5 de mar. de 2017

POEMA DO AMOR DEPOIS

para a amiga Eliene Matos
Dormir pensando em você
uma maneira de não ser
um homem com gesto ou palavra,
sem luz e um escuro na alma
por nunca mais ter você.

Tantos anos se passaram
luas, enchentes, invernos
tantas coisas renasceram
na minha descida aos infernos.

Mas, como Dante, voltei
e mesmo sangrando pensei
que a vida é um dom, é um fado.
E o que importa é viver
mesmo chorando, calado.

Destino do amor é isso,
essa bomba no peito, inflada
que explode a qualquer momento.
Dor e tormento, eis a sina
de  amar-se tanto por nada.

E, no entanto, não cessa,
nem cede a parca esperança.
Mais que amor é uma criança
perdida entre seus brinquedos,
ou um adulto e seus medos
a quem o amor não alcança.

Amar eu te amo, e quanto!
Nem é possível medir,
pois não há régua no mundo
que possa exprimir, num verso,
sentimento tão profundo.

Nem palavra musicada,
nem beijo de língua, estalando,
nem o abraço mais apertado
transmitem mais alegria
ou descompassada euforia
que um coração tresloucado.

Oração, por isso rezo. Oro. Suplico.
Peço perdão, de joelhos.
Falo pelos cotovelos,
arrependido de tudo,
do que fiz e do que já não faço,
do que fui e do que não sou.

Ah, este fardo invisível,
que tanto pesa em meus ombros,
e esta vida toda de enganos
de sofrer por teu amor.

Raimundo Fontenele / Poeta maranhense

Nenhum comentário:

Postar um comentário