A
coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (www.literaturalimite.com.br) depois de uma série de três livros aqui divulgados
volta ao seu leito inicial, ao rio literário de suas primeiras águas: a
divulgação da literatura e de seus criadores. Hoje trazemos o poeta maranhense
Fernando Braga, nascido em São Luís do Maranhão, onde iniciou sua exitosa
carreira literária publicando ali os livros de poesia Silêncio Branco (1967),
Chegança (1970), Ofício do Medo (1977). Depois o poeta mudou-se para Brasília e
lá publicou outros tantos livros de poemas, entre os quais Planaltitude (1978),
O Exílio do Viandante (1982), Campo Memória (1992), mais 2 livros publicados em
São Luís que foram O Sétimo Dia (1997) e Poemas do Tempo Comum (2009) e O Puro
Longe, de 2012, este editado em Caldas Novas, GO, para onde o poeta mudou-se de
armas, bagagens, e muita poesia. Tem vários outros livros de ensaios publicados, tanto literários
quanto científicos, e a sua presença no nosso Blog é motivo de grande alegria e
indisfarçável orgulho, pois, além do poeta maior que se tornou, é também a presença de um velho
e grande amigo. Vamos lê-lo, com ânsia e sofreguidão. (RF)
O que
se pode notar da leitura de MAGMA, o livro de poesia de Fernando Braga, editado
em 2014, mas que somente agora me chegou às mãos, é que este é um trabalho de
quem possui cultura, saber, erudição, conhecimento, sabedoria, vocábulos
parecidos, porém dessemelhantes.
Mesmo
disposto a enfrentar qualquer crítica mais exigente, preparado para deixar-se
esquadrinhar por estudiosos ou críticos que costumam colocar o trabalho
literário à luz da hermenêutica mais precisa, com o intuito de arrancar dali,
daquela matéria viva e poética, os signos e significados que lhes permitam
louvar ou maldizer, a intenção do poeta Fernando Braga passa ao largo destes
sentimentos mais condizentes com a juventude, a falta de experiência, o desejo vazio de fama e glória, a busca de algum sucesso passageiro.
Com o
domínio de uma vasta cultura que é o compreender e o conhecer as várias
manifestações do espírito humano, sejam as criativas, no mundo das artes, de teor erudito, ou
aquelas manifestações nascidas nas entranhas das camadas mais populares; entregue
à reflexão e à meditação que é o aprofundamento lá na raiz e no cerne mesmo
onde as coisas nascem, se desenvolvem, crescem, se transformam e que o aproxima
daquilo que é motivo maior de sua busca, a sabedoria, pois é esta que lhe
permite fugir do pedantismo e modismos literários, para penetrar no reino da
simplicidade onde tudo é santo e mesmo o profano alcança, pela magia da palavra
e do verso, a aura de sacralidade, este sim um bem supremo almejado por aqueles
que fizeram desta busca o seu ideal de vida.
É
nesta esfera que o poeta Fernando Braga adentrou, nessa continuação da sua
jornada tocada por uma inabalável fé cristã, um messianismo verdadeiro de levar
aos outros a sua mensagem de amor pacificado, de comunhão com tudo que é humano
e vivo, com as coisas, os seres, as plantas, os animais, os bichos, reinos terrestres
e universos invisíveis, que se situam num outro plano que não apenas o mental,
mas além dele, onde só o espírito pode tocar.
Foi
este o poeta Fernando Braga que com grata satisfação e imensa alegria vim a encontrar
neste seu livro tão essencial, em que ele demonstra não ser apenas um artesão
de palavras e versos ocos de mensagem e de sentido, mas um artista que consegue
extrair da sua lira lírica o canto benfazejo, quase uma oração subindo ao mais
alto dos céus em que vivem outros espíritos sofredores e criadores, mas
redimidos, e são tantos que se torna impossível nomeá-los. Apenas acrescentar
que o poeta Fernando Braga, com toda certeza, é um deles.
MAGMA
Esta é minha palavra,
o meu conjunto confuso
e inextricável de elementos...
É o poema que me busca
e me trás para a superfície,
para que eu possa dizer-me
e ouvir-me tantas vezes,
e expor-me a pensamentos
aonde sou sujeito e objeto...
Este é magma do meu
logos racional,
do meu dever-ser
mais que perfeito e natural
poético, crístico e complexo...
SALÃO DA LUZ
Estou no Salão da Luz,
no Boulevard
St. Germain
sob o
pavilhão francês...
Nada me
sobe à cabeça,
mas desce-me
aos olhos...
A tudo
participo impassivo,
Discursos,
teses e menções.
Estou no
Salão da Luz,
lembranças
aos bandos,
buscam-me
dentro d´alma...
Estou no
Salão da Luz,
de cavaignac
e terno escuro,
e tímido
como sempre,
diante da
rispidez clássica.
Estou no
Salão da Luz,
sozinho dentro
de mim,
eu comigo
e tão longe!...
JOVEM PARA SEMPRE
Sou ainda
aquele mesmo
menino de
ontem,
que andava
de bicicleta,
que corria
em cima de patins,
que jogava
bola rua,
que tirava
lanças de bondes
e tomava
banhos de chuva...
Sou ainda
aquele mesmo
menino de
ontem,
que
empinava papagaios,
que
gostava de circos,
armados em
chãos vazios,
que
escrevia versos,
brincava
de preto fugido
e lia
livros de seu pai...
Sou ainda
aquele mesmo
menino de
ontem,
onde ele
comigo,
estivemos
a estudar
em terras
distantes,
que
escreveu livros
e foi preso
sem motivo,
que
plantou árvore
e fez
filhos,
que
guardou a fé
e
completou a volta...
Sou ainda
aquele mesmo
menino de
ontem,
que canta
no destempero
desta
lira,
porque
cantar é existir...
Sou ainda
aquele mesmo
menino de
ontem,
com muitas
marcas da vida,
mas ainda
o mesmo Fernando...
Nenhum comentário:
Postar um comentário