Aproveito esta
data festiva, o aniversário da cidade de São Luís, para, durante este mês de
setembro, desfilar neste blog uma série de crônicas, miúdas, pequenas,
despretensiosas, apenas relatando, como se fosse uma conversa ao pé do ouvido
com alguém imaginário, lembranças, fatos, casos, lendas, da minha convivência e
vivência em São Luís por cerca de 10 anos que me parecem séculos. Vamos juntos?
(RF)
BONDES, TARDES E
GAROTAS
Quando eu cheguei pela primeira vez
em São Luís ela ia fazer 350 anos de fundação e descoberta. Um francês de nome
Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiere, chegou primeiro. Eu só cheguei em
1962.
Que destino, o meu! Vim do interior
numa carroceria de caminhão que me deixou justamente na Praça Gonçalves Dias. Tipo
6 da tarde. Aquela hora, às vezes, tristonha e silenciosa, quando se tem 13 anos
e se separa dos pais para viver num colégio interno.
Dali da praça fui ter numa
hospedagem na Rua Sete de Setembro, do “seu” Tezinho Santos, cidadão colinense,
pai de dois filhos: o Aurélio e um outro que criaria fama e deitaria na cama,
com todo justo louvor, o Turíbio Santos, esse grande músico erudito maranhense
que ganharia os palcos mais seletos da
Europa culta e de todo o mundo civilizado, enfim.
São Luís sem a ponte José Sarney,
mas com seus barcos que nos levava até o São Francisco, onde só havia casebres
e choupanas, pescadores e lavadeiras, e à Praia da Ponta d´a Areia.
Os bondes pela cidade, o bonde da
Rua do Passeio, o famoso Canto da Viração,
o bonde que seguia até o Filipinho. O da
Gonçalves Dias. O da Rua Grande que dava a volta e seguia pela Rua Afonso Pena.
Essa São Luís que não existe hoje, mas
que vive intacta na lembrança dos que a conheceram, no coração dos amantes
daquela época, na mente dos poetas que a cantaram então, ainda a cantam e no
futuro mais remoto, a cantarão, cantarão, cantarão...
No Seminário de Santo Antônio na
Praça Antônio Lobo, próximo à Escola Modelo, conheci a primeira fruta mais
exótica, antes do Açaí: tinha um pé de Abricó no quintal do Seminário, e havia
também uma fonte de água límpida onde nós, seminaristas, tomávamos nosso banho
após o jogo de futebol e os exercícios físicos, isso por volta das cinco horas
da tarde.
E desta cidade não me afastei nunca.
Mesmo agora, numa distância de cinco mil quilômetros, aqui em Porto Alegre, é
essa São Luís que faz meu coração parecer um bumbo noturno, um tambor de
crioula batucando notas da mais sôfrega e pura saudade de outras delícias que a
cidade oferecia.
As lindas garotas distribuídas
naquele quadrilátero da Praça da Biblioteca: as do Liceu Maranhense com suas
saias azuis e blusas brancas; as do Colégio Rosa Castro, de saias cinzas e
blusas brancas; as do Colégio Ateneu, com suas saias marrons e blusas brancas,
e as meninas que subiam a Rua Rio Branco vindo do Colégio São Luís, com saias
azuis e blusas amarelas. Amores e cores,
que presentes poderiam haver mais belos que esses que nos eram ofertados por
essa mágica e querida cidade de São Luís, com seus azulejos e mirantes?
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