1 de set. de 2018

FOLHETIM DA SEMANA

O FOLHETIM DA SEMANA do nosso blog LITERATURA LIMITE (que você acessa no link www.literaturalimite.blogspot.com.br) desta sexta feira  traz na coluna Coisas da Antiga a parte final da Antologia poética mais marginal da literatura maranhense, SEM PÉ NEM CABEÇA, hoje com os poetas-irmãos Henrique e Rossini Corrêa. E, de quebra, as Gozadas do Fonteca falam sobre a morte do grande gaúcho Paixão Cortes e outros assuntos que vierem à cabeça.
        
GOZADAS DO FONTECA
        
PAIXÃO E MORTE DE PAIXÃO CÔRTES
 
Paixão Côrtes e a escultura de O Laçador
         Faleceu aos 91 anos de idade o grande Paixão Côrtes, nascido João Carlos D´Ávila Paixão Côrtes, na cidade de Santana do Livramento, no dia 12 de julho de 1927. Ele tem a mesma importância e dimensão para a cultura e o folclore regionalista do Sul que possui o mestre Câmara Cascudo para a cultura e o folclore nordestino e brasileiro.
         A música, a dança, a vestimenta, o linguajar, os costumes, as lides rurais ou campeiras, como se diz no Rio Grande, tudo foi objeto de estudo, pesquisa, catalogação e organização por este homem que dedicou toda a sua vida a este trabalho.
         A Semana Farroupilha de 7 a 20 de setembro, a Chama Crioula e, sobretudo, a existência de inúmeros CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) espalhados nos mais diversos lugares do planeta, todos têm  a marca, o nome, a alma de Paixão Côrtes, o gaúcho que serve de modelo para a estátua do Laçador, monumento símbolo do Rio Grande do Sul.
         Numa hora dessa, depois de receber a chave do céu, que lhe foi entregue pessoalmente por São Pedro, deve estar organizando camperiadas, churrascos e CTGs para bailar com os anjos, a quem deve estar ensinando como se dança a chula no terreiro.

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COISAS DA ANTIGA CONVIDA “SEM PÉ NEM CABEÇA”, A ANTOLOGIA MAIS UNDERGROUND DA POESIA MARANHENSE:

POEMAS DE HENRIQUE CORRÊA

SIMPLES/CIDADE

                   os azulejos
das catedrais dos vitais
                   parecem
um simples mendigo
                   moribundo.
no alto das palafitas
                   os urubus
                            sorriem...


VERME?

Ser gente
         na era
         animal
quando
         o homem
diz-se
grande...
ser animal
         na era
         grande
quando
         o homem
diz-se
         gente...
ser gente
         na era
         grande
quando
         o animal
diz-se
         HOMEM...


FORMAS

Precisamos
de sapatos novos
fundidos
no medo e no mal
para
deitar na lama
para
pisar na cama
pois
um só colchão
não
é nada
sem]as nossas formas
         físicas
                   místicas
                            tísicas...


FOTO 58

Fizestes da última
(e  sem volta) viagem
         o único intento
         mas tuas botas
lama não salpicaram
em nossos pensamentos
         e teu rosto
         (guerrilheiro)
         será tatuagem
         no céu dos tempos
         o teu sorriso
         será miragem
         no que invento
         para eternizar
         tua imagem
         no que acento
         para que vença
         com tua crença
         neste momento...


NÉCTARGILA

No silêncio
do meu silêncio,
na taça de cristal
bebo a bebida
dos sonhos, da ilusão
com a seriedade
do impossível, possível.
Na verdade
da minha verdade,
no copo de barro
bebo a bebida
real da vida
com a sinceridade
do tangível inatingível.
Assim
entre taças e copos
sonhos, ilusões, realidades
tornando o impossível
possível o inatingível
tangível, bebo
a bebida dos deuses
e a bebida do povo
nesta mistura estranha
de néctar e argila...



CANTO

Ah! Liberdade, canto,
liberdade  nome gravado
no mármore da memória
na amnésia embaciada
liberdade não faz história.
Ah! saudade, canto,
saudade ultra violeta
bailando ao som de trombetas
de mil e mil e mil arcanjos
em uma arca de anjos.
Ah! verdade, canto,
verdade em tom lilás
(a cor da dor)
vista na mentira fugaz
de quem perdeu um amor.
Ah! cidade, canto,
cidade com a boca no lixo
nariz e olhos na lama
teu pensamento é fixo
no sono que não te chama.
Ah! maldade, canto,
maldade te ver no teu mal
na dor te ver a ti normal
maldade ver a fome escrita
na criança magra e esquisita.
Ah! felicidade, canto,
felicidade não ter mordaça
maior ainda não ter algemas
e vê-la sair com graça
em forma, disforme, de poemas...


EXTTREMA-UNÇÃO

Dois corpos quentes
se encontram
na pedra fria.
José e Maria
no coito do universo.
Pensamentos:
diversos /
         dispersos /
                   completos.
Dois corpos quentes
na pedra fria
necrófaga!
Gemidos em versos
caminhando no céu,
sem véu:
criando /
         amando /
                   entregando.
Dois corpos quentes
com vida,
qualquer nome
sem sobrenome.
Só há espera
no apogeu do amor:
excitados /
         extasiados /
                  extravasados.
Dois corpos quentes
no prazer de morrer,
na dinamização do coração
na prostituição
sem vida da mão,
na paralisação dos sentidos:
retidos /
         incontidos /
                   feridos.
Dois corpos frios
sem vida, sem calor
após o amor.
Para receber
na morte:
unidos /
         perdidos /
                   vencidos.


POEMAS DE ROSSINI CORRÊA

7 (in) SONHAS PARA O DESPEDIR

O barco cinzento no cal/mar de x e y, o despertar da consciência, dormira, e quanto, por possuir-te, consciência de navegar no cal/mar de x e y, eis, irrefletido, na presença do doping da TV, absorvendo o antidiscurso, transformando-o, vela crescente, queimando-se, de inconsciente, negando-se, por ver. Se oposto, e ver-se, lúcido:  patas de cavalo na velocidade... e o barco cinzento desritma no prado aquoso, a paisagem, duvidando de si, projetando-se, uma hipótese desvairada, ao perder-se, orgasmo prematuro no ventre do oceano, que oscila, e navega, e cavalga, e prossegue, e
                                                                           CAT!

um eixo, há visível, no invisível da periferia, e negá-la, precisamos, para descobrirmos o eixo do caos humano, no qual, à órbita imprescindível, giram os nêutrons parciais da sinfonia fraterna, a dadivar ao homem, núcleo próximo, o motivo para existir, e receber, a força dialética, de que dependem!

Souvenir de paráfrase, a inessência do fenômeno, é óbvio ululante que del rey-patrão penetra, sul a norte, para, difícil regresso, impormos o novo (jaz sepulto jaz) impossível, pueril e visível, no desvão cansado do imprestável, e o rejeitamos, parcialidade de heródoto, que dribla as hespérides e distribui a maçã áurea, quebrando o pescoço sangrante do pombo selvagem, e nós divisos na flor.

FLORERIFLE

na verdade, sou partidário de quem der ao humano, ouro sem pratas, da prata sem ouros, por ti, pássaro incomprável, ávido, na vida, de vida ávida de vida, na qual, uma penca de bananas na mão (proibido dobrar à direita ou esquerda?) joão da silva, pá na grama de pedreiro aos doze desenganos, seja um ?arx, jesuíta, ou um jesus, ?arxista, cantando, só, coral simples ou harmônico, ao globo multicolor, sobre o jardim de orquídeas, sisudo, saarento e subnutrido:
         ó frater, desperta, para dividir comigo!


Áureo, um oceano de voragem, bailarina-se, desvairado, no útero do barco descomposto, que defende-se, oposto ao niilismo, fênix sensível, constrói-se à proporção quer constroem-na, os do sono/sonho da vanguarda, nós da corda manuscrita, hieróglifos desvendando, e o pano das costelas, suado, fétido e à bala do vir-a-ser, trespassado, pondo na vela dourada, devagar, zarpar do velejar a cuia primitiva, depressa, subtraindo do mar-tírio, a aquosa aquosidade necessária, para gripá-la, à que naveguem lentamente, enquanto pensam um destino!

o serrote funciona, navegando na tranqu-ilha, selvagem, os pinhais, desmatando, e fugalopam, ao operar da oficina, os bichos hercúleos, para que o infindo território, dimensionado, seja, quando, na planície, descer uma sóbria luave campestre, ó luz beijando dálias e juçarais, o perfume inebriante, pavão e garças, parindo à primavera do pau d´arco de despertar e plenitude!


                   saiba o humano
                   global costume
                   vir/ver a práxis
                   daurorar o lume
                   global costume
                   vir/ver a práxis
                   daurorar o lume
                   saiba o humano
                   vi/ver a práxis
                   daurorar o lume
                   saiba o humano
                   global costume
                   de ser humano...


3 FRAGMENTOS

        
         e pensas! Reflete, pois, a propósito de um personagem de PEER GYNT, que pesquisou na cebola nua, despida, a cebola nua em si,  despida, despetalando-a sem jamais divisar a cebola em si mesma, só pétalas,
                                                                                     superpostas...
                                                                                  superpostas...
                                                                               superpostas...


                                                                  ... seguir-se puro
                                                                      quando o vulcão
                                                                      de ópio, obscuro,
                                                                       ulular: NÃO!
                                                                  (in) fluir n´alma
                                                                     (sabre e fuzil)
                                                                  justaposto cal/mar
                                                                      de y e x, covil
                                                                      de cobra, preso,
                                                                       sulvôo  na liberdade!
                                                                  e (im) puder, teso,
                                                                      ser/vir à verdade,
                                                                      pós a bofetada:
                                                                      contra o lutador,
                                                                      forte, projetada!

cansaço, póstumo, n´alma viajante, ó curtimos...
por que separados por sete portas prosseguimos?

unidos, distância de vi/ver extremos, raiz
lírica dos caminhos, negamos o vôo da perdiz?

a cuia recolhe, fontinal, do seio, a baunilha,
eis o fim sem fim da distância:
                                               a aurora brilha?

além; vazio! aquém; o homem, junto de ti, grade
invisível, aurora do lobo desconexo na
                                               ATRO/CIDADE!

                                                                                    
        Texto Final:                                                                           
Raimundo Fontenele 

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