Olá, amigos! De volta com a nossa
coluna QUARTA FEIRA É DIA DE RF (e hoje já é sexta!) e o blog, você já conhece,
é o LITERATURA LIMITE (que você acessa www.literaturalimite.blogspot.com.br),
pondo lenha na fogueira, uma vez que hoje, 29 de junho é Dia de São Pedro, um
dos santos católicos que, juntamente com São João e São Marçal, constituem a
Trindade Junina. Será?
Não!
Melhor incluirmos também o Santo Antônio, o santo casamenteiro, alegria de
donzelas e viúvas à procura de maridos (os sortilégios, as adivinhações, as
bacias com água, a imagem do santinho de cabeça pra baixo) e quatro diz mais da
festa, vira Quadrilha e é assim que nós vamos nesse embalo junino.
Então
estas são as datas: 13 de junho, Santo Antônio. 24 de junho, São João. 29 de
junho, São Pedro e 30 de junho, São Marçal.
A
arquitetura urbana era precaríssima: a maioria das casas era de adobe ou
tijolo, sem pintura ou reboco, cobertas de telha, embora algumas ainda fossem
cobertas de palha.
A
exceção eram as residências dos comerciantes ou altos funcionários públicos (os
Torres, os Almeidas, os Brandãos, os Cardosos, os Cazés, os Viana, os
Rodrigues, os Nascimentos, os três irmãos, os Zezinhos, os Pedrosas, os
Freitas, os Maricas, os Araújo, etc.) estas, sim, com outro padrão de qualidade:
reboco, pintura, e até alto relevo. Muitas tinham piso de ladrilho, outras
cimento queimado, algumas possuíam assoalho, de tábuas, e muitas de terra
batida mesmo.
E
as classes sociais eram bem definidas e mais simples que as atuais classificações:
miseráveis, pobres, média, média baixa, média alta, ricos, milionários,
multimilionários, bilionários. Nada disso. Na nossa São Domingos dos anos
50/60, que é o período a que me refiro, as classes sociais eram apenas três:
ricos, pobres e remediados.
O
mês de junho para nós, crianças e estudantes, era muito festivo, pois ele
trazia além das festas juninas com seus arraiás e quadrilhas, onde se destacavam
o casamento dos noivos, e o pular ou passar fogueira, que era quando nós nos tornávamos
compadres uns dos outros, tios e sobrinhos, era só escolher-se o grau de
parentesco e ao redor da fogueira celebrar essa escolha. E isto era respeitado
para o resto da vida. O folclore só é folclore para os outros. Para quem o vive
é realidade, é vida verdadeira e real.
À
medida que junho avançava e se aproximava o dia 24 a cidade começava a viver em
alvoroço, ensaios de quadrilha, com as moças e rapazes locais, geralmente os
mesmos que formavam blocos carnavalescos, conforme narrei no livro Crônicas do
Pucumã; cortar lenha, toras de madeira nos matos adjacentes para as fogueiras,
e lembro também que saía algum caminhão no rumo do Baixão Grande e iam buscar “patis”,
palmeiras menores que as do babaçu, e com elas se formava o arraial, todo
enfeitado de bandeirolas coloridas, feitas com papel de seda.
(Ah, infância!
O mesmo papel de seda com o qual se confeccionava papagaios, divididos
em dois tipos: os “súrus”, sem a rabiola, e as curicas, estas com rabiolas ou
rabos).
As
noites então se iluminavam através das fogueiras erguidas na frente das casas,
ao redor da Praça Getúlio Vargas e nas ruas principais, a que tínhamos acesso:
Rua de Colinas, Rua dos Cazé, Rua dos Cardoso, Rua da Lagoa, Beco do Tião, Rua
do Facão de Fora, Cajueiro, Alto do Fogo, Alto da Cruz...
As
famílias reunidas na porta de casa, em volta da fogueira, conversavam
animadamente, ouvia-se música de São João executada no Serviço de Alto Falante
A Voz do Araçagi do senhor Levi, depois passou a ser o Tupinambá, do senhor
Firmino, sem esquecermos, que lá pras bandas de onde foi a Usina do Nogueira,
funcionava a todo vapor o Serviço de Al
to Falante a Voz do Aracaju, do senhor Juarez, região de cabarés, sendo os mais
famosos o do próprio senhor Juarez e da Zélia. O do Marciano foi depois.
Vamos
sair dos cabarés e voltarmos para o São João?
Uma
das partes mais legais do nosso São João era que sob aquela lenha e brasa das
fogueiras se assava castanhas, batata doce e abóbora. Aliás aquela época junina
era um tempo de comilança: canjica, pamonha, milho assado e cozido, sucos de
abacaxi e caju, e uma bebida fermentada a partir do milho, chamada aloá, cuja
receita certamente se perdeu no tempo.
Não podemos esquecer que sempre
por essa época alguns balões eram fabricados e era uma alegria vê-los ganhar
altura, subindo, subindo... E havia, por fim, o pote de ouro no final do
arco-íris: o pau-de-sebo.
O pau-de-sebo era igual ao que se
conhece até hoje. Um pau reto, bastante alto, do qual se tira a casca e
passa-se sebo e outros produtos que o tornem o mais liso possível. E lá no pico
se coloca alguma cédula de valor que é o prêmio para quem conseguir chegar até
ele.
A
molecada e o povo em geral se reúne em volta do pau-de-sebo e vaias e gritarias
acontecem a cada tentativa fracassada dos competidores. Mas sempre tem alguém
que consegue sair vencedor e desce do pau-de-sebo com um largo sorriso
estampado no rosto. E, quando toca o chão, claro que exibe orgulhoso o dinheiro
conseguido, sob os urros e aplausos da imensa plateia.
E
encerro essas lembranças com um episódio próprio dos garotos sapecas que éramos
então. Havia uma turma da qual eu fazia parte e que era chefiada pelo Volmar,
filho do senhor Elidônio, tinha ainda o Joil, filho do senhor João Henrique, o
Fran, morto precocemente em acidente de caminhão, filho do senhor Aluízio Brandão,
e um capeta em forma de guri, o Tico do Narciso e outros que não lembro agora.
A
gente carregava escondidos alguns espetos e chegando em frente a uma fogueira,
procurávamos identificar as batatas ou abóbora e, enquanto as pessoas
conversavam, se distraíam, a gente num passe de mágico, zás, espetava as batatas
e saía correndo.
É ou não é um São João inesquecível?
Raimundo Fontenele
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