17 de out. de 2019

CORINGA (O FILME) OU A RISADA MORTAL


Por Natan Castro


Seria hilário se não fosse trágico, o Coringa em questão interpretado pelo grande ator Joaquim Phoenix irmão de outro grandíssimo ator de uma geração anterior o já falecido River Phoenix, é de longe a mais instigante encarnação cinematográfica do grande inimigo do Homem Morcego. O Coringa de Heath Ledger após Joaquim Phoenix é uma frágil lembrança na memória dos amantes da HQ. Quase tudo é impressionante na película de Todd Phillips, a ultraviolência de Gotham revelada pelas lentes do diretor, acaba por colocar os velhos clichês da história do Batman e seu arqui-inimigo em segundo plano. A narrativa que apresenta o palhaço como vitima de uma sociedade reflexo de mazelas políticas, é sobreposta a uma fotografia que supervaloriza o clima de tragédia e caos que envolve Arthur Fleck do inicio ao fim do filme. Junte-se a isso a magistral atuação de Joaquim Phoenix, tudo no Coringa de Phoenix é triste e doentio, a magreza, a voz com um tom abaixo, o andar e claro a gargalhada inconveniente que vez ou outra pode surgir, seja em momentos alegres ou tristes, mas como todo o enredo é delineado numa linha do tempo tétrica, o riso apenas expõe a alma atormentada de Arthur Fleck.


Existe na sociedade pós-moderna atual um Artur Fleck a cada quarteirão, seria injusto não afirma a inevitabilidade da crueza real da personagem de Todd Philips, eles existem e são milhares em vários continentes, um batalhão de personas vitimas do sistema incapaz de detectar seus próprios erros. Todd Philips ainda que implicitamente não abre mão de acertar um golpe baixo em posturas tanto de esquerda como de direita, quando chama atenção para o glamour da classe alta de Gotham e com mesma veemência lembra dos perigos por detrás das ideologias de viés anárquico.   

O coringa de 2019 é uma obra prima instantânea por nos assustar com um vilão que estamos acostumados a cruzar todos os dias, ainda que o espetáculo de terror da convivência coletiva tenha ocultado nossa própria humanidade, o filme ousa nos lembrar que quase sempre tem algo de muito errado da porta pra dentro de nossas casas.


           

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