30 de out. de 2016

POEMA DO AMOR EM DESCAMINHO




POEMA DO AMOR EM DESCAMINHO
1
há nas madeixas dos cabelos lindos
o mesmo gozo de peixes

novamente dentro dos olhos
tens aves rebrilhando
poucas gaivotas
fixas
me fitando
há no sorriso a face das paisagens
teus lábios trazem rios águas mares
a tua voz pungente fere a alva

2
teu rosto é como o rosto das planícies

3
tomar-te as mãos planuras sobre a terra
neste verde de ser que respiramos
úmidos de amor
que coisa respiramos?

4
atravessar-te lentamente 
qual navio singrando as águas
e penetrando mares não sonhados

5
reter-te o pulso grave
(grávido de fogo)
quando silenciosa e nua
tiveres no olhar bronzes talhados

6
nadador em céus de sangue
piloto de aviões tragados
marinheiro de sombras naufragáveis

7
quem sentirá 
no vago coração
folhas de duras lâminas
cortando
cortando
cortando?

Raimundo Fontenele
(do livro Pelos Caminhos Pelos Cabelos, edição do autor, Porto Alegre, 1982)

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