra. Quem bebe cachaça é alcolátra e quem
bebe uísque é alcoólatra.
AVE
PARA AVE
Na qualidade de Ministro do
Trabalho, o senador Jarbas Passarinho veio a São Luís para manter contatos com
as autoridades estaduais.
A Câmara Municipal de São Luís
convidou o ministro para receber uma homenagem. Designado pela Mesa, para saudar
o ministro, o vereador Luís Alves, mais conhecido pelo apelido de Papagaio, começou o seu discurso:
–
A tarefa que me foi dada, Sr. Ministro, é das mais gratas, porque vou falar de
ave para ave. Enquanto Vossa Excelência é Passarinho, eu sou Papagaio. Por isso,
dirijo-me a Vossa Excelência de asas abertas...
BOCA FECHADA
O deputado Maneco Paiva,
representante do município de Pinheiro, vinha sendo criticado pela imprensa por
não discursar na Assembleia Legislativa.
Preocupado com a situação, resolveu
ir ao Palácio dos Leões para ouvir a opinião do governador Pedro Neiva de
Santana, seu conselheiro nas horas de
aflição, e saber sobre a conveniência de fazer um pronunciamento com o sentido
de se livrar das críticas endereçadas a sua atuação.
Após ouvir as apreensões do
parlamentar de Pinheiro, Pedro Neiva de Santana aconselhou:
–
Deputado, fique calado enquanto puder, pois boca fechada não entra mosca e não
cria problema com o governo.
BAIXA E ALTA
Quando o senador Vitorino Freire
abandonou a militância partidária, em 1970, jamais se imaginou que ele voltaria
a ter influência ou poder de decisão na política maranhense.
O prefeito de São Luís, Haroldo
Tavares, participava de uma reunião em que se discutia a sucessão de seu
cunhado – o governador Pedro Neiva de
Santana – na qual Vitorino atuava
desassombradamente. Dele partiu a explicação mais arguta sobre o retorno
triunfal de Vitorino Freire à política maranhense:
–
Quando os militares estavam em baixa, Vitorino investiu neles. Agora, que estão
em alta, colhe juros, dividendos e correção monetária.
COMEMORAÇÃO LITÚRGICA
O governador Pedro Neiva de
Santana não gostava de comemorar seu aniversário no Palácio dos Leões. Avesso a
esse tipo de festa, convidava no máximo seus auxiliares imediatos para um
jantar íntimo na casa de veraneio, na praia de São Marcos.
No último ano de governo, um
prefeito telefonou para o seu Secretário Particular, Oséas Martins, querendo
saber se ia haver alguma festividade no palácio em comemoração ao aniversário
de Pedro Neiva.
Consultado sobre o assunto, o
governador mandou este aviso ao prefeito:
–
Só vai haver hóstia e vinho de missa. E, se ele quiser participar da
solenidade, que trate o quanto antes de se confessar.
COMER BOLO
O município de São Domingos
resultou de um projeto do deputado Gonçalo Moreira Lima. Ao ser criado, Gonçalo
foi à presença de Eugênio Barros para cobrar a nomeação do novo prefeito, pois
havia tomado conhecimento de que o governador estava querendo nomear um
político que não era seu correligionário.
– Governador: estou aqui para lhe
fazer uma pergunta: se Vossa Excelência faz um bolo, gasta ovos, leite, açúcar,
manteiga. Quando pronto, come ou dá para outros comerem?
Eugênio respondeu:
– Claro que vou querer comer o bolo.
Gonçalo Moreira Lima voltou à
carga:
–
Assim como Vossa Excelência preparou o bolo, eu preparei o município de São
Domingos. Portanto, acho que tenho o direito de indicar o novo prefeito.
CILADA BRIGADEIRISTA
Na eleição de 1946, para
Presidente da República, em pleno processo de redemocratização do país, eram
candidatos o general Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD, e o brigadeiro Eduardo
Gomes, pela UDN. A campanha eleitoral no Maranhão estava violenta entre os
vitorinistas e oposicionistas.
Em Codó, num grande baile popular,
promovido pelos correligionários do candidato do PSD, em que estaria presente o
coronel Sebastião Archer da Silva, os brigadeiristas tramaram uma cilada aos
vitorinistas e contrataram um sanfoneiro para executá-la.
No momento que os vitorinistas
entraram no salão da festa, o sanfoneiro começou a executar a música com dinheiro ou sem dinheiro, mas com a
seguinte letra:
Com dinheiro ou sem dinheiro
Eu vou votar
no brigadeiro
Eu não sou
filha da puta
Para votar no
Gaspar Dutra
O
baile terminou em pancadaria entre os adeptos de Dutra e do brigadeiro.
CÓCORAS
Um dos candidatos mais falados à
sucessão do governador José Sarney era o deputado federal Henrique de La Roque
Almeida.
Modesto e humilde, sempre que o
assunto vinha à tona, procurava não comentá-lo para evitar que se tornasse alvo
de pressões políticas.
Numa de suas visitas a Imperatriz,
Sálvio Dino perguntou se a sua candidatura ao governo do estado estava de pé.
La Roque humildemente retrucou:
– Está de cócoras.
Pesquisa e texto final:
Raimundo Fontenele
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