29 de jun. de 2018

VIVA SÃO PEDRO! VIVA SÃO JOÃO!


          Olá, amigos! De volta com a nossa coluna QUARTA FEIRA É DIA DE RF (e hoje já é sexta!) e o blog, você já conhece, é o LITERATURA LIMITE (que você acessa www.literaturalimite.blogspot.com.br), pondo lenha na fogueira, uma vez que hoje, 29 de junho é Dia de São Pedro, um dos santos católicos que, juntamente com São João e São Marçal, constituem a Trindade Junina. Será?
         Não! Melhor incluirmos também o Santo Antônio, o santo casamenteiro, alegria de donzelas e viúvas à procura de maridos (os sortilégios, as adivinhações, as bacias com água, a imagem do santinho de cabeça pra baixo) e quatro diz mais da festa, vira Quadrilha e é assim que nós vamos nesse embalo junino.
         Então estas são as datas: 13 de junho, Santo Antônio. 24 de junho, São João. 29 de junho, São Pedro e 30 de junho, São Marçal.
         A arquitetura urbana era precaríssima: a maioria das casas era de adobe ou tijolo, sem pintura ou reboco, cobertas de telha, embora algumas ainda fossem cobertas de palha.
         A exceção eram as residências dos comerciantes ou altos funcionários públicos (os Torres, os Almeidas, os Brandãos, os Cardosos, os Cazés, os Viana, os Rodrigues, os Nascimentos, os três irmãos, os Zezinhos, os Pedrosas, os Freitas, os Maricas, os Araújo, etc.) estas, sim, com outro padrão de qualidade: reboco, pintura, e até alto relevo. Muitas tinham piso de ladrilho, outras cimento queimado, algumas possuíam assoalho, de tábuas, e muitas de terra batida mesmo.
         E as classes sociais eram bem definidas e mais simples que as atuais classificações: miseráveis, pobres, média, média baixa, média alta, ricos, milionários, multimilionários, bilionários. Nada disso. Na nossa São Domingos dos anos 50/60, que é o período a que me refiro, as classes sociais eram apenas três: ricos, pobres e remediados.
         O mês de junho para nós, crianças e estudantes, era muito festivo, pois ele trazia além das festas juninas com seus arraiás e quadrilhas, onde se destacavam o casamento dos noivos, e o pular ou passar fogueira, que era quando nós nos tornávamos compadres uns dos outros, tios e sobrinhos, era só escolher-se o grau de parentesco e ao redor da fogueira celebrar essa escolha. E isto era respeitado para o resto da vida. O folclore só é folclore para os outros. Para quem o vive é realidade, é vida verdadeira e real.

         À medida que junho avançava e se aproximava o dia 24 a cidade começava a viver em alvoroço, ensaios de quadrilha, com as moças e rapazes locais, geralmente os mesmos que formavam blocos carnavalescos, conforme narrei no livro Crônicas do Pucumã; cortar lenha, toras de madeira nos matos adjacentes para as fogueiras, e lembro também que saía algum caminhão no rumo do Baixão Grande e iam buscar “patis”, palmeiras menores que as do babaçu, e com elas se formava o arraial, todo enfeitado de bandeirolas coloridas, feitas com papel de seda.
          (Ah, infância!  O mesmo papel de seda com o qual se confeccionava papagaios, divididos em dois tipos: os “súrus”, sem a rabiola, e as curicas, estas com rabiolas ou rabos).
         As noites então se iluminavam através das fogueiras erguidas na frente das casas, ao redor da Praça Getúlio Vargas e nas ruas principais, a que tínhamos acesso: Rua de Colinas, Rua dos Cazé, Rua dos Cardoso, Rua da Lagoa, Beco do Tião, Rua do Facão de Fora, Cajueiro, Alto do Fogo, Alto da Cruz...
         As famílias reunidas na porta de casa, em volta da fogueira, conversavam animadamente, ouvia-se música de São João executada no Serviço de Alto Falante A Voz do Araçagi do senhor Levi, depois passou a ser o Tupinambá, do senhor Firmino, sem esquecermos, que lá pras bandas de onde foi a Usina do Nogueira, funcionava a todo vapor  o Serviço de Al to Falante a Voz do Aracaju, do senhor Juarez, região de cabarés, sendo os mais famosos o do próprio senhor Juarez e da Zélia. O do Marciano foi depois.
         Vamos sair dos cabarés e voltarmos para o São João?

         Uma das partes mais legais do nosso São João era que sob aquela lenha e brasa das fogueiras se assava castanhas, batata doce e abóbora. Aliás aquela época junina era um tempo de comilança: canjica, pamonha, milho assado e cozido, sucos de abacaxi e caju, e uma bebida fermentada a partir do milho, chamada aloá, cuja receita certamente se perdeu no tempo.
        Não podemos esquecer que sempre por essa época alguns balões eram fabricados e era uma alegria vê-los ganhar altura, subindo, subindo... E havia, por fim, o pote de ouro no final do arco-íris: o pau-de-sebo.
            O pau-de-sebo era igual ao que se conhece até hoje. Um pau reto, bastante alto, do qual se tira a casca e passa-se sebo e outros produtos que o tornem o mais liso possível. E lá no pico se coloca alguma cédula de valor que é o prêmio para quem conseguir chegar até ele.

         A molecada e o povo em geral se reúne em volta do pau-de-sebo e vaias e gritarias acontecem a cada tentativa fracassada dos competidores. Mas sempre tem alguém que consegue sair vencedor e desce do pau-de-sebo com um largo sorriso estampado no rosto. E, quando toca o chão, claro que exibe orgulhoso o dinheiro conseguido, sob os urros e aplausos da imensa plateia. 
            E encerro essas lembranças com um episódio próprio dos garotos sapecas que éramos então. Havia uma turma da qual eu fazia parte e que era chefiada pelo Volmar, filho do senhor Elidônio, tinha ainda o Joil, filho do senhor João Henrique, o Fran, morto precocemente em acidente de caminhão, filho do senhor Aluízio Brandão, e um capeta em forma de guri, o Tico do Narciso e outros que não lembro agora.
         A gente carregava escondidos alguns espetos e chegando em frente a uma fogueira, procurávamos identificar as batatas ou abóbora e, enquanto as pessoas conversavam, se distraíam, a gente num passe de mágico, zás, espetava as batatas e saía correndo.
            É ou não é um São João inesquecível?

Raimundo Fontenele

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