Uma
época realmente pródiga para o nosso Maranhão. Não podemos esquecer que uma
economia sólida, uma organização política saudável ou sadia, e sobretudo a
intensificação de um processo educacional permitem que os talentos individuais
se manifestem e se desenvolvam.
E
no segundo império o Maranhão gozava de um grande prestígio intelectual e
cultural, possuía um comércio dos mais florescentes, a própria Praia Grande,
mais do que hoje com o Reviver, fervilhava de embarcações no atracadouro da
Rampa Campos Melo, com um intenso intercâmbio comercial.
Os
casarões, os sobradões, os mirantes, os azulejos, tudo isso traduz parte de uma
herança colonial imorredoura, pois ali está a arquitetura portuguesa, com sua ancestralidade
que nos antecedeu e, de certa forma, nos forjou e preparou para os dias daquela
glória vivida, e depois veio a decadência
e esses anos em que o Maranhão mergulhou na pobreza e exibe índices alarmantes
de indicadores sociais.
Claro
que há uma elite econômica, um número reduzido de privilegiados. Mas ela é
perversa consigo mesma, imaginem o destino dos milhares de famintos e miseráveis,
explorados e abandonados, que engrossam as filas dos desempregados, dos
atirados em Pedrinhas e outras masmorras maranhenses.
E
agora se foi o último grande poeta e intelectual maranhense que representou uma
época. E isso não é apenas a sorte da sociedade maranhense, também a sociedade
brasileira padece desse mal.
O
que a sociedade brasileira pode exibir ao mundo são milhões de seres
lobotomizados ideologicamente, que as nossas cátedras acadêmicas e
universitárias expelem anualmente no mercado da mais valia. São os estadistas
políticos com a mesma altura moral dos anões de circo. Os embusteiros tipo
Renan. E o gangster-mor que continua solto.
Vos
ofereço Coelho Neto, em nome do Maranhão de um passado mais rico, mais digno,
mais nobre. E enquanto isso vocês, em troca desses nossos homenageados mensais,
me oferecem, quer dizer, a mim e ao mundo, os dinossauritos e seus arautos de
luxo e de pinguela: Waldyr Maranhão e Weverton Rocha. Porra!, um dia vocês me
pagam!
Henrique
Maximiano Coelho Netto nasceu em Caxias,
Maranhão, no dia 20 de fevereiro de 1864. Filho do português Antônio da Fonseca
Coelho e da índia Ana Silvestre Coelho. Aos seis
anos foi, com a família, morar no Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio
Jordão.
Em 1870, a família
foi morar no Rio de Janeiro. Foi aluno do Colégio Pedro II. Estudou Medicina e
Direito, mas não concluiu nenhum dos cursos. Ainda
jovem entrou na Faculdade de Medicina, mas não permaneceu por muito tempo, por
não se adaptar à frieza da morte e da anatomia.
Então com 18 anos, matriculou-se na Faculdade
de Direito de São Paulo, de onde saiu por se desentender com um professor,
transferindo-se para a Faculdade de Direito do Recife, mas as lutas
abolicionistas e republicanas não o deixaram concluir o ensino superior.
Casou-se
com Maria Gabriela Brandão, logo após a Proclamação da República, tendo como
padrinho o próprio Presidente, Deodoro da Fonseca. O casal teve treze filhos,
dos quais só sete sobreviveram.
Em 1885, conheceu
José do Patrocínio, que o introduziu na redação do jornal Gazeta da Tarde e no
periódico A Cidade do Rio. Participava de movimentos abolicionistas e
republicanos, ao lado de José do Patrocínio que
o introduziu em sua carreira de jornalista na Gazeta da Tarde, formando com
este e mais alguns amigos o grupo da "boêmia literária" do Rio de
Janeiro.
Também
foi Diretor dos Negócios, da Justiça e Legislação do Estado do Rio de Janeiro
(1891); professor de História das Artes, na Escola Nacional de Belas-Artes
(1892); redator de debates do Senado (1893); professor de literatura no Ginásio
de Campinas (1901) e no Colégio Pedro 2o (1907); deputado federal pelo Maranhão
em três legislaturas (1909-1921); professor da Escola de Arte Dramática
Municipal e também seu Diretor (1910).
Seu
livro de estréia foi Rapsódias, de 1891, quando passou a desenvolver uma
intensa carreira literária. Escritor fértil, sua obra consta de 130 livros,
entre os quais estão romances, cerca de 650 contos, crônicas, fábulas, teatro e
memórias.
Estas
são algumas de suas obras mais representativas: "A Capital Federal"
(1893); "Rei Negro" (1914); "Mano" (1924);
"Fogo-Fátuo" (1929) e Impressões de
um Sertanejo" (1893).
Em 1896, participa
das primeiras reuniões com objetivo de criar a Academia Brasileira de Letras,
onde ocupou a Cadeira nº 2.
E também participa
da vida política nacional, tendo sido eleito Deputado Federal pelo Maranhão,
para a legislatura de 1909 a 1917.
Pela sua extensa obra literária, em 1928, foi consagrado como
“Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. De sua extensa obra literária,
destacam-se também "Fruto Proibido", "O Rei Fantasma",
"Contos Pátrios", "As Estações", "Mistério do
Natal" e “A Cidade Maravilhosa”. Também poeta, escreveu um soneto que se
tornaria famoso "Ser Mãe".
Além
de assinar trabalhos com seu próprio nome, escrevia sob diferentes pseudônimos,
entre eles Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Amador Santelmo, Blanco Canabarro,
Charles Rouget, Democ, N. Puck, Tartarin, Fur-Fur e Manes.
Henrique Maximiniano Coelho Netto morreu no Rio de Janeiro, no
dia 28 de novembro de 1934.
Para
seu filho, Paulo Coelho Netto, ele possuía "o mais rico vocabulário da
língua, calculado em 20 mil palavras". Já Antonio Candido diz que ele
tinha a "imaginação relativamente escassa e a capacidade de observação um
tanto apressada ou superficial".
Sua
linguagem rebuscada, estilo opulento e luxuriante (Brito Broca), causou
repulsa, especialmente nos modernistas, que dele debochavam: "O mal foi eu
ter medido o meu avanço sobre o cabresto metrificado e nacionalista de duas remotas
alimárias - Bilac e Coelho Neto...", diz Oswald de Andrade, no prefácio de
Serafim Ponte Grande.
AFORISMOS
A vida é a variedade. Assim como o paladar
pede sabores diversos, assim a alma exige novas impressões.
A verdadeira caridade é impalpável como a luz
e invisível como o perfume: dá o calor, dá o aroma, mas não se deixa tocar nem
ver.
A mulher deve ser lentamente decifrada, como o
enigma que é: encanto a encanto.
Quem cultiva a razão aumenta os seus bens e
diminui os seus males.
Quem deixa para fazer depois o que pode fazer
logo, perde o que nunca mais encontrará.
É na educação dos filhos que se revelam as
virtudes dos pais.
A educação pelo medo deforma a alma.
O braço constrói, o espírito eterniza.
A
mentira é um manto esfarrapado e curto, que não consegue jamais esconder a
verdade. A mentira é como uma baforada de fumo que logo se desmancha no ar.
Caetano Veloso usou esse início do soneto de Coelho Neto para escrever: "Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração dos filhos..."
SER MÃE
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.
Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!
Todo o bem que a mãe goza é bem do
filho, espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.
Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!
Todo o bem que a mãe goza é bem do
filho, espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
Pesquisa e texto
final:
Raimundo
Fontenele
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