11 de ago. de 2018

FOLHETIM DA SEMANA


        
GOZADAS DO FONTECA

Gato por lebre
            – Anrã! Olha, mãe, a Jojo Todinha.
         – Não, meu filho, era Todynho, mas esta marca ela só usou quando não era famosa. Agora não pode mais, virou estrela, e essa marca é de uma companhia alimentícia.
         – Mas tudo não dá leitinho...
         – Sossega, menino, olha a mão nas fuças!...
         O problema não é esse. É a indigência cultural em que jogaram o Brasil depois de mais de 30 anos de governos esquerdistas, cumprindo uma agenda global de destruição dos valores cristãos, sexualização infantil, defesa do aborto, da pedofilia e do incesto, e desvio do nosso para encher as burras de governantes e sindicalistas. New-comunismo é isso aí.
         E tem outra: essa conversa da Jojo, a Anitta, o Nego do Borel, a Pabla Vittar e outros se dizerem defensores e representantes LGBTKU é história pra boi dormir. O que eles querem mesmo dinheiro, grana, bufunfa, money, cascalho... Olhem o que encontrei num livrinho de poesias, que publiquei em 1994, chamado VENENOS, no poema Para Todos:
                            “palavra é dólar
                            palavra custa dinheiro
                            arte é só grana, só isso”
         Remate final: cada pessoa tem suas qualidades e defeitos, virtudes e vícios. Agora dizer que Jojo Todinho é linda, pelo amor de Deus!, no meu tempo de jovem lá no interior do Maranhão, a gente dizia: é um tremendo tribufu. E o poeta Vinicius de Moraes repetia sempre, num seu verso famoso: “as feias que me desculpem, mas a beleza é fundamental”. Agora se ela for bela por dentro, salve ela!
XVXVXVX

Um Moro incomoda muita gente? Um Moro e um Mourão incomodam muito mais...
         Vamos lá. Falaram tudo o queriam sobre a fala do general Mourão? Então deixa eu meter também minha colher nesse angu à brasileira. A turma, aquela, conhecida e manjada, os tais militantes dos movimentos sociais, subiu nas tamancas e, entre uma reboladinha e uma dedadinha, disse que aquele discurso era racista e preconceituoso.
         Após uma lavagem cerebral que lhe danificou os neurônios esqueceu o que leu, ou talvez nunca tenha lido nada, a tchurma, aquela.
         Alguns explicaram que o general estava citando o economista de direita Roberto Campos, Ministro da Economia no tempo dos generais, na questão da nossa formação como raça, a gene mesmo que forjou o nosso caráter individual de homem brasileiro e a nossa personalidade coletiva de nação.
         Vamos ler? O livro é de 1978, do escritor Roberto DaMatta, e chama-se justamente CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS, com o subtítulo Para uma sociologia do dilema brasileiro., e é tão importante quanto CASA GRANDE E SENZALA, do mestre Gilberto Freyre, do ponto de vista da antropologia e da sociologia para entendimento desse “Macunaíma” brasileiro, que somos todos nós..
         Sim: a elite branca é chegada num privilégio; o índio é um tanto indolente mesmo, e o negro faz macumba para se livrar do mal e até para se casar com aquela negrinha linda e faceira.
         Em algum momento histórico, quando esses predicados destas três raças se tornam perniciosos devem ser combatidos e superados. Foi isso o que o general disse e muitos aproveitadores fazem de conta que não entenderam, ao passo que outros não entenderam mesmo e não entendem porra nenhuma: são os filhotes de lula, e o pinto já sai do ovo com a pinta que o galo tem.
         A minha edição do Casa Grande e Senzala tem 572 páginas. Muito, né? Pois a do professor Roberto DaMatta tem menos, só 352 páginas.  Vocês precisam ler, inclusive os jornalistas, para não saírem por aí falando besteira e pagando pau de ignorantes ou, melhor, de malandros ignorantes.
         Não esqueçam o “filósofo do povo” Bezerra da Silva, que sabia mais que todos vocês juntos (jornalistas e esquerdinhas): ‘Malandro é malando e Mané é Mané”. E acabei de descobrir, com essa lenga-lenga da fala do General Mourão, que ele esqueceu de juntar, àquelas três raças referidas, mais uma: a do malandro mané.  E, por falar nisso, vão estudar, seus manés!
        
COISAS DA ANTIGA CONVIDA: “SEM PÉ NEM CABEÇA”, A ANTOLOGIA  MAIS UNDERGROUND DA POESIA MARANHENSE

          Tão subterrânea que quase ninguém conhece, nem ouviu falar dela, muito menos leu. Os hippies, nos anos sessenta, já haviam arrombado o portal coletivo da contracultura. E em São Luís, no início dos anos setenta, publicara-se duas antologias (Antroponáutica e Hora de Guarnicê) tentando o caminho da juventude do planeta rebelando-se contra o stabilishment .
         É bom não esquecer os marcos fundadores desse novo momento da nossa história: maio de 68, ocupação de universidades e fábricas por estudantes e operários em Paris, e o Festival de Woodstock, na América, meio milhão de jovens onde se previa cinquenta mil, celebrando a vida, o sexo livre, a droga e rock n`roll, o amor e flor, contra as guerras, principalmente a do Vietnam.
         Mas aqui em São Luís o papo era outro. Nós, jovens poetas, músicos, artistas, queríamos apenar ocupar um espaço para deixar rolar nossa criação, e afastar um pouco das páginas de cultura dos jornais os menestréis do passado, com sua poesia e trova obsoletas.
         Mesmo com a publicação das antologias, aqui citadas, pelos órgãos públicos, a gente se sentia mais sendo usado para glorificar figuras públicas, tanto que no caso da Hora Guarnicê nem pus os pés no recinto dos autógrafos.
         E aí, eu, Carlos Cesar Teixeira, este grande amigo e artista completo, só faltou levitar, o resto ele fez: poesia, música, pintura e o diabo a quatro; Cyro Falcão, jovem poeta com a sensibilidade aguçada e voltada para a pesquisa do folclore maranhense; e os irmãos Henrique e Rossini Corrêa, este último residindo em Brasília, e grande figura das letras nacionais, resolvemos fazer uma antologia contra tudo e todos, contra o sim e o não.
         Livrinho de 20 páginas, em papel e formato desses usadosa para a literatura nordestina de cordel., capa de papel de embrulho. A capa, desenho do Cesar, eram urubus sobrevoando um vaso sanitário e o nome SEM PÉ NEM CABEÇA. Acho que nem nosso nome constava na capa.  E este trabalho que apresento neste e no próximo FOLHETIM DA SEMANA, na coluna Coisas da Antiga Convida:, e o blog LITERATURA LIMITE você sabe e acessa em www.literatura limite.blogspot.com.br
         O livro não teve lançamento nem divulgação nenhuma. Vendemos e demos os poucos exemplares que mandamos imprimir, cuja edição ficou a cargo do editor e poeta Wilson Martins, lá na antiga Gráfica São José, de propriedade da Arquidiocese de São Luís, que também editava o Jornal do Maranhão, onde sempre teve um espaço reservado para a cultura e as letras.
Woodstock 1969
         Hoje vamos de Cyro Falcão e Cesar Teixeira e na próxima semana os demais:
                                                                       
SEM PÉ NEM CABEÇA
Cyro Falcão:
                 
D`CLAMAÇÕES
                                  
Dobro canto,
digo, seu moço

            prá que escute mais esta
            Dessas coisas de segredo
            Que, afinal, o mundão anda cheio:

Falo é mesmo desta ilha que já foi chamada
afrancesada, submissa e até encantada:
Primeiro é uma ilha
Que prá se chegá
é preciso vencer o cêrco e ter o acerto.
            É preciso ser homem, seu moço
            pois é pior que armadilha.
            Por isso é preciso entender
            Que prá se conhecê
            é preciso se prendê.

– Quem tá inforcado no largo de Bequimão?
É Bequimão?
Não. É quem contá que ele disse:
            pelo esse povo
            morro inocente.

– Quem tá lá na pedra da memória, moço?
São as rosas de fofo que meia-noite,
de um dia não marcado
rolam dos canhões enferrujados
e cegam os cegos, mil cegos que a ilha tem.

Alguém já teve uma praça
onde a mãe d`água vem banhá?
um labirinto em forma de serpente
que começa numa fonte
e termina num altar?

É até de se estranhar,
Tanta coisa a ilha ter;
Tem até uma brincadeira
de um boi oco de fato;
Tomara que sempre exista
um negro prestoso de talento
pra cair na armadilha
fingir que tá dançando
encarnado, amarelo, mulato
por entre as fitas, penas, burros e buracos.
Sob um couro bem negro
onde as rapaziadas zelosas
bordam do fundo do peito
as mais belas manchas
do bordado iluminado.

            São negras trazidas
            para o redor deste lugar
            e os enfeites são sobrados,
            telhados, um palmeira
            que no sonho do indígena
            brotou por cacho um poeta.

Os sobrados no dizer do povo
São troncos de arvoredos
cujos galhos são os céus negros de tanta folha!
Os azulejos são flores
E as pedras, frutas caídas no chão.

            As estrelas são urubus
            ameaçando pousar logo
            Pois está previsto que desta ilha
            Sai o sinal do fim do mundo:

Quando um urubu cumê folha
De árvore verdadeiras ou não
pode até ser folha de livro
Que o poeta cismou sangrar,
É o sinal das gordas varias

Que todos venham logo rezar;
Nas capelas dos passos, porém
Que os prefeitos, não as mande fechar.

            Seu moço desdobro o canto
            já não sobra gosto não.
            Essas ruas negras como estão
            me meteu tristeza no peito.
            prá mim é luto, é fome,
            é dor, é desolação.

Os urubus tão cumendo
lá em cima, o seu manjá
e com o sobejo deles
nossas ruas vão pinchá.

            Tando as folhas curcumidas
            uma luz, outra vai brilhar
            e o que será do poeta, da palmeira –
            sua mãe?
            Das frutas, das pedras do chão
            Quando irão se encontrar?

Nas pontas d`areia
Como também no Bacanga
já se nota um grande clarão
e o povo se impressiona.

            No chão a fruta apodrece, de vazio
            e promissão; além disso, seu mocinho
            Os filhos de Belzebu, tão correndo prá encontrar
            Ouro encravado no ar
            Pois disseram que por ali
            Em disparada passará
            Os cortejos de Ana Jansen
            Tudo embora desta terra
            lá prá junto do Rei Bastião
            Que também por causa disso
            Foi pro fundo do oceão.


Carlos César Teixeira:

A MÃE MAL SUCEDIDA

a mama
encheu-se de leite

mas houve um erro na eternidade,
e todos voltaram mortos.

o nada mama.

AO PÉ DA LETRA

quando eu ia para escola
ou para o cemitério

minha mãe dizia:
– vai pela sombra!

e eu fui.

FILOSOFIA DA CACHAÇA

quantas vezes, de chumbo,   
não caí por terra,

ó pesada cruz da alma!

já fui lobo, abelha, e couve-flor.
hoje sou Cesar, um calafrio
que passa pelo mundo

muita gente esperava
que eu fosse alguém na vida
e cultivasse doenças

mas eu não passo de um poeta,
e dos piores

A FARSA DOS LIVROS

abre-se a cortina do mundo
para a falsificação dos papéis

todos nós somos
o documentário de cada dia,
o pão roubado da alma
para exposição tola de um retrato

somos o dinheiro endividado
por não termos comprado o íntimo,
sobretudo pagando ao passado

O ANJO E O MORIBUNDO

o herói da primeira página

fecha-se a história do mundo
com essa mentira absurda
que todos acreditamos ler

não há dúvida
de que eu fui impresso na vida

o anjo da guarda
espreitava o pobre moribundo
cheio de contentamento
e esfregando as mãos

enfim libertar-se-ia
de um grande peso

mas o moribundo
custava a morrer
e o anjo cada vez mais
se impacientava

depois de um exausto tempo
o moribundo sussurrou:
– não quero morrer!

como se esperasse por isso
o anjo levantou-se categórico:

– ora, deixe de academismo!,
e deu uma paulada no morto

O COMEÇO E O FIM

o mundo ficou oco
com o meu nascimento

agora eu tenho uma vida
para encher de vazio
o meu túmulo

agora eu tenho uma vida
para procurar no vazio
a divindade mais oposta

para que um dia
comece a rezar todo torto,

entre escombros,
a intenção da minha alma.

pela terra deixarei meu rastro,
                            um traço, uma marca,
para que todos saibam
que alguém esteve só.

que o céu cumpra
a obrigação das almas,

ó doce contemplação do fim!

A MAIS CÉLEBRE CAGADA

caímos na terra
como cai a fruta ensinada
que deixa o sabor da alma
para o necrotério do nada

e ali ficamos na sombra
sem que a mão de Eva nos colha
até que o nosso ausente pé se atole
na obra do Senhor

então seremos lama
sem úlcera que nos distraia
sem mama que nos deleite
onde nenhuma porca se deita

enquanto nos abismamos

o mundo limpa a bunda
com a palavra de Deus

Texto final:
Raimundo Fontenele 
        

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