15 de nov. de 2016

PÍLULAS DE VIDRO DO DR. FONTE

Desgraça pouca é bobagem para quem, em plenos anos sessenta, era parte da juventude que com a mão direita fazia gestos de “paz e amor”, empunhava flores, e com o coração a mil cantava a chegada da Era de Aquarius. Naquele sonho, depois transformado em uma mistura de pesadelo com delirius tremens, parecia que o paraíso era logo ali, bastava dobrar a próxima esquina: da Quinta Avenida, da Rua do Passeio, da Praça do Ferreira, da Rua de Colinas, qualquer esquina, enfim.
Mas o que a gente viu chegar foi a década de setenta com as Brigadas Vermelhas, o grupo Baader-Meinhof, Os Montoneros, Tupamaros, VAR-Palmares, semeando as guerrilhas urbanas e rurais, e a brutal repressão policial que se seguiu.
Nos oitenta o rock virou pop, que nada mais é que o rock`n`roll com muito açúcar e pitadas de chantily, um negócio meio intragável para cérebros pensantes, mais parecido com uma legião de duplas e cantores sertanejos, sejam universitários ou analfas como a maioria.
Nos noventa em boca fechada não entra mosca.
Anos dois mil: ”companheiros, a luta continua”.
Dois mil e dezesseis: crackeiros tomaram conta das ruas, praças, avenidas, viadutos e universidades públicas das principais metrópoles, mundo afora.
Era de Aquarius? Segura, que lá vem porrada por aí!...

Raimundo Fontenele

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