5 de out. de 2017

RIDENDO CASTIGAT MORES

           RINDO  CASTIGA-SE OS COSTUMES

           É aqui na Coluna QUARTA FEIRA É DIA DE RF, do nosso blog LITERATURA LIMITE (não deixe de acessá-lo www.literaturalimite.com.br), que você encontra a velha e nova e sempre boa Literatura, bem como assuntos atuais, todos eles relacionados com a cultura, a política, a sociedade brasileira, em toda a sua complexidade.
         Vejam só: estamos a um ano exatamente das eleições e nossos parlamentares chafurdam na iniquidade de suas leis e decisões, procurando dar um aspecto de moralidade ao que é baixo e sórdido.
         No fundo, procuram salvar e estender seus mandatos por mais quatros anos. Tudo o que fazem é pensando na reeleição. O Brasil e o povo que “se exploda”.
         Aqui e ali, o Senado vai lá e revisa, corrige algumas trapaças mais berrantes. Mas a diferença moral e política da Câmara Alta para a Câmara Baixa é insignificante e se pode medir em míseros centímetros.
         Seja na grande mídia ou nas redes sociais um olhar atento, abrangente constata que a maioria dos brasileiros está num poço sem fundo: a primeira cumpre uma agenda globalista terrível, em que se incluem alguns poucos magnatas, bancos, e organizações políticas a serviço desse capital financeiro, político e cultural.
         ONU, UNESCO, OEA servem a este multiculturalismo de uma esquerda que se disfarça, que assume formas diversas para fincar raízes e dominar a partir das escolas, universidades, entidades e eventos culturais, como exposições, festivais, encontros musicais, jornadas literárias, cujo público alvo, se torna visível isto agora, são as crianças indefesas e os adolescentes dispostos a tudo para reafirmar e formar suas personalidades.
         Percebendo que não podem mais fazer suas “revoluções” pelas armas, e sentindo que outras forças sociais caminham no sentido inverso e começam a questionar, boicotar, enfrentar e combater esses grupos extremistas e radicais, voltaram-se contra aquilo que representa o coração e o futuro da nossa sociedade que é a infância. E não se enganem: umas das agendas dessa turma da LGBT é, não por acaso, a liberação da pedofilia e práticas sexuais não convencionais, tentando arrancar pela raiz alguns valores fundamentais da civilização humana. 
          E imaginem: o tema desta matéria é o humor. O humor político que tanta falta faz neste início do século XXI aqui em nossa terra. Lembro o famoso Sérgio Marcus Rangel Porto, o Sérgio Porto. Cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro, mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, com o qual assinou os três volumes de uma das obras primas do humor político brasileiro: FEBEAPÁ – FESTIVAL DE BESTEIRA QUE ASSOLA O PAÍS. Publicados em 1966, 1967 e 1968, a Companhia das Letras reuniu os três volumes em um só, publicado em 2015.  Na próxima quarta nos deteremos mais no conteúdo dessa obra que além de muito humor é também uma página viva da nossa história, principalmente os anos da chamada revolução de 64, na verdade golpe e, depois, ditadura militar, que ele batizou, com o sarcasmo que lhe era característico,  de “a redentora”.
         Outro escritor que enveredou pelo humor político foi o jornalista e escritor alagoano Sebastião Nery, autor da série de livros Folclore Político, pois ele mostra que existem duas histórias políticas: uma é a oficial, pomposa e solene, que se vê no noticiário dos jornais e das tevês, que está nas revistas, com declarações estudadas e calculadas pelos políticos. Denúncias, articulações, tramas e notas nem sempre verídicas, tudo coberto por um grande manto de grave seriedade, e também, de uma certa e velada hipocrisia; a outra, é risonha, marota, debochada, contada em segredo  nos gabinetes fechados, na sala do cafezinho do Senado e da Câmara, nos grotões mais distantes e até nas alcovas. Sobre a obra de humor político deste ex-deputado e jornalista voltaremos a falar em outra ocasião.
        
             Millôr Fernandes é hors concours. Filósofo, escritor, tradutor, teatrólogo, um verdadeiro gênio da raça que é também um dos meus frasistas preferidos. Realizou, e muito bem, a célebre expressão latina “ridendo castigat mores”, “rindo se corrige os costumes”, e ele não poupou nem políticos, nem movimentos, seguindo aquela tradição do Boca do Inferno, o temível Gregório de Mattos.
         Mas, encerramos aqui essa cantilena toda com o precursor do humorismo na política brasileira: o jornalista e escritor Apparício Fernando de Brinkernoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé, nascido na cidade de Rio Grande em 29 de janeiro de 1895 e falecido no Rio de Janeiro em 27 de novembro de 1971.
         Apparício iniciou-se no humorismo ainda estudante num internato em São Leopoldo, em 1908, para onde fora mandado, no jornalzinho “Capim Seco”, onde satiriza a disciplina rígida do colégio dos padres jesuítas.
         Em 1918 abandona o curso de Medicina e começa a escrever, tendo publicado por essa época sonetos e artigos em jornais e revistas.
         Em 1925, já no Rio de Janeiro, entra para o jornal O Globo de Irineu Marinho, e após a morte deste foi convidado por Mário Rodrigues (pai do fenomenal Nelson Rodrigues) para ser colaborador do jornal “A Manhã”.
         Apparício Torelly estreou na primeira página, em dezembro daquele ano, com seus sonetos de humor que tinham como tema geralmente um político da época. Sua coluna fez tanto sucesso que, em 1926, ele passou a assinar uma coluna também na primeira página como o nome de “A Manhã tem mais...”
         Neste mesmo ano de 1926 criou o jornal semanário que se tornaria o jornal de humor mais popular e de maior sucesso da história do Brasil. No estilo de paródias, uma de suas marcas favoritas, o jornal se chamava A Manha,  usando a mesma tipologia do jornal em que trabalhava, e ele simplesmente suprimiu o til, fazendo aí a diferença, reforçada com a frase ladeando o título: “Quem não chora, não mama”.
         Sabem como e porquê passou a chamar-se de Barão de Itararé? É que durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem em direção à capital federal, então o Rio de Janeiro, a imprensa alardeou que haveria uma batalha sangrenta em Itararé e Aporelly não ficou de fora desta tendência também noticiando o fato.
         Diziam que esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis ao presidente Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas,  vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para a tomada do poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo e Paraná, mas antes que houvesse a batalha “mais sangrenta da América do Sul”, fizeram acordos. Uma junta governativa assumiria o poder no Rio de Janeiro e assim não houve nenhum conflito. Apparício, já usando o título de Barão de Itararé, comentaria este fato mais tarde da seguinte maneira:
         “Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer  o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando... e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de     nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, a batalha que não houve”.
         Na verdade em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara  Duque nas páginas do seu semanário A Manha:
         “O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui? O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem mas não briga e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança.       E agora eu, que brigo e danço conforme a música”.
         Mas como ele próprio anunciaria semanas depois, “como prova de modéstia, passei a Barão”.
         Muitos anos depois, quando surgiu O PASQUIM, seus criadores e editores Jaguar, Millôr, Ziraldo e o demais não cansavam de afirmar que o Barão de Itararé era uma espécie de patrono d`O Pasquim, pois realmente foi ele o grande pioneiro e criador do jornalismo de humor na política brasileira.
         A seguir, 40 frases do nosso grande Barão de Itararé:
O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
Quem empresta, adeus.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
O fígado faz muito mal à bebida.
O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
Quem não muda de caminho é trem.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

Pesquisa e texto final:
Raimundo Fontenele

Nenhum comentário:

Postar um comentário