25 de jan. de 2017

FERNANDO, POETA DE OUTRAS ESFERAS

A coluna QUARTA É DIA DE RF do nosso blog Literatura Limite (www.literaturalimite.com.br) depois de uma série de três livros aqui divulgados volta ao seu leito inicial, ao rio literário de suas primeiras águas: a divulgação da literatura e de seus criadores. Hoje trazemos o poeta maranhense Fernando Braga, nascido em São Luís do Maranhão, onde iniciou sua exitosa carreira literária publicando ali os livros de poesia Silêncio Branco (1967), Chegança (1970), Ofício do Medo (1977). Depois o poeta mudou-se para Brasília e lá publicou outros tantos livros de poemas, entre os quais Planaltitude (1978), O Exílio do Viandante (1982), Campo Memória (1992), mais 2 livros publicados em São Luís que foram O Sétimo Dia (1997) e Poemas do Tempo Comum (2009) e O Puro Longe, de 2012, este editado em Caldas Novas, GO, para onde o poeta mudou-se de armas, bagagens, e muita poesia. Tem vários outros livros de ensaios publicados, tanto literários quanto científicos, e a sua presença no nosso Blog é motivo de grande alegria e indisfarçável orgulho, pois, além do poeta maior que se tornou, é também a presença de um velho e grande amigo. Vamos lê-lo, com ânsia e sofreguidão. (RF)
 O que se pode notar da leitura de MAGMA, o livro de poesia de Fernando Braga, editado em 2014, mas que somente agora me chegou às mãos, é que este é um trabalho de quem possui cultura, saber, erudição, conhecimento, sabedoria, vocábulos parecidos, porém dessemelhantes.
Mesmo disposto a enfrentar qualquer crítica mais exigente, preparado para deixar-se esquadrinhar por estudiosos ou críticos que costumam colocar o trabalho literário à luz da hermenêutica mais precisa, com o intuito de arrancar dali, daquela matéria viva e poética, os signos e significados que lhes permitam louvar ou maldizer, a intenção do poeta Fernando Braga passa ao largo destes sentimentos mais condizentes com a juventude, a falta de experiência, o desejo vazio de fama e glória, a busca de algum sucesso passageiro.
Com o domínio de uma vasta cultura que é o compreender e o conhecer as várias manifestações do espírito humano, sejam as criativas,  no mundo das artes, de teor erudito, ou aquelas manifestações nascidas nas entranhas das camadas mais populares; entregue à reflexão e à meditação que é o aprofundamento lá na raiz e no cerne mesmo onde as coisas nascem, se desenvolvem, crescem, se transformam e que o aproxima daquilo que é motivo maior de sua busca, a sabedoria, pois é esta que lhe permite fugir do pedantismo e modismos literários, para penetrar no reino da simplicidade onde tudo é santo e mesmo o profano alcança, pela magia da palavra e do verso, a aura de sacralidade, este sim um bem supremo almejado por aqueles que fizeram desta busca o seu ideal de vida.
É nesta esfera que o poeta Fernando Braga adentrou, nessa continuação da sua jornada tocada por uma inabalável fé cristã, um messianismo verdadeiro de levar aos outros a sua mensagem de amor pacificado, de comunhão com tudo que é humano e vivo, com as coisas, os seres, as plantas, os animais, os bichos, reinos terrestres e universos invisíveis, que se situam num outro plano que não apenas o mental, mas além dele, onde só o espírito pode tocar.

Foi este o poeta Fernando Braga que com grata satisfação e imensa alegria vim a encontrar neste seu livro tão essencial, em que ele demonstra não ser apenas um artesão de palavras e versos ocos de mensagem e de sentido, mas um artista que consegue extrair da sua lira lírica o canto benfazejo, quase uma oração subindo ao mais alto dos céus em que vivem outros espíritos sofredores e criadores, mas redimidos, e são tantos que se torna impossível nomeá-los. Apenas acrescentar que o poeta Fernando Braga, com toda certeza, é um deles. 
MAGMA
Esta é minha palavra,
o meu conjunto confuso
e inextricável de elementos...
É o poema que me busca
e me trás para a superfície,
para que eu possa dizer-me
e ouvir-me tantas vezes,
e expor-me a pensamentos
aonde sou sujeito e objeto...
Este é magma do meu
logos racional,
do meu dever-ser
mais que perfeito e natural
poético, crístico e complexo...

SALÃO DA LUZ
 Estou no Salão da Luz,
no Boulevard St. Germain
sob o pavilhão francês...
Nada me sobe à cabeça,
mas desce-me aos olhos...
A tudo participo impassivo,
Discursos, teses e menções.
Estou no Salão da Luz,
lembranças aos bandos,
buscam-me dentro d´alma...
Estou no Salão da Luz,
de cavaignac e terno escuro,
e tímido como sempre,
diante da rispidez clássica.
Estou no Salão da Luz,
sozinho dentro de mim,
eu comigo e tão longe!...

JOVEM PARA SEMPRE
Sou ainda aquele mesmo
menino de ontem,
que andava de bicicleta,
que corria em cima de patins,
que jogava bola rua,
que tirava lanças de bondes
e tomava banhos de chuva...
Sou ainda aquele mesmo
menino de ontem,
que empinava papagaios,
que gostava de circos,
armados em chãos vazios,
que escrevia versos,
brincava de preto fugido
e lia livros de seu pai...
Sou ainda aquele mesmo
menino de ontem,
onde ele comigo,
estivemos a estudar
em terras distantes,
que escreveu livros
e foi preso sem motivo,
que plantou árvore
e fez filhos,
que guardou a fé
e completou a volta...
Sou ainda aquele mesmo
menino de ontem,
que canta no destempero
desta lira,
porque cantar é existir...
Sou ainda aquele mesmo
menino de ontem,
com muitas marcas da vida,
mas ainda o mesmo Fernando...

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