O
FOLHETIM DA SEMANA do nosso blog LITERATURA LIMITE (que você acessa no link www.literaturalimite.blogspot.com.br) desta sexta feira traz
na coluna Coisas da Antiga a parte final da Antologia poética mais marginal da
literatura maranhense, SEM PÉ NEM CABEÇA, hoje com os poetas-irmãos Henrique e
Rossini Corrêa. E, de quebra, as Gozadas do Fonteca falam sobre a morte do
grande gaúcho Paixão Cortes e outros assuntos que vierem à cabeça.
GOZADAS
DO FONTECA
PAIXÃO E
MORTE DE PAIXÃO CÔRTES
Faleceu
aos 91 anos de idade o grande Paixão Côrtes, nascido João Carlos D´Ávila Paixão
Côrtes, na cidade de Santana do Livramento, no dia 12 de julho de 1927. Ele tem
a mesma importância e dimensão para a cultura e o folclore regionalista do Sul
que possui o mestre Câmara Cascudo para a cultura e o folclore nordestino e
brasileiro.
A
música, a dança, a vestimenta, o linguajar, os costumes, as lides rurais ou
campeiras, como se diz no Rio Grande, tudo foi objeto de estudo, pesquisa,
catalogação e organização por este homem que dedicou toda a sua vida a este
trabalho.
A
Semana Farroupilha de 7 a 20 de setembro, a Chama Crioula e, sobretudo, a
existência de inúmeros CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) espalhados nos mais
diversos lugares do planeta, todos têm a
marca, o nome, a alma de Paixão Côrtes, o gaúcho que serve de modelo para a
estátua do Laçador, monumento símbolo do Rio Grande do Sul.
Numa
hora dessa, depois de receber a chave do céu, que lhe foi entregue pessoalmente
por São Pedro, deve estar organizando camperiadas, churrascos e CTGs para
bailar com os anjos, a quem deve estar ensinando como se dança a chula no
terreiro.
XVXVXVXVX
COISAS
DA ANTIGA CONVIDA “SEM PÉ NEM CABEÇA”, A ANTOLOGIA
MAIS UNDERGROUND DA POESIA MARANHENSE:
POEMAS DE HENRIQUE
CORRÊA
SIMPLES/CIDADE
os azulejos
das catedrais
dos vitais
parecem
um simples
mendigo
moribundo.
no alto
das palafitas
os urubus
sorriem...
VERME?
Ser gente
na era
animal
quando
o homem
diz-se
grande...
ser animal
na era
grande
quando
o homem
diz-se
gente...
ser gente
na era
grande
quando
o animal
diz-se
HOMEM...
FORMAS
Precisamos
de sapatos
novos
fundidos
no medo e
no mal
para
deitar na
lama
para
pisar na
cama
pois
um só
colchão
não
é nada
sem]as
nossas formas
físicas
místicas
tísicas...
FOTO 58
Fizestes
da última
(e sem volta) viagem
o único intento
mas tuas botas
lama não
salpicaram
em nossos
pensamentos
e teu rosto
(guerrilheiro)
será tatuagem
no céu dos tempos
o teu sorriso
será miragem
no que invento
para eternizar
tua imagem
no que acento
para que vença
com tua crença
neste momento...
NÉCTARGILA
No silêncio
do meu
silêncio,
na taça de
cristal
bebo a
bebida
dos
sonhos, da ilusão
com a
seriedade
do
impossível, possível.
Na verdade
da minha
verdade,
no copo de
barro
bebo a
bebida
real da
vida
com a
sinceridade
do
tangível inatingível.
Assim
entre taças
e copos
sonhos,
ilusões, realidades
tornando o
impossível
possível o
inatingível
tangível,
bebo
a bebida
dos deuses
e a bebida
do povo
nesta
mistura estranha
de néctar
e argila...
CANTO
Ah! Liberdade,
canto,
liberdade nome gravado
no mármore
da memória
na amnésia
embaciada
liberdade
não faz história.
Ah! saudade,
canto,
saudade ultra
violeta
bailando
ao som de trombetas
de mil e
mil e mil arcanjos
em uma
arca de anjos.
Ah! verdade,
canto,
verdade em
tom lilás
(a cor da
dor)
vista na
mentira fugaz
de quem perdeu
um amor.
Ah! cidade,
canto,
cidade com
a boca no lixo
nariz e
olhos na lama
teu
pensamento é fixo
no sono
que não te chama.
Ah! maldade,
canto,
maldade te
ver no teu mal
na dor te
ver a ti normal
maldade
ver a fome escrita
na criança
magra e esquisita.
Ah! felicidade,
canto,
felicidade
não ter mordaça
maior ainda
não ter algemas
e vê-la
sair com graça
em forma,
disforme, de poemas...
EXTTREMA-UNÇÃO
Dois
corpos quentes
se encontram
na pedra
fria.
José e
Maria
no coito
do universo.
Pensamentos:
diversos /
dispersos /
completos.
Dois
corpos quentes
na pedra
fria
necrófaga!
Gemidos em
versos
caminhando
no céu,
sem véu:
criando /
amando /
entregando.
Dois
corpos quentes
com vida,
qualquer
nome
sem
sobrenome.
Só há
espera
no apogeu
do amor:
excitados
/
extasiados /
extravasados.
Dois
corpos quentes
no prazer
de morrer,
na
dinamização do coração
na
prostituição
sem vida
da mão,
na paralisação
dos sentidos:
retidos /
incontidos /
feridos.
Dois
corpos frios
sem vida,
sem calor
após o
amor.
Para
receber
na morte:
unidos /
perdidos /
vencidos.
POEMAS DE
ROSSINI CORRÊA
7 (in)
SONHAS PARA O DESPEDIR
O barco
cinzento no cal/mar de x e y, o despertar da consciência, dormira, e quanto,
por possuir-te, consciência de navegar no cal/mar de x e y, eis, irrefletido,
na presença do doping da TV, absorvendo o antidiscurso, transformando-o, vela
crescente, queimando-se, de inconsciente, negando-se, por ver. Se oposto, e
ver-se, lúcido: patas de cavalo na
velocidade... e o barco cinzento desritma no prado aquoso, a paisagem,
duvidando de si, projetando-se, uma hipótese desvairada, ao perder-se, orgasmo
prematuro no ventre do oceano, que oscila, e navega, e cavalga, e prossegue, e
CAT!
um eixo,
há visível, no invisível da periferia, e negá-la, precisamos, para descobrirmos
o eixo do caos humano, no qual, à órbita imprescindível, giram os nêutrons parciais
da sinfonia fraterna, a dadivar ao homem, núcleo próximo, o motivo para existir,
e receber, a força dialética, de que dependem!
Souvenir de
paráfrase, a inessência do fenômeno, é óbvio ululante que del rey-patrão
penetra, sul a norte, para, difícil regresso, impormos o novo (jaz sepulto jaz)
impossível, pueril e visível, no desvão cansado do imprestável, e o rejeitamos,
parcialidade de heródoto, que dribla as hespérides e distribui a maçã áurea,
quebrando o pescoço sangrante do pombo selvagem, e nós divisos na flor.
FLORERIFLE
na verdade,
sou partidário de quem der ao humano, ouro sem pratas, da prata sem ouros, por
ti, pássaro incomprável, ávido, na vida, de vida ávida de vida, na qual, uma
penca de bananas na mão (proibido dobrar à direita ou esquerda?) joão da silva,
pá na grama de pedreiro aos doze desenganos, seja um ?arx, jesuíta, ou um
jesus, ?arxista, cantando, só, coral simples ou harmônico, ao globo multicolor,
sobre o jardim de orquídeas, sisudo, saarento e subnutrido:
ó frater, desperta, para dividir comigo!
Áureo, um
oceano de voragem, bailarina-se, desvairado, no útero do barco descomposto, que
defende-se, oposto ao niilismo, fênix sensível, constrói-se à proporção quer
constroem-na, os do sono/sonho da vanguarda, nós da corda manuscrita,
hieróglifos desvendando, e o pano das costelas, suado, fétido e à bala do
vir-a-ser, trespassado, pondo na vela dourada, devagar, zarpar do velejar a
cuia primitiva, depressa, subtraindo do mar-tírio, a aquosa aquosidade
necessária, para gripá-la, à que naveguem lentamente, enquanto pensam um
destino!
o serrote
funciona, navegando na tranqu-ilha, selvagem, os pinhais, desmatando, e fugalopam,
ao operar da oficina, os bichos hercúleos, para que o infindo território,
dimensionado, seja, quando, na planície, descer uma sóbria luave campestre, ó
luz beijando dálias e juçarais, o perfume inebriante, pavão e garças, parindo à
primavera do pau d´arco de despertar e plenitude!
saiba o humano
global costume
vir/ver a práxis
daurorar o lume
global costume
vir/ver a práxis
daurorar o lume
saiba o humano
vi/ver a práxis
daurorar o lume
saiba o humano
global costume
de ser humano...
3
FRAGMENTOS
e pensas! Reflete, pois, a propósito de
um personagem de PEER GYNT, que pesquisou na cebola nua, despida, a cebola nua
em si, despida, despetalando-a sem jamais divisar a cebola em si mesma, só
pétalas,
superpostas...
superpostas...
superpostas...
...
seguir-se puro
quando o vulcão
de ópio, obscuro,
ulular: NÃO!
(in)
fluir n´alma
(sabre e fuzil)
justaposto
cal/mar
de y e x, covil
de cobra, preso,
sulvôo
na liberdade!
e
(im) puder, teso,
ser/vir à verdade,
pós a bofetada:
contra o lutador,
forte, projetada!
cansaço, póstumo,
n´alma viajante, ó curtimos...
por que separados
por sete portas prosseguimos?
unidos,
distância de vi/ver extremos, raiz
lírica dos
caminhos, negamos o vôo da perdiz?
a cuia
recolhe, fontinal, do seio, a baunilha,
eis o fim
sem fim da distância:
a
aurora brilha?
além; vazio!
aquém; o homem, junto de ti, grade
invisível,
aurora do lobo desconexo na
ATRO/CIDADE!
Raimundo Fontenele
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