9 de set. de 2017

AS CRÔNICAS LUDOVICENSES (1)

       Aproveito esta data festiva, o aniversário da cidade de São Luís, para, durante este mês de setembro, desfilar neste blog uma série de crônicas, miúdas, pequenas, despretensiosas, apenas relatando, como se fosse uma conversa ao pé do ouvido com alguém imaginário, lembranças, fatos, casos, lendas, da minha convivência e vivência em São Luís por cerca de 10 anos que me parecem séculos. Vamos juntos? (RF)

BONDES, TARDES E GAROTAS

            São várias as formas e maneiras de se homenagear uma cidade.  Igual a uma mulher amada, podemos fazê-lo com música, canção, poesia, crônica, carta, e até uma declaração ao pé do ouvido. No caso da cidade, uma declaração aos quatro ventos ou aos seus quatro pontos cardeais. E também pode ser falando dela e sobre ela para seus amigos.
            Quando eu cheguei pela primeira vez em São Luís ela ia fazer 350 anos de fundação e descoberta. Um francês de nome Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiere, chegou primeiro. Eu só cheguei em 1962.
            Que destino, o meu! Vim do interior numa carroceria de caminhão que me deixou justamente na Praça Gonçalves Dias. Tipo 6 da tarde. Aquela hora, às vezes,  tristonha e silenciosa, quando se tem 13 anos e se separa dos pais para viver num colégio interno.
            Dali da praça fui ter numa hospedagem na Rua Sete de Setembro, do “seu” Tezinho Santos, cidadão colinense, pai de dois filhos: o Aurélio e um outro que criaria fama e deitaria na cama, com todo justo louvor, o Turíbio Santos, esse grande músico erudito maranhense que ganharia os palcos  mais seletos da Europa culta e de todo o mundo civilizado, enfim.
            São Luís sem a ponte José Sarney, mas com seus barcos que nos levava até o São Francisco, onde só havia casebres e choupanas, pescadores e lavadeiras, e à Praia da Ponta d´a Areia.
            Os bondes pela cidade, o bonde da Rua do Passeio,  o famoso Canto da Viração, o bonde que seguia até o Filipinho.  O da Gonçalves Dias. O da Rua Grande que dava a volta e seguia pela Rua Afonso Pena.
            Essa São Luís que não existe hoje, mas que vive intacta na lembrança dos que a conheceram, no coração dos amantes daquela época, na mente dos poetas que a cantaram então, ainda a cantam e no futuro mais remoto, a cantarão, cantarão, cantarão...
            No Seminário de Santo Antônio na Praça Antônio Lobo, próximo à Escola Modelo, conheci a primeira fruta mais exótica, antes do Açaí: tinha um pé de Abricó no quintal do Seminário, e havia também uma fonte de água límpida onde nós, seminaristas, tomávamos nosso banho após o jogo de futebol e os exercícios físicos, isso por volta das cinco horas da tarde.
            E desta cidade não me afastei nunca. Mesmo agora, numa distância de cinco mil quilômetros, aqui em Porto Alegre, é essa São Luís que faz meu coração parecer um bumbo noturno, um tambor de crioula batucando notas da mais sôfrega e pura saudade de outras delícias que a cidade oferecia.
            As lindas garotas distribuídas naquele quadrilátero da Praça da Biblioteca: as do Liceu Maranhense com suas saias azuis e blusas brancas; as do Colégio Rosa Castro, de saias cinzas e blusas brancas; as do Colégio Ateneu, com suas saias marrons e blusas brancas, e as meninas que subiam a Rua Rio Branco vindo do Colégio São Luís, com saias azuis e blusas amarelas.  Amores e cores, que presentes poderiam haver mais belos que esses que nos eram ofertados por essa mágica e querida cidade de São Luís, com seus azulejos e mirantes?

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