Este é o nosso Homenageado do Mês:
VESPASIANO RAMOS. Muitas vezes o brilho incandescente de uma grande estrela
termina por ofuscar o brilho de outras estrelas menores, que se supõe de luz
menos fulgurante, de menor intensidade.
Assim, deixa-se de contemplar estes outros brilhos, entre os quais pode se
encontrar luz de grande fulgor.
No Maranhão, a existência de um poeta
da grandeza e dimensão de Gonçalves Dias parece, numa expressão chula, deixar
seus contemporâneos e sucessores no chinelo. Seria apenas uma meia verdade,
porque por um desses desígnios das Musas, dos Oráculos, dos Deuses, enfim, o
Maranhão é uma terra pródiga de poetas e poesia.
E uma dessas estrelas, aparentemente
menores, é o poeta Vespasiano Ramos. Caxiense, de família pobre de recursos
materiais, e apesar de uma existência curtíssima, apenas 32 anos, e tendo
produzido apenas uma obra, o livro Cousa Alguma, além de outros trabalhos
publicados em revistas e jornais da época, o poeta conseguiu fazer com que
alguns de seus poemas se tornassem verdadeiros clássicos da poesia romântica
brasileira.
Um destes poemas é o SAMARITANA, de
inspiração bíblica, e que atende a todas as exigências da escola romântica, uma
delas provocar grande emoção e sentimentos intensos de paixão, misericórdia e
toda a lenga lenga de copiosos românticos.
O poema CRUEL apresenta o poeta em toda
a sua plenitude poética, sua técnica refinada, usando de forma inusitada o
recurso da repetição e construindo um dos belos poemas daqueles anos em que
cantar o amor e a paixão, a solidão e o sofrimento, e abandono da amada, e
temperar este abandono e sofrimentos com noitadas de álcool, fumo e sexo, num
tempo em que não existiam os antibióticos, apressou a vida de muitos dos nossos
menestréis.
Enfim, aqui estão alguns poemas que
melhor ilustram o que de Vespasiano Ramos dissemos. Além dos poemas,
apresentamos três trabalhos: um do escritor Jomar Moraes, e dois artigos, um de
Cláudio Paiva e outro do poeta Wybson Carvalho, caxiense como o nosso
homenageado do mês. Interessante que alguns parágrafos iguais estão presentes em
ambos os textos, e ficamos sem saber quem é o verdadeiro autor dos referidos
textos.
Não vai aqui nenhuma crítica, apenas
uma observação: no soneto ÂNSIA MALDITA existiam apenas 13 versos, em todas as
publicações que encontrei, o que me levou a acrescentar ao primeiro quarteto
mais um verso. Embora não esteja à altura dos versos do poeta homenageado,
apenas procurei não tornar disforme uma forma poética que é rígida, a do
soneto, que se compõe de 14 versos, dois quartetos, e dois tercetos. (RF)
Alguma
Biografia
Joaquim VESPASIANO RAMOS, nasceu em
Caxias a 13 de agosto de 1884 e faleceu em Porto Velho (RO), no dia 26 de
dezembro de 1916.
Nasceu nas condições mais humildes e
desde cedo começou a trabalhar no comércio local, no entanto buscando sempre o
saber tornou-se um viajante compulsivo, que o levaria ao conhecimento de outros
povos: durante a sua vida viajou por quase toda a região norte e também pelo
sul do Brasil.
Publicou sua obra poética em diversos
jornais e revistas de seu tempo. É considerado o precursor da literatura em
Rondônia.
Em sua homenagem foi construído um
grande centro recreativo, em Rondônia, e no Maranhão, uma das mais belas praças
da capital recebe o seu nome.
É patrono da cadeira n° 32 da Academia
Maranhense e da cadeira n°40 da Academia Paraense de Letras. Faleceu aos 32 anos
em Porto Velho no estado de Rondônia, sendo sepultado
no Cemitério dos Inocentes. Em homenagem ao centenário de sua morte, seu
jazigo foi restaurado e reinaugurado em 06 de junho de 2016.
VESPASIANO RAMOS: UM POETA ENTERRADO E ESQUECIDO EM
RONDÔNIA
(CLÁUDIO
PAIVA, para revista Momento Brasil - Gente de Opiniao)
Que
ele foi uma personalidade de alto nível cultural, conhecido em todo o Brasil e
exterior, quase todo mundo sabe. O que muita gente não sabe, no entanto, é que
o ilustre e saudoso poeta Vespasiano Ramos viveu os últimos dias de sua vida em
Porto Velho, onde morreu (aos 32 anos de idade) e foi sepultado no dia 26 de dezembro
de 1916, no legendário Cemitério dos Inocentes, na Capital rondoniense.
Até
hoje é uma celebridade admirada e reverenciada por toda essa nova geração de
poetas, dentre os quais citam-se: João Teixeira de Souza (JT), Francisco
Matias, Matias Mendes, Emanuel Pontes Pinto, Sílvio Persivo e a sempre
irreverente Yêdda Pinheiro Borzacov.
Poeta
de um livro só, "Coisa Alguma", com apenas três edições desde 1916,
Vespasiano Ramos alcançou a imortalidade com poesias simples e cariciosa, em
que tão nitidamente se refletem os seus estados de alma.
Filho
de Antônio Lúcio Ramos e Leonília Caldas Ramos, nasceu Joaquim Vespasiano Ramos
(Quincas, na intimidade e nas rodas boêmias), em Caxias, no Maranhão, a 13 de
agosto de 1884, no largo da Igreja de São Benedito, hoje Vespasiano Ramos.
Segundo
o escritor maranhense Walfredo Machado, Vespasiano Ramos "começou a
trabalhar no comércio como caixeiro, desde os 13 anos, interessado pelos
estudos, aprendia sozinho, sem professor, a um canto da loja, nos momentos de
folga, escrevendo versos em papel de embrulho".
No início do século participava de um grupo intelectual formado por Alfredo de Assis Castro, João Rodrigues e Joaquim Luz, época em que criaram o jornal "A Mocidade". Outros jornais surgiram em Caxias, como o "Jornal do Comércio", "O Sabiá", "O Mensageiro", "O Zéphiro" e o "Correio do Sertão", onde eram publicados os versos de Djalma de Jesus - um dos mais conhecidos pseudônimos de Vespasiano Ramos.
No início do século participava de um grupo intelectual formado por Alfredo de Assis Castro, João Rodrigues e Joaquim Luz, época em que criaram o jornal "A Mocidade". Outros jornais surgiram em Caxias, como o "Jornal do Comércio", "O Sabiá", "O Mensageiro", "O Zéphiro" e o "Correio do Sertão", onde eram publicados os versos de Djalma de Jesus - um dos mais conhecidos pseudônimos de Vespasiano Ramos.
Passou
grande parte de sua vida em Belém, para onde afluíram homens de letra como
Humberto de Campos, Lucídio Freitas e Quintino Cunha.
Para a escritora Yêdda Borzacov, Vespasiano Ramos era "sentimental por índole e por condição de vida, torturado por um grande amor sem esperança". Segundo Francisco Matias, o saudoso poeta procurou na poesia uma compensação para os momentos de intimidade com sua alma, nas horas não dissipadas na voragem da sua boêmia.
Para a escritora Yêdda Borzacov, Vespasiano Ramos era "sentimental por índole e por condição de vida, torturado por um grande amor sem esperança". Segundo Francisco Matias, o saudoso poeta procurou na poesia uma compensação para os momentos de intimidade com sua alma, nas horas não dissipadas na voragem da sua boêmia.
A
revelação de um grande poeta lírico, que, mesmo com seus defeitos e descuidos,
pode ser colocado no mesmo plano de um Paul Géraldy e muitos poetas amorosos do
seu tempo, demonstra toda a beleza de seus versos, quando proclama:
É o amor, o amor, a
causa extraordinária
Deste grande sofrer,
desta grande tortura:
Só ele faz penar
minh'alma solitária
No
cárcere de dor desta alta desventura.
Para
Matias Mendes, Vespasiano Ramos "não passou de um suave e delicado
romântico, notando-se em sua poesia repassada de ternura e melancolia o
vestígio daquele legado de tristeza e desalento que nos veio do século
XIX".
Entusiasmado
pelas publicações de "Sombra Pagã" e de "Carvalho
Guimarães", Vespasiano Ramos retornou a São Luís onde residia seu irmão
Heráclito Ramos, também poeta, com o fim de custear sua estada no Rio de
Janeiro e a publicação de "Coisa Alguma". Além do apoio, ainda ganhou
a companhia do próprio irmão. E, das mãos do editor Jacintho Ribeiro dos
Santos, surgiu "Coisa Alguma", em 1916. "Tenho o privilégio de
possuir um volume dessa edição", ressalta Yêdda Borzacov, lembrando que
foram impressos apenas mil volumes.
Segundo
os historiadores porto-velhenses, em 1913, foi fundada a Academia Paraense de
Letras. Carlos Roque, em sua Antologia da Cultura Amazônica, Vol. II, afirma
que Vespasiano Ramos pertenceu a essa Instituição que, muitos anos depois criou
um concurso de poesias com o nome de Vespasiano Ramos que foi o patrono da
Cadeira nº 40, da citada Academia. Elmano Queiroz, ocupante atualmente dessa
Cadeira, fazendo elogio do poeta, diz que "Vespasiano cantou como cantam
os passarinhos, improvisando harmonias, sem partitura escrita, mas em arroubos
sutis de suave inspiração".
Um
fato curioso e que, talvez, poucas pessoas saibam: em 1948, Anísio Viana,
modesto caxiense, juntou algum dinheiro e veio a Porto Velho, com a finalidade
única de depositar flores e acender velas no túmulo do poeta, no Cemitério dos
Inocentes, deixando-se fotografar. Essa foto, segundo o professor Cid Teixeira
de Abreu, se encontra no arquivo da Academia Maranhense de Letras, da qual
Vespasiano Ramos é patrono da Cadeira nº 32.
"A glória de um poeta vem quando
ele passa a ser recitado, na rua, na praça, nas escolas, nos bares e botequins:
é a glória da popularidade. E esta Vespasiano Ramos já tem", acrescenta a
historiadora, que é filha do saudoso doutor Ary Tupinambá Penna Pinheiro, que
também era poeta e escritor.
VESPASIANO RAMOS
Jornal: O Estado do Maranhão (22
de setembro de 2010)
Por: Jomar Moraes
Contava eu vinte e poucos
anos quando, sargento da Polícia Militar, fui designado para servir em Buriti
Bravo, onde assumi as funções de delegado de polícia. As distinções de que me
cumularam naquela então pequena cidade, proporcionaram-me relacionamentos muito
diversos e intensos. Um pequeno grupo de amigos era formado por universitários
filhos da terra, e que ali passavam todos os períodos de suas férias escolares.
Pequena e seleta parcela desse grupo seleto era formada pelos irmãos Hernani
(Farmácia), Cláudio (Direito) e Clóvis Batista Ribeiro (Medicina), todos de
saudosa memória, pois que precocemente falecidos, e ainda por um primo deles,
Ubiracy Fonseca Coelho (Agronomia). Aproximava reciprocamente o grupo, que
comigo formava um quinteto, a acalorada exposição dialética de assuntos e
problemas econômico-sociais, todos do particular interesse de nossas idades, e
muito oportunos, em razão das convizinhanças do Golpe de 64.
Mas para além das
discussões apaixonadas que às vezes nos punham sob passageiro estremecimento,
um ponto de convergência havia, que nos mantinha irmanados: as tertúlias e
serestas lítero-etílicas, em que todos concordávamos acerca da mesma cerveja
estupidamente gelada e, sempre que possível, servida e sorvida a partir de
garrafas de casco preto, preferencialmente vestidas de noiva. Nesses alegres e
memoráveis mutirões boêmios, tocávamos, cantávamos e declamávamos muita poesia.
Repito que declamávamos, porque era mesmo declamação, com todos os efes e erres
que o protocolo da época exigia, que nós nos rejubilávamos ouvindo e fazendo
ouvir os sonetos Ao Cristo, Samaritana, Ânsia Maldita e os poemas Sulamita,
Guerreira, além de outros mais. Do sumarento e apetecível cardápio de iguarias
poéticas eram sempre compulsórias pièces de résistance poemas famosos de
Vespasiano Ramos, o malsinado poeta que arrostou, durante sua breve e sofrida
existência, a dor de ver seu amor publicamente recusado, apesar do recurso
extremo de que lançou mão, após diversas tentativas frustradas de conquistá-lo,
segundo narra testemunha insuspeita e presencial do fato, meu querido e saudoso
amigo Raymundo Carvalho Guimarães (1899-1998), Mundico Leite para os íntimos.
Em seu livro Esparsos
colhidos (São Luís: Sioge, 1986), Mundico Leite, acerca do poeta que muitos
anos depois viria a ser seu patrono (Cadeira 32) na Academia Maranhense de
Letras, conta este episódio que se lhe gravou indelevelmente na memória, a
despeito de o haver presenciado com muito pouca idade: em uma tertúlia
lítero-musical, como costumeiramente realizavam as famílias de Caxias e
alhures, à hora das declamações, adiantou-se a todos os demais o ainda bem
jovem, porém já reconhecido e admirado poeta Vespasiano Ramos, que,
pateticamente ajoelhado, olhos fitos e súplices, dirigiu-se à bela moça Lili Bittencourt,
por quem ardia de paixão, e declamou, entre lágrimas, longo poema repleto de
súplicas que, porém, não lograram demover Lili.
É que, como, na conhecida
poesia de Drummond, Quadrilha, o “Joaquim que amava Lili”, não alcançando ser
por ela amado, a bem dizer “suicidou-se” pela ingestão desregrada de álcool e
de paixão obsessiva, mas Lili terminou casada com João Bastos, “que não tinha
entrado na história”, e, por ironia, era grande amigo do poeta.
Esse poema (Ante uma
Mulher), transcrito por Vespasiano Ramos no álbum de versos de Lourdes Cunha,
ter-se-ia para sempre extraviado, segundo pensava Mundico Leite. Tal não
ocorreu, porém.
É que, miraculosa
providência da musa Érato fez com que o poema aparecesse em Os Novos, Boletim
da Oficina dos Novos, de onde o transcrevi para este livro. Também, enquanto
viveu, Mundico Leite guardou esse poema em sua prodigiosa memória, e fê-lo
reproduzir no seu discurso de posse na AML.
Outro poema longo de
Vespasiano, ausente de seu único livro e julgado de problemática recuperação,
porque jacente em velhos jornais de Belém, é Guerreira, muito declamado nas já
referidas serestas buritibravenses. Encontrar Guerreira numa envelhecida e
pouco legível edição do jornal O País, de Caxias, foi vencer um pequeno, mas importante
combate. E, num certo sentido, voltar aos tempos da juventude em Buriti Bravo.
Se, a exemplo do que disse
o glorioso Bruxo do Cosme Velho (Memórias póstumas de Brás Cubas), o menino é o
pai do homem, possivelmente algum liame genealógico haverá de correlacionar o
jovem de ontem com o velho de hoje, que, por sua própria iniciativa, tomou a si
a tarefa de reeditar, quanto possível acrescentado, o poeta de Samaritana.
Como
sabido, reúne este volume a 4ª edição de Cousa alguma…, único livro publicado
por Vespasiano Ramos, já a poucos meses de sua morte, aos 32 anos de idade.
Reúne ainda a marginália que me foi possível encontrar, e que está reproduzida
na seção Dispersos Reunidos. Com certeza não consegui reunir todos os dispersos
do poeta, que parcialmente jazem em velhos jornais de Belém, Manaus, Porto
Velho e, possivelmente, de Teresina. É tarefa a ser cumprida por quem de
melhores condições que eu disponha.
CEM ANOS SEM VESPASIANO RAMOS
Wybson Carvalho é poeta e membro da Academia
Caxiense de Letras
(Fonte:
O Estado do Maranhão – 26 de dezembro de 2016)
No dia de 26 de dezembro
(segunda-feira), o poeta Vespasiano Ramos, esquecido na sua terra, completa um
século que fora encantado, pois poeta não morre se encanta. Os restos mortais
de Vespasiano Ramos estão repousando no Cemitério dos Inocentes, em Porto Velho
– Rondônia. Patrono da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras, da nº 40
da Academia Paraense de Letras e da nº 05 da Academia Caxiense de Letras, o
caxiense Vespasiano Ramos morreu em Porto Velho (Rondônia).
No estado do Norte, o escritor tem
reconhecimento oficial como homem das letras. Como caxiense, João Castelo
(PSDB), há muito tempo, prometeu trazer para o Maranhão os restos mortais do
escritor caxiense Joaquim Vespasiano Ramos (1884-1916). A promessa de Castelo,
conterrâneo e parente de Vespasiano Ramos, em visita à ACL, foi feita ao
presidente da Academia Caxiense de Letras, Jacques Inandy, e aos seus
confrades: Renato Menezes, Jotônio Viana, Edison Vidigal e Wybson Carvalho,
entre outros presentes à estada de João Castelo à Casa de Coelho Neto.
Mas, na década de 1980, o próprio João
Castelo, quando exercia a função de chefe do Executivo Estadual no Maranhão,
sancionara uma Lei nº 4225, datada, precisamente, de 18 de novembro de 1980,
que autorizava a trasladação dos restos mortais de Vespasiano Ramos, do
cemitério da cidade de Porto Velho, para a cidade de Caxias, sua terra berço.
Naquela época, o Projeto de Lei nº 055/80, fora proposto pelo então deputado
estadual, também caxiense, João Afonso Barata, e, após aprovação legislativa,
devidamente, encaminhado pela Assembleia Legislativa maranhense ao Poder
Executivo do Maranhão. Barata justificara a Lei pela consagração pública aos
homens, que, em vida, em face ao cunho cultural, elevaram o nome do Maranhão
nas letras e nas artes.
Porém, àquela época a imprensa e os
intelectuais da Academia Maranhense de Letras, não fizeram menção alguma sobre
o porquê do não cumprimento da Lei sancionada pelo então governador João
Castelo. Agora, no entanto, os imortais caxienses embora ansiosos pelo
cumprimento da Lei, não poderão mais trasladar os restos mortais do poeta face
ao jazigo no qual repousam os restos mortais do poeta ter sido tombado pelo
patrimônio cultural de Rondônia.
Reconhecimento
em Rondônia
Que ele foi uma personalidade de alto
nível cultural, conhecido em todo o Brasil e exterior, quase todo mundo sabe. O
que muita gente não sabe, no entanto, é que o ilustre e saudoso poeta
Vespasiano Ramos viveu os últimos dias de sua vida em Porto Velho, onde morreu
(aos 32 anos de idade) e foi sepultado no dia 26 de dezembro de 1916, no
legendário Cemitério dos Inocentes, na Capital rondoniense.
Até hoje é uma celebridade admirada e
reverenciada por toda essa nova geração de poetas, entre os quais, citam-se:
João Teixeira de Souza (JT), Francisco Matias, Matias Mendes, Emanuel Pontes
Pinto, Sílvio Persivo e a sempre irreverente Yêdda Borzacov.
Poeta de um livro só, “Coisa Alguma”,
com apenas três edições desde 1916, Vespasiano Ramos alcançou a imortalidade
com poesias simples e cariciosa, em que tão nitidamente se refletem os seus
estados de alma.
Filho de Antônio Lúcio Ramos e Leonília
Caldas Ramos, nasceu Joaquim Vespasiano Ramos (Quincas, na intimidade e nas
rodas boêmias), em Caxias, no Maranhão, a 13 de agosto de 1884, no largo da
Igreja de São Benedito, hoje Vespasiano Ramos.
Para Matias Mendes, Vespasiano Ramos
“não passou de um suave e delicado romântico, notando-se em sua poesia
repassada de ternura e melancolia o vestígio daquele legado de tristeza e
desalento que nos veio do século XIX”.
Entusiasmado pelas publicações de
“Sombra Pagã” e de “Carvalho Guimarães”, Vespasiano Ramos retornou a São Luís
onde residia seu irmão Heráclito Ramos, também poeta, com o fim de custear sua
estada no Rio de Janeiro e a publicação de “Coisa Alguma”. Além do apoio, ainda
ganhou a companhia do próprio irmão. E, das mãos do editor Jacintho Ribeiro dos
Santos, surgiu “Coisa Alguma”, em 1916. “Tenho o privilégio de possuir um
volume dessa edição”, ressalta Yêdda Borzacov, lembrando que foram impressos
apenas mil volumes.
Segundo os historiadores
porto-velhenses, em 1913, foi fundada a Academia Paraense de Letras. Carlos
Roque, em sua Antologia da Cultura Amazônica, Vol. II, afirma que Vespasiano
Ramos pertenceu a essa Instituição que, muitos anos depois criou um concurso de
poesias com o nome de Vespasiano Ramos, que foi o patrono da Cadeira nº 40, da
citada Academia. Elmano Queiroz, ocupante atualmente dessa Cadeira, fazendo
elogio do poeta, diz que “Vespasiano cantou como cantam os passarinhos,
improvisando harmonias, sem partitura escrita, mas em arroubos sutis de suave
inspiração”.
Um fato curioso e que, talvez, poucas
pessoas saibam: em 1948, Anísio Viana, modesto caxiense, juntou algum dinheiro
e veio a Porto Velho, com a finalidade única de depositar flores e acender
velas no túmulo do poeta, no Cemitério dos Inocentes, deixando-se fotografar.
Essa foto, segundo o professor Cid Teixeira de Abreu, se encontra no arquivo da
Academia Maranhense de Letras, da qual Vespasiano Ramos é patrono da Cadeira
número 32.
“A glória de um poeta vem quando ele
passa a ser recitado, na rua, na praça, nas escolas, nos bares e botequins: é a
glória da popularidade. E esta Vespasiano Ramos já tem”, acrescenta a
historiadora, que é filha do saudoso doutor Ary Tupinambá Penna Pinheiro, que
também era poeta e escritor.
Preservar os patrimônios históricos e
culturais faz parte do planejamento turístico da região. Partindo deste
princípio, a Superintendência Estadual do Turismo (Setur), com o apoio da
Academia Rondoniense de Letras, reformou os jazigos de dois ícones da história
de Rondônia.
A solenidade de restauração dos jazigos
históricos do poeta Vespasiano Ramos e do major Emmanuel Silvestre do Amarante
reuniu convidados, autoridades civis e militares, além de membros da Academia
Rondoniense de Letras (ARL) numa tarde do mês de junho deste ano, no Cemitério
dos Inocentes, em Porto Velho.
Durante a solenidade, o superintendente
de Turismo, Júlio Olivar, destacou que a intenção da Setur é salvaguardar o
patrimônio histórico de Rondônia. “Cemitérios são museus a céu aberto e estes
túmulos são verdadeiros monumentos históricos, imprescindíveis para compreensão
da nossa história, Vespasiano no mundo das letras e o major Amarante como
cientista e integrante da Comissão Rondon”, destacou Júlio.
Vespasiano Ramos, nascido na sede do
município de Caxias, no largo da Igreja de São Benedito. Desde sua meninice,
enquanto trabalhava no comércio da Princesa do Sertão, passava o tempo, nas
suas folgas momentâneas, talhando versos em papel de embrulho, solitário em um
canto da loja.
Autodidata, já rapazinho sempre estava
em companhia de rapazes mais velhos e de influentes intelectuais caxienses do
início do século passado e só sentia-se verdadeiramente à vontade em saraus,
tertúlias e assembléias literárias, pois era ali que sua alma sensível e
poética enlevava-se e o seu corpo de estatura média e de pele morena esbanjava
talento e causava admiração nas belas moças caxienses daquela época.
Dentre seus amigos e companheiros,
amigos da poesia e da boemia, podemos elencar os que lhe influenciaram
imensamente: Alfredo Assis de Castro, Joaquim Luz e João Rodrigues (Fundadores
do jornal a Mocidade), Carvalho Guimarães, Miguel Beleza, Milton Vilanova,
Professor Melo Vilhena, Leôncio Machado Filho (Diretor do jornal O Paiz), Nereu
Bittencourt, Durval Vidigal, Cromwel Carvalho (Editor do jornal O Bloco),
Raimundo Costa Sobrinho (Proprietário do jornal O Maranhão) e o velho
Jornalista Luís José de Mello (Diretor-proprietário do Jornal de Caxias).
Segundo Raymundo Carvalho Guimarães, da
Academia Maranhense de Letras, Vespasiano Ramos escrevia para todos os jornais caxienses
e maranhenses da época e “publicava os seus versos, não só sob o nome como
pseudônimos diversos, entre os quais o mais popularizado o de Djalma de Jesus”.
Ademais, a pesquisa histórica comprova que entre os anos de 1903 e 1916,
Vespasiano Ramos colaborou significativamente como os seguintes jornais
caxienses: O Zéphiro, Correio do Sertão, O Janota, O Parnaso, O Independente, O
Binóculo, Jornal do Comércio, O Parthenon, A Luz, A Gruta de Lourdes, A Pena, O
Mensageiro, A Renascença, O Sabiá, O Lilaz, O Caixeiro, Belo Horizonte e O
Bloco.
Em 1916, Vespasiano Ramos desloca-se
até o Rio de Janeiro para a publicação de seu livro “Cousa Alguma”, que foi
editado por Jacintho Ribeiro dos Santos, tendo sido recebido com grande
receptividade nos meios literários da Cidade Maravilhosa. Muitos intelectuais
da época teceram altos elogios à grandiosa obra do jovem caxiense. Osório Duque
Estrada, Carvalho Guimarães, do Jornal do Brasil, Alberto de Oliveira, Humberto
de Campos, Goulart de Andrade, Felix Pacheco, Medeiros de Albuquerque dentre
muitos outros intelectuais e eruditos reconheceram, então, a precocidade do
autor de Cousa Alguma, bem como viram nele o herdeiro mais próximo de Gonçalves
Dias.
Ainda em 1916, Vespasiano Ramos
deslocou-se do Rio de Janeiro para Belém e, logo após, Manaus e, depois, Porto
Velho. Consoante pesquisa de Raymundo Carvalho Guimarães, “em Porto Velho,
agravou-se o seu já precário estado de saúde e na casa de João Alfredo de
Mendonça, cercados dos cuidados desse grande amigo, faleceu na tarde de 26 de
dezembro de 1916, com a idade de 32 anos”.
A vida de Vespasiano Ramos esteve
diretamente relacionada com a paixão e com a boemia. Assim demonstram seus
versos. Viveu apaixonado por um amor não correspondido. Viveu apaixonado “por
um amor que consagrou a uma moça filha de uma família das mais distintas de
Caxias, amor que com sua frustração o conduziu a uma vida desregrada e boêmia
(…) escrevendo versos nas mesas dos botequins, esbanjando talento, e
desgastando a saúde”. Todos os homens têm sua musa a lhe inspirar e, como
Gonçalves Dias tinha sua Ana Amélia e, também, nós outros, Vespasiano Ramos,
para a nossa felicidade tinha, a sua: Lili Bittencourt, eterno amor do poeta.
ALGUNS
POEMAS DE VESPASIANO RAMOS
SAMARITANA
Piedosa gentil
Samaritana:
Venho, de longe,
trêmulo, bater
À vossa humilde e
plácida cabana,
Pedindo alívio para
o meu viver!
Sou perseguido
pela sede insana
Do amor que anima e
que nos faz sofrer:
Tenho sede demais,
Samaritana
Tenho sede demais: quero
beber!
Fugis, então,
ao mísero que implora
O saciar da sede que
o consome,
O saciar da sede que
o devora?
Pecais, assim,
Samaritana! Vede:
– Filhos, dai de
comer a quem tem fome,
– Filhos, dai de
beber a quem tem sede.
CRUEL
Ah, se as dores que
eu sinto ela sentisse,
se as lágrimas que
eu choro ela chorasse;
talvez nunca um
momento me negasse
tudo que eu
desejasse e lhe pedisse!
Talvez a todo
instante consentisse
minha boca beijar a
sua face,
se o caminho que eu
tomo ela tomasse,
se o calvário que eu
subo ela subisse!
Se o desejo que eu
tenho ela tivesse,
se os meus sonhos de
amor ela sonhasse,
aos meus rogos
talvez não se opusesse!
Talvez nunca
negasse o que eu pedisse,
se as lágrimas que
eu choro ela chorasse
e se as dores que eu
sinto ela sentisse! . . .
SONETO
(fatalidade )
Desde esse
instante, sem cessar, maldigo,
aquele instante de
felicidade!
Para que tu vieste
ter comigo,
meu amor, minha luz,
minha saudade?!
Dês que te
foste, foram-se contigo
todos os sonhos
desta mocidade...
A tua vinda -
fora-me um castigo;
a tua volta - uma
fatalidade!
Dês que te
foste, dentro em mim plantaste
a ânsia infinita dos
desesperados
porque voltando, nunca
mais voltaste...
Correm-me os
dias de aflições, cobertos:
eu entrei para o
amor de olhos fechados
e saí para a dor de
olhos abertos!
POBRE AMOR
Quando de ti me
afastaram,
Que sentimento! que dor!
Sei que meus olhos choraram,
Quando de ti me afastaram.
Pobre amor!
Que sentimento! que dor!
Sei que meus olhos choraram,
Quando de ti me afastaram.
Pobre amor!
Tu surpreendeste,
cantando,
Meu coração, ao luar!
Lembro-me bem que foi quando
Eu vinha desabrochando
Para amar!
Meu coração, ao luar!
Lembro-me bem que foi quando
Eu vinha desabrochando
Para amar!
E é grande
fatalidade
Sem lenitivos à dor,
Não seres minha, é verdade,
É grande fatalidade,
Sem lenitivos à dor,
Não seres minha, é verdade,
É grande fatalidade,
Pobre amor!
Tua lembrança,
formosa,
Mil desenganos me traz:
Nunca mais, alma ditosa,
Para os teus braços, formosa,
Nunca mais!
Mil desenganos me traz:
Nunca mais, alma ditosa,
Para os teus braços, formosa,
Nunca mais!
O sonho de minha
vida,
Pobre de mim, sonhador!
Toda esperança é perdida,
O sonho de minha vida.
Pobre de mim, sonhador!
Toda esperança é perdida,
O sonho de minha vida.
Pobre amor!
Pudesse esta alma,
pudesse,
Esquecendo-te, viver,
Se um outro amor lhe viesse,
Talvez esta alma pudesse
Te esquecer!
Esquecendo-te, viver,
Se um outro amor lhe viesse,
Talvez esta alma pudesse
Te esquecer!
Esquecer! Desiludida
De te esquecer, linda flor,
Eu tenho esta alma perdida,
O sonho de minha vida,
De te esquecer, linda flor,
Eu tenho esta alma perdida,
O sonho de minha vida,
Pobre amor!
ÂNSIA MALDITA
Ninguém mais do que
tu saberá quanto
Padeço, agora! e, em
lágrima, advinha
A minha'alma
apagar-se, neste pranto,
Que se derrama,
junto às avezinhas.*
Beatriz! Alma em
flor! Suave encanto,
Que me salvar,
pensei, dos altos, vinha:
O quanto peno, o
quanto sofro, enquanto
Imagino que nunca
serás minha!
Foram, por ti,
as lágrimas que os olhos
Meus derramaram! só
por ti, somente
Que minh'alma, do
Amor contra os escolhos,
Há de,
convulsa, soluçar, um dia,
A derradeira lágrima
pungente
E o derradeiro grito
de agonia!
·
*Este verso não se encontra em
nenhuma das versões
por
mim consultadas (RF)
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