HORA DE GUARNICÊ, Ê MEU BOI! (Parte 2)
O FOLHETIM DA SEMANA do nosso blog
LITERATURA LIMITE (acesse-o no link www.literaturalimite.blogspot.com.br)
pega carona nestes festejos juninos, para trazer aos leitores a esquecida coletânea
HORA DE GUARNICÊ – Poesia Nova do Maranhão, título sugerido pelo poeta
Valdelino Cécio e pelos demais referendado, num total de 14 poetas, a saber:
Antônio Moysés, Chagas Val, Cyro Falcão, Cunha Santos Filho, Edmilson Costa,
Francisco Tribuzi, Henrique Corrêa, João Alexandre Jr., Johão Wbaldo, Luís
Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Rossini Corrêa, Valdelino Cécio e Viriato
Gaspar.
São três sequencias, ambas contendo
partes da preciosa e educativa apresentação do escritor maranhense Josué
Montello, e poemas de alguns dos antologiados. (RF)
PRÓLOGO
Josué
Montello
(continuação...)
Outro
aspecto curioso dessa velha antologia poética de meus conterrâneos: o lucro da
venda do Parnaso Maranhense teria uma finalidade de ordem prática. Dou
novamente a palavra aos poetas: “A Comissão entendeu que o volume devia ser
intitulado – Parnaso Maranhense – visto como nenhuma designação melhor convinha
à natureza e fim da obra; e assim também julgou muito acertado aplicar os
lucros, que por ventura possam provir da
publicação empreendida, em favor da Escola Agrícola do Cutim, atendendo a que
esse estabelecimento é de sumo interesse para a nossa terra e carece de todo o
auxílio.”
Virgílio, mestre das Geórgicas, daria
certamente a sua aprovação aos poetas maranhenses, nesse cuidado pela Escola
Agrícola...
Cento e quatorze anos depois da
publicação do Parnaso Maranhense, outro grupo de poetas de minha terra se
apresenta numa coletânea de inspiração antológica, agora sob os bons auspícios
da Fundação Cultural do Maranhão. É esta HORA DE GUARNICÊ, reuni8ndo 14 poetas
jovens. O título da coletânea vem de um folguedo regional, o buma-meu-boi. Traz
assim a inspiração da terra, recolhida ns fontes mais profundas de sua cultura
popular. Os jovens poetas quiseram significar com isto que, ao contrário da
geração do Parnaso Maranhense, há no estro de cada um deles um compromisso com
os valores de sua terra e de sua gente.
Num ponto, esta HORA DE GUARNICÊ faz
simetria com o Parnaso Maranhense: no cuidado em que os seus autores fossem
dispostos por ordem alfabética. Estas palavras eu as copio ainda do Prólogo do
Parnaso Maranhense: “Na ordem da publicação das poesias pareceu melhor à
Comissão seguir a alfabética, a fim de que nenhuma suscetibilidade ficasse
ofendida com a precedência na colocação.”
Seguindo a mesma ordem, são os
seguintes os poetas de HORA DE GUARNICÊ: Antônio Moysés, Cyro Falcão, Edmilson
Silva Costa, Francisco das Chagas Val, Francisco Tribuzi, João Alexand5re
Júnior, João Ubaldo Ribeiro, Jonaval Cunha Santos Filho, José Henrique Campos
Corrêa, José Rossini Campos Corrêa, José
Valdelino Cécio, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele e Viriato Gaspar.
Desses, apenas um não nasceu no Maranhão:
Francisco das Chagas Val. Mas entre maranhenses e piauienses, há uma
fraternidade de tal ordem que, por vezes, no plano literário, tanto faz nascer
aquém ou além do Parnaíba. Daí a razão porque Odylo Costa, filho, que nasceu em
São Luís, é sempre recebido em Teresina como se houvesse nascido no Piauí.
Francisco das Chagas Val beneficia-se dessa dupla naturalidade – tal como
ocorre também cm o poeta maranhense José Chagas, que ninguém acredita haja
nascido na Paraíba, a despeito de constar esse dado objetivo nos termos de sua
certidão de idade.
Eu suponho que os 14 poetas aqui
reunidos continuarão fiéis à poesia pelo resto da vida. Não se dará com eles o
que ocorreu com a maioria dos poetas do Parnaso Maranhense.
CHAGAS VAL
Francisco das Chagas Val é piauiense de
Buriti dos Lopes, mas vive no Maranhão há mais de 15 dos 30 anos de sua idade.
Professor de Português, é licenciado em Letras pela Universidade do Maranhão.
BOICÍDIO
Na
canga o boi só se move
curvado
ao peso do mando
de
quem lhe traça o destino
de
ser assim sem defesa.
Ilhado
o boi só navega
em
volta ao curso do tempo
que
lhe ditaram no escuro
os
açougueiros do mundo.
Mugindo
o sonho lá fora
no
campo de sua aldeia
o
boi rumina sem pressa
outro
existir sem cadeia.
No
passo com que desenha
o
seu caminho na terra
é
vê-lo ser já na faca
o
ruminante sem berro
que
o erro estar em tratá-lo
neste
curral sempre a ferro
em
brasa que ao queimá-lo
o
couro se lhe estica
como
se fosse no relho
o
corpo entregue de velho
ao
assassínio completo
real
de ser no machado
inteiro
já abatido
ou
mesmo, de certo modo,
de
tiro covarde morto
é
este o seu destino
que
em todo açougue se traça
ser
boi em postas de carne
expostas
para o repasto
do
abutre homem, essa fera.
CUNHA SANTOS FILHO
Jonaval Cunha Santos é maranhense de
Codó, onde nasceu a primeiro de novembro de 1952. Muito cedo veio residir em
São Luís. Concluído o Curso Médio, foi levado por seu pai, jornalista Cunha
Santos, para trabalhar na redação do Jornal Pequeno.
INSPIRAÇÃO
DE PSICOPATA OU POEMA SÓ PRA DOIDO
(dedicado
a Ademário Almeida, João
Alexandre Jr., José dos Santos Costa,
Ray Francisco Baía e Ruy Lima)
Poeta!
Me dá uma caneta sem tinta
e
um caderno sem folhas. Hoje
eu
quero escrever uns versos secos.
Nesta
fábrica de poluição
uma
golfada de lixo
consome
o pulmão da cidade:
efeitos
odoríficos.
Um
vacinado ambulante
me
injeta noite nas veias
porque
o dia virou doença
O
menino sovina
chupa
picolé de sangue
e
nega para o irmãozinho
Num
teleposto de lágrimas
imagens
fabricam telespectadores
que
findam no cachê do imposto
No
varandão de mármore
a
prostituta de seda e batom
é rainha da pureza
A
lua, mulher do gringo,
tá
cometendo adultério
com
um foguete russo
Na
loja de vender sossego
não
existe crediário
e
o mínimo se arrebenta
Na
rua o coração é cofre
o
estômago caixa-fraca
e
a mente cheque sem fundo
E...
eu sou feito
...
com a sobra do futuro
a
carne do passado
e
os ossos do presente
Mas
em mim habita a paz
de
quem nunca vai à guerra
porque
não sabe matar
A
sátira de quem vê
Uma
“Virgem Maria” de minissaia
requebrando-se
no canal 2000
ao
som de um rock que vem do céu
Achas
que sou louco, poeta?
quem
te mandou meter o dedo
aqui
dentro do meu sozinho!
Edição
final:
Raimundo
Fontenele
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